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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 19 de junho de 2011

VIVA SÃO JOÃO MINHA GENTE!!!

OLHA PRO CÉU
(Composição : Luiz Gonzaga  e José Fernandes)

Olha pro céu, meu amor

Vê como ele está lindo

Olha praquele balão multicor

Como no céu vai sumindo

Foi numa noite, igual a esta

Que tu me deste o teu coração

O céu estava, assim em festa

Pois era noite de São João

Havia balões no ar

Xóte, baião no salão

E no terreiro

O teu olhar, que incendiou

Meu coração.

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A ACRA  deseja a todos/as uma São João com muita alegria,paz e saúde.
Durante o recesso junino aproveitem para visitar nosso blog e se divertir com as novidades e músicas que selecionamos para  regar a festa.
E vamos forrozar minha gente!

ÊTÁ! “O CASAMENTO DA FILHA DO CORONÉ ANTÔNIO BENTO”

Por Narcimária C.P. Luz



Tela DE ANTÔNIO POTEIRO (1925)
Imagem disponível em http://www.tntarte.com.br/tnt/scripts/2009_dezembro/noite_1.asp

As crianças e adolescentes da ACRA estão ensaiando um autocoreográfico , baseado na história contada e cantada na música“Coroné Antônio Bento”,de autoria de João do Vale e Luiz Wanderley,interpretada pela voz magnífica de Tim Maia.
O texto elaborado por mim chama-se :“O CASAMENTO DA FILHA DO CORONÉ ANTÔNIO BENTO”(inspirado na música de João do Vale e Luiz Wanderley),e está sendo ensaiado pelo Grupo de Teatro ACRA COM VIDA, entrelaçando as narrativas nordestinas que embalam também as obras de Luiz Gonzaga e  Zé Dantas:"Xote das Meninas" e "Cintura Fina".


J.Victtor,mestre da gravura e do cordel
Imagem disponível em http://blog.jvicttor.com.br/

Dessa aproximação, foram nascendo inquietações sobre o significado e origem do baião,xote,forró,biografias e obras dos compositores e intérpretes das músicas que compõem o auto, e que tendem a caracterizar a sociabilidade de muitas comunidades no nordeste.




Então vamos começar a conhecer um cadinho das aulas e inquietações  que vão compondo o aprendizado criativo e cheio de emoções das crianças e adolescentes que participam Grupo de Teatro “ACRA COM VIDA”.

Na “ACRA COM VIDA”,o forró é elaborado como uma animada festa característica do nordeste brasileiro que apresenta narrativas que contam histórias engraçadas ou tristes de lugares,pessoas,dificuldades e alegrias falando do dia a dia do povo nordestino tudo isso no ritmo contagiante do arrasta pé,acompanhado por triângulo, sanfona e zabumba, instrumentos-chave para a festa esquentar, e claro regado a boa culinária do nordeste.
Antigamente(e ainda hoje), os forrós eram realizadas em terrenos de barro batido,e como é uma festa onde se dança  arrastando o pé com animação, geralmente sobe uma poeirada e  tanta, e  para evitá-la, se molha o chão para abrandar a poeira.
Apesar das controvérsias,é importante informar que há outras versões para a origem do nome forró e uma delas,se refere a palavra em inglês "for all", que significa para todos.
Essa versão vem do início do século XX,com a construção da ferrovia Great Western por técnicos ingleses em Pernambuco,que para estabelecer uma boa convivência com o povo pernambucano,promoviam festas,bailes convidando toda a população para participar.Esse convite em inglês era o “for all “,uma festa “para todos” .
O povo ia e levava o seu modo de dançar,seus instrumentos musicais e as narrativas que davam conteúdo as músicas.
Há também a explicação, de que na 2ª guerra mundial, os americanos instalaram em Natal no Rio Grande do Norte uma base militar,e para estabelecer uma “política da boa vizinhança”,também promoviam bailes conhecidos na região como  “for all “ o "forró",uma festa “para todos”, e o povo de Natal participava levando consigo suas referências culturais.
O folclorista Luiz Câmara Cascudo,que afirmava ser o forró derivado da palavra forrobodó, classifica-o como: confusão e farra.
Mas como confusão e farra?
Pergunta que não quer calar:será mesmo confusão e farra?
Para quem está de fora,e não entra no jogo da criatividade coreográfica, brincalhona e cheia de narrativas genuinamente nordestinas,talvez pareça confuso ou até mesmo uma desordem total.
Mas não é!
Há muito respeito entre as pessoas que estão ali para compartilhar emoções que os vinculam à vida e a alegria de existir comunitária.




E O XOTE?
 

Tela de  CARIBÉ

É um ritmo muito utilizado no forró.
Assim como a origem da palavra forró,o xote também tem as suas controvérsias.Dizem que xote é derivação aportuguesada da palavra alemã "schottisch",e que o ritmo veio para o Brasil como uma dança exclusiva para os frequentadores da corte portuguesa.
Os/as africanos/as observando a dança de origem européia,(re)criaram outros passos e ritmos,africanizando o "schottisch" alemão,transformando-o radicalmente em xote,que pode ter a grafia xótis,chóte ou até mesmo chotis,vocês decidem.
O negócio é não perder o ritmo!


E O BAIÃO?

Outro ritmo e dança importante nas festas do nordeste!
Nasce através do lundum baiano,uma dança e ritmo trazida para o Brasil por africano/as de Angola.
Os batuques dos africanos/as pelos territórios brasileiros deram a base rítmica do lundum que exige um corpo criativo,solto,bem ritimado,ginga nos quadris,nas pernas,etc.
Sabe o corpo livre para criar?
Pois é.
O baião carrega esse princípio rítmico do lundum, e nos anos 1940 através de Luís Gonzaga e sua sanfona, ganha aceitação em várias regiões do Brasil.
Mas todas essas explicações, são para apresentar um pouco da biografia dos compositores e interpretes das músicas que serão dramatizadas no autocoreoráfico da ACRA em 2011.
Toda linguagem característica desse auto tem como  base o  xote e baião.

As biografias e composições musicais a seguir,fazem parte das escutas que realizamos para atender  as inquietações das crianças envolvidas no auto.
O elenco da ACRA COM VIDA,conhece a riqueza das  histórias que apresentamos a seguir.
Compartilhamos com vocês a alegria e prazer que tivemos conhecendo  as biografias dos grandes compositores e intérpretes da nossa música popular brasileira, referências importantes para o nosso autocoreográfico...

 “O CASAMENTO DA FILHA DO CORONÉ ANTÔNIO BENTO”.



Obra de Mestre Vitalino

LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO

 
 Luiz Gonzaga

Nosso querido compositor e intérprete Luiz Gonzaga,conhecido carinhosamente como o “Rei do baião”,nasceu na cidade de Exu em Pernambuco em 13 de dezembro de 1912.Seu pai Januário,tinha uma roça e sabia tocar e consertar acordeon. Foi seu Januário que ensinou a Luiz Gonzaga a tocar esse instrumento,e com isso teve oportunidades de se apresentar em forrós e feiras da cidade.
 

Seu Januário e sua sanfona de oito baixos

Mas tudo não foi tão simples assim.Contam que com 18 anos Luiz se apaixonou por uma moça chamada Nazarena.Só que o pai de Nazarena o coronel Raimundo Deolindo não gostou desse derretimento entre Luiz e Nazarena e ameaçou Luiz de morte.

Imaginem só a confusão!
Januário ciente do ocorrido chamou-lhe atenção e com D. Santana (sua mãe),deu-lhe uma surra que deixou Luiz muito chateado.Foi assim que ele saiu de casa e resolveu servir ao exército na cidade de Crato no Ceará,viajando por muitas cidades brasileiras.como soldado.




“Pai Januário” e ”Mãe Santana” com seus filhos: Joca, Luiz Gonzaga, Gení, Muniz, Severino Januário, Zé Gonzaga, Chiquinha Gonzaga, Socorro e Aloísio.



Foi assim que ele conheceu e fez amizade em Minas Gerais Domingos Ambrósio que também sabia tocar muito bem acordeon.

Em 1939 ele saiu do exército com a intenção de seguir a carreira musical.Mais até aí ele ainda estava muito magoado com Januário seu pai.No Rio de Janeiro ele deu início a sua carreira tocando acordeon mas ninguém lhe dava o valor devido.
Mas em 1941 ele foi ao programa de Ary Barroso (outro compositor brasileiro famoso pelas suas obras),onde tocou sua composição instrumental “Vira e Mexe”.Foi muito aplaudido e em seguida gravou seu primeiro sucesso em disco,foi contratado pela Rádio Nacional(naquela época o rádio era um veículo de comunicação mais usado pelo povo brasileiro) e passou a se vestir com o traje nordestino de vaqueiro. Sua música começa a ficar conhecida na Europa, EUA, Japão, etc
Seu principal parceiro nas composições depois de Humberto Teixeira foi Zé Dantas.
Só em 1946 é que Luiz Gonzaga retorna a Exu sua cidade me Pernambuco,oportunidade que fez as pazes com seu pai Januário.Contam que quando ele chegou em casa depois de tantos anos, seu Januário não lhe deu ousadia e e foi logo perguntando:

___“Quem é o Sinhô?

___ Luiz Gonzaga seu filho!

___Isso é hora de você chegar em casa corno sem vergonha!?”

Sobre esse encontro com seu pai, .ele fez a música” RESPEITA JANUÁRIO” em parceira com Humberto Teixeira narrando a história do reencontro com emoção,como podemos ver no vídeo a seguir.Prestem atenção a esse vídeo valioso,pois nele Luiz Gonzaga apresenta sua autobiografia de forma bem divertida apelando para música.
E termina dizendo:

Essa é que é a história!”

