Por Gildeci Leite
O
livro Ile Asipa Um Terreiro na História de Marco Aurélio Luz,
traça uma trajetória incrível da vinda dos africanos ao Brasil e de
sua história tão pouco conhecida.
Mestre
Didi ao encontrar a família real a que pertencia em Oyo e Ketu, através do
brasão oral preservado por Mãe Senhora, nos traz um legado inestimável.
Todos
os grupamentos humanos têm sua história e seus valores civilizatórios preservados.
A comunidade preta, em função do processo desumano escravagista, foi alijada de
sua história e de seus valores básicos.
O
Ilê Asipá representa a manutenção de toda uma forma de ser e estar no mundo da comunidade
nagô, que recriou em nosso país a sua visão de mundo, sua fé, seus valores
ancestrais.
A história do Ilê Asipá e sua proposta de atuação revela toda a preocupação da sociedade iorubana com a preservação do território, com o cuidar das plantas, dos animais e das pessoas de uma forma ampla e irrestrita.
A
preocupação de Mestre Didi e seus ojés com a juventude preta e sua inserção no
mundo tecnológico que nos cerca é evidente, bem como a preservação do lazer, da
alegria de viver, da manutenção de sua fé e de suas famílias. A importância
dada à natureza e à criatividade se revela na arte apresentada e desenvolvida
por Mestre Didi.
A
demonstração de como se pode manter a tradição de um grupo sem perder a
perspectiva da sociedade como um todo fica muito clara neste trabalho. Ao
receber o título de Doutor Honoris Causa da UFBA, e ao criar instituições como
o INTECAB, ou participar dos Congressos Mundiais da Tradição dos Orixás e
Cultura, Mestre Didi nos provou sua importância na construção de uma sociedade
que valorize a religiosidade, a cultura e a arte, acumulando pessoas e não
bens.
A
consolidação da herança civilizatória real africana existente em nosso país, o
conhecimento da língua, história e tradições provenientes desde o antigo
império yoruba/nagô caracteriza o ilê axé.
A
afirmação do pensar nagô de acordo com Muniz Sodré, o autor nos mostra como somos naturalmente diversos,
pois temos diferentes orixás e ancestrais, mas tal variação é absolutamente
normal e necessária para a evolução dos indivíduos.
Atender
ao pensamento da alteridade, negando o pensamento europeu
de verdade única, situando as diferentes famílias dos ojés, já que somos
naturalmente diferentes uns dos outros é o constitui e caracteriza o egbe a
comunidade consagrada.
Situar
os espaços de axé, a arte sacra negra, o canto, sem esquecer as
experiências educacionais, fechando com as Conferências Mundiais das Tradições
dos orixás e com o Intecab Instituto da Tradição e Cultura Afro-brasileira, o
Alapini Mestre Didi Asipa nos mostrou uma atuação incrível tanto da porteira
para dentro, como da porteira para fora.