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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

MUNDO SAGRADO: TRADIÇÃO, ANCESTRALIDADE E HIERARQUIA

Por Marco Aurélio Luz Oju Oba

Ancestralidade é motivo de adoração, porque os filhos descendentes agradecem a aquele ou aquela que quando vivente, se dedicou em proporcionar um destino que possibilitou a vida da melhor forma possível para sua família, sua linhagem e sua comunidade e ainda até mesmo seu reino e sua cidade.



Coluna com figuras em alto relevo de ekun leopardo,e ajagun ati odô cavaleiro e pilão.
Escultor e foto de M. A. Luz 

 Para os nagô ancestralidade é um valor sagrado, pois só é possível alcançar o bom desenvolvimento dos destinos através da circulação de axé. E isso acontece através da religião, da liturgia das oferendas de acordo a revelação do oráculo ou da palavra das entidades.
Então a tradição religiosa dos ilê axé (casa de axé) é que garante a preservação, manutenção e expansão do axé (força vital).



Uma bandeira branca indica que o lugar é consagrado, no Ilê Axé Axipá.
 Foto M. A. Luz

O axé é uma força, uma energia que circula entre esse mundo, o aiyê e o além, o orun. A religião proporciona através dos rituais que compõem a liturgia a comunicação e as relações entre os ara aiye habitantes do aiye e os ara orun habitantes do orun.
As iniciações religiosas visam a preparar os futuros sacerdotes a lidar com a doutrina e a liturgia do ilê axé.
Cabem aos sacerdotes mais antigos de iniciação conhecedores dos fundamentos e dos preceitos da religião realizar as iniciações.
Na dedicação a manter a tradição que envolve as iniciações e assim a continuidade de existência da comunidade que se assenta o valor da hierarquia sacerdotal.
Os títulos sacerdotais expressam a qualidade e o valor de dedicação e sabedoria referente ao conhecimento da liturgia do axé.


Opo Baba Nla, cetro em homenagem aos ancestrais.
 Monumento no Rio Vermelho.
 Réplica de escultura de Mestre Didi. 
Foto M.A. Luz.

Portanto antiguidade de iniciação, dedicação e títulos são elementos que compõem a hierarquia.
Esses valores se estendem pela origem sacerdotal, a ascendência e descendência de uma família ou linhagem antiga na corrente ancestral da tradição religiosa. Todavia laços de parentesco devem estar subordinados à participação sacerdotal em relação a outros critérios hierárquicos como antiguidade e títulos

COMUNIDADES  TERREIRO  OU  ILÊ AXÉ

A tradição nagô se caracteriza por três instituições distintas. O culto aos ancestres e ancestrais, o culto a Ifá ou a tradição oracular, e o culto aos orixá ou as forças que governam o universo.
Nos deteremos aqui ao culto dos ancestres e ancestrais masculinos os egungun ou Baba egun.
Originário de Oyo capital política do império yoruba cidade que Xangô é o orixá patrono. Xangô é o orixá princípio da política no sentido radical da palavra que significa capacidade de organizar equilibradamente a sociedade humana constituída por diferentes interesses. Realização de desejos distintos. Assim como os dedos da mão apesar de distintos devem permanecer unidos. Esse é  a capacidade da liderança e função do Alafin, o rei de Oyo.



Mapa do afin o palácio de Oyó com destaque das linhagens em seu entorno, dentre elas os ASHIPA. Ilustração no livro Yoruba Palaces1

Um itan, uma história tradicional conta que egun roubou a roupa de Xangô, o que está expresso ritualmente pela presença do abalá, tiras de pano que compõem a roupa de Xangô assim como dos Egun Agba, os ancestres e ancestrais antigos. As tiras de pano representam linhagens em expansão. Quanto mais tiras, demonstra a  maior  capacidade da entidade em manter a tradição, a circulação de axé que garante a existência e portanto o fortalecimento da comunidade, da sociedade, do reino, do império a antiguidade e a hierarquia ancestralidade e descendência.
Em Oyo durante a entronização do Aalafin ele fara rituais dirigidos pelo Alapini ipekun ojé sacerdote supremo do culto aos Egungun.
No Brasil o culto a Baba Egun tem origens na ilha de Itaparica no povoado de Vera Cruz no terreiro fundado por um africano Tio Serafim que trouxe da África o Egun de seu pai O Baba Okulele nos inícios do século XIX.
Mais recente seu filho, João Dois Metros dirigiu o terreiro da Encarnação onde foi invocado primeiramente Baba Agboula, que mais adiante seria erigido como Egun patrono do terreiro  ilê Agboula em Ponta de Areia, fundado inicialmente por ojés oriundos de diversos terreiros dentre os quais o do Corta braço situado no bairro da Liberdade em Salvador dirigido por Tio Ope. Nesse terreiro se destacou João Boa Fama que iniciou ojés que também fundaram o ilê Agboula  inicialmente adoradores de Baba Bakabaka.
Outro terreiro de grande importância foi o de Mocambo, fundado por Marcos-o-Velho. Ele passou muitos anos na África com seu filho Marcos Pimentel aperfeiçoando seus conhecimentos. No retorno a Bahia ¨trouxeram com eles o ¨assento¨ do Égun Olúkòtún, considerado como um dos ancestrais da verdadeira raça Yorubá. Fundaram em seguida o Terreiro de Tuntum. ¨2
Essa tradição de culto a Baba Olukotun, olori Egun o cabeça, chefe dos Eguns  trás consigo uma corrente de Babas Egun e de títulos de ojé , os sacerdotes do culto, e outros participantes.