A letra da música para conhecimento das gerações que desconhecem essa história.

"RESPEITA JANUÁRIO”
( gravado em 1950 tem 61 anos)
Composição : Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira

Quando eu voltei lá no sertão
Eu quis mangar de Januário
Com meu fole prateado
Só de baixo, cento e vinte, botão preto bem juntinho
Como nêgo empareado
Mas antes de fazer bonito de passagem por Granito
Foram logo me dizendo:
"De Itaboca à Rancharia, de Salgueiro à Bodocó, Januário é o maior!"
E foi aí que me falou meio zangado o véi Jacó:
Luiz respeita Januário
Luiz respeita Januário
Luiz, tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso
E com ele ninguém vai, Luiz
Respeita os oito baixo do teu pai!
Respeita os oito baixo do teu pai!
Eita com seiscentos milhões, mas já se viu!
Dispois que esse fi de Januário vortô do sul
Tem sido um arvorosso da peste lá pra banda do Novo Exu
Todo mundo vai ver o diabo do nego
Eu também fui, mas não gostei
O nego tá muito mudificado
Nem parece aquele mulequim que saiu daqui em 1930
Era malero, bochudo, cabeça-de-papagaio, zambeta, feeei pa peste!
Qual o quê!
O nêgo agora tá gordo que parece um major!
É uma casemiralascada!
Um dinheiro danado!
Enricou! Tá rico!
Pelos cálculos que eu fiz,
Ele deve possuir pra mais de 10 ontos de réis!
Safonona grande danada 120 baixos!
É muito baixo!
Eu nem sei pra que tanto baixo!
Porque arreparando bem ele só toca em 2.
Januário não!
O fole de Januário tem 8 baixos, mas ele toca em todos 8
Sabe de uma coisa? Luiz tá com muito cartaz!
É um cartaz da peste!
Mas ele precisa respeitar os 8 baixos do pai dele
E é por isso que eu canto assim!
"Luí" respeita Januário
"Luí" respeita Januário
"Luí", tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso
Nem com ele ninguém vai, "Luí"
Respeita os oito baixo do teu pai!
Respeita os oito baixo do teu pai!
Respeita os oito baixo do teu pai!


Sanfona de oito baixos

Luiz Respeita Januário!!!

VIVA ASA BRANCA!!!

Luiz Gonzaga faleceu em Recife no dia 02 de agosto de 1989 e mais tarde foi sepultado na sua cidade natal Exu.O vídeo documentário a seguir, foi produzido visando atender as comemorações dos 60(sessenta )anos da música “Asa Branca”.Nele podemos assistir os compositores Luís Gonzaga e Humberto Teixeira fazendo comentários.
Finalizamos essa biografia com um dos mais importantes clássicos da música popular brasileira,”Asa Branca” composta por Luís Gonzaga e Humberto Teixeira gravada em 1947.
Acompanhem pois é muito interessante!

JOSÉ DE SOUZA DANTAS FILHO

Zé Dantas e Luiz Gonzaga
Conhecido como Zé Dantas,nasceu em nasceu em Carnaíba Pernambuco em 17/02/1921. Zé Dantas era compositor,poeta,cronista...E imaginem! Médico obstetra”.Pois é. Essa personalidade que “carregava na veia” a sensibilidade e criatividade musical,se tornou um importante parceiro de Luiz Gonzaga nos anos de 1940,foi responsável pela divulgação do baião pelo Brasil e mundo afora.
Zé Dantas  foi também Diretor folclórico da Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro.Dentre os sucessos de Zé Dantas  com Luiz Gonzaga destaco: "Vem Morena", "A Dança da Moda", "Riacho do Navio", "Vozes da Seca", "A Volta da Asa Branca", "Imbalança", "ABC do Sertão", "Algodão", "Cintura Fina" e "Forró de Mané Vito". Zé Dantas morreu no Rio de Janeiro em 11/3/1962.

