sábado, 15 de maio de 2010

Itapuã quem te viu e quem te vê!


Nosso blog apresenta uma entrevista especial com a professora Narcimária C. P. Luz autora do livro para crianças e jovens “ITAPUÃ QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ”.A professora Narcimária vem acumulando ao longo da sua carreira várias iniciativas na área de Educação,visando divulgar e afirmar a diversidade cultural característica da formação social brasileira.Aqui ela nos fala da sua obra mais recente,publicada pela Editora da Universidade do Estado da Bahia-EDUNEB .O livro está à venda na livraria da EDUNEB no Cabula e em breve estará nas livrarias da cidade.

ACRA-Como surgiu esse título” ITAPUÃ QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ”?
Narcimária-
Sempre que falo de Itapuã com meus filhos ou jovens que nasceram no final dos anos 1980 e anos 1990,parece que estou me referindo a um lugar que não existe mais.Isso me impressionou muito,porque realmente a Itapuã a qual me refiro, está no meu coração,no que aprendi a sentir e identificar desde menina.Eu sei onde está a pedra ancestral-Itapuã.Mas se perguntar para alguma criança ou jovem que moram no bairro hoje,eles identificam o farol de Itapuã,sabe até onde está a Plakafor,mas não sabe onde está a pedra que ronca,e nem o valor simbólico milenar que ela carrega . Conversando sobre isso com meus pais que são educadores que vivem em Itapuã desde os anos 1960, nos demos conta de que realmente quem conheceu aquela Itapuã adornada pelas dunas,lagoas,matas,o mar e o Mercado de Peixe,não a reconhece no contexto frenético urbano-industrial que restringiu a vida desse lugar tão especial.Daí “Itapuã:quem te viu e quem te vê”.

ACRA-Sua geração não conheceu a história de Itapuã?
Narcimária-
Não.Infelizmente minha geração recebe a referência de valores do pós-guerra que vão se consolidando e nos anos 1960 tornam-se hegemônicos.Então, a sociabilidade em Itapuã que era regada a mitos,cantigas,contos tudo que estivesse relacionado ao patrimônio dos povos “indígenas” e africanos,como a “pedra que ronca”,vão sendo classificadas como folclore.Eu queria que a minha geração tivesse tido a oportunidade de conhecer profundamente o patrimônio milenar que Itapuã carrega,herança desses povos que constituem a formação social das Américas.

ACRA-Conte-nos sobre a experiência de escrever esse livro.
Narcimária-
Acho que quando escrevi essa peça que tem a estrutura e forma de um auto-coreográfico para crianças e jovens, foi como uma forma de comunicar aspectos da história de Itapuã que elas desconhecem.Lembrei muito de mim que conheço Itapuã desde os seis anos de idade,e que gostaria de ter tido oportunidade de saber do legado de valores dos nossos ancestrais africanos e dos tupinambás aqui em Itapuã.Daí foi saboroso escrever (re)visitando lembranças e lugares da minha infância e juventude.Não posso deixar de registrar que também tive que pesquisar muito em arquivos,registros iconográficos,entrevistas com personalidades antigas e lideranças expressivas daqui.

ACRA-Essa história se fixa numa cronologia com um tempo histórico determinado ou é atemporal?
Narcimária-
Não, ela é atemporal.A História que fui compondo atravessa os tempos.Não tem uma data exata matematicamente calculada,não.O texto entrelaça música,poesia,coreografias,brincadeiras,humor,vocabulário próprio dessa geração “século XXI”.

ACRA-Vocês vão estrear quando e em que Teatro?
Narcimária-
Quando não sabemos.Por enquanto estamos identificando a equipe que irá sustentar poeticamente(risos) e tecnicamente o auto-coreográfico.A idéia é não encenar num palco,estilo teatro italiano.A equipe ACRA já conhece a linguagem que costumo realizar na área de Educação, e é cuidadosa no trato da linguagem para comunicar a história.A encenação que envolve,música,dança,brincadeiras,cantigas,etc será num espaço em forma de uma grande roda,com as crianças sentadas em esteiras próximas e interagindo profundamente com as personagens.