Baba Alapala que integra a corrente de Baba Olukotun cultuados no Ilê Axipa.
Foto de divulgação do filme Egungun.
Imagem disponível em http://www.bcc.org.br/fotos/filtro?page=982

O principal é o que foi de Marcos Pimentel o de Alapini. O título corresponde ao culto ao ancestre, que extrapola a ancestralidade de família ou linhagem.
Ao longo do tempo essa tradição foi mantida pelo seu sobrinho o sr. Arsênio Ferreira dos Santos, Alagba que deu continuidade a iniciação de ojé do sr. Deoscoredes M. dos Santos Mestre Didi que herdou e manteve a corrente do Tuntun o ilê Olukotun e deteve o título de Alapini.



Antes de ser Alapini, Mestre Didi teve o oruko, o nome de Ojé Korikowe Olukotun. 
Foto de divulgação do filme Egungun.
 http://mlb-s2-p.mlstatic.com/12832-MLB20067535635_032014-Y.jpg

Em 1980 Mestre Didi Alapini fundou o Ilê Axipá.Reuniu na composição da tradição religiosa do terreiro o cabedal de três linhagens. A dele próprio a linhagem Axipá, a do antigo Alapini, Marcos do terreiro de Tuntu do Baba Olukotun Olori Egun, e de Miguel Sant´Anna Ojé Orepê e Zaba sacerdote supremo do culto Gunôco de origem Tapa-Nupe.
A origem da linhagem Axipá se perde na noite dos tempos, sabemos que participa da composição do afin o palácio do Alaafin rei de Oyó e que é uma das sete linhagens fundadoras de Ketú.
Na reposição da tradição nagô no Brasil, participa na Bahia da fundação do ilè axé Iya Naso, nome do título da sacerdotisa responsável pelo culto de Xangô no palácio de Oyó. Ela é uma das fundadoras do primeiro terreiro de culto aos orixá, a popular Casa Branca. Marcelina da Silva Oba Tossi da família Axipá é ponto de referência na continuação da tradição. Conforme Mestre Didi a Iya Naso fez a iniciação de Anna Eugênia dos Santos Oba biyi de Xangô Afonjá e Ogodô. Mãe Aninha como ficou popularmente conhecida nasceu em 13 de julho de 1869 e é a fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá em 1910.


Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi.
http://www.jornalagaxeta.com.br/img/ancestrais/mae-aninha.jp

Mais adiante
¨Em agosto de 1952, chegou da África Pierre Verger, trazendo um xeré e um Edun Ará Xangô, que lhe foram confiados na Nigéria por Onã Mogbá, por ordem do Obá Adeniran Adeyemi, Alafin Oió, para serem entregues a Maria Bebiana do Espírito Santo, Senhora, acompanhados de uma carta dando a ela o título de Iya Nassô, confirmado no barracão do Opô Afonjá, em 9 de agosto de 1953, com a presença de todos os filhos da casa, comissões de vários terreiros, intelectuais, amigos da seita, escritores jornalistas etc.¨
E ainda:
¨Este fato marca o reinício das antigas relações religiosas entre a África e a Bahia, posteriormente ampliadas, mantendo Mãe Senhora um intercâmbio permanente de presentes e mensagens com reis e outras personalidades da seita na África.¨3



Mãe Senhora, Iyalorixá Oxun Muiwa e Iya Naso, da linhagem Axipa. Foto P. Verger
http://jeitobaiano.files.wordpress.com/2010/04/mae-senhora.jpg

O próprio Mestre Didi realizou inúmeros intercâmbios; exposições de arte sacra por diversos países, bolsa de pesquisa na Nigéria, ocasião que visitou o Alaketú rei do território e da cidade de Ketú e teve o célebre encontro histórico com a família Axipá em fevereiro de 1967.


Em Ifé mestre Didi visita o monumento do Opa Oraniyan.
http://bahiamam.org/9-momentos-de-mestre-didi/

 Em outra ocasião confirmou o título de Balé Xangô na cidade de Oyó em 1970, e ainda recebeu do rei de Ketú o Alaketú Oba Adiro Adetutu em 1983 o título de Baba Mogba Oga Oni Xangô .

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Notas:
1- G.J. Afolabi Ojo, Yoruba Palaces, University of London Pess Ltda, England 1966 p.71
2- cf. Santos M. Deoscoredes, Mestre Didi e Santos E. Juana, O Culto dos Ancestrais na Bahia: O culto dos Égun, in Olóòrìsà, Ágora, S. Paulo 1.981 ps.155/188.
3- Mestre Didi, História de Um Terreiro Nagô, Carthago e Forte, S. Paulo 1944, P. 18


terça-feira, 12 de agosto de 2014

AULA ESPETÁCULO COM ARIANO SUASSUNA


Nossas homenagens ao paraibano Ariano Suassuna por contribuir com sua importante obra literária universal a partir da afirmação dos valores e linguagens da sua região e ter uma vida dedicada à valoração da identidade brasileira nordestina.