JOÃO DO VALE


João Batista do Vale, nasceu numa família de pais agricultores que tinha oito filhos em 11 de Outubro de 1934 no Lago da Onça, município de Pedreiras no Maranhão. No contexto da mortalidade infantil no nordeste brasileiro,dos oito irmãos João,era o quinto,e um dos três que sobreviveram.Na infância chamavam-lhe carinhosamente de “pé de xote”.Imaginem por que?Poque sua expressão corporal criativa se destacava inclusive dançando xote.
Aos 12 anos foi com sua família morar em São Luís no Maranhão,onde começou a fazer seus ensaios na composição de versos e músicas como integrante do grupo de bumba-meu-boi “Noite Linda”.
Quando fez 14 anos saiu de casa e trabalhando como ajudante de caminhão fazia constantemente um trajeto entre Teresina(Piauí) para Fortaleza(Ceará).Nesse íterim veio para Salvador(Bahia)e resolveu ficar por aqui,pensando que era mais fácil (pela proximidade entre as cidades)ir para o Rio de Janeiro,seu sonho desde que saiu do Maranhão.Mas,para esse sonho se realizar ,João foi para a cidade de Teófilo Otoni(Minas Gerais) trabalhar num garimpo e juntar dinheiro para chegar ao Rio de Janeiro.
Conseguiu juntar um dinheirinho,pegou carona num caminhão e chegou ao tão sonhado Rio de Janeiro.Foi trabalhar como pedreiro em Copacabana e lá dormia e vivia.Aproveitava momentos de folga para visitar a Rádio Nacional com o desejo de ter suas composições gravadas por algum intérprete de MPB.
Assim foi durante algum tempo,quando em 1953,teve sua música em ritmo do baião gravada por Zé Gonzaga.
O sucesso foi imediato no nordeste!


Através de Luiz Vieira que trabalhava na Rádio Tupi, que João do Vale começou a ter oportunidades de expressar seu talento.
Em parceira com Luiz Vieira fez o baião "Estrela miúda" gravado por Marlene. Cantora em destaque nos anos 1950.

Marlene e Luiz Vieira

Conquistando esses espaços nas rádios,João nos anos 1960,foi convidado por Zé Keti a se apresentar no bar do saudoso compositor Cartola da Mangueira e de sua esposa Dona Zica.O bar se chamava “ZICARTOLA”(trocadilho de Zica e Cartola).Era no “ZICARTOLA”,que muitos compositores encontraram um canal valioso para divulgar suas obras,e João toda sexta feira estava lá como convidado expressivo para apresentar suas composições.Em 1964 o teatrólogo Oduvaldo Viana Filho,conhecido como Vianinha,convidou João juntamente com Zé Kéti para compor músicas para o show "Opinião" em 1964,evento que marcou época pela abordagem ousada de temas que incomodaram a ditadura militar no Brasil.Desse espaço "Opinião"nasceu a parceria de João do Vale e José Cândido com a música “CARCARÁ”,que era inicialmente interpretada por Nara Leão, e depois por Maria Bethânia,que fez sua estréia na MPB de modo magnífico.




ZÉ KÉTI,JOÃO DO VALE
 E NARA LEÃO

ZÉ KÉTI e NARA LEÃO
VIANINHA
ZÉ GONZAGA

Eis a letra e interpretação de Maria Bethânia na época do “Opinião” em 1965.

CARCARÁ
(Composição : João do Vale / José Cândido)
Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa o umbigo inté matá
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carará

Muitas solicitações eram feitas ao grande e genial compositor João do Vale,dentre elas o convite nos anos de 1960 para fazer uma palestra nos EUA, sobre o repertório semântico nordestino que caracterizava as suas obras.. Faleceu em 06 de Dezembro de 1996 em São Luís no Maranhão.
Sua contribuição para a MPB é riquíssima!
A música "Coroné Antônio Bento", de sua autoria com Luiz Vanderley,foi interpretada com muito sucesso em 1970 por Tim Maia.

LUIZ WANDERLEY

Sebastião Rodrigues Maia,o conhecidíssimo Tim Maia,nasceu em 28 de setembro de 1942 em Niterói no Rio de Janeiro.
Tim Maia,era um artista completo:compunha ,cantava,sabia tocar vários instrumentos,dramatizava,e com sua sinceridade fazia reflexões bem interessantes.
Introduziu o estilo soul na música popular brasileira,e de recriações belíssimas cheias de suingue e muito ritmo com seu vozeirão rouco,grave e criativo.Morreu em 15 de março de 1998.




Na letra da música "Coroné Antônio Bento", João do Vale e Luiz Vanderley citam o pianista carioca Bené Nunes(16/11/1920-07/06/1997),muito respeitado e requisitado nos grandes bailes no Rio de Janeiro,capital do Brasil na época  dos anos 1950.O presidenteJuscelino Kubitschek era um dos fãs de Bené Nunes.Bené Nunes tinha orquestra considerada a mior da América do Sul, e realiza bailes famosos no Rio e foi um dos incentivadores da geração da “bossa nova”.
Bené Nunes também ficou conhecido como  "pianista-galã" do cinema e das rádios.


BENÉ NUNES


Então, assistam agora o vídeo com Tim Maia cantando "Coroné Antônio Bento"

"Coroné Antônio Bento" por Tima Maia

Daqui pra frente pessoal,só dá vídeo e áudio com interpretações maravilhosas que marcaram épocas e até hoje continuam embalando nossas vidas no nordeste e no Brasil.Aproveitem para dançar e cantar!

Comecemos com Jackson do Pandeiro com um dos seus clássicos:"Chiclete com Banana"
Divirtam-se!

O Canto da Ema por Jackson do Pandeiro e João do Vale

Pout Porrit de Quadrilha por Luiz Gonzaga

Respeita Januário * Xote das meninas * Eu só quero um xodó por Gilberto Gil

Pout Porri do Interior - Chiclete com Banana

Escutem a canção São João Xangô Menino por Maria Bethania

sábado, 11 de junho de 2011

UMA ARTE DA ESSÊNCIA OCULTA

Por Ola Balogun

Tradução Marco Aurélio Luz

Pesquisa de imagens e epígrafes Marco Aurélio Luz

 
"O escultor africano interpreta uma visão coletiva do mundo"
(Ola Balogun)

As formas da arte africana não se caracterizam de nenhum modo por uma unidade de estilos, e seria um erro pensar que todas elas têm um alcance e uma orientação idênticas. Toda cultura é resultado de múltiplas correntes, por vezes inclusive aparentemente contraditórias, e a arte africana não é uma exceção à regra.
Então, embora não exista uma única forma de arte que se possa definir como estritamente africana,todavia existe sim, em troca um amplo conjunto de estilos e de formas que constituem a arte africana.



Painel com diversos estilos de esculturas


Por seu ambiente e por sua motivação, esta arte não se parece com nenhuma outra. As formas de arte africanas, raramente tem por finalidade tão somente divertir. Embora às vezes apresentem uma parte de diversão não é esse seu aspecto mais importante. Nas cerimônias que se utilizam de “máscaras” o essencial é o caráter ritual da representação. Isto não impede que a própria dança, ou às vezes a perseguição simulada dos espectadores por entidades ou personagens “mascarados”, introduzam um elemento recreativo. Todavia a prática da dança não se limita a esse fim de pura diversão a não ser quando surge em certas festas ou celebrações.

Comparando, os elementos dramáticos das cerimônias rituais nunca se apresentam independentemente do contexto do qual fazem parte e cujo objetivo principal não consiste certamente em divertir.
A única exceção notável desta regra talvez se refira à arte dos narradores e dos cantores ambulantes que buscam manifestamente o objetivo de distrair o público em troca de uma remuneração. Mas, inclusive nesse caso longe de serem puras distrações, os contos e epopéias procuram tratar, sobretudo de expor princípios morais ou relatar feitos importantes.
As formas de arte mais correntes na África são a escultura (madeira ferro, pedra, bronze, barro cozido etc.), a arquitetura, a música, a dança, os ritos de caráter dramático, a literatura oral, etc. São pois, muito mais diversas e numerosas do que se supõe. São também mais complexas e mais diversificadas do que se desprende dos estudos etnológicos em geral. O exemplo das “máscaras” por um lado, e a dança dos ritos de caráter dramático, por outro, podem ajudar-nos a compreender sua significação.
A escultura (em madeira ou em outros materiais) é um dos pilares da arte africana ao mesmo tempo em que é a que mais foi divulgada no estrangeiro. As esculturas de madeira mais notáveis são as “máscaras” que integram as cerimônias.
Essas esculturas foram objeto de muitas interpretações errôneas, sobretudo porque pretenderam julgá-las aplicando os critérios estéticos da Europa ocidental.
O melhor exemplo desta confusão é de quem afirma que a arte africana é “primitiva”, baseando-se na teoria de que se os escultores africanos são incapazes de fazer uma cópia exata das formas naturais, de acordo ao estilo greco-latino clássico. Daí se deduz um corolário que carece também de todo fundamento, qual seja que em sua evolução a humanidade passou por uma fase de arte “tosca” antes de chegar por fim a perfeição formal da arte greco latina.
Este raciocínio é evidentemente falso. Em primeiro lugar os critérios estéticos não incorporam obrigatoriamente a idéia de imitação das formas naturais. Em segundo lugar,somente uma visão etnocêntrica de mundo permitiria afirmar que a inexistência de uma concepção estética análoga a surgida na Europa ocidental significa uma falta de perfeição formal.

O juízo estético que cabe formular a respeito das “máscaras” deve correr paralelo com uma perfeita compreensão de sua finalidade. Convém então analisar o caráter das cerimônias africanas cujos participantes convivem com as “máscaras” e o clima geral em que se desenrolam.



