sexta-feira, 23 de julho de 2010

A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES NEGROS

Esse é o título do artigo do Professor Doutor Henrique Cunha Júnior, educador com o qual a equipe PRODESE vem dialogando e compondo algumas iniciativas visando superar a ideologia do racismo que tende a orientar as práticas institucionais da Educação Básica até a Universidade. Henrique Cunha Júnior é graduado em Sociologia e Engenharia Elétrica. Mestrado em Engenharia Elétrica, Mestrado em História - Université de Nancy I (1981), Doutorado em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983). Prestou concurso de professor efetivo na USP em 1990. Apresentou tese de Livre Docência na EESC - USP em 1993. Prestou concurso com tese de Professor Titular na Universidade Federal do Ceará em 1994. Atualmente é Professor Titular da Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica em maquinas elétricas, sistemas de controle, automação industrial, tração elétrica e ensino de engenharia elétrica. Trabalha em Pós-Graduação e Pesquisa em Educação Brasileira, FACED-UFC, nos seguintes temas Africanidades, Afrodescendência, Espaço Urbano, Relações Étnicas e História e Cultura Africana e Afrodescendente.
A seguir introduzimos o artigo, instigando o/a leitor/a para conhecer o texto na íntegra na página http://www.comciencia.br/reportagens/negros/17.shtml
Lembramos que no dia 30 de julho (sