sábado, 26 de novembro de 2011

POPULAÇÃO NEGRA, RACISMO E SOFRIMENTO PSÍQUICO

Marco Antonio Chagas Guimarães


O Brasil é um país pluri-étnico que tem em torno de 52% de sua população constituída de negros (pretos e pardos), sendo o segundo país no mundo em população negra, seguido da Nigéria, país africano. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o Estado reconheceu que existe racismo no Brasil, mas a “herança do período escravocrata existente no imaginário brasileiro faz com que o racismo e a discriminação racial estejam profundamente enraizados na cultura e nas dinâmicas socais do nosso país” (Quintiliano e Lopes, 2007, p.1). Estatísticas oficiais evidenciam que o racismo é um dos determinantes das condições de saúde, o que resulta em altas taxas de morbidade e mortalidade da população negra e na existência de desigualdades e iniqüidades que impedem o acesso a direitos à metade da população brasileira.
No imaginário de nossa “democracia racial” ser negro é, por exemplo, ser feio, sujo, ter pouca inteligência. As positividades negras são, em geral, pensadas/sentidas em termos idealizados e/ou folclorizados, relacionado-as, ao samba, ao futebol, à destreza sexual, à resistência para o esforço no trabalho, ou resistência à dor. Ainda hoje, a literatura chama de banzo, numa forma romântico-folclorizada, o que sabemos ter sido depressão, conseqüência do sofrimento psíquico de pessoas negras durante o período escravocrata.
Na prática o produto final desse imaginário promove o travamento de portas em bancos, o acompanhamento - com o olhar e com a presença acintosa - a pessoas negras em shoppings e supermercados, promove a procura e o encontro de balas perdidas em corpos de sujeitos psíquicos que têm, em sua grande maioria, uma determinada cor. Sabemos também que a repercussão dessas vivências leva ao trabalho de baixa remuneração, desigualdades em educação e iniquidades em saúde, só para citar algumas formas de não garantia de direitos humanos.



A clínica de pacientes negros tem mostrado que as repercussões psíquicas dessas vivências, em um meio ambiente nada bom o suficiente, são humilhação social, baixa estima, timidez excessiva, irritabilidade, ansiedade intensa, estados fóbicos, hipertensão, depressão, obesidade, agressividade intra ou intersubjetiva, uso de álcool ou outras drogas, entre outros.
Neste dia 20 de novembro, dia em que se propõe uma reflexão à consciência, de negros e brancos, sobre as questões raciais brasileiras, por intermédio da figura de um representante da resiliência negra no Brasil, Zumbi dos Palmares, é importante que a psicanálise e nós, psicanalistas, possamos refletir em nossas interioridades, em nossos corações, sobre o tema “racismo e sofrimento psíquico” lembrando que a história da população negra no Brasil, assim como de sua subjetividade, é construída a partir de um processo político, econômico e ideológico que promove vulnerabilidades e iniqüidades no acesso aos direitos humanos.
O Premio Nobel da Paz de 1986, Elie Wiesel, sobrevivente de campos de concentração nazistas, numa entrevista concedida a revista Veja, em 2009, lembra-nos que o holocausto não pode ser negado “porque dói. Dói nos sobreviventes, nos seus filhos e nos filhos de seus filhos. Quem nega o holocausto pela dor que inflige aos sobreviventes e seus descendentes, comete mais do que apenas pecado (alienação). É uma crueldade”. Como muito bem aprendemos com a população judaica, é preciso “não esquecer para não repetir jamais”.


Minha contribuição busca propor que as pessoas presentes neste Encontro da Federação Brasileira de Psicanálise – Febrapsi possam acolher em suas interioridades, para posterior reflexão, a ideia de que o racismo é estruturante de nossas relações sociais e que as subjetividades que somos todos e, todos nós psicanalistas e profissionais de saúde mental, são construídas no interior destas relações. A ideia do quanto esse elemento fala, ou não, em nós, quando somos agentes de saúde, na escuta psicanalítica ou no trabalho em saúde mental. Meu desejo com esta contribuição é também buscar, além do direito à saúde, uma consciência mais ampla das relações sociais e de direitos humanos entre os brasileiros. Neste sentido, associo-me ao desejo expresso na fala de Sueli Carneiro, quando ela diz que “A utopia que hoje perseguimos consiste em buscar um atalho entre uma negritude redutora da dimensão humana e a universalidade ocidental hegemônica, que anula a diversidade. Ser negro sem somente ser negro, ser mulher sem ser somente mulher, ser mulher negra sem ser somente mulher negra. Alcançar a igualdade de direitos é converter-se em um ser humano pleno e cheio de possibilidades e oportunidades para além de sua condição de raça e gênero. Esse é o sentido final dessa luta” (Carneiro, 2003, p.57).


