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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 26 de maio de 2012

DANÇA ROGER MILLA, DANÇA NEYMAR...

Por Marco Aurélio Luz

Delegado da Mangueira,eterno Mestre Sala e a continuação de uma tradição das Escolas de Samba.
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Na minha lembrança, comemorar gols com dança vem desde Roger Milla da seleção de Camarões que encantou o mundo na copa de 1990.



“Dancei logo quando marquei o primeiro gol, quando ainda era uma criança.Todos os camaroneses são bons dançarinos. A dança nasce na rua como o futebol. O meu passo de dança com a bandeirola foi também uma forma de fazer qualquer coisa para agradecer a todos aqueles que me apoiavam, que acreditavam na minha estrela. E também para homenagear Pelé, que vi jogar quando o Santos fez uns jogos de exibição nos Camarões. Apaixonei-me por essa equipe e adaptei o samba. Admiro muito o Pelé. Ganhou o seu primeiro Mundial com 17 anos. É extraordinário!”

Declaração de Roger Milla em entrevista ao jornal Ludopedio às vésperas da Copa da África do Sul.


Homenagem da equipe de Camarões a Roger Milla na Copa de 2010 na África do Sul
Depois dentre outros, se destacou Ronaldinho Gaúcho com passos de samba para afirmar a cada celebração de gol que o melhor jogador do mundo estava na Europa, mas que tinha seu solo de origem, sua pertença ao futebol negro brasileiro ou futebol arte.
Na nossa tradição africano brasileira, a dança ocupa lugar de destaque nas religiões. Ela proporciona a integração entre o mundo profano e o mundo sagrado. Ela se constitui de gestos e movimentos, expressão corporal e dramatizações que por sua vez realizam uma combinação com demais códigos estéticos que magnificam o sagrado, especialmente a música percussiva dentro de definidos padrões de beleza de acordo a determinados contextos litúrgicos.
Odara é uma categoria da sabedoria nagô que expressa a característica fundamental da civilização africana tradicional, ela significa bom e bonito simultaneamente. O fazer técnico ou útil e o fazer estético, o efeito de beleza são inseparáveis.
É dessa fonte que se origina a bacia semântica das incontáveis expressões das instituições africano-brasileiras, que não descartam o lúdico e o estético que promovem a alegria de estar no mundo. Mesmo uma instituição de luta como a capoeira daí não se afasta.
Entre os Ashanti, povo ascendente de boa parte dos afro americanos, o rei caracteriza seu poder através da dança. Um bom rei deve ser um exímio dançarino.
Tendo que conviver com o mundo dos brancos o negro foi levando o seu modo de ser para outros territórios, mas procurando caçar jeito de viver, foi realizando transformações para que pudesse se sentir mais a vontade diante das imposições eurocêntricas. Mario Filho autor do livro O Negro no Futebol Brasileiro narra a saga de transformação do “nobre esporte bretão” em futebol arte em nossa terra.
Nos EUA juntamente com a criação de novos gêneros musicais, os afro descendentes foram abrindo espaços na indústria cultural que do blues ao rock, vem predominando no cenário musical.
Juntamente com a música a dança acompanhou o encantamento cultural, de James Brown-“I Feel Good”- a Michael Jackson.


Quando vemos num filme a aproximação de Jackson com Jordan dois Michael gênios um da indústria musical e o outro do basket ambos da indústria do espetáculo, o que os une é também a dança, a gestualidade encantadora e eficiente na música ou no esporte. Ambas transformando pela estética e eficiência o “território dos “brancos”.


No Brasil então, nem se fala, se nos detivermos no mundo do samba, suas origens o samba de roda e seus desdobramentos.

Neymar com o Grupo Exaltasamba

Então quando vemos brotar do mundo do futebol arte, um novo gênio como Neymar com sua exuberante performance e juventude percebemos o quanto o legado daqueles que o antecederam continua florescendo enchendo nossos corações de brasileiro de orgulho e alegria. Devemos citar alguns nomes exponenciais que estarão para sempre gravados nessa história como Friedenreich, Fausto, Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Zizinho, Nilton Santos, Didi, e num patamar mais alto Garrincha e Pelé. Ainda mais que durante certo tempo e ainda agora sofremos com tentativas de menosprezo de nossa própria pujança e originalidade na criação de novos valores e linguagem que nos enlevaram e enriqueceram nossa identidade nacional.


Alegria de André,Robinho e Neymar
Imagem disponível em

O legado também dos estilos principalmente dos cabelos que nas décadas de 70 e 80 derivados dos movimentos de afirmação do “Black is beautiful” se combinavam com comemorações de gol de punho erguido, signo dos Black Panthers que transbordou para o mundo dos esportes, agora é recriado e renovado. São inúmeros os penteados uma variedade de estilos que demonstra afirmação e liberdade, e nas comemorações e celebrações a alegria vem em forma de dança que nada mais é que um desdobramento das elaborações e feituras das jogadas que culminam no gol. Odara!

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Marco Aurélio Luz é Oju Oba nilê Axé Opô Afonjá,Elebogi nilê Ilê Asipá.Doutor em Comunicação,Pós-Doutorado em Sociologia pela Sorbonne Paris V, escritor , ensaísta e escultor. Autor de vários livros dentre eles Cultura Negra e Ideologia do Recalque Salvador,3º edição,Salvador:Edufba 2011.




A DANÇA ATRAVESSA GERAÇÕES E FAZ ACONTECER MUITAS EMOÇÕES:PRINCE,MICHAEL JACKSON E JAMES BROWN

UM ENCONTRO INESQUECÍVEL DE DUAS GENIALIDADES AFROAMERICANAS: MICHAEL JACKSON E MICHAEL JORDAN


“...Quando vemos num filme a aproximação de Jackson com Jordan dois Michael gênios um da indústria musical e o outro do basket ambos da indústria do espetáculo, o que os une é também a dança, a gestualidade encantadora e eficiente na música ou no esporte. Ambas transformando pela estética e eficiência o “território dos “brancos”...


Marco Aurélio Luz




ROGER MILLA O EMBAIXADOR QUE AINDA SONHA COM O GOL

Por Tiago Carrasco, João Henriques e João Fontes

(Yaoundé, Camarões, 28 de Abril de 2010)


Roger Milla


Roger Milla está uma hora atrasado. Esperamos por ele na esplanada do seu jardim, de frente para um Bentley e um Porsche estacionados em frente à vivenda, enquanto enganamos a fome com mãos cheias de amendoins. São 10h30m. À medida que o tempo passa, o terraço vai-se enchendo de visitantes que marcaram um encontro com o ex-jogador; padres, advogados e contabilistas. A sala de jantar, barroca, decorada em tons de dourado, é varrida por um grande corrupio. Como manda a tradição africana, dezenas de familiares e amigos vivem em casa do antigo craque da selecção.
Finalmente, Milla, considerado o melhor futebolista africano do século XX, sai de casa. Vem com t-shirt, calças e ténis brancos e com uma cara ensonada. Os visitantes cumprimentam-no: “Bom dia, sua excelência”. Roger Milla é hoje Embaixador Itinerante da República dos Camarões e um dos melhores amigos do presidente Paul Biya (no poder desde 1982). Talvez pelo peso do seu novo cargo ou pela idade, já não carrega a mesma alegria, o mesmo toque de anca, o bigode carismático, o mesmo talento para surpreender com que brindou o mundo nos Mundiais de 1982, de 1990 e de 1994. Mas, aos 57 anos, continua irreverente. Critica o egoísmo de Eto’o e afirma que, diante do guarda-redes, não perderia a oportunidade de marcar ainda neste Mundial. Como em1994, já com 42 anos, quando estabeleceu contra a Rússia um recorde de longevidade nos golos. Ou, especialmente, como em 1990, quando ofereceu ao seu país, com quatro golos, o sonho de disputar os quartos-de-final do Mundial. No imaginário de todos, ficou o lance em que roubou a bola a René Higuita, guarda-redes da Colômbia, e carimbou o feito histórico – nunca outra equipa africana chegou tão longe na prova. Essa e outras recordações foram lembradas ao longo de uma conversa de 24 minutos. Não dava para mais. Esperavam-no mais de dez pessoas.

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Em 1989, quando tinha 37 anos, recebeu um telefonema do presidente Paul Biya, que lhe pediu para voltar à selecção a tempo do Mundial’90. Esse telefonema mudou a sua carreira?

Não foi só um telefonema. Naquele momento, jogava no Saint-Pierroise, das ilhas Reunião, mas vinha muito aos Camarões. O Presidente pediu-me para voltar a jogar e eu tive que tomar a decisão mais difícil da minha carreira. Acho que acertei.

Muitas coisas mudaram na sua vida depois desse Mundial?

Hummm…acho que muda coisa mudou no seio da selecção camaronesa, não na minha vida pessoal. Eu fui sempre a mesma pessoa, antes e depois do Mundial’90.

Com 38 anos, marcou quatro gols no Mundial. Como reagiram os seus colegas no balneário?

Foi fantástico, foi um acontecimento nacional nos Camarões. Ninguém nos dava a mínima hipótese na competição e conseguimos chegar aos quartos-de-final, onde só perdemos contra a Inglaterra por 3-2 num grande jogo. O Mundo ficou de boca aberta. Mais do que um acontecimento, foi uma surpresa mundial.




Quando partiu para Itália imaginava que, quase com 40 anos, poderia marcar quatro golos às melhores selecções do Mundo?

Ninguém pode dizer o que vai fazer antes de entrar em campo. Quer tenha 10, 20 ou 30 anos…é sempre imprevisível. O que conta é a capacidade física que o atleta demonstra ter em campo. Isso é que marcou a diferença – eu estava bem fisicamente. Mas, no início, ninguém pode adivinhar como vai correr um Mundial.

A seguir à mão de Maradona, a imagem que mais passa nos vídeos do Mundial é a do golo em que rouba a bola dos pés de René Higuita, guarda-redes colombiano. Como o conseguiu?

É o meu papel de avançado-centro. Quando se joga nessa posição, conhecemos bem os guarda-redes e os defesas e conseguimos antecipar-lhes os movimentos. Também ajudou ter jogado com o Valderrama no Montpellier. Ele ensinou-me alguns truques do Higuita e mostrou-me vídeos e fotografias do guarda-redes. Quando ele me estava a tentar fintar, lembrei-me do que ele me tinha dito, fui mais esperto e roubei-lhe a bola.


Falou com Higuita sobre o lance depois do jogo?

Sim, ele deu-me os parabéns. Acho que compreendeu que no futebol não se devem fazer muitas coisas que se afastem da normalidade. Dançar em frente de um avançado, ainda por cima um avançado realista, não é a melhor opção. Foi uma aventura que deu para o torto…

Este foi o seu Mundial do meio. Jogou um antes, em 82, e um depois, em 94. O futebol mudou muito nesses 12 anos?

A nossa selecção é que mudou. O Mundial de 94, nos Estados Unidos, foi diferente dos outros. Não estávamos habituados ao clima e tínhamos muitos problemas no balneário. Tudo correu muito mal e só o meu golo contra a Rússia ( os Camarões perderam 6-1, com cinco golos de Oleg Salenko) escondeu um pouco a má prestação que tivemos nos Estados Unidos.

Em 1994, com 42 anos, ainda se sentia bem para jogar ou já sentia algumas dores?

O que é preciso é disciplina, respeitar o adversário e as ordens do treinador. Como eu estava bem fisicamente e tecnicamente, a idade não contou. Eu chegava onde os miúdos chegavam, corria o que eles corriam. Podia entrar em campo a qualquer altura.

Jogou em muitos clubes mas foi na selecção que se tornou ídolo. Não sente que à sua carreira faltou projecção nos clubes?

Os meus momentos altos foram os Campeonatos do Mundo e sinto muito orgulho nisso. Participei em três e isso não é para todos. Sabemos que muitos bons jogadores se retiraram sem ter o prazer de jogar num Campeonato do Mundo. Eu estive em três! Isso faz-me ter orgulho no meu trabalho, tanto nos Camarões como em França (Milla jogou em equipas como o Mónaco, o Bastia e o Montpellier).

Porque dançava com a bandeirola sempre que marcava um golo?

Foi espontâneo. Dancei logo quando marquei o primeiro golo, quando ainda era uma criança.

Mas é bom dançarino?

Sou. Todos os camaroneses são bons dançarinos. A dança nasce na rua como o futebol. O meu passo de dança com a bandeirola foi também uma forma de fazer qualquer coisa para agradecer a todos aqueles que me apoiavam, que acreditavam na minha estrela. E também para homenagear Pelé, que vi jogar quando o Santos fez uns jogos de exibição nos Camarões. Apaixonei-me por essa equipa e adoptei o samba. Admiro muito o Pelé. Ganhou o seu primeiro Mundial com 17 anos. É extraordinário!
É para si o melhor jogador…
Quem? O Pelé? Sem sombra de dúvidas. É o melhor jogador de sempre.



Também Milla foi ídolo de muita gente. Eto’o diz que decidiu ser futebolista quando agarrou a camisola que você lançou num Camarões 2 – Zâmbia 0. Sente-se honrado por isso?

Isso agrada-me. Claro que gosto de saber disso. Mas gostava que Eto’o fosse um jogador à minha imagem. Um jogador correcto, um jogador agregador, obediente. E, por enquanto, está longe de sê-lo.

Quais as diferenças entre si e Eto’o, os dois melhores atacantes da história do país?

A diferença é que eu era optimista, leal, correcto, alguém que defendia sempre a união. Sempre que havia um problema na selecção, chamavam-me para unir o balneário e para encontrar uma solução que agradasse a toda a gente. Algo a que Eto’o não se aproxima nem um pouco.

Acha que a actual selecção pode superar o vosso registo histórico de 1990?

Tudo depende da organização antes do Mundial. O que a Federação e o Ministério dos Desportos decidirem agora e o que acontecer nos primeiros treinos vai ser decisivo. Temos um bom ambiente, os jogadores entendem-se bem, mas têm de estar muito bem sintonizados para o torneio. Se houver preparação, organização e disciplina, estou seguro que estes rapazes têm tudo para fazer coisas extraordinárias. E isso aplica-se a qualquer uma das seis selecções africanas. Todas têm as mesmas hipóteses e tudo vai depender da disciplina. Aquela que estiver mais organizada vai ser a melhor e talvez chegar onde nenhuma outra equipa africana chegou.

Ainda por cima a jogar em casa. Alguma vez acreditou na possibilidade de um Mundial em África?

Eu sempre acreditei que a África do Sul poderia organizar um Campeonato do Mundo em nome do continente africano. É o melhor anfitrião possível. E agradeço a Sepp Blater por ter concretizado o nosso sonho. Vai ser um Mundial rico em cor e animação mas é preciso que quem for à África do Sul seja correcto com África. Têm de saber que em África não moram os selvagens, que não somos selvagens. Quem vier para atacar África, será atacado. Os estrangeiros que vierem para desfrutar do futebol e do povo africano serão bem recebidos.

Quais são para si os favoritos?

As 32 equipas qualificadas são todas favoritas. Só depois de sabermos quem se qualifica nos grupos, poderemos perceber quem está mais forte.
Entre Portugal, Brasil e Costa do Marfim, quem pode deixar quem de fora do Mundial?
Ahh, é preciso não esquecer a Coreia! A Coreia do Norte tem uma boa equipa e pode causar surpresas no grupo. Entre as outras três, a qualidade é tanta que as que tiverem mais maturidade vão seguir em frente. E os primeiros jogos são decisivos. Com a minha experiência de Mundial, posso dizer que o primeiro jogo é o mais difícil e o mais preponderante. Pode marcar o início de uma grande campanha ou de um fracasso absoluto. O primeiro jogo dos Camarões é contra o Japão e é fulcral.

Qual a sua opinião sobre o futebol português?

Dispensa apresentações. Não vou ser eu a apresentar o futebol português que é conhecido pela sua qualidade pelo mundo fora. Eu joguei em Portugal, contra o Benfica, quando estava no Montpellier, e os portugueses têm sempre um futebol bonito e tecnicista. Além disso, é um campeonato que tem recebido muitos camaroneses. Obrigado por nos acolherem tão bem e nos darem a possibilidade de jogar no vosso futebol.

Como atacante que foi, gosta mais de ver jogar Messi ou Cristiano Ronaldo?

Acho que Messi é mais completo. Não tem a necessidade de correr tanto porque com a bola colada ao pé, é capaz de fintar quatro ou cinco adversários. O Ronaldo é obrigado a correr mais, a fazer longos cursos para ultrapassar os defesas e isso cansa e torna-o num jogador menos fiável. Messi é mais forte, cansa-se menos, tem mas pés e é mais regular.

Actualmente, está envolvido na política. Qual a sua função?

Sou Embaixador Itinerante da Presidência da República. É um título honorário que me leva a ser um símbolo dos Camarões em todo o Mundo. O Presidente pode enviar-me para qualquer lado para representar o país.

 
Como reagiu quando foi honrado com esse título? E qual é a reacção dos diplomatas quando se cruzam consigo nas cerimónias oficiais?

Não sei o que eles pensam. Acho que o Presidente quis somente enaltecer os Camarões, dar mais projecção e visibilidade ao país e foi para isso que me nomeou.

Nasceu no litoral mas agora vive em Yaoundé, no coração do país. Não tem saudades do mar?

Antes de tudo, sou camaronês. Posso viver em qualquer parte do país; no norte, no sul, no oeste. O que me importa é que esteja nos Camarões, que é o único sítio onde me sinto bem. Vivi em França mas é aqui, com a minha família e com os meus amigos, que me sinto em casa.

O que distingue os Camarões do resto de África?


Cidade de Kribi em Camarões na África

Os Camarões são África em miniatura. Pode-se encontrar de tudo aqui; mar, savana, montanha, sol, selva. Quem faz turismo nos Camarões não se arrepende. Tem aquilo que pedir. Temos o melhor peixe e o melhor marisco do mundo, em Douala, e ainda o ndolé ( prato de espinafres triturados, parecido com esparregado) , o meu favorito, que se come com carne ou peixe fumado. Temos muitas coisas boas. Além disso, somos um povo pacífico, acolhedor e gentil. Detestamos a guerra e adoramos receber estrangeiros.

Um desafio…se o Presidente lhe telefonasse para o convocar para este Mundial, aos 57 anos, ainda poderia marcar um gol?

(Risos). Acho que não. Já passou o meu tempo. Já não tenho idade para isso. Falta-me a força para entrar dentro de campo e a velocidade para correr.

E se a bola lhe viesse ter aos pés só com o guarda-redes pela frente?

Bem, meu filho, há coisas que não se esquecem…até com um defesa pela frente, podia fazer uma finta e meter a bola no fundo das redes! Mas já não tenho lata para participar num jogo internacional. Há limites para tudo, não é?

Depois da entrevista, fizemos mais de 300 quilómetros em direcção a Djoum, à entrada da selva no sul do país. Foi nessa pequena vila que tivemos oportunidade de ver a qualificação do Inter de Samuel Eto’o e de José Mourinho para a final da Liga dos Campeões. Os habitantes de Djoum celebraram euforicamente a presença do avançado camaronês no jogo mais importante do ano. Amanhã entramos no Congo.

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Tiago Carrasco, João Henriques e João Fontes estavam indo para a Àfrica do Sul no projeto Road to World Cup, http://worldcup.record.xl.pt/ quando realizaram essa entrevista. Foi mantida a grafia original do português de Portugal.


http://www.ludopedio.com.br/rc/index.php/entrevistas/artigo/318


GEOPOLÍTICA & CARTOGRAFIA DA DIÁSPORA ÁFRICA-AMÉRICA-BRASIL



O Programa de Pós-Graduação em Geografia e o Centro de Cartografia Aplicada da Universidade de Brasília,estará realizando nos dia 27-28 e 29/06/2012 um conjunto de eventos referentes à temática da “Geopolítica e Cartografia da Diáspora África – América – Brasil” sob a coordenação do Projeto Geografia Afro-Brasileira: Educação & Planejamento do Território
A África é o continente mais importante no suporte e na manutenção da estruturação do mundo nos últimos cinco séculos, particularmente na formação do Novo Mundo, a América. O tráfico de seres humanos para “o outro lado do Atlântico” foi, durante quase quatro séculos, uma das maiores e mais rendosas atividades dos negociantes do mundo mercantilista, a ponto de se tornar impossível precisar o número exato de africanos e africanas de variadas faixas etárias, retirados de seu habitat, com suas referências culturais e identitárias, a fim de serem incorporados às tarefas básicas para formação de uma nova realidade econômica, territorial e social. O Brasil Colonial, por sua vez, registra as maiores estatísticas de importação forçada de contingentes populacionais africanos ao longo dos séculos XVI a XIX e, a principal resposta deste processo secular é a estatística de 2ª. maior nação com registros de populações de matriz africana do planeta. Neste sentido, o papel geopolítico do país e, sobretudo educacional, constituem contextos fundamentais para uma compreensão e ações emergenciais, em torno das questões das populações e dos territórios de ascendência africana na sociedade brasileira contemporânea, notadamente excluídos da paisagem geográfica e da cartografia “oficial”. São três as atividades básicas: um colóquio com duas conferências e mesas redondas; o lançamento de um mapa educacional e duas oficinas temáticas.



As especificações desses eventos estão a seguir:
Traçar um perfil adequado do papel das culturas africanas e da população afro-brasileira na formação do Brasil ainda merece atenção e necessita de investigação e conhecimento. Esta é ainda, uma questão estrutural pendente no Estado brasileiro. A realização de um evento acadêmico específico sobre esta temática vem no sentido de “focar” com mais precisão demandas estruturais com pesquisadores históricos. O Colóquio é uma realização do Projeto GEOAFRO e do CIGA-UnB, com apoio do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UnB e patrocínio da Capes – MEC. O evento será realizado no Centro de Excelência em Turismo (CET-UnB), a inscrição é gratuita e aberto à comunidade em geral, particularmente, acadêmicos, técnicos governamentais e de empresas privadas, estudantes de graduação e pós-graduação, políticos, entidades sociais, profissionais e comunitárias, assim como, educadores/as de redes públicas e particulares de educação, entre outros. A inscrição é limitada à capacidade do espaço físico e haverá certificado para os participantes. A estrutura do Colóquio é a seguinte: Abertura – 08:30 – 09:00 hs / Conferência de Abertura: Diáspora Africana: Panorama das Pesquisas e Geopolítica - 09:00 – 10:00 hs / 1ª Mesa Redonda: A África, a Geopolítica Colonial do Brasil e o Território. 10:00 – 12:30 hs. / Almoço: 12:30 – 14:00 horas / 2ª Mesa Redonda: Espaços Africanizados do Brasil: Algumas Referências de Resistências, Sobrevivências e Reinvenções. 14:00 – 17:00 hs./ 17:30 Conferência de Encerramento: A Geopolítica Contemporânea África-Brasil. 17:30 – 18:30 hs. As inscrições, os nomes dos conferencistas e palestrantes, assim como outros informes do Colóquio, podem ser acessados no site: www.ciga.unb.br
Estabelecer e reconhecer outras perspectivas educacionais para uma compreensão do tráfico, da escravidão e da diáspora africana como elementos formadores da configuração do mundo contemporâneo constituem pressupostos básicos para traçar um contexto mais adequado do papel das culturas de matriz africana na formação do território e do povo brasileiro. Não podemos perder de vista que entre os principais entraves ao desempenho da população de matriz africana na nossa sociedade, se destaca a inferiorização deste na escola, e a raiz dessa desigualdade estaria na pré-escola. Primeiro, são os livros didáticos que ignoram o afro-brasileiro e os povos africanos como agentes ativos da formação geográfica e histórica do Brasil. Em seguida, a escola tem funcionado como uma espécie de segregadora informal.


A ideologia subjacente a essa prática de ocultação e distorção das referências afro-brasileira tem como objetivo não oferecer modelos relevantes que ajudem a construir uma auto-imagem positiva, nem dar referência a sua verdadeira territorialidade e sua história aqui e, sobretudo, na África. O Mapa Temático Educacional: Geopolítica da Diáspora África – América – Brasil. Séculos XV – XVI – XVII – XVIII – XIX, busca trazer elementos para colaborar na construção de outra territorialidade da população de matriz africana brasileira, a partir de “ferramentas educacionais” onde o (a) professor (a) dos distintos níveis formais de ensino possam alterar suas práticas na transmissão dos conteúdos de Geografia e de História, sobretudo. O produto cartográfico colorido em grande formato (1.20 m + 1.74 m) tem edição restrita (Mapas Editora & Consultoria) com preço de lançamento de R$ 100,00 (cem reais). Outras informações no site: www.ciga.unb.br ou www.rafaelsanziodosanjos.com.br
As Oficinas Temáticas constituem outro segmento dos programas em desenvolvimento do Projeto GEOAFRO, cuja função básica é colaborar com procedimentos práticos e ferramentas educacionais para o (a) professor (a) desenvolver conteúdos de matriz africana nos seus espaços de trabalho com maior segurança. As oficinas educacionais tem como pressuposto, o desenvolvimento de fases integradas. Utilizamos como instrumento básico de trabalho, os recursos das imagens cartográficas e fotográficas, pela sua possibilidade de ser eficiente na transmissão de conteúdos historiográficos e contemporâneos. Por outro lado, as demandas para compreensão das complexidades da dinâmica da sociedade são grandes e existem poucas disciplinas mais bem colocadas que a geografia e a cartografia para explicar as inúmeras indagações do que aconteceu, do que está acontecendo e do que pode acontecer no espaço geográfico. Apontamos ainda como objetivos das oficinas: 1. Contribuir efetivamente com informações sistematizadas para trazer à luz uma África como entidade histórica de relevância básica no Brasil contemporâneo; 2. Estímulo para a elaboração de material didático com indicações para alteração das práticas no processo de ensino-aprendizagem nos conteúdos que envolvem o território, sobretudo. Nesta oportunidade vamos realizar duas oficinas temáticas distintas, uma no dia 28/06 (A África, o Brasil e os Quilombos: Heranças Geográficas) e outra em seguida, 29/09 (Geografia e Cartografia da Diáspora África-América-Brasil). O investimento por oficina é de R$ 100,00 com o material didático de apoio já incluído e as inscrições podem ser feitas no site www.ciga.unb.br. Outras referências e informações estão a seguir. 6
RESULTADOS ESPERADOS

Acreditamos que nesse universo de carência e de disponibilização precária de informações que tratam da questão geográfica afro-brasileira e da educação, o nosso principal resultado esperado com uma publicação cartográfica e a realização de oficinas temáticas e um evento acadêmico, é instrumentalizar verdadeiramente o(a) professor(a), para que esse(a) possa juntar-se aos esforços de inúmeros(as) educadores(as) que tentam contribuir para a discussão e implementação de uma política educacional no país em que as questões étnica e territorial, sejam tratadas com mais seriedade. Preconizamos que um quadro de leis, somente, não muda um pensamento social dominante distorcido e preconceituoso, mas o conjunto de ações políticas dos profissionais de educação e das suas ferramentas de trabalho, podem efetivamente, construir uma transformação dos conteúdos de matriz africana no Brasil, secularmente distorcidos. Esta, talvez seja, uma das possibilidades mais consequentes, porque a significativa maioria dos professores e professoras, sobretudo nas escolas públicas das grandes cidades, são oriundos(as) de espaços e contextos sociais discriminados, ou seja, os espaços geográficos “invisíveis” no sistema dominante de mentalidade colonial.

