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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sexta-feira, 9 de junho de 2017

CADA QUAL NO SEU CADA QUAL NA TRADIÇÃO CULTURAL NAGÔ


Por Marco Aurélio Luz


Foto M.A. Luz 
Painel Orun Aiye no Ilê AsipáAo centro o Cetro de Obaluaiyê, rei dos espíritos do mundo,  a esquerda a escolha dos ori, a direita os habitantes do aiyê obirin ati okurin, os ancestrais obirin o pássaro, e okurin baba egun e egun.
Ajalá é um orixá muito antigo que faz as cabeças, o ori das pessoas que vem para o Aiyê, esse mundo. O ori inu o interior da cabeça transcendente, traz os destinos de cada ser e está relacionado com o orun o mundo do mistério, do além.
Ele faz boas e más cabeças e as pessoas escolhem. As que lhe dão atenção e agrado, ele ajuda na escolha permitindo um destino melhor, sem muitas atribulações.
No destino também se inscreve o dom, que reúne as qualidades para determinados afazeres e realizações de cada um.
No início do século passado com o fim da escravidão no Brasil, engendrou-se nos umbrais da Universidade na Faculdade de Medicina da Bahia, a ideologia da “raça” e suas hierarquizações, pedra angular da política do racismo de Estado.
O médico e professor Nina Rodrigues com influência das ideologias “científicas” da França colonial, frequentou o “candomblé” na Bahia para afirmar a “superioridade da raça branca” e a “inferioridade da raça negra”. Para isso, baseou-se na analogia que fez entre os “sintomas de hysteria e a manifestação de orixá” âmago das religiões tradicionais, momento de realização da cosmologia da civilização africana. O que há de mais sagrado para a religião tradicional afro-brasileira, é reduzido a uma doença mental e assim, foram construídos estigmas e preconceitos que deformaram a verdadeira percepção da religião fonte da civilização africano-brasileira.
A partir desse achado “científico”, nutre-se a Razão de Estado da República para realizar múltiplas formas de genocídio realizando a política de branqueamento...
Uma cantiga da umbanda resume o passado recente da perseguição policial:
“ A poliça vem que vem braba
Quem não tem canoa ,cái n´água”
Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi fundadora do Ilê Asé Opo Afonjá percebeu que teria de combater no terreno das ideologias acadêmicas, as falsidades do racismo. Foi assim que aceitou juntamente com o ojé L´Ade e Ajimuda Martiniano do Bonfim, participar do IIº Congresso Afro brasileiro realizado por Édson Carneiro em 1935.


Foto disponível na internet
A Iyalorixá Oba Biyi fundadora do Ilê Axé Opo Afonja em 1910. Foi iniciada pela Iyalorixá Oba Tossi Marcelina da Silva da linhagem Axipá.
 A comunicação de Mãe Aninha foi sobre a culinária sagrada importante aspecto da liturgia que promove a circulação de axé e remete a simbologia da constelação dos orixá que integra a visão de mundo nagô.


Foto disponível na internet
Martiniano foi um líder sacerdotal exponencial e  admirado babalawo .

 A comunicação de Martiniano foi sobre o recém-criado corpo dos Obá, os doze ministros de Xangô no Ilê Asé Opo Afonjá. Martiniano que viveu muito tempo em território nagô na África teve importante participação na criação do corpo dos Oba que é inspirado no corpo dos Mogba os ministros do Alafin em Oyó.
Mãe Aninha procurou reproduzir de forma concentrada e criativa as instituições do antigo império nagô realizando a reposição de seus valores.
Mãe Senhora Iyalorixá Oxun Muiwa sucessora a Mãe Aninha,  ampliou o corpo dos Obá constituindo os otun e osi de cada um, totalizando trinta e seis, sendo que os titulares tem o poder de voz e voto. Ela estabeleceu uma política de proteção, preservação e expansão da comunidade terreiro: “da porteira para dentro, da porteira para fora”.
De um lado a dimensão das iniciações sacerdotais profundas, constituindo um corpo sacerdotal capaz de manter a liturgia e a tradição,  de outro, os ijoiyê os títulos honoríficos que contemplam os “amigos da casa”, gente mais incumbida de valorizar e legitimar os valores nagô na “sociedade oficial” das mais diversas formas.
O corpo dos Obá representa bem essa dinâmica. Importantes personalidades foram acolhidas como o escritor Jorge Amado Oba Arolu, o compositor e interprete musical Dorival Caymmi Oba Onikoyi, o pintor  Carybé Oba Onansokun, o empresário Sinval Costa Lima Oba Abiodum, dentre muitos outros artistas e intelectuais participantes  como o escultor Rubem Valentim, o escritor Vasconcelos Maia, o professor Vivaldo Costa Lima, etc.


Foto disponível na internet
Mãe Senhora iyalorixá Oxun Muiwa com Zélia Gattai, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Jorge Amado no ilê Axé Opo Afonja.

Convém destacar a presença de Pierre Verger, inicialmente fotógrafo e curioso quando conheceu Mãe Senhora, mas com o passar do tempo, deu outro sentido a sua vida adentrando pelo mundo das tradições africanas. Isso fez com que  Mãe Senhora lhe  conferisse o título de Oju Oba da casa de Xangô. O Oju Obá, fez inúmeras viagens à África que proporcionaram a troca de correspondências entre a Iyalorixá e os reis de Oyó e de Oshogbo. Sendo ela descendente da linhagem Asipá, originária de Oyó e uma das sete famílias fundadoras do reino de Ketu, ela era bastante estimada e admirada.

Foto famosa de Pierre Verger disponível na internet 
Mãe Senhora Asipa Iyalorixá Oxun Muiwa Iyanaso

Por seus méritos recebeu do Alafin Oyo, Oba Adeniran Adeyemi II em 1952 através de Pierre Verger, o título de Iya Nasô Oyó Akala Mabo Olodumare, Ase Da Ade Ta.


Foto disponível na internet
Mestre Didi Asipa no monumento Opa Oraiyan em Ile Ifé. Oraniyan expandiu as bases do império nagô.

Por diversas ocasiões o filho de Mãe Senhora, Mestre Didi esteve na África. Num dia histórico em 1967, Pierre Verger combinou com Mestre Didi e a Sra. Juanita de visitar o Alaketu, rei da cidade de Ketu.
 Na presença do Alaketu Mestre Didi recitou vários poemas inclusive korin referente de Odana  Dana  Asipá que no Brasil participou da reposição religiosa da tradição africana. O Arokin que guarda a memória histórica do palácio reconheceu aquela que desaparecera durante a guerra com o Daomé por volta de 1860.
Por fim Mestre Didi recitou o brasão oral da família Asipa: “ Asipa Borogun Elese Kan Gongo”. Então o Alaketu reconheceu e logo disse:
- “ Ah! Asipá! Sua família mora ali”. Apontando em direção ao quarteirão. Foi um reencontro histórico imemorável!



Foto disponível na internet
Mestre Didi visita o ojubo de Oxossi da família Asipa em Ketu.

Mestre Didi foi de um, tudo. Da “porteira para dentro”, foi profundo conhecedor da tradição religiosa desde criança, quando recebeu títulos e importantes funções sacerdotais como Ojé Korikowe Olukotun,  do culto aos egungun da tradição do Tun Tun e de Asogbá, supremo sacerdote do culto à Obaluaiyê no terreiro de orixá Ilê Ase Opo Afonja.
Foto acervo M. A. Luz
Mãe Stella Iyalorixá Odé Kayodê, Mãe Pinguinho Iya Kekerê, Mestre Didi Asogba ati Balé Xangô, Muniz Sodré Otun Oba Aresa, Juana Elbein dos Santos Elefunde, Marco Aurélio Luz Osi Oju Oba, Dorival Caymmi Oba Onikoiy. Confirmação do Otun Oba Aresa e do Osi Oju Oba indicados pelo Balé Xangô.

 Mais adiante já adulto, recebeu o título de Alapini e Ipekun Ojé, o mais alto na hierarquia do culto aos Egungun e de Balé Xangô,  mais importante título da casa de Xangô dentre outros. 


Foto M.A. Luz

Mestre Didi Alapini seguido pelos Ojé Jobi, Alagba, Osi Alagba e Otun Alagba no Ilê Axipa.

Foi o fundador do terreiro Ilê Asipá de culto aos egungun, reunindo as correntes de ancestrais de três linhagens tradicionais: a Asipá, a de Marcos Alapini, zelador do Egungun Agba Baba Olukotun, Olori Egun, o ancestre mais antigo e venerado da tradição ao culto aos ancestrais, e a de Miguel Sant`Anna Ojé Orepe, e Zaba, principal sacerdote do culto a Idako da tradição Tapa Nupe.

Mestre Didi Alapini no Ilê Asipa recebendo  as saudações dos Egun Agba
Mestre Didi por diversas vezes esteve na África, e numa dessas ocasiões como já nos referimos, o destino lhe proporcionou um encontro ou reencontro histórico na cidade de Ketu. O Alaketu lhe conferiu o título de Baba Mogba Oga Oni Sango. Ele confirmou em Oyo o título de Bale  Xangô.

Mestre Didi e seu neto José Felix dos Santos por ocasião da saída da Troça Carnavalesca Pae Buroko em 1983. O afoxé foi fundado por Mestre Didi em 1935 e desfilado em 1940. A presença da comunidade negra afirmando a sua tradição nas ruas de Salvador. Foto : Jorge Mendes dos Santos. Acervo M.A. Luz


Foto Marcos Kalisch
Pronunciamento de Mestre Didi Axipa Alapini na I Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura realizada em 1980 em Ile Ife. Na foto compondo a mesa o Aragba e o Oni Ifé.

Essa imersão na cultura sagrada, potencializou Mestre Didi para da “porteira para fora”,ser um escultor de renome internacional de originalidade única, 

Mestre Didi tornou-se um artista reconhecido internacionalmente.
Suas esculturas derivam dos emblemas do panteão dos orixá da terra em magnificas recriações.

Foto disponível na internet 
Sua esposa Juana E. dos Santos foi uma imprescindível colaboradora na divulgação e promoção das exposições de Mestre Didi mundo afora. Dentre as principais, a da 23ª Bienal de São Paulo com exposição de 33 peças, e a exposição permanente no Museu Afro Brasil e muitas outras.

Mestre Didi foi também um renomado escritor de livros e peças de teatro ou autos coreográficos.que abriram um espaço original na literatura brasileira.


Foto disponível na Internet
Livro arte de Mestre Didi com ilustrações de Lênio Braga

"Ajaká Iniciação para a Liberdade", auto coreográfico de autoria de Mestre Didi, Juana E. dos Santos e Orlando Senna. Na foto a Mãe Ancestral encenada por Inaicyra Falcão dos Santos, atriz, cantora lírica, Doutora em Educação, professora da Unicamp e filha de Mestre Didi.



Foto: disponível na Internet
Mestre Didi com Pierre Verger e Vivaldo Costa Lima autores e escritores.

 Foi um incentivador cultural tendo participado diretamente da fundação de importantes movimentos como as Conferências Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura, da Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil- Secneb e do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro Brasileira-Intecab.



Lélia Gonzales, JJSiqueira, Marta Vega, Wande Abimbola, Juana E. dos Santos, Mestre Didi, Joel Rufino, Edmilson do MNU. sentados, Jorge de Pernambuco, Edvaldo Brito, Bujão, e Marco Aurélio Luz em pé. Encontro preparatório para a IIª Comtoc na sede da SECNEB. 



Foto: acervo M. A. Luz
Congresso da TRADIÇÃO RELIGIOSA E CULTURAL AFRO BRASILEIRA no Ilê Axé Opo Afonja que proporcionou a criação do INTECAB. Babalorixá Manoel Costa do terreiro de Pai Adão de Recife, Mestre Didi Alapini, na mesa e a Doné do Kerebetan Bogun Mãe Nicinha Gamo Lokossi pronunciando suas palavras. Everaldo Duarte Abagigan representante do kerebetan tornou-se vicecoordenador do INTECAB


Foto: acervo M.A. Luz
Integrantes do INTECAB na reunião de Minas Gerais em Belo Horizonte. Representante do Conselho Consultivo Nacional Marco Aurélio Luz, Oju Oba Coordenador Nacional Deoscoredes M. dos Santos Mestre Didi. Alapini Secretaria da Cultura Nacional Juana Elbein dos Santos Elefunde, e Coordenador Estadual MG Wamy Guimarães. Tata Inkisse Omoloko

Foto: M. A. Luz
Encontro Nacional do INTECAB Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro Brasileira no Centro de Convenções em Salvador BA. 1988.

Todas essas trajetórias propiciaram o fortalecimento e legitimação dos cultos de tradição africano brasileira, desde o fim das perseguições policiais na década de trinta, até mesmo na promulgação de Leis de liberdade de culto e de proteção da tradição africano brasileira no plano das Constituição federal e estadual. 




Foto disponível na internet
Abdias Nascimento e Mestre Didi

Outras iniciativas e atuações do Mestre Didi, envolvem também proposições de linguagens e valores culturais para abordagens curriculares no sistema de ensino. 

Foto: acervo M. A. Luz
Professora Doutora em Educação Narcimária do Patrocínio Luz discorre sobre o valor e significado da obra educacional de Mestre Didi.

Inúmeras programações culturais, publicações que elevaram o reconhecimento dos valores da religião e combateram os preconceitos.




 Foto M.A. Luz
Opo Baba Nla, monumento em homenagem à ancestralidade Africano Brasileira  em Salvador BA. Recriação da obra Opa Exin de Mestre Didi.

Concluímos então, reconhecendo que numa comunidade religiosa de culto africano brasileiro, há lugares para integrantes que possam ter mais o destino para iniciações religiosas profundas “da porteira para dentro”, e outros, que têm um destino vocacionado para uma atuação “da porteira para fora”, todos concorrendo para a preservação e a expansão da riquíssima tradição religiosa legada pelos ancestrais. Cada qual no seu cada qual.

As atuações de Mestre Didi geraram a criação de uma nova epistemologia Africano Brasileira .
A seguir relacionamos algumas obras.


De Mestre Didi















De Juana Elbein dos Santos











De Marco Aurélio Luz













De Muniz Sodré







De Narcimária Correia do Patrocínio Luz








De Inaicyra Falcão dos Santos







                                     
                                                         De José Sant´Anna Sobrinho



                                                         
                                                               De Helena Theodoro












sábado, 27 de maio de 2017

DALMIR, PENSADOR QUILOMBOLA DAS “MINAS GERAIS”



Foto disponível na Internet
Professor Doutor Dalmir Francisco
Um singela e necessária homenagem a um amigo inesquecível: Dalmir Francisco Costa professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG que faleceu no dia 16 de abril, em Belo Horizonte de insuficiência cardíaca, aos 66 anos.

Grande parceiro e colaborador do Programa Descolonização e Educação-Prodese(grupo de pesquisa que integra do Diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-Cnpq/1998) em iniciativas institucionais importantes, a saber: coautor do livro Pluralidade Cultural e Educação, participação em várias publicações do Sementes Caderno de Pesquisa, onde  também integrava o Conselho Editorial e palestrante em muitos eventos nacionais e internacionais.




 
Encontro  Internacional Diversidade Humana Desafio Planetário(1994) organizado pela Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil.
Evento comemorativo dos 10 anos do Prodese Awon Esó 
Da esquerda para a direita o Landê Awanalê,Dalmir Francisco,José Carlos Limeira e Marco Aurélio Luz

No nosso blog, tivemos a oportunidade de divulgar seu livro “Comunicação, Música Popular e Sociabilidade” (Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2014), que sempre estará entre as nossas principais recomendações de leitura.

Dalmir comentou na época do lançamento do livro:

“Estamos falando de produções poético-musicais que compõem uma rica e valiosa memória sonora e afetiva de dramas, amores, desamores: errâncias de homens e de mulheres comuns, afrodescendentes e eurodescendentes, que, cantando, registraram e registram ainda hoje a sua humanidade em um Brasil marcado pela diversidade étnica, cultural e social”.
Dalmir era graduado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1978), Mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (1992) e Doutorado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000).Pós-Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.Era professor Associado da Universidade Federal de Minas Gerais com experiência na área de Comunicação e Cultura, com ênfase em Jornalismo, atuando principalmente nos seguintes temas: Jornalismo, Comunicação, história, Política, negritude e comunicação e cultura. Era Membro Titular do Conselho Estadual dos Direitos Humanos - CONEDH / Minas Gerais e do  Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial - COMPIR / Belo Horizonte.

Aqui procuramos homenageá-lo através de suas muitas formas de expressar seu pensamento e compreensão sobre o estar no mundo. Dalmir na sua trajetória científico-acadêmica ergueu com altivez, orgulho e muita alegria, espaços de legitimidade do continuum africano no Brasil.
Imagem disponível na Internet
Sucessão de triângulos representam a continuidade civilizatória africana


Nascido em Minas Gerais, Dalmir herdou valores que o tornou um pensador importante sobre as questões que constituem a história das populações africano-brasileiras e, tornou-se ao longo dos anos, um defensor  dos direitos coletivos dessas populações, demonstrando nas suas atuações institucionais a necessidade de encontrarmos canais de diálogo e compreensão dos valores civilizatórios dos povos.
Imagem Disponível na Internet

No pensamento de Dalmir, encontramos uma das suas maiores referências: o vínculo indissolúvel entre a diversidade cultural e os direitos coletivos, principalmente aqueles reivindicados pelas instituições africano-brasileiras. Sobre isso, ilustrações não faltam: destruição, esgotamento e usurpação de forma cruel das territorialidades sagradas das comunidades tradicionais africano-brasileira.
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O pensamento de Dalmir traduzido em suas obras, apresenta de modo valioso aspectos sócio históricos do Brasil negligenciados pela Razão de Estado e suas instituições .
Imagem disponível na Internet
Capoeira referência da expansão civilizatória dos africanos no Brasil

Lembramos da atenção ao ouvir a voz bem empostada e forte de Dalmir, apresentando suas ideias... Eram momentos  muito especiais e de uma riqueza impressionante. Fazia-se silêncio, pois eram  momentos de aprendizagem a partir do sentimento e olhar  de alguém que falava de outras singularidades do Brasil. Um Brasil e a dinâmica das redes quilombolas! Sim! Quilombos contemporâneos que intercambiam ininterruptamente. A maneira de Dalmir abordar um tema ou aspecto numa conferência ou debate, era muito interessante. Tinha um tom e conduta de uma boa aula de história.

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Uma observação: não era um pensamento sisudo, arrogante como muitos que circulam nas Universidades, ou mesmo imerso em lamentações ou tristezas, não. E mesmo que tivesse lamentações, ele abria outras perspectivas de análises de enfrentamento e superação. Seu pensamento era, e ainda é, criativo, altivo e guerreiro animando-nos a prosseguir zelando e afirmando a história dos nossos ancestrais referências fundamentais que  asseguram a nossa dignidade .
Foto disponível na Internet
Dalmir realizando palestra na Universidade Federal do Rio de Janeiro no evento na Escola de Comunicação em comemoração ao aniversário de Muniz Sodré

O Professor Marco Aurélio Luz recordando sua amizade com  Dalmir comenta:

"Dalmir Francisco foi um companheiro e irmão.
Tenho uma só palavra para resumir o que admirava nele: INTENSIDADE.
Foto disponível na Internet
Transformação do ferro,mineral que está associado ao universo simbólico do orixá Ogum
Depois da política estudantil e como professor universitário, Dalmir se reencontrou na religião africano-brasileira. Participou ativamente como representante do Conselho Consultivo do Instituto da Tradição Afro-brasileira de Minas Gerais. Se destacou também na participação de inúmeros eventos e publicações visando a afirmação dos valores da tradição africano-brasileira.
Olorum Kosi pu re!"
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Carlos Alberto de Carvalho, colega de Departamento d UFMG diz sobre Dalmir: “Profundo conhecedor das questões da cultura brasileira e da herança cultural africana” e atuava em campo de estudo que fazia aproximações entre comunicação, cultura, política e, mais recentemente, educação. Foi um dos organizadores da obra Mídia, docência e cidadania, lançada em 2016”.
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Aqui um trecho de uma homenagem em forma de crônica “Adeus, Dalmir Francisco, o abridor de caminhos...”  de Miguel Arcanjo Prado  jornalista formado pela UFMG e seu ex-aluno.
Foto disponível na Internet

"Dalmir Francisco, o abridor de caminhos...” 


“...Tive o prazer de ser seu aluno na disciplina Comunicação e Política, obrigatória e que ele dava à sua maneira, gerando paixão e também revolta em alguns alunos, que não o compreendiam.

Dalmir, em sua aula, apresentava a criação do mundo a partir da cosmogonia africana, explicando a origem de cada orixá, o que lhe dava enorme prazer. Alguns alunos, não acostumados a uma forma de ensino que não fosse a eurocêntrica não entendiam, reclamavam do professor nos corredores. Como assim falar de orixá em aula de comunicação e política? Alguns até o enfrentavam em aula, dizendo que não concordavam com sua ementa.
Ilustração de Narcimária Luz no seu livro "Itapuã quem te viu e quem te vê"(2009)
Agemó,personagem que integra a criação do mundo conforme a cosmogonia nagô
Ilustração de Narcimária Luz

 E Dalmir, livre docente, seguia firme e forte. Não temia o confronto. Hoje, percebo que foi o meio que encontrou de resistir com sua negritude dentro da academia, do alto de seu título de doutor. Neste domingo de Páscoa, recebo na internet a notícia da morte de Dalmir Francisco, aos 66 anos. Uma tristeza enorme me invade. Porque Dalmir significou muito para mim. Ter ele ali, negro, jornalista, naquele posto de professor da UFMG, sempre me deu um orgulho enorme. Dalmir Francisco foi pioneiro. Abridor de caminhos. Já faz uma baita falta. Que descanse em paz.”

Para conhecer todo o conteúdo da crônica de Miguel Arcanjo Prado  , acesse https://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2017/04/16/cronica-do-arcanjo-adeus-dalmir-francisco-o-abridor-de-caminhos/

 


 Saudades querido amigo!

Que Olorum lhe abençoe Dalmir, pensador  quilombola  das “minas gerais” !


A seguir entrevista de Dalmir sobre seu  livro Comunicação,Música Popular e Sociabilidade (1ª. ed. Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2014) que aborda aspectos sobre “o amor do homem comum, presente na poética musical, dita popular e comunicada, socializada pela mídia. O homem comum é aquele que não aspira a ser herói, que não deseja ser o invencível guerreiro, o grande governante, o alto legislador e que não quer ser mais que pode a sua humanidade…”Palavras do autor.