Referência Bibliográfica

CARNEIRO, S. - Enegrecer o Feminino: A Situação da Mulher Negra na América Latina a partir de uma Perspectiva de Gênero – in- ASHOKA Empreendedores Sociais e Takano Engenharia (org.) – Racismos Contemporâneos. Takano, Rio de Janeiro, 2003.

QUINTILIANO, L., LOPES, F. – Combate ao Racismo Institucional, DIFID – Ministério do Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional, Brasília, 2007.

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Marco Antonio Chagas Guimarães é Doutor em psicologia clínica (PUC-Rio), psicólogo, psicanalista, integrante do Grupo Psicossomática Psicanalítica Oriaperê (RJ), integrante da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (núcleo RJ).Este artigo foi publicado em http://www.sbprj.org.br/site/publicacoes.php?tipo=artigo



20 DE NOVEMBRO, SEJA CONSCIENTE: NÃO DEIXE ESSE DIA PASSAR EM BRANCO!

Por Márcio Nery




Crianças na concentração do para o início do desfile pelas ruas de Sussuarana

Foto Márcio Nery

Na manha de sexta-feira, dia 18 de novembro de 2011, a comunidade escolar da Escola Municipal Profª Maria Jose Fonseca, em Sussuarana, realizou a sua 3ª Caminhada da Consciência Negra, pelas ruas do bairro. A Caminhada constitui culminância de uma serie de ações realizadas ao longo de todo ano voltadas para identificar e exaltar, no espaço escolar, as características da africanidade presente no nosso cotidiano.
Ao som de bandas de percussão local e de carro de som cedido por comerciantes da localidade, estudantes, professores, funcionários, pais e demais membros da comunidade, realizaram a caminhada cantando sucessos que exaltam o orgulho a nossa afrobaianidade, tais como “Alegria da Cidade”, interpretada por Margarete Menezes, “Canto da Cidade”, interpretada por Daniela Mercury, “Margarida Perfumada”, da Timbalada, “Já é” de Jau Peri e Pierre Onassis, “Malandrinha” de Edson Gomes, “Mama África” de Chico César, “Toda Menina Baiana” de Gilberto Gil, “Negro Lindo” do Rebolation, “Firmamento” de Cidade Negra e “Eu Sou Negão”, clássico de Jerônimo. Essas composições foram estudadas e interpretadas coletivamente em abordagens didático-pedagógicas. Foi elaborado também um concurso para eleger o rei e a rainha da beleza negra da Escola, que foram destaque da Caminhada e tiveram suas fotos estampadas na camisa confeccionada para esse fim. Destaque também para a camisa elaborada para os estudantes do Segmento de Educação de Jovens e Adultos (SEJA), comemorando os 30 anos de existência da Unidade Escolar e trazendo a seguinte mensagem: “20 de Novembro, SEJA Consciente: não deixe esse dia passar em branco!”
A diretora Joana Mota da Escola Municipal Profª Maria Jose Fonseca,comentou:“com essa atitude esperamos formar uma nova geração de pessoas mais conscientes de sua historia, necessidades e aspirações humanas, indo também às ruas para consolidar seus direitos, se necessário for, alem, é claro, de celebrar conscientemente o orgulho dos princípios formadores de nossa sociedade.”
A Caminhada foi concluída com a “tradicional levada”, quando moradores, comerciantes e estudantes das escolas em torno, saindo das escolas ao final da aula, juntam-se ao movimento de maneira espontânea, animando e abrilhantando ainda mais a Caminhada.
A Escola Municipal Profª Maria José Fonseca fica em Sussuarana, Salvador, Bahia. Voltada para atender a primeira etapa do Ensino Fundamental possui cerca de 600 alunos moradores das comunidades em torno. No Ensino Fundamental Noturno trabalha com a modalidade SEJA, Segmento de Educação de Jovens e Adultos, concentrando, em sua maioria, mulheres idosas e negras em processo de alfabetização O bairro de Nova Sussuarana, roteiro obrigatório da Caminhada, constituiu-se a partir de uma antiga roça de candomblé. Ainda podem-se encontrar as jaqueiras e mangueiras centenárias remanescentes do antigo assentamento da roça ali existente na primeira metade do século XX.
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Márico Nery de Almeida é professor, Pedagogo, Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e vice-Diretor do Segmento de Educação de Jovens e Adultos (SEJA) da Esc. Mun. Profª Maria José Fonseca, em Sussuarana.

ITAPUÃ ÁFRICA VIVA!


Ilustração de Maurício Luz 1993

“Na convivência profunda que temos com os valores e linguagens que caracterizam a comunalidade de Itapuã fomos encorajados a tentar promover nas escolas e na Universidade espaços institucionais que provocassem novas reflexões no campo educacional, e que não se restringissem a denunciar o recalque, o preconceito empiricamente constatados, mas, sobretudo, apresentassem linguagens pedagógicas baseadas nos valores da alteridade civilizatória africano-brasileira.
Na Mini Comunidade Oba Biyi,primeira experiência de Educação Pluricultural no Brasil e com a qual aprendemos muito ao longo dos anos se entoava un canto nagô:
“Aiyó, aiyó, alegria alegria., omo nilê aiyó”, filhos da casa alegria. É essa alegria que envolve ou deve envolver o espaço, luzes e cores, tatilidade, sinergia, comunalidade, sociabilidade na educação desdobrada dos valores e linguagem da tradição africana. Na Mini, a alegria estava na vida cotidiana, no brincar, no elaborar, no aprender, jogando, representando, transformando, criando, fazendo arte conjuntamente num só corpo comunal. Enfim, a Mini propiciava um gostar de estar no mundo, se divertindo e sublimando a angústia existencial, substituindo-a pelo efeito estético da busca da beleza, odara, e pela busca do conhecimento que implica sobretudo em aceitar o mistério do existir.”
(LUZ,Marco Aurélio.O rei nasce aqui.(contra-capa).Salvador:Fala Nagô,2007).

Os caminhos que vamos trilhando indicam a possibilidade de uma educação em que nossas crianças e jovens aprendam a lidar com o repertório de códigos da sociedade urbano-industrial, mas utilizando-os como estratégia de legitimação da alteridade civilizatória africana; no caso, conquistando espaços institucionais, e neles fincar, recriar e expandir também, o repertório de valores da comunalidade.
A educação nesta ambiência singular africano-brasileira em Itapuã,terá como a linguagem pedagógica fundamental, o intercâmbio constante com o universo espaço-temporal mítico, predominantemente odara, que envolve o mistério do existir, o conhecimento vivido e concebido, conhecimentos e experiências aprendidos por toda a vida.
Resolvemos então propor esse auto-coreográfico “Itapuã quem te viu e quem te vê”,que será um núcleo irradiador de linguagens que naturalmente irão penetrar no cotidiano das escolas fincadas em Itapuã.


Espaço da capoeira na ACRA
Foto Narcimária Luz

Itapuã quem te viu e quem te vê,faz um apelo ao universo simbólico afro-brasileiro, dando forma as narrativas de mitos, provérbios,música polirrítmica de base percurssiva, danças, dramatizações, repertório culinário, conhecimento milenar sobre a complexidade de vida que atravessa as dunas,o mar,a lagoa, as hierarquias comunitárias e suas instituições, organização territorial, repertório de cantigas e histórias dos pescadores que acumulam narrativas valiosas sobre os princípios fundadores da territorialidade, o mistério do viver e as estratégias de continuidade da tradição herança dos antepassados.”

Trecho do livro ITAPUÃ QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ autoria Narcimária Luz.
Salvador:EDUNEB,2009.

