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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

A NEGRA:CULTURA NEGRA NA SEMANA DE ARTE MODERNA

Por Marco Aurélio Luz

A NEGRA
Tarsila do Amaral

O solo de origem onde está assentada a cultura negra se refere ao mistério da existência. Desde aí se desenvolvem linguagens, valores e instituições que visam aplacar nossa angústia existencial realizando elaborações religiosas para procurar substituir o sentimento de temor pela alegria de estar no mundo. Então esse mundo e o além, o aspecto imanente e aparente do ser se completa com o aspecto transcendente e essencial do ser. Enfim podemos dizer também que a vida e a morte são uma coisa só “okan naa ni”, como dizem os mestres nagôs.
Aqui não há espaço para a dúvida shakspeareana, “to be or not to be”, ser ou não ser, na cultura negra da tradição, o ser é e o não ser também é.
A religião promove a circulação da força imaginal, axé para os nagôs, que permitirá a continuidade do existir, através da liturgia que se expressa através de complexos códigos de uma estética que visam a favorecer e a fortalecer as relações entre esse mundo e o além entre o aiyê e o orun em língua yoruba.
Essa estética então é a da representação da essência do ser, ela visa a representar para os viventes de um lado os ara orun, os habitantes do orun, ancestrais e de outro os orixá, princípios que regem a natureza. Daí que essa estética não tem referencias a representações desse mundo, do real aparente. Essa é uma estética do mistério do que é invisível do que não se conhece nem se conhecerá.
Foi tomando contato com essa estética nos museus coloniais da Europa que Pablo Picasso deu início, entre 1907 a 1909 ao que se convencionou chamar de período africano, que se tornaria a base do cubismo e da chamada arte moderna no ocidente. Não podemos deixar de citar Modigliani que rivalizou com Picasso em Paris e que foi bastante influenciado pela estética africana, sobretudo do Congo e do Gabão que ele entra em contato no Museé de L´Homme.


 Os cânones formais dessa estética instalam um novo movimento a da arte moderna revolucionando o mundo artístico no Ocidente.

Escultura de  Amedeo Modigliani (1884-1920)
Imagem disponível em http://www.writedesignonline.com/Prompts/Modigliani.html
No Brasil a Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco da luta pelas mudanças estéticas. Fazendo parte do movimento, na pintura sobressai a obra de Tarsila do Amaral.
Ela estudou em Paris onde teve Fernand Léger como mestre e conviveu com vários outros pintores cubistas como Picasso e também com os surrealistas.
Em 1923 já estava casada com Oswald de Andrade e foi quando pintou o quadro A NEGRA, que a fez entrar na história da arte moderna brasileira e juntamente com a pintura de ABAPORU seriam os ícones do movimento antropofágico, que visa a deglutir as linguagens artísticas do mundo europeu transformando em expressão de novas linguagens característica da brasilidade.


Tarsila do Amaral
Antropofagia 1929

A NEGRA caracteriza exatamente uma postura da arte africana que ultrapassando a realidade aparente capta a essência do que se está representando. A pintura emerge da imagem da senhora que foi ama de leite na fazenda de seus pais no interior de Minas e se transmuta para realçar o seio, a mama que alimenta os nascituros e garante a continuidade da vida.
Nos fins dos tempos coloniais as mulheres brancas dos senhores, estavam envoltas num claustro virginal para garantir a autenticidade dos herdeiros das propriedades e poucas amamentavam seus próprios filhos.
Assim sendo mesmo nesses tempos de agruras, mulheres negras realizaram sua essência feminina, mesmo naquele momento de escravidão, sendo mãe e ainda alimentando com sua seiva os nascituros de outro continente.
Se observarmos o panteão das entidades da religião africano-brasileira veremos a importância que a maternidade ocupa, caracterizando o poder e o mistério feminino, o poder e o mistério da mulher com sua capacidade de transmutação de seu corpo gestando filhos, filhas e alimento que brota do seio e se liga ao recém nascido.
Assim A NEGRA se torna não só ícone do movimento modernista mas também um símbolo da brasilidade.
Se estendermos nossa compreensão poderemos concluir que o seio alude simbólicamente também a seiva que caracteriza a presença das mulheres africanas no Brasil que com sua cultura e espiritualidade, sua entrega e doação constituíram o melhor de nossa gente.