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CONTATOS:
CIGA – UNB: 55 (61) 3107-7244
E-mail: contatosciga@gmail.com / Site: www.ciga.unb.br

terça-feira, 15 de maio de 2012

IPEAFRO CONVIDA



No dia 23 de maio próximo, o Ipeafro pretende marcar um ano em que Abdias Nascimento se juntou aos ancestrais.
Convidamos noss@s amig@s e companheir@s para uma cerimônia no sítio arqueológico do Cais do Valongo, seguida de um momento cultural, na sede da Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida.
A programação incluirá leituras de poesias e homenagens recebidas pelo Ipeafro ao longo desse ano, bem como vídeos e apresentações ao vivo de:
- Componentes do G.R.E.S. Acadêmicos de Vigário Geral, que teve como tema de enredo de 2012 a vida e obra de Abdias Nascimento
- Regional Saci Chorão, porque o choro morava no coração de Abdias.
- Componentes da roda Choro Porque Quero (a confirmar).
É um momento de confraternização e o evento é aberto!
Dia 23 de maio de 2012, quarta-feira
16h
Cerimônia inter-religiosa em memória de Abdias Nascimento
Sítio arqueológico do Cais do Valongo
18h às 21h
Apresentações culturais
Centro de Cultura e Cidadania
Sede da Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida
Avenida Barão de Teffé, 75 - Saúde
Zona Portuária do Rio de Janeiro

AMULETO DA SORTE

Nesse vídeo Mariene de Castro canta o seu mais recente sucesso "Amuleto da Sorte".
Observem que no final ela vai aproveitar as dunas do Abaeté e cantar acompanhada do grupo de senhoras que compõem as  Ganhadeiras de Itapuã que trazem também suas filhas e netas para a gravação do vídeo clip.
Nesse grupo de netas de ganhadeiras está a jovem Evelyn Dias que integra a ACRA.
É um vídeo muito bonito apresentando lugares muito especiais de Itapuã.
Vale a pena conferir.

MUNIZ SODRÉ O ETERNO NOVO BAIANO



Entrevista a Raika Julie Moisés


Aos 70 anos, Muniz Sodré – um dos pensadores brasileiros mais influentes na atualidade – demonstra que experiência e modernidade caminham juntas. Autor de mais de 30 livros e centenas de artigos, este baiano de São Gonçalo dos Campos, traz para o cenário contemporâneo, temas que permeiam comunicação, filosofia, política e cultura.
Capoeirista de essência – foi aluno de mestre Bimba, a quem dedicou o livro "Corpo de Mandinga" – o Obá de Xangô e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nesta entrevista para o Notícias&Análises, fala um pouco de sua obra, dos caminhos que envolvem diversidade étnico-racial, mídia e educação. “Sou um negro moderno. Bateu, eu jogo capoeira”.

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Notícias&Análises: “Reinventando a educação” (recém-lançado), dentre outras abordagens, destaca as mudanças que surgiram com a chegada das novas tecnologias e a influência da comunicação neste processo. Qual o grau de sensibilidade dos pensadores da Educação no Brasil a respeito da importância das transformações promovidas pela Comunicação?

Muniz Sodré: Neste livro eu questiono o modelo de educação que temos hoje, oriundo do século XIX e que não atende à modernidade, nem a especificidade de cada país. Eu não sou da área de educação, mas o que eu vejo me decepciona um pouco. Os livros mais vendidos e mais avançados são assim considerados porque falam de Marx e introduzem a questão da luta de classes, o que representa um avanço, mas não é suficiente. O Ministério da Educação aceita esta forma de organização de forma acrítica. É um modelo de educação neoliberal, limitado e para poucos.

N&A: Pode-se afirmar que a diversidade e/ou propostas inovadoras, como cursos livres, pré-vestibulares comunitários, para a formação dos estudantes também ficam sem espaço?

MS: Sem dúvida! Não há espaço para a diversidade cultural, nem para a sensibilidade. Há que considerar os diversos saberes e incorporar a novidade. Eu também não vejo abertura para, por exemplo, os pré-vestibulares comunitários. Não há apoio financeiro, nem reconhecimento dos esforços individuais e coletivos, quem faz tem que se desdobrar para participar e quem oferece, normalmente, busca recursos próprios e garante a chegada daquele estudante à universidade desenvolvendo novas metodologias que também não são reconhecidas, nem fortalecidas. As formas de saber tem que dar as mãos.. Não basta ter laptop e tablet nas salas. A questão da educação é o professor. Tecnologias vão ser incorporadas se houver revalorização da função dos docentes. O professor tem que estar no centro.

Crianças vivenciam atividades de leitura na biblioteca da ACRA

N&A: E no que tange a mídia, comunicação e questões étnicos-raciais?