O Rosto do Divino- Na maioria das culturas africanas a “máscara” não constitui um disfarce, mas sim uma representação do divino. Assim o mito e a “máscara” estão indissoluvelmente unidos. As reproduzidas são da Costa do Marfim./ Foto de Fulvio Roiter in Correio da UNESCO.Essa epígrafe consta no Correio da UNESCO.

Estas cerimônias sagradas, obedecem em geral a um ritual destinado a invocar as
 entidades ou a estabelecer uma comunicação entre elas e a coletividade, e ao mesmo tempo, pretendem recordar à seus membros os vínculos que os unem com as forças não humanas do Universo. Daí que as considerem como a manifestação material de uma força inacessível, como uma encenação temporal de algo que ultrapassa os limites humanos. Todavia, se trata de uma manifestação que exige para se produzir a participação dos humanos. As entidades estão presentes com a participação dos humanos cujos rituais dramáticos, incluem a presença inclusive de “máscaras”. Mas há também situações que o sacerdote deixa de ser humano, para se converter num avatar da divindade ou do ancestral cuja presença se invoca. Deve pois, distinguir-se dos demais seres humanos por um signo ou um conjunto de signos.
Inclusive quando existe uma forma convencional, o que o escultor aspira alcançar é uma essência oculta, e não uma aparência exterior. O estilo do escultor de “máscaras” tem sua origem em uma certa concepção, que lhe vem do sistema de crenças religiosas e do âmbito conceitual em que ele vive e trabalha. No limite muito geral das crenças e convenções da comunidade, há sempre uma ampla margem de liberdade e improvisação. Se a divindade cuja “máscara” invoca  presenças que provoquem espanto, não se exigirá ao artista que copie fielmente as “máscaras” de acordo aquelas em que a divindade já foi representada, mas sim que evoque a idéia de uma presença temível, desde que se mantenha fiel às regras e convenções artísticas locais.
Um dos principais elementos de tal transformação é a “máscara”. Somente nos aprofundando é que poderemos perceber que a função essencial da “máscara” (e do traje ritual em geral), consiste em sugerir e demonstrar a presença do sobrenatural, e pode-se compreender então o marco teórico em que trabalha o escultor. Os artistas da Europa ocidental nos quais sucede a influência da arte africana, não parecem ter percebido nela senão a intenção de representar formas naturais de um modo abstrato, abstração que o cubismo e outros movimentos levaram ao extremo. Portanto, se tratava de um erro de interpretação, que obedecia a um desconhecimento do contexto intelectual próprio do escultor de “máscaras” na África.


Elemento do culto aos ancestrais Fang, que é um povo presente no norte do Gabão, ao sul do Cameroun e na Guiné Equatorial


Em muitos sentidos, as “máscaras” africanas manifestam um perfeito domínio, perfeito amplamente estudado das técnicas da criação. Um dos aspectos mais notáveis desta arte é quem sabe a capacidade de realizar assombrosas simplificações plásticas a partir de formas naturais.
Diante da maioria das “máscaras”, temos a impressão de que o escultor quis ultrapassar a simples aparência exterior das formas naturais para apreender a sua essência e que a partir dessa apreensão se criou novas estruturas. Se tomarmos como exemplo essas obras mestras que são as “máscaras” bambaras conhecidas com o nome de tyiwara, as quais se inspiram na forma e na graça do antílope, observamos que o que fica deste animal, como forma visível, se reduz a uma mera sugestão de seus atributos essenciais: suas linhas lisas e seu aspecto gracioso, a que se somam alguns elementos decorativos. Contemplando uma dessas esculturas, transcendemos a forma exterior para aprofundar no ser do animal mítico, simbolizado, em sua essência, pela forma do antílope.


Tiy-wara, o tema do antílope é característico do povo Bambara que vive no Mali, e também na Guiné, Burkina Faso e Senegal.

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/geografia/geografia_geral/africa/geral_africa_2_cultura_material_e_arte


A simplificação dos motivos naturais percebidos, incita por vezes, o escultor a elaborar uma concepção geométrica do objeto que constitui a fonte de sua inspiração. Em tal caso, os olhos se convertem em círculos ou em quadrados perfeitos, ou simples linhas oblíquas, e essas formas permanecem equilibradas, em intervalos, com outros traços concebidos da mesma forma.
As célebres “máscaras” basongues, originárias da bacia do Congo oferecem um exemplo notável a esse respeito. Não somente se dispõe as feições em torno de um conjunto geométrico constituído por quadrados (que são os olhos), mas, além disso, toda uma série de linhas curvas e em relevo sulca a superfície da máscara e acentuam seu caráter.