CONSCIÊNCIA NEGRA: A IMPRENSA DIANTE DE UM NOVO FATO SOCIAL

Por Muniz Sodré



A terceira semana de novembro caracterizou-se por um espaço notável na mídia dedicado aos negros brasileiros. Notável ainda é o fato de que, a rigor, não havia propriamente "acontecimento", pelos critérios habitualmente adotados pela prática jornalística, que implicam singularidade, acidentalidade e improbabilidade. Inexistia qualquer ruptura no fluxo normalizado das ocorrências. Claro, pode-se pensar no feriado de Zumbi dos Palmares, "Dia da Consciência Negra", mas isso já data de alguns anos e sem a mesma repercussão midiática.
A primeira conclusão se tirar é de que a "questão do negro" – o problema da inserção mais favorável de pretos e pardos na sociedade global dos indivíduos de pele clara – ganhou foros de questão pública amplamente reconhecida; portanto, adquiriu estatuto teórico de fato social. Evidência incontornável desse fato são os resultados do segundo estudo sobre as desigualdades de cor e raça, divulgados pelo IBGE (Folha de S.Paulo, 18/11), segundo os quais a diferença na renda de pretos e pardos em relação aos brancos cresce na razão direta do aumento da escolaridade dos trabalhadores. Ao lado disso, na média nacional, o branco ganha o dobro (96%) do salário da gente de pele escura.
Não é o caso de ficar repetindo aqui dados já publicados na grande imprensa. A Folha foi muito mais extensiva do que O Globo a respeito, mas ambos os jornais deram destaque ao assunto, que chegou mesmo a ganhar manchetes. Mas não há como deixar de sublinhar certos aspectos que integram, às vezes sem o devido realce, os textos das matérias.
Um deles, originário da gerência da PME (Pesquisa Mensal de Emprego, uma das bases para o estudo do IBGE), é a afirmativa de que uma parte da diferença salarial entre esses grupos se explica pelo próprio processo histórico de exclusão da população negra. Um outro detém-se na escolaridade como principal fator a diferenciar o rendimento do trabalho: só 8,2% dos pretos e pardos com mais de 18 anos ao menos freqüentaram a universidade (entre os brancos, o percentual é de 25,5%).
Fora da esfera do trabalho, entretanto, a mais recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE é alentadora: o percentual de brasileiros que se declaram pretos ou pardos no ensino superior, na última década, subiu de 18% para 30%.

Situação desigual

Uma pesquisa desse porte contém material não só para várias edições de jornal, mas também para alimentar estudos e debates, seja no mundo acadêmico, seja junto aos ditos representantes do povo no Congresso. Ao mesmo tempo, tudo isso pode ser altamente surpreendente para o leitor comum, em especial aquele habituado à grande imprensa carioca. É que, desde o aparecimento da questão das cotas para negros nas universidades, constituiu-se um tipo de grupo intelectual (tanto no meio jornalístico – o colunista Elio Gaspari é uma exceção marcante – quanto no acadêmico) incisivo na negação do óbvio, a diferença racial na sociedade brasileira.
Investindo contra tudo que lhes pareça uma tentativa de "racializar" o país, reiteram: não existe raça, ninguém pode determinar quem é branco ou quem é negro no Brasil. O primeiro argumento, o da inexistência de raças humanas, é uma verdade biologicamente comprovada e antropologicamente reafirmada há mais de meio século.
O segundo argumento é problemático, senão falso, porque, embora não haja raças, existe a "relação racial", ou seja, o imaginário da raça com a sua histórica exaltação da supremacia do paradigma branco e as conseqüentes discriminações das diferenças, atravessando sempre a situação e a posição de classe dos cidadãos.
Mesmo pobre, logo inserido numa situação de classe socialmente desigual, o indivíduo de cor clara pode sentir-se em posição de classe superior frente ao preto/pardo, que nasce com a cor da pele como desvantagem "patrimonial" numa sociedade que ainda guarda visceralmente os esquemas mentais da escravatura.

Indício forte

A pesquisa do IBGE é, em si mesma, sem grande esforço interpretativo, um claro argumento no sentido que a "relação racial" é uma questão das mais sérias para o equilíbrio da cidadania brasileira. Ela nos ensina sem subterfúgios, primeiro, que a realidade social sabe perfeitamente fazer a diferença entre branco e negro (ou entre claro e escuro, para quem preferir outra terminologia), mostrando a quem quiser ver o quanto as aparências estéticas podem integrar a lógica da dominação.
Segundo, evidencia que as políticas de ação afirmativa de base "racial" vêm revelando um grande potencial para incluir nas universidades, tornando-os politicamente visíveis, estratos populacionais estruturalmente à margem da cena pública.
Terceiro, surpreende (mas apenas os desavisados) com a informação de que as dificuldades de ascensão podem crescer com o aumento da escolaridade. Este último item é indício forte de que toda a argumentação político-sociológica que remete às condições de classe social deixa de fora os resíduos de um velho mal-estar civilizatório chamado racismo.