MS: Sendo a comunicação um setor conservador e reacionário, caberia então a educação cobrir este papel, mas isto não ocorre. Ela não acompanha as decorrências da tecnologia e seus desdobramentos. Na Bahia, por exemplo, sabemos que os professores de piano e pintores do início do século, eram, em sua maioria, negros. Nenhuma escola propaga ou fortalece este discurso. Só sabe quem pesquisa e quem pode pesquisar.

N&A: Assim, o que chamamos de propriação perde um pouco do seu sentido...

MS: Sim. Eu vejo a apropriação como uma forma de entrar nas ferramentas da modernidade e no uso das mesmas. Não há apropriação bruta, ela é soft, se dá por sensibilidade, proximidade, é uma relação que se constrói na afetividade. Por exemplo, na escrita, a apropriação se deu pelo uso que se fazia dela e não pela escrita impressa, pela prensa das palavras. Se você não se insere e nem está inserido, educacionalmente, não há apropriação de fato.


Encontra Acra e grupo Boca de Cena é registrado pela jovem Evelyn
 
N&A: Ainda neste tema, por que tantos leitores e pesquisadores se apropriam de suas obras?

MS: Eu não acho que as pessoas se apropriam tanto da minha obra como dizem. Até gostaria que se apropriassem mais. Meus livros de literatura, mesmo relançados, não aparecem em nenhuma resenha da grande mídia, nem nada. Estão na circulação alternativa. Mas eu sigo escrevendo porque acredito nos públicos invisíveis. Há uma economia e leitores invisíveis que compram, leem, discutem. E isso me motiva. Já meus livros teóricos tem ideias. São absorvidos também pelos invisíveis e por pessoas ecléticas. E isto, também me motiva. Sou um negro moderno, sou eclético e sou capoeirista. Bateu, eu jogo capoeira. É assim que funciona com meus livros.


Muniz Sodré na exposição organizada na UFRJ em sua homenagem em abril

N&A: Ao longo de sua obra, foi construída uma teoria da Comunicação e a defesa de que ela deva ser entendida como uma ciência. Quais as contribuições efetivas que a Comunicação pode oferecer para a sociedade?

MS:Porque não é a cor da pele quem define o negro, é o seu comprometimento com sua essência e suas origens... Minha essência, minha capoeira, minha dança, meu terreiro e meu compromisso é que dizem que eu sou negro. São eles que me caracterizam negro
A partir da filosofia, nascem as ciências sociais no século XIX. Já existiam questões relativas a condição humana, que, após a Revolução Francesa, assumiram formas históricas modernas. Na sociologia, por exemplo, as ideias que caracterizam seu período de desenvolvimento estão relacionadas com a crise da formação social e para a natureza ética originárias da sociedade tradicional e da tradição filosófica. Reinvindicar a comunicação como um pensamento científico não é um ato formal ou acadêmico, é político, no sentido de que é preciso refletir sistematicamente sobre um campo em que é difícil distinguir a prática do consumo da prática do conhecimento. É necessário resgatar a comunicação como pensamento do conservadorismo neoliberal, que deposita a força utópica do homem no mercado e na máquina.

N&A: Por que não causa estranhamento o fato de a TV ter um número muito superior de brancos em relação ao de negros, já que negros e pardos são mais da metade da população brasileira?

MS: Sabemos que quem dirige estes meios são sujeitos de classe dominante, brancos. E a invisibilidade do negro para a maioria deles também é natural e vem de muito tempo Anos atrás, quando eu trabalhava na Editora Bloch, o Zuenir Ventura sugeriu a um dos editores, colocar como foto de capa Lupicínio Rodrigues e o editor disse que não. Nós questionamos e o editor disse que negro não vendia. Zuenir retrucou dizendo que no carnaval vendia e ele reforçou: no carnaval. Situações como estas se repetem ainda hoje e estão ligadas as representações que todo o tempo querem ser reafirmadas. Mas temos que reconhecer que houve uma melhora, não podemos nos acomodar no discurso do ressentido. E atribuo estes avanços, ainda que pequenos, aos negros que tem compromisso com a comunidade, com a História a que pertencem. Porque não é a cor da pele quem define o negro, é o seu comprometimento com sua essência e suas origens.

Intercâmbio Internacional ACRA e Grupo Abolição Oxford(Inglaterra) e Hamburg(África do Sul)

N&A: Há um movimento, inclusive midiático, onde todos se dizem – de alguma forma – descendentes de negros ou adeptos de religiões como o candomblé ou a umbanda, mas não há nenhuma discussão concreta sobre ser negro no Brasil. Como você analisa este fato?

MS: A verdade é que ninguém jamais quis ser preto no Brasil. Conforme você ascende social ou economicamente, você embranquece. Se distancia da sua cor, da sua origem. Ao mesmo tempo em que o meio a meio, a mistura, é típica do brasileiro. Nesta lógica, isto é positivo porque você tem que encarar e conviver com a diversidade étnico-racial, principalmente se você a chama pra si. Quando você é meio isso, meio aquilo, você tem que defender as duas metades. Em Paris, por exemplo, eu vivo muito esse meio a meio. Lá eu sou árabe, argelino ou mulato, menos negro. Mas minha essência, minha capoeira, minha dança, meu terreiro e meu compromisso é que dizem que eu sou negro. São eles que me caracterizam negro.

N&A: De que forma os meios de comunicação contribuem, no campo das representações, para o fortalecimento da intolerância religiosa? Qual o papel da escola neste sentido?