BAHIA,CAPOEIRA ANGOLA ANOS 1960

Observem que as areais de Itapuã compõem o cenário desse documentário.
Emocionante!

SEMENTES CADERNO DE PESQUISA BASES FILOSÓFICAS PARA A DESCOLONIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Por Jackeline Pinto Amor Divino




Apesar de falarmos o tempo inteiro sobre a pluralidade e diversidade existente na Bahia e no Brasil, continua a ser reproduzido um modelo, ou políticas de desculturação, onde as nossas crianças e jovens não têm seus valores culturais considerados.
A cultura européia continua a ser reproduzida em meio a essa riqueza imensa das diferentes culturas que compõem o nosso país. O trabalho que venho realizando como pesquisadora na área de Educação tem como alicerce o Sementes Caderno de Pesquisa(2000-2005) uma publicação importante capaz de influenciar e indicar para uma geração de educadores/as um mundo de idéias e valores,desdobramentos de territorialidades portadoras de sabedorias milenares, propondo “uma ética do futuro que acolha as dinâmicas territoriais que mapeiam o planeta”.



O Sementes aborda temas que enfatizam a epísteme africano-brasileira e aborígine, civilizações seminais na constituição da formação social baiana e brasileira. Concebido pela Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz o SEMENTES conta com a colaboração de seu grupo de pesquisa, o PRODESE – Programa Descolonização e Educação na perspectiva de contemplar o campo da diversidade cultural através de novas leituras baseadas no princípio político-filosófico da Descolonização e Educação.
Algumas indagações acompanham minha trajetória como pesquisadora do PRODESE através do SEMENTES Caderno de Pesquisa,e gostaria de compartilhá-las aqui:
Quanto tempo será preciso para que os/as educadores/as encontrem nas nossas raízes culturais africano-brasileira e aborígine as linguagens e visões de mundo que os animem a promover a sua práxis?
Quando deixaremos de ser colonizados e tiraremos esse pano que nos cobre os olhos e não nos deixa ver mais adiante, buscando a nossa História, os nossos antepassados e toda a riqueza milenar que nos foi dada?
Como a escola poderá se transformar num espaço onde se contemple a diversidade cultural que nos caracteriza?
Como formar educadores/as capazes de abrir-se para as infinitas possibilidades de criar a partir dos contos, das artes, da dança, da música que identifica a nossa arkhé africano-brasileria e aborígine?
Que perspectiva de currículo deveremos fomentar para que as nossas crianças se reconheçam e tenham seu patrimônio civilizatório de matriz africana e aborígine legitimada?
Essas são algumas inquietações e também desafios gerados na pulsão das leituras fomentadas pelo Sementes que surgem como proposta na formação e elaborações de noções de vida e existir para educadores/as na Bahia e no Brasil.
As noções trabalhadas no caderno de Pesquisa são capazes de recriar um ambiente educacional baseado na dinâmica da diversidade cultural, deixando que a SEMENTE germine nas nossas vidas!
Para adquirir o SEMENTES Caderno de Pesquisa procurar a EDUNEB-Editora da UNEB ou a ACRA.
Boa leitura!

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Jackeline Pinto Amor Divino é Pedagoga com especialização em Psicopedagogia,mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade da UNEB,integra a equipe de educadores da ACRA na Coordenação Pedagógica da Associação.Sua dissertação de mestradoITAPUÃ: tecendo redes de alianças comunitárias através da ACRA”   aborda aspectos históricos de Itapuã  e as linguagens de Educação desenvolvidas na ACRA.

Exorcizei

Por Januária A.C.Patrocínio

Apaguei

Apaguei de uma só vez

Num só dia

Enfim apaguei

Tristezas, mágoas e flechadas recebidas

Limpei

Consegui limpar meu corpo e minha alma

Limpei a mente e tudo enfim

Consegui arrancar as mágoas

As lembranças ruins se foram

Não as quis

Lodo na minha vida

Nenhum

Quero sim flores

Girassóis, miosótis e rosas

Eles sim

Fazem bem

Aromatiza

Limpa

Renova

E traz enfim

Felicidades