A Associação Crianças Raízes do Abaeté, acolheu durante a sua existência, perspectivas de linguagens socioeducativas que afirmavam a dinâmica sócio-histórica e cultural do bairro de Itapuã.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
terça-feira, 9 de setembro de 2014
NAGÔ NILÊ E IAWÔ
Por Marco Aurélio Luz
Os percursos da civilização africano-brasileira se
constituíram de acordo a dinâmica que Mãe Senhora enunciou: ¨da porteira para
dentro, da porteira para fora¨. Nesse vai e vem temos a variação de distância,
mais ou menos afastados da porteira no que se referem às manifestações sócio
culturais.
Iyawo é o princípio de iniciação no universo nagô. É o
processo litúrgico que culmina com a integração daquela iniciada no espaço
sagrado culminando com o dia de dar o nome, seu oruko ¨da porteira para
dentro¨ para sempre.
Iyawo ou Iaô é o nome do samba de terreiro de Gastão Vianna
e Pixinguinha, nos inicios do século passado, que deve ser interpretado por
vozes como de Clementina de Jesus. O samba se refere a proximidade da porteira
para dentro enunciando:
No jakutá de Preto
Velho há uma festa de iaô/tem nêga de Ogum/de Oxalá/ de Iemanjá/mucama de
Oxóssi que é caçador/Nanã Burukô/ora viva Nanã/ iooo, iooo/...no terreiro de
Preto velho iá iá, vamo sarava/côro: -Prá quem meu pai? Todos: Xangô ooo
Era a época da imigração baiana no Rio de Janeiro e a casa
de tia Ciata Iya Kekere abrigava e acolhia os bambas do samba, músicos e
compositores extraordinários que marcaram a história.
Tia Ciata Iya Kekere.
Foto disponível em http://www.conib.org.br/blog/noticias/822/cano_mein_yiddishe_mame_ganha_verso_em_samba_para_homenagear_tia_ciata
Então agora passados muitos anos ouço uma composição de
Genaldo Novaes Alabá com o tema Iyawô que é a abertura do CD Nagô Nilê.
Aqui Iyawo além de entrada no espaço sagrado pela iniciação,
é também a porta de entrada para um novo mundo de valores e de conhecimento, o
deparar-se com uma nova visão de mundo: ¨ A
paz do mundo é iawo/ amor do mundo é iawo/berço do mundo é iyawo/a fé do mundo
é iyawo¨.
Genaldo Novaes ao violão e Gerson J. Santos Costa na percussão.
Foto M. A. Luz
Depois Nagô Nilê flui citando aspectos do
panteão dos orixá forças cósmicas que governam a natureza e que constituem características
singulares que se traduzem nos seres humanos.
A iyawo se deparará com sua identidade profunda aquela
constituída por seu eledá, seu orixá criador, e se socializará a partir de
novos valores com a convivência comunitária presente no processo da iniciação.
A introjeção de valores do comportamento que regem a hierarquia comunitária
entre os mais novos e mais antigos acompanha o acesso ao simbólico de uma
sabedoria milenar. Entrega, dedicação e amorosidade regem as ações rituais que
envolvem o processo de nascimento para quem vai viver no mundo da tradição.
A letra poética conceitual é acompanhada de ritmo e de
arranjos musicais que formam uma harmonia homogênea.
Há um processo de
criatividade envolvendo o retorno do
reprimido. Sabemos que a religião tradicional africana e a percussão que
participa das orquestras rituais foram reprimidas na América do Norte. Assim
sendo o negro nos USA teve que transformar a execução dos instrumentos dos
brancos criando o blues e o jazz primeiramente, e depois inúmeros outros
gêneros que constituem a identidade musical daquele país espalhando-se mundo
afora.
Portanto no Brasil há também os admiradores desses gêneros
musicais que fazem parte do panorama musical brasileiro.
Pixinguinha e Louis Amstrong,genialidades das músicas transatlânticas.
Foto disponível em
http://arquibabotafogo.com/blog/wp-content/uploads/2014/05/pixinguinhaarmstrong.jpg
A atitude de usar e transformar as armas musicais dos
brancos está nos inicios do panorama musical brasileiro que enseja a criação de
vários gêneros musicais.
A famosa música de Pedro Caetano É com esse que eu vou diz tudo num verso: Mas quebra quebra/eu quero ver muita cabrocha boa/batucando no piano da
patroa.
Músicos e interpretes Componentes do CD Nagô Nilê.
Então em Nagô Nilê
há um processo criativo de composição de música percussiva das orquestras
rituais com a música do jazz, porque o jazz é odara, é música boa e bonita.
O jazz mantém os princípios da estética da comunalidade
africana uma vez transposta para as Américas. Basta falarmos de Louis Amstrong
sua voz e seu instrumento de sopro ou do afamado e talentoso Errol Garner que
nos dá uma ilustração nas suas execuções ao piano: A beleza musical se
caracteriza pela liberdade das interpretações que acontecem com ludicidade e o
grande prazer de tocar, a alegria do prazer estético.
Errol Garner e a alegria da criação musical.
Foto disponível em
http://lamorguefiles.blogspot.com.br/2014/01/musician-erroll-garner-dies-en-route-to.html
Nagô
Nilê reúne músicos e interpretes da tradição com músicos e arranjadores do
jazz, e se pode então usufruir da liberdade de apreciar a percussão da tradição
com seus desdobramentos recriativos, que originou- se da repressão, mas que
como diz o ditado, ¨o bambu, enverga para não quebrar¨, ganhou e conquistou uma
territorialidade própria com beleza, alegria e encantamento, odara pupo.
Para maiores informações:
https://www.youtube.com/watch?v=UROwbsSTxKshttp://nagonile.com/project.html