MS: Quando a escola aceita ensino religioso, predominantemente, de religião dominante, a intolerância cresce. Quando os cultos negros são reprimidos e denominados cultos do diabo, dentro da escola, a intolerância se fortalece. Enquanto os meios preservarem os estigmas e a escola não chamar para si esta discussão, não questionar e não incluir as outras religiões no seu contexto histórico e pedagógico, principalmente quando as religiões dominantes estão assumindo o parlamento, destaforma intolerância vai se perpetuar. E é educando para o respeito, para a diversidade, rompendo com o conservadorismo que se detem isso.

Intercâmbio Internacional ACRA e Grupo Abolição Oxford(Inglaterra) e Hamburg(África do Sul)
N&A: Se Muniz Sodré não fosse quem ele é, quem ele gostaria ou poderia vir a ser?

MS: Eu gosto de ser eu mesmo. Gosto da minha capoeira, da minha história, me encontro nela, principalmente, comigo mesmo. Além disso, se eu não fosse o que eu sou, a mulher que eu tenho não estaria comigo e a vida, a luz pra mim é ela. Do contrário, não faria sentido.Assim eu gosto deste mim mesmo.

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Entrevista extraída do http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=1189






domingo, 6 de maio de 2012

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INDIGNAÇÃO E DOR, UM REI QUE CAÇA ELEFANTES



Ronaldo Martins

Senti um misto de indignação e tristeza ao saber que em pleno século XXI o rei Juan Carlos da Espanha participa de safaris para caçar elefantes. Minha indignação foi maior ao ver a foto do rei com outro caçador ostentando os seus rifles e, como cenário da foto, está um elefante morto com a cabeça, apoiada pela presa e tromba, em uma árvore. Uma cena degradante.
Na foto, o animal e sua dor servem de cenário para a perversidade e estupidez dos seres humanos, infelizmente, representados pelo orgulhoso caçador e pelo rei da Espanha.
Lembrando a expressão “uma a imagem vale mais que as palavras”, a foto do rei da Espanha ostentando o seu troféu de caça, um elefante africano, me reportou a algumas questões que certamente causaram grande inquietação, dor e desequilíbrio a toda humanidade. Refiro-me as atitudes perversas de mentes cruéis, como no caso dos esnobes caçadores de elefantes, que caçam pelo prazer de ostentar um troféu exótico para seus amigos.
A imagem antiquada do caçador que dizima animais por prazer remonta a um momento histórico colonialista, onde exploradores europeus e americanos em busca da aquisição de matéria prima e expansão dos seus mercados, além de apropriar-se daquilo que desejavam, divertiam-se exterminando animais e pessoas na África e nas Américas. Faz parte desse momento a concepção racial que considerava os “brancos” superiores aos “negros” e “índios”; a ideia da natureza – os animais, a terra, a água, as florestas – como objetos a serem usados e explorados; e a equivocada concepção da cultura europeia como exemplo superior de civilização para todo o ocidente.

Neste ano de 2012 em que ocorrem discursões, reflexões e ações para conservação da biodiversidade no planeta, preservação da fauna e flora para as futuras gerações, pesquisas científicas de impacto ambiental na produção de alimento, questões que sensibilizam as populações do mundo inteiro. Espanta-me ver a foto do rei da Espanha caçando elefantes. Sobre essa atitude brutal, muitas críticas focam no investimento de 35.000 ou 45.000 euros, feito pelo governo espanhol na caçada de cada elefante para divertir o rei, no momento atual de grande dificuldade econômica que passa a Espanha. A atitude de caçar um animal tão magnifico, nessas abordagens, está relegada a um segundo plano e a matança dos elefantes feita pelo rei, passa a ser minimizada.


Sobre a legitimidade das autorizações de caça de animais e extração de madeira em muitos países africanos e nas florestas brasileiras, sabemos que muitas normas de manejo ambiental e autorização de caça, são criadas a partir de conchavos entre políticos e comerciantes para favorecimento individual. São verdadeiras armações que a partir de autorizações de instituições locais, criam arranjos para legitimar a devastação das florestas e a matança dos animais. Trata-se de uma burocracia construída muitas vezes a partir de um discurso “politicamente correto” que diz buscar proteger a natureza e promover um desenvolvimento sustentável, mas são aparatos práticos que visam unicamente o lucro fácil e o favorecimento de uma elite local inconsequente.



 
Tratando das atitudes aparentemente corretas que envolvem os jogos de interesse por trás das autorizações para matança de animais em alguns países africanos e no Brasil, vale ressaltar o cinismo e o jogo de aparência que envolve alguns acordos entre os ambientalistas e os representantes públicos. Nesse sentido, o rei Juan Carlos, caçador de elefantes, é um péssimo exemplo, se por um lado pousava como um membro ilustre do Fundo Mundial para Natureza , WWF, considerado um protetor da vida, por outro lado, matava elefantes, destruía a vida que dizia proteger.

Sinto certo alivio ao transcrever a minha indignação, ao expressar a emoção que brotou de meu coração e do meu pensamento, sentimento de muitas outras pessoas ao redor do mundo. Pessoas que sabem que estamos em outra época, tempos de cuidar um dos outros. Momento em que não se permite mais atitudes inconsequentes, perversas contra pessoas, animais, plantas e lugares. Momento em que cada um deve se comprometer em promover à vida, a saúde, a paz, a tranquilidade e o bem estar um dos outros, seja atuando como pedreiro, professor, médico, cozinheira ou rey.

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Ronaldo Martins é Mestre em Educação.Pesquisador do PRODESE – Programa de Educação e Descolonização, UNEB/CNPq.