Opa Ossaiyn ati Oxumare Meji, escultura de Mestre Didi
Autor: Gildeci de Oliveira Leite
Escritor, professor da UNEB, sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
Dezanove de julho
consolidou-se como uma data comemorativa para a família Asipà do Brasil,
família biológica, família espiritual. Sempre foi comemorativa pelo nascimento
de José Félix dos Santos, que depois passou a ser, também, “Ewé Tolú”, “a folha é senhora do
espírito”, do Ilê Axé Opô Afonjá. Filho do Orixá Ossãe, Félix tinha consigo o
segredo das folhas e o espírito da cura. Ogã Toyadé, que significa “chegou o
representante de Yansã”, também compunha a casa da Oya mensan orum, Iansã a mãe dos 09 espaços do além, e trazia consigo a
autoridade de empunhar o bastão sagrado do ojés, sacerdotes do culto aos ancestrais.
Para alguns pode ser difícil compreender como a partida definitiva para
o mundo espiritual pode significar fortalecimento dos que aqui estão, dos que
já estão por lá. Digo para alguns, como se fosse difícil somente para os
outros, para aqueles, que não possuem a fé na ancestralidade. Nós, os de
dentro, também choramos as lágrimas da saudade, que são enxugadas pela presença
de quem se foi apenas para outra dimensão do existir, mas vive sempre ao nosso
lado a nos proteger.
Morador da casa do mistério, meu compadre Félix, cumpre o seu destino de
continuar nos olhando, zelando por nós como fez em seus 52 anos de existência
terrena. As vezes acho que ele já sabia de sua partida. As vezes acho, que
consciente do cumprimento de sua missão no mundo espiritual, nos deixou recados
importantes, lições e ensinamentos materializados no segredo necessário para a
individualidade de cada filho, filha, amigo, amiga, irmão, irmã.
Sim, a folha é a senhora do espírito e esse espírito, do qual lembramos
e pedimos a proteção, continua senhor de muitos outros espíritos dos mundos de
nossa existência. Não há necessidade de pedir, que descanse em paz. A paz, os
espíritos elevados já têm. O descanso é um conceito relativo. Acredito, que na
espiritualidade não há cansaço no trabalho incessante de nossa proteção. Estamos
na alegria de viver “na fé e na paz” como o bisneto de Mãe Senhora ensinou.