Artigo publicado em 28/11/2006 na edição 409 do Observatório de Imprensa

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/a_imprensa_diante_de_um_novo_fato_social

domingo, 13 de novembro de 2011

AYÓ!MIRIAM MAKEBA

Por Narcimária Luz


No dia 10 de novembro de 2008 faleceu Miriam Makeba, deixando-nos um riquíssimo legado, que tende a nos aproximar da história do povo sul africano, seu  patrimônio milenar e ajudando-nos a compor narrativas fascinantes capazes de contribuir para deixar a   África entrar nas escolas através de   outras linguagens que rompam com os esquematismos e engradamentos teórico-metodológicos da historiografia fixada na África "pré-colonial" ou "pós-colonial".
Para homenagear essa expoente liderança feminina no mundo,e  exemplo importante de recusa inconteste ao apartheid e suas políticas genocidas, selecionamos vídeos que emocionam por reverenciar a sua memória,apresentar a pulsão de vida africana que Miriam levava a todos os lugares onde ia.
Cresci ouvindo Miriam Makeba,aprendendo com ela e outras mulheres negras da África,Américas e Caribe, que podemos comunicar idéias radicais contra o racismo,alimentando-nos do nosso solo de origem fazendo transbordar a alegria que constitui a alteridade civilizatória africana.
É necessário dizer, que a alegria é uma categoria filosófica primordial na abordagem do Programa Descolonização e Educação-PRODESE,e se refere a radicalidade das análises epistemológicas que se estruturam no contínuo africano que carrega muita emoção, principalmente por conter no seu âmago, o pensamento original ligado ao nosso solo de origem civilizatório africano no Brasil.
Assim é a canção “Pata pata”,imortalizada na voz e interpretação de Miriam Makeba carregando a alegria que canta o “solo de origem” de gerações de africanos/as irradiando o direito à alteridade civilizatória, pelos quatro cantos do mundo.
Para quem não sabe,”pata pata” é uma dança tradicional da África do Sul,assim como o ijexá e o samba nos (re)liga através de redes de alianças comunitárias as tradições características das populações africano-brasileiras.
A canção “pata pata” interpretada por Miriam,é de sua autoria com Ragovoy.Vejam a mensagem:

“Sat wuguga sat ju benga sat si pata pata

Pata, pata é o nome de uma dança

Sat wuguga sat ju benga sat si pata pata

Que fazemos no caminho de Joanesburgo

Sat wuguga sat ju benga sat si pata pata

E todo mundo começa a se mexer

Sat wuguga sat ju benga sat si pata pata

Tão logo Pata, Pata começa a tocar, ooo

Hihi ha mama, hi-a-ma sat si pata pata

ooo, toda sexta e sábado a noite

Hihi ha mama, hi-a-ma sat si pata pata

É hora de Pata

A-hihi ha mama, hi-a-ma sat si pata pata

A dança continua a noite inteira

A-hihi ha mama, hi-a-ma sat si pata pata

Até o sol da manhã começar a brilhar, uhhh”

Outra coisa importante, todo esse complexo de formas e modos de comunicação característico das músicas,danças,etc atualizam a África em nossas vidas tornando-a contemporânea, fortalecendo os vínculos de sociabilidade dos povos em todo os continentes que têm a pujança dessa civilização.
Os vínculos de sociabilidade dos povos só é possível(principalmente para nós que vivemos a tradição nagô na Bahia), se estiver envolto do princípio “odara”,que significa simultaneamente bom e bonito, constituindo a infinitude do repertório de linguagens técnicas e estéticas, que estruturam os modos e formas de sociabilidades da existência africano-brasileira. Na realização da linguagem, as mais profundas das necessidades existenciais, são atravessadas pelo princípio odara ,que transporta conhecimento,emoção e afetividade.
“(...) Odara exprime simultaneamente o bom e belo. O útil e eficaz não está dissociado da beleza e do sentimento, o técnico e o estético são expressões únicas.” (LUZ,Marco Aurélio.Cultura Negra em Tempos Pós Modernos.EDUFBA,1992,122)
Diante dessa breve reflexão,passemos a rememorar o legado dessa mulher extraordinária.
O primeiro vídeo apresenta um pouco da biografia de Miriam;o segundo e terceiro, destacam Miriam interpretando “Pata pata” em dois momentos 1967 e 2006.O último marca o seu retorno a África do Sul depois de décadas no exílio,emocionando a todos/as até hoje.
Tudo muito lindo!
Odara!
Com vocês Miriam Makeba!

sábado, 12 de novembro de 2011

Seminário Artefatos da Cultura Negra no Ceará



"Entre os dias 24 de Novembro e 02 de Dezembro de 2011 será realizado o Seminário Artefatos da Cultura Negra no Ceará, em sua segunda edição. Este encontro faz parte das comemorações do Mês da Consciência Negra e do Ano Internacional dos Afrodescendentes proclamado pela ONU.
O evento é promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará através do Eixo Sociopóetica, Cultura e Relações Étnico-raciais da Linha Movimentos Sociais Educação Popular e Escola e terá como sedes a Universidade Federal do Ceará, Campus Benfica/Fortaleza-Ce e a Universidade Regional do Cariri, Campus Pimenta/Crato-Ce.
Este evento conta com a participação da Coordenadoria de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial – COPPIR; Coordenadoria Especial de Promoção da Igualdade Racial – CEPIR; Fórum Permanente de Educação das Relações Étnicorraciais do Estado do Ceará; Prefeitura de Fortaleza/Secretaria Municipal de Educação; Núcleo de Africanidades Cearenses – NACE; Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Regional do Cariri – URCA; Sindicato de Docentes da URCA - Sindurca ; Núcleo de Estudos em Trabalho e Educação – NETED; Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC; Instituto Ecológico e Cultural Martins Filho – IEC; Projeto No Terreiro dos Brincantes.
Para mais informações acesse o blog: http://blogs.multimeios.ufc.br/artefatosdaculturanegra e divulgue essa iniciativa"

AGENDE:
Horário: 24 novembro 2011 a 2 dezembro 2011

Local: Faculdade de Educação da universidade Federal do Ceará

Rua: Waldery Uchoa, nº 1.

Cidade: Fortaleza

Organização de  Henrique Cunha Junior, Rita de Cássia Félix de Souza e Maria Saraiva

3º SEMINÁRIO NACIONAL DE AFRICANIDADES E AFRODESCENDÊNCIA – FORMAÇÃO DE PROFESSORES 2012



"As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino da História da África e Cultura Afrobrasileira, oriundas da Lei 10.639/03 (que obriga o ensino da temática citada em todas as escolas), a Lei 11.645/08 (que altera o texto da anterior, incluindo a obrigatoriedade da História e Culturas Indígenas), associadas ao Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino da História da África e Cultura Afrobrasileira e para a Educação das Relações Etnicorraciais são documentos que redirecionam a práxis pedagógica nas instituições de ensino em todo o país atualmente.
Nesse contexto, emerge a necessidade da formação continuada de educadores de todas as áreas e modalidades para o entendimento dessas novas orientações, que estão sendo acompanhadas por um articulado sistema: núcleos de pesquisadores das Instituições de Ensino Superior, associações de pesquisadores negros, órgãos de governos federal, estaduais e municipais, manifestações de movimentos sociais e entidades civis. Sabe-se, entretanto, que as iniciativas ainda não respondem a demanda existente.
As edições do SEMINÁRIO NACIONAL DE AFRICANIDADES E AFRODESCENDÊNCIA – FORMAÇÃO DE PROFESSORES sempre enfocaram a formação dos profissionais da Educação, visando a divulgação e renovação das temáticas e abordagens sobre a experiência de povos negros na sociedade brasileira, desse modo promovendo atualização das práticas educacionais de seus participantes. Na primeira versão desse evento formativo, ocorrido em Fortaleza (CE), priorizou-se o tema Formação de Professores para a Educação das Relações Etnicorraciais; no segundo, em Vitória (ES), abordaram-se as Histórias de Vida. Em 2012, sua terceira edição propõe em Salvador (BA) a reunião de um público interessado no estudo da Estética e Tecnologias Negras."

sábado, 5 de novembro de 2011

ENTREVISTA DE MARCO AURÉLIO LUZ SOBRE CULTURA NEGRA E IDEOLOGIA DO RECALQUE

 ACRA- O importante livro de sua autoria CULTURA NEGRA E IDEOLOGIA DO RECALQUE vem a ser publicado em sua 3ª edição pela EDUFBA/PALLAS, como foi na primeira edição pela ACHIAMÉ?

MA- A primeira publicação foi em 1983, ano da IIª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura que foi realizada na Bahia. Durante a minha participação lancei o livro no Centro de Convenções, meio na improvisação mas já teve muito boa aceitação. Depois foi o lançamento no Rio de Janeiro no IPCN, Instituto de Pesquisa da Cultura Negra. Naqueles anos era incipiente a produção de livros que abordassem essa temática mas ao mesmo tempo avolumava-se a organização da luta do movimento negro contra o racismo.



 No lançamento tenho lembrança da presença de muita gente boa, como as exponenciais e inesquecíveis professoras e líderes Lélia Gonzales e Beatriz Nascimento, o pessoal do IPCN, Paulo Roberto, Orlando, Sebastião e muitos outros, o radialista e escritor José Beniste e muito mais.

ACRA-E como foi ?

MA- Por essas fotos tiradas por Arthur Bosisio, você pode ter uma idéia. Primeiro com o auditório decorado por fotos de Arthur Ikissima da Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura que então fiz o relatório do magnífico e histórico acontecimento com todos muito interessados pois houvera uma ampla repercussão. Depois falei sobre o livro e, em seguida as indagações passamos aos autógrafos, comes e bebes enfim a confraternização.


 Público prestigiando o lançamento do livro Cultura Negra e Ideologia do Recalque na sede do Instituto de Pesquisa Culturas Negras-IPCN no Rio de Janeiro em 1983.Entre o público presente destaque para a presença da saudosa  Professora Lélia Gonzalez amiga do autor.

 

Professor Marco Aurélio Luz aproveita o espaço do lançamento do livro para  fazer uma comunicação abordando as questões apresentadas  no livro.
Sede do IPCN no Rio de Janeiro em 1983.


 
Ainda no lançamento do livro professor Marco Aurélio Luz conversando com a amiga e professora saudosa Beatriz Nascimento presente nesse momento histórico do lançamento do clássico Cultura negra e Ideologia do Recalque.

ACRA- Do que trata especificamente o livro?

MA- Resumidamente o valor do livro é que aborda o racismo como uma ideologia que alimenta a Razão de Estado que por sua vez promove a política do embranquecimento, que Abdias do Nascimento classificou no livro O Genocídio do Negro Brasileiro com o subtítulo “Processo de um Racismo Mascarado”.
Essa ideologia, (um conceito familiar aos marxistas althusserianos, com nuances freudianas), por sua vez perpassa também as produções “culturais” e “científicas” dos aparelhos ideológicos de Estado ou Instituições de Estado da Educação da Ciência e da Cultura.
Foi nos umbrais da Universidade que foi elaborada e divulgada a criação das teorias do racismo. No que se refere a Bahia, a produção de Nina Rodrigues no início da República e seus seguidores, têm por estratégia atacar a cultura negra no sue âmago mais profundo, relacionando grosseiramente a crise de histeria com a manifestação consagrada de orixá pelas sacerdotisas da religião para daí concluir que uma mente doente e fraca caracteriza uma inferioridade racial. A partir daí a chuva de preconceitos e estereótipos justificando a discriminação por todo corpo social e todas as ações das políticas de embranquecimento.

ACRA- Sim...

MA- Além disso os pontos de sustentação dessas “antropologias” revelo no livro, é a categoria de evolucionismo social da filosofia do positivismo de August Comte, incorporada pela ideologia oficial dominante do Estado brasileiro republicano, conjugada com o europocentrismo característica do neocolonialismo.
São essas ideologias que vão formar os estereótipos das “superioridades raciais e culturais” que atravessam nosso cotidiano.
Então o livro denuncia essa ideologia do recalque e abre caminho para outras possibilidades de percepção e elaboração valorizando nosso riquíssimo patrimônio cultural africano brasileiro.


ACRA- E quais são essas outras possibilidades presentes no livro?

MA- A partir da atitude de valorização e legitimação da cultura africano-brasileira nós descortinamos o horizonte de um vasto continente de riquíssima civilização. Então ao mesmo tempo que revelo o recalque, eu aponto e promovo a emersão da presença da estética da tradição , seja no cinema, seja nas artes plásticas, na literatura, nas artes sacras da dança, seja nas esculturas com suas ricas e complexas simbologias que compõem o patrimônio do povo afro- brasileiro ou brasileiro enfim. Nessa nova edição, essas abordagens que constituem capítulos são acompanhados de algumas análises de fatos cotidianos que ilustram a dinâmica de luta de afirmação cultural-existencial contra o recalque.

ACRA- Essa edição está com uma nova capa, por sinal muito linda. Fale sobre ela.

MA- Já há muitos anos venho me dedicando a fazer esculturas no âmbito da estética da tradição de arte sacra africano – brasileira. Já publiquei inclusive um catálogo, TUN ONA RI , Retomando o Caminho, pela EDUNEB.


Agora escrevi um capítulo sobre a estética e a simbologia das esculturas especialmente sobre a IYA IBEJI cuja foto está presente na capa dessa terceira edição de CULTURA NEGRA E IDEOLOGIA DO RECALQUE.

ACRA- E quanto ao pré- lançamento no campus da UNEB em Seabra?

MA- Aconteceu  em meio ao Simpósio Internacional sobre Baianidade, que foi uma realização muito bonita e importante, contando com muita gente de projeção no mundo cultural e acadêmico e muitos estudantes de várias cidades da Bahia. O lançamento de livros foi mais uma atividade entre muitas. Foi muito bom para divulgar nossas publicações.


Pré- lançamento no SIMbaianidade na UNEB Seabra/outubro 2011

 Pré- lançamento no SIMbaianidade na UNEB Seabra/outubro 2011

Durante o lançamento a professora da Universidade do Estado da Paraíba Zuleide Duarte parabeniza o Professor Marco Aurélio Luz

AKPALÔ NOSSA HISTÓRIA



A Escola Municipal Loteamento Santa Júlia e o PRODESE-Programa Descolonização e Educação CNPQ/UNEB convidam para conhecerem a culminância do projeto AKPALÔ NOSSA HISTÓRIA de autoria da professora Rosângela Accioly Lins Correia.
Data:16 de novembro de 2011Horário:14:00hs
Local:Cine Teatro Lauro de Freitas no centro de Lauro de Freitas

PROGRAMAÇÃO

ORQUESTRA SINFÔNICA DO TEATRO CASTRO ALVES


“ODARA PUPO:SIMBOLOGIA E BELEZA”.Vídeo documentário que aborda o universo simbólico africano brasileiro através das esculturas de Marco Aurélio Luz .

“SANKOFA MOSAICO REDIVIVO DE HISTÓRIA(S) DA EDUCAÇÃO”.

Mostra de artes organizada por graduandos/as do curso de Pedagogia da UNEB/Campus I de Lauro de Freitas,como resultado das oficinas lúdico-estéticas desenvolvidas no âmbito da Escola Loteamento Santa Júlia envolvendo crianças da educação infantil e Ensino Fundamental I.A Mostra é um dos desdobramentos da disciplina História da Educação I ministrada pela professora Narcimária Correia do Patrocínio Luz.

“ITAPUÃ, QUEM TE VIU, E QUEM TE VÊ!”


Apresentação percussiva com o professor Sidney Argolo homenageando as lavadeiras de Itapuã,contando narrativas do mito inaugural de Itapuã tendo como referência o livro infanto-juvenil de autoria da professora Narcimária C. P. Luz.

“AGBALÁ”

Dramatização do livro Agbalá um lugar continente de Marilda Castanho,

"ILHA DE MARÉ"

Interpretação da música Ilha de Maré de autoria dos compositores Lupa e Walmir Lima,com o intuito de homenagear as mulheres negras do município de Lauro de Freitas.

Interpretação de BLUES com o Professor Felipe Cunha do Programa Mais Educação

Apresentação coreográfica do grupo de dança da Casa da Criança e do Adolescente de Camaçari.

Vale a pena conferir!



    EDUCADOR DA ACRA SIDNEY ARGOLO RECEBERÁ HOMENAGEM


    O educador da ACRA Sidney Argolo,será homenageado no dia 18 de novembro às 9 horas pela Faculdade  de  Tecnologia  e Ciências-FTC no Campus da Paralela no Módulo 04.
    Segundo a Gerente de Responsabilidade Social da FTC,Sidney Argolo irá integrar”... o elenco de 12 negros baianos que serão homenageados com o Diploma “Negros e Negras Exemplares. É conferido a pessoas que com honra e dignidade constroem suas trajetórias de vida, comprometidas com a luta pela inserção e visibilidade positiva do negro e são exemplos vivos para as novas gerações.”
    Parabéns ao nosso querido educador e amigo Sidney Argolo!

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