Escultura de estilo de povo da bacia do Congo


Este modo de manejar as formas geométricas, leva a introduzir elementos rítmicos no campo da plástica, graças aos efeitos de simetria e de assimetria obtidos mediante a disposição dos diversos elementos. Em muitas “máscaras” congolesas e gabonesas, a repetição de curvas regulares que representam certos traços do rosto como, por exemplo, as sobrancelhas, os olhos e os lábios, criam uma série de ritmos que recordam os ritmos musicais.
Mais surpreendente ainda, é a concepção arquitetônica de muitas “máscaras” esculpidas inclusive quando é concebida para ser levada verticalmente diante do rosto, a “máscara” raramente consiste em uma superfície plana. Na maioria dos casos vai muito mais além de sugerir formas de duas dimensões, da realidade e tentar encaixar num espaço tridimensional.
Pode-se utilizar o espaço de três dimensões plenamente no caso da “máscara” para cabeça, que se leva horizontalmente sobre esta. È o caso da “máscara” bambara (tyi-wara) ou de certas “máscaras” baules, senufos, (Costa do Marfim), e iyos (Nigéria meridional). As primeiras representam espíritos de búfalo, e os demais espíritos da água. Durante a dança o dançarino lhe apresenta aos espectadores (conforme o lugar que ocupam) desde os diversos ângulos, o qual produz em cada posição, um efeito visual
diferente. E, efetivamente, o aspecto da máscara contemplada de frente é totalmente distinto da que se apresentam quando se olha de perfil, e o dançarino ao baixar a cabeça, se observa que também a parte de cima está concebida de um modo distinto. O focinho e os dentes do personagem mítico podem perceber-se como a parte mais importante quando se olha de frente, e as orelhas e os chifres quando é contemplado de perfil. Olhando desde cima, o focinho e os dentes desaparecem do todo e somente são visíveis as formas geométricas construídas em torno dos traços da cara.
As características das formas – A “máscara” de cara e a “máscara” de cabeça – podem estar associadas (as “máscaras” geledes dos yorubas da Nigéria meridional costumam cobrir o rosto e a cabeça). A cara da “máscara” pode representar o rosto humano, embora a cabeça e a coroa representem personagens ou animais esculpidos em relevo e ilustrando diversas atividades: leopardos, guerreiros, cavalos ou soberanos sentados sobre seu trono. Em certas versões recentes aparecem inclusive automóveis e aviões.

Gelede- elemento estético ritual do culto Gelede muito afamado no reino de Ketu, Nigéria. O rosto traz uma coroa adornada com motivo de quatro pássaros aludindo à simbologia das Iya mi as mães ancestrais e aos valores dos princípios de sociabilidade de colaboração e repartição. Acervo e foto M.A.Luz

O escultor africano procura deleitar a vista do espectador sobre tudo com esses acréscimos ornamentais. Os elementos decorativos que utiliza mais comumente consistem em formas geométricas ou em pequenos motivos repetidos num certo número de vezes em temas distintos e novos que venham a somar com a cultura original. Em último caso uma cara humana poderá aparecer coroada, por exemplo, por um pássaro ou por qualquer outro elemento estranho, acrescentado também uma finalidade decorativa.


Acréscimos ornamentais, desenhos geométricos


No campo da plástica é difícil superar a audácia de certas “máscaras” africanas. Em uma “máscara” bachamam (Camerun), que representa em forma muito estilizada um rosto humano, as bochechas são estruturas cônicas salientes cuja parte superior, ligeiramente arredondada, serve de suporte aos olhos, que se situam em um plano horizontal. Debaixo das sobrancelhas as órbitas são transformadas em superfícies verticais alargadas que dominam os olhos como a parte superior de uma concha de ostra em que estão apoiadas.
A influência da arte africana que demarca o aparecimento da “arte moderna” está patente na pintura célebre de Picasso “Les Demoiselles D`Avignon”.


Um tratamento tão audaz das superfícies (o movimento cubista se desenvolveu precisamente através da influência direta desse estilo) seria inimaginável sem uma concepção muito avançada e sem um domínio total dos fatores e plásticos. Em certo sentido, a “máscara” é um instante de eternidade petrificado, mas os movimentos da dança lhe darão nova vida e a submergirão em um ritmo da existência humana.
Por um estranho paradoxo, o artista consegue uma liberdade completa em seu modo de tratar as formas precisamente porque suas próprias preocupações estéticas cedem ao ritmo e a função que desempenha a “máscara”.

Com efeito, a finalidade de seu trabalho consiste freqüentemente em sugerir formas e materiais, e não em copiar diretamente da natureza.

A arte da decoração se manifesta de modo ainda mais evidente em objetos puramente decorativos de uso doméstico. Muitos objetos pequenos do mobiliário têm elementos decorativos, que vão desde formas geométricas até personagens ou outros acréscimos ornamentais, às vezes de tamanho natural.

A arte africana, tanto profana quanto sagrada, dá sempre amostra de um grande refinamento. O escultor sabe imprimir no objeto doméstico, o utensílio de uso cotidiano a mesma nobreza, a mesma graça que se destaca na estátua ritual ou o elemento de relicário. Exemplo disso é essa escultura de estilo luba (sul do Zaire) cujo suporte está formado por um homem e uma mulher que se acariciam com pudor e ternura./foto Willy Kerr Coleção Particular, Bruxelas in Correio da UNESCO
A semelhança das “máscaras”, a maioria dos objetos esculpidos africanos é de madeira. Não se trata de objetos concebidos com finalidades estéticas e para serem apresentados como tais. A maior parte dessas esculturas africanas são objetos mágicos ou representações simbólicas de antepassados ou de entidades e por conseqüência, sua finalidade essencial é representar essa função. O escultor procura antes de tudo  adaptar seu estilo a ela, ajustando-se por sua vez às tradições artísticas que herdou. Assim, quase nunca tentará reproduzir as feições naturais e criar uma obra realista. Daí se deduz que seja raro encontrar estátuas de tamanho natural ou inclusive que respeitem as proporções dos seres vivos reais.
Talismã de fecundidade – um homem e uma mulher sentados apresentam  mutuamente uma menina. Com esta escultura também de arte luba, se procura invocar a força vital que incrementa a família./foto W. Hugentobier, Museu de Etnografia de Neuchatel, Suíça, in Correio da UNESCO.

Precisamente porque o escultor não concebeu sua obra com a única finalidade de criar formas agradáveis à vista, suas esculturas chegam a ser tão impressionantes que podem parecer um paradoxo a um ocidental.
Entre os tipos de esculturas mais conhecidos cabe citar as estatuetas comemorativas dos antepassados e as estatuetas rituais de entidades colocadas em relicários. Essas esculturas antes de tudo são “objetos dotados de um poder”, e sua eficácia no plano religioso depende tanto da destreza do escultor como dos ritos com que estão relacionadas.
Uma obra executada sem destreza, ou que muito se afaste dos cânones estéticos sagrados tradicionais do estilo próprio de uma comunidade ou de um grupo de comunidades em que foi criada, não será admitida.
A escultura, com suas características próprias, está pois estreitamente relacionada com todo o contexto sociocultural. Por essa razão, tentar fomentar a produção comercial de obras de arte desse tipo, pensando que vão poder conservar simplesmente as aparências exteriores que lhes confere seu estilo próprio, seria seguramente um fracasso.
As características estilísticas da escultura sagrada e as soluções técnicas que essas características trazem aos problemas e preocupações puramente artísticos, na verdade são elementos de um amplo conjunto que engloba um sistema religioso que transcende o artista como indivíduo.
Esse tipo de escultura é obra coletiva de toda uma civilização, e o compromisso do artista consiste em servir de intermediário, encarregado de materializar a visão e as crenças coletivas.


Escultura em Marfim do povo do antigo império do Benim. Está no Museu Britânico e foi escolhida como símbolo do II Festival Mundial  de Arte e Culturas Negras e Africanas, realizado em Lagos Nigéria no ano de 1977.

É preciso ter sempre presente que o escultor não se contenta em reproduzir detalhadamente as formas que impõe a tradição a essas estatuetas mas sim que utiliza o modelo tradicionalmente admitido como uma fonte de inspiração a partir da qual pode dar rédeas soltas a sua capacidade criadora. As cópias executadas maquinalmente com fins puramente comercias e para satisfação dos turistas carecem de vida e são estéreis desde o ponto de vista artístico, enquanto que as obras atuais aprofundam suas raízes no respeito às tradições socioculturais continuam tão vigorosas como as obras de arte do passado.  
NOTAS

 1-Ola Balogun cineasta e escritor  da Nigéria, foi especialista da UNESCO em matéria de formação de pessoal cinematográfico. Dirigiu numerosos filmes e também documentários, como Vivir (1975) e Musik Man (1976) dentre muitos outros. Participou do corpo de jurados do Festival do Filme Pan-africano de Cartago (Tunísia). Autor de várias obras de teatro (Xangô. O rei elefante), escreveu para a UNESCO vários estudos sobre cinema, a arte e a cultura da África.

2-Nesta tradução tomamos a liberdade de colocar entre aspas na palavra “máscara”. Essa opção, se deve ao fato de não encontrarmos uma palavra que realmente reflita as características essenciais das esculturas e adornos rituais na bacia semântica dos símbolos na cultura africana.
3-Esse artigo traduzido pelo nosso colaborador Marco Aurélio Luz, pode ser encontrado no Correio da UNESCO (publicação mensal)maio de 1977,ano XXX,ps 12-26.