Muito interessante!

Vale a pena assistir!

Comunicação,Música Popular e Sociabilidade .Entrevista com Dalmir Francisco

Entrevista de Dalmir Francisco sobre seu livro Comunicação,Música Popular e Sociabilidade (1ª. ed. Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2014).
Vale a pena assistir uma das últimas entrevistas desse pensador brasileiro. 




sexta-feira, 26 de maio de 2017

A CORRUPÇÃO ATIVA E NOSSOS DESAFIOS IMEDIATOS: DELAÇÃO DE JOESLEY BATISTA, DA CORPORAÇÃO-IMPÉRIO DA CARNE JBS, CONTROLADA PELA J&S


Foto disponível na Internet

Por Marcos Arruda


 Quem é a JBS? É uma CORPORAÇÃO TRANSNACIONAL DE BASE BRASILEIRA, cujo controle pertence à família BATISTA (irmãos Joesley e Wesley) através da FB Participações, que é controlada pela J& F Investimentos S.A. O conglomerado J&F atua nos setores do agronegócio, alimentos, finanças, higiene, limpeza, papel e celulose. É a maior produtora, processadora e exportadora de carne porco, aves e carneiro do mundo.



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 Ela é responsável pela matança de 86.000 animais por dia. No Brasil ela se apresenta pela marca Friboi, nos EUA, Pilgrim's Pride. (Valor Econômico, 200 Maiores Grupos, dez. 2014: 214-215).https://www.bloomberg.com/…/brazil-police-search-jbs-headqu


                                                               Pilgrim`s Pride  
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1. Hoje, JOESLEY BATISTA faz delação premiada enquanto corruptor. CORRUPTOR. O nome oficial desta PRÁTICA é CORRUPÇÃO ATIVA! Se ele, Eike Batista, Emilio e Marcelo Odebrecht e tantos outros, INCLUSIVE EMPRESÁRIOS ESTRANGEIROS, não forem investigados, julgados e condenados a prisão como corruptores, claro que com sentenças reduzidas, devido à delação premiada, tipo 30 anos de prisão em vez de 60 e sequestro dos bens que eles expropriaram da Nação, por crimes contra a economia nacional e popular, além de outros crimes dos quais são responsáveis.

2. Corruptores compram favores com propinas, e corruptos compram propinas com favores. Teoria da conspiração? Não, PRÁTICA DA CONSPIRAÇÃO!!!

3. HENRIQUE MEIRELLES, que foi presidente mundial do BankBoston, banco de base estadunidense CREDOR DA DÍVIDA BRASILEIRA, também foi Presidente da J&F Investimentos, que controla a JBS e dezenas de outras empresas em diversos continentes, até ser convidado por Temer para Ministro da Fazenda. 


Imagem disponível na Internet

Temer diz que nomeou Meirelles ministro "Pensando em Joesley Batista"... É assim que o sistema político brasileiro deve ser reconhecido como CORPORATOCRACIA, e não democracia! https://oglobo.globo.com/…/dono-da-jbs-recebeu-aval-de-teme….



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4. Batista diz que "pagou", "comprou" favores dos políticos e dos seus partidos no valor de R$500 milhões. Ele era como um cofre onde os corruptos vinham se abastecer. EM TROCA, ele e outros megaempresários, manipulavam os podres Poderes da República... Qual a origem de todo este dinheiro? Do salário dos seus operários, técnicos e administradores? Isto pararia seus negócios. Esta fortuna sai da mais valia extraída dos gigantescos negócios dos irmãos Batista. Assim funciona o CAPITALISMO.

