A Associação Crianças Raízes do Abaeté, acolheu durante a sua existência, perspectivas de linguagens socioeducativas que afirmavam a dinâmica sócio-histórica e cultural do bairro de Itapuã.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
domingo, 5 de julho de 2015
ODUN INAN, O FESTIVAL DO FOGO, XANGÔ E EGUNGUN
Por Marco Aurélio Luz
Nos meses de junho e julho acontece o Festival do Fogo nos
terreiros de culto aos ancestrais e os de orixá.
Xangô é o orixá patrono do princípio do fogo.
Iku, baba, iyeiye, Morte, pai, mãe referem-se as
características do orixá Xangô. Muita gente estranha e indaga por quê?
Tudo tem a ver com o princípio constituinte do orixá que é
de continuidade ininterrupta de vida no aiyê, nesse mundo. Esse princípio é
simbolizado pela cor vermelha o axé pupa, sangue circulante.
Desde que recuemos na noite dos tempos encontraremos a
espécie humana vivendo em sociedade. E é a domesticação do fogo que proporciona
a formidável evolução. A vida social, a sociabilidade constituída em volta do
fogo e as dificuldades inerentes as diferenças de interesses da ``polis´´ promoverão a política.
A conquista do fogo e a domesticação do cavalo são marcos significativos no caminhar da humanidade
Foto disponível na internet
Xangô é orixá do fogo elemento da natureza e Oba, Rei que
zela pela harmonia ou equilíbrio social. Para obter esse equilíbrio ele se vale
de múltiplos estratagemas, sempre se orientando pelo valor da justiça como
fator preponderante da pulsão ou desejo de sociabilidade.
Oxê, emblema do orixá Xangô.
Escultura e foto de M.A. Luz
Para tanto ele enfrenta muitas dificuldades, pois o poder
político é fonte de acirradas disputas. Dentre suas armas o idan a força
espiritual e a capacidade de controlar o fogo também em seus aspectos de
destruição.
Okurin Meji ati exin, dois homens com lança
Escultura em alto relevo
Escultura de M. A. Luz
O valor da justiça está em promover o equilíbrio social que possibilita a paz necessária a garantir a expansão das famílias, das linhagens, das comunidades, das cidades do reino.
Obirin meji ati omode kekere meji ati odo. Duas mulheres com dois fihos e pilão
Escultura em alto relevo de M. A. Luz
Nesse sentido Xangô representa princípio de expansão familiar, Baba, pai e Iyeiye mãe. Ele também está cercado de awon omode as crianças. Os Ibeji os orixá gêmeos, princípio de fertilidade e expansão estão relacionados a Xangô.
Ibeji, nascidos dois e o terceiro.
Esculturas e foto de M. A. Luz
Esses aspectos de Xangô fazem com que se oponha a morte,
outro aspecto do existir. É frase feita de que`` Xangô não gosta de corpo frio´´
sem a quentura do sangue circulante. E é fato que quando alguém de quem ele é o
eleda o criador está para morrer Xangô dele se afasta.
Muita gente de Xangô não se aproxima do culto aos Egungun
por esse motivo. Uma interpretação equivocada porque na verdade os ancestrais
garantem a continuidade da vida.
Uma coisa são os egun, espírito dos ara orun os habitantes
do orun o além, que passaram pela vida, outra são os Egungun ou Baba Egun os
ancestrais cultuados nas comunidades e que se destacaram em vida por garantirem
a conservação e a expansão dos valores sagrados da tradição que protege e
possibilita o bem viver nesse mundo.
Elexin ati odo,ekun. Cavaleiro com pilão. Ekun.
O leopardo. Coluna do templo no Ilê Axipá.
Escultura e foto M.A. Luz
Essa qualidade de preservadores das tradições religiosas que
garantem a proteção comunitária aproxima os princípios de Xangô aos Egungun.
Itans, histórias contam que`` Egungun roubou a roupa de
Xangô´´. Os abala as tiras de pano que fazem parte das vestimentas rituais de
ambos simbolizando expansão de famílias e linhagens se desprendem parcialmente
nos movimentos das danças das entidades.
Abala, tiras de pano.
Foto disponível na internet
Essas características de Xangô estão representadas pela cor branca, axé funfun, princípio de existência abstrata, o mundo invisível dos ancestrais que Iku orixá Morte proporciona favorecendo a restituição da matéria, justiça que possibilita a realização do ciclo vital. ``Uns vão para dar vez a outros``.
Portanto sem ancestralidade a vida não se realizaria. Vida e
morte é uma coisa só, okan naa ni.
Aprendi com o Mestre Didi Alapini ipekun ojé sacerdote
supremo, que todo ritual deve começar saudando e louvando os ancestrais,
masculinos e femininos. Um oriki, poema que revelou observa:
Iya mi Axexê Minha Mãe é minha
origem
Baba mi Axexê Meu Pai é minha origem
Olorun mi Axexê ooo Deus é minha origem
Ki ntoo bo orixa a ee Por essa razão, adorarei minhas
origens antes de qualquer orixá.