quinta-feira, 9 de março de 2023

UM TERREIRO NA HISTÓRIA





 Por Gildeci Leite

O livro Ile Asipa Um Terreiro na História de Marco Aurélio Luz, traça uma trajetória incrível da vinda dos africanos ao Brasil e de sua história tão pouco conhecida.

Mestre Didi ao encontrar a família real a que pertencia em Oyo e Ketu, através do brasão oral preservado por Mãe Senhora, nos traz um legado inestimável.

Todos os grupamentos humanos têm sua história e seus valores civilizatórios preservados. A comunidade preta, em função do processo desumano escravagista, foi alijada de sua história e de seus valores básicos.

O Ilê Asipá representa a manutenção de toda uma forma de ser e estar no mundo da comunidade nagô, que recriou em nosso país a sua visão de mundo, sua fé, seus valores ancestrais.



Painel Orun Aiye

A história do Ilê Asipá e sua proposta de atuação revela toda a preocupação da sociedade iorubana com a preservação do território, com o cuidar das plantas, dos animais e das pessoas de uma forma ampla e irrestrita.

A preocupação de Mestre Didi e seus ojés com a juventude preta e sua inserção no mundo tecnológico que nos cerca é evidente, bem como a preservação do lazer, da alegria de viver, da manutenção de sua fé e de suas famílias. A importância dada à natureza e à criatividade se revela na arte apresentada e desenvolvida por Mestre Didi.

A demonstração de como se pode manter a tradição de um grupo sem perder a perspectiva da sociedade como um todo fica muito clara neste trabalho. Ao receber o título de Doutor Honoris Causa da UFBA, e ao criar instituições como o INTECAB, ou participar dos Congressos Mundiais da Tradição dos Orixás e Cultura, Mestre Didi nos provou sua importância na construção de uma sociedade que valorize a religiosidade, a cultura e a arte, acumulando pessoas e não bens.



Mestre Didi Asipa Alapini na cerimônia de Doutor Honoris Causa na 
UFBA 


Corpo de Ojés com Mestre Didi Asipa Alapini na cerimônia de Doutor Honoris Causa na 
UFBA 
Fica, desta forma, bem claro o pensamento africano, que se consolida por um respeito e cuidado com o território e com as pessoas que nele se encontram. Gente precisa de gente para aprender e para melhorar o mundo. No Ilê Asipá a escolha do terreno em que foi consagrado e construído, o que nele encontramos, bem como a sua história nos provam a importância de se preservar o meio ambiente e cuidar do planeta.

A consolidação da herança civilizatória real africana existente em nosso país, o conhecimento da língua, história e tradições provenientes desde o antigo império yoruba/nagô caracteriza o ilê axé.  

A afirmação do pensar nagô de acordo com Muniz Sodré,  o autor nos mostra como somos naturalmente diversos, pois temos diferentes orixás e ancestrais, mas tal variação é absolutamente normal e necessária para a evolução dos indivíduos.

Atender ao pensamento da alteridade, negando o pensamento europeu de verdade única, situando as diferentes famílias dos ojés, já que somos naturalmente diferentes uns dos outros é o constitui e caracteriza o egbe a comunidade consagrada.




Troça Carnavalesca Pae Buroko

Situar os espaços de axé, a arte sacra negra, o canto, sem esquecer as experiências educacionais, fechando com as Conferências Mundiais das Tradições dos orixás e com o Intecab Instituto da Tradição e Cultura Afro-brasileira, o Alapini Mestre Didi Asipa nos mostrou uma atuação incrível tanto da porteira para dentro, como da porteira para fora.


  
Iwin Igi escultura de Mestre Didi



*Gildeci Leite é professor de Literatura,Doutor em Difusão do Conhecimento pela Universidade Federal da Bahia. Integrante do IlÊ ASIPA 

LUZ,Marco Aurélio.Ilê Asipá,um terreiro na História.Salvador,Edufba,2022.257ps.





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