ACRA-Como são as personagens?
Narcimária-
É engraçado como fui compondo... Dei vida a pedra Itapuã que assumiu o sentimento e emoção de uma menina que tem uma irmã pré-adolescente que é Piraboca.O Farol também assume o sentimento e emoção de um jovem que vem de Portugal trabalhar fazendo sinalização para as embarcações,e finalmente Plakafor,uma famosa atriz de cinema americano que chega em Itapuã e tenta imprimir os valores americanos por aqui.A trama se desenrola com essas personagens.

ACRA-Você já tem alguma avaliação,crítica sobre o livro?
Narcimária-
Sim.Através da leitura crítica de algumas crianças ,jovens e educadores/as que conheceram a história,fiquei sabendo do prazer e satisfação que tiveram em ler o texto.Disseram que o enredo é muito divertido e tem uma base socioeducativa importante.

ACRA-Fale-nos da importância de “ITAPUà QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ”para o campo da Diversidade Cultural e Educação.
Narcimária-
Espero que essa história circule entre muitas gerações e que as escolas,principalmente as escolas públicas utilizem como material didático,que lida com vários campos do conhecimento:Matemática,Música,Literatura,Biologia,Botânica,Geologia,Geografia,História,Dança,Artes Plásticas,Língua Tupi,Língua Yorubá,etc.

ACRA-Então estamos diante de um livro valioso para os educadores/as utilizarem?
Narcimária-
Sem nenhuma modéstia. Reconheço que é uma material muito rico para os educadores/as ,inclusive para aqueles/as que desejam explorar as diretrizes da Lei 10.639/03 e 11.465/08.Agora,não basta copiar ou “seguir a risca” o que está no livro,mas sim, transcendê-lo,aproximando–se da Itapuã que viceja em cada uma das crianças que ouvem a história.Cada criança e jovem sente a história de uma forma, e é através da riqueza de perspectivas dos lugares que compõem Itapuã(Nova Brasília,Abaeté,Baixa da Soronha,Palame,Alto do Cajueiro,Cacimba,etc) que o educador deverá atuar.

ACRA-Já temos atores e atrizes para o auto-coreográfico?
Narcimária-
Sim.Quando fui desenhando as personagens já me vinha a cabeça quem seriam os atores e atrizes que poderiam interpretá-los.

ACRA-Qual ou quais as personagens que você mais gosta?
Narcimária-
Gosto de todas as personagens.São muito vivos e divertidos!O forte são os diálogos entre Itapuã e Piraboca face a ameaça que o Farol e a Plakafor trazem para o lugar .É nessa tensão e conflito que a história se desenvolve.

ACRA-Gostaria de registrar uma mensagem sua para nossos/as visitantes que em sua maioria são educadores/as.
Narcimária-
A mensagem que compartilho com a ACRA está na apresentação do livro:”
“Itapuã quem te viu e quem te vê”,magnifica as presenças das comunalidades tupinambá e africana, abrindo perspectivas de afirmação do princípio de ancestralidade que dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades na Bahia, portadoras de sabedorias milenares,como temos vivenciado em Itapuã. Depois de nos aproximarmos de tantos aspectos singulares de Itapuã,ficamos muito eufóricos e com uma enorme satisfação de poder identificar perspectivas de linguagens importantes para a área de Educação,isto porque,elas são capazes de acolher o que há de mais precioso para qualquer ser humano:o direito de ser! Ser aceito,ser amado,receber carinho, receber atenção,ser escutado,ser respeitado pelo que é principalmente pelos vínculos comunais que seus ancestrais estabeleceram,ser respeitado por fazer parte da dinâmica da civilização africano-brasileiro,enfim,ter orgulho de ser.
Nossas crianças e jovens precisam e a todo tempo reivindicam o direito a existência.
Itapuã é uma territorialidade que faz transbordar esse orgulho de ser,e ainda há tempo para que nós educadores identifiquemos essa força de sociabilidade africano-brasileira que atravessa Itapuã

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