5. O vídeo foi feito por precaução, e não pra produzir evidências acusatórias, daí seu caráter legal, diz o STF. Ele passou a servir para revelar o conluio Corporação-Políticos quando Joesley viu que não ia escapar do crivo da Lava-Jato e decidiu fazer a delação premiada. Diante do castelo de cartas construído pelos podres poderes para destruir Dilma, Lula e o PT, as elites corporativas e políticas estão assustadas ao ver cair, aos poucos, crescentes parcelas do castelo, e não apenas o alvo inicial. Cabe à Justiça exigir as provas que substanciem as delações. Como, no caso de Lula e Dilma, o banco e o número das contas no exterior nas quais Joesley teria depositado fortunas para a campanha de 2014.

6. População lesada. Trabalhadores na penúria ou sem emprego, riquezas e patrimônio desnacionalizados, bancos cada vez mais ricos, dívida pública cada vez mais ilegítima e impagável, investimentos em educação, saúde, saneamento estrangulados pela PEC da morte... que estes sangue sugas do grande capital e da política da ganância percam seus ativos para que um NOVO GOVERNO, eleito em eleições diretas e gerais possa investir em Bem Viver, Soberania e Abundância para toda a cidadania do Brasil!

7. O STF é a autoridade de última instância. Quando será que o STF vai agir de forma equitativa, firme, ágil e responsável?

8. Na verdade, corruptores, corruptos, agro negociantes, grandes banqueiros, especuladores e empresários e agro negocistas nacionais e estrangeiros fazem parte da mesma CLASSE SOCIAL globalizada, que chamamos de OLIGARQUIAS (divididas em subclasses diferenciadas). No discurso elas identificam seus interesses privatistas com os da Nação. Mas a corrupção estrutural da Corporatocracia brasileira tira a máscara do sistema e mostra sua verdadeira natureza.


Foto disponível na Internet

9. Esta é a ÉTICA DO CAPITAL: "tudo que me permite ganhar mais dinheiro e posses materiais é bom; tudo que me impede é mau." Ou "cada um por si e Deus... por mim".

10. Há outras maneiras de organizar a economia e as relações na sociedade e com a Natureza! AS CLASSES QUE VIVEM DO SEU TRABALHO precisam se tornar as PROTAGONISTAS PRINCIPAIS - e só a DEMOCRACIA ECONÔMICA consegue isto! Com ela lograremos DEMOCRATIZAR O ESTADO!

11. Conhecemos a Rede Globo e a Band. Elas exaltaram os golpistas e o golpe contra a Presidenta eleita. Promoveram os golpistas corruptos a "esperança do País". Agora viraram a casaca? Quanta propina terá oferecido a Globo aos políticos em troca de favores? Elas estão agora divulgando com severidade inaudita outras grandes empresas. Quem irá colocar frente a ela um espelho? E quem irá denunciar os crimes da Globo, a começar pelo seu papel de ponta-de-lança do grupo Time-Life no Brasil?
 https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Time-Life

Nossa resposta à crise atual é:

- CADA VEZ MAIS POVO NAS RUAS!

- FORA TEMER E TODOS OS CORRUPTOS E CORRUPTORES!

- ANULAÇÃO DE TODAS AS REFORMAS GERADAS PELO GOVERNO GOLPISTA, USURPADOR E ILEGÍTIMO!

- ELEIÇÕES DIRETAS E GERAIS JÁ!!!

- CIDADANIA ATIVA DO BRASIL: CRIEMOS NOSSO PRÓPRIO PODER!!!


Marcos Arruda é economista e educador popular veterano, que tem trabalhado com as cooperativas e os movimentos de economia solidária por muitos anos. Arruda tem servido como um conselheiro para os governos locais e como professor visitante em universidades no Brasil e no exterior. Ele é um facilitador para o programa de educação de Gaia e é ativo na Ecovila e os movimentos de Transition Towns. Ele também é ativo na rede Jubileu Sul, trabalhando em questões relacionadas com a gestão de orçamento público alternativas, economia e ecologia e a crise da dívida e planejamento do desenvolvimento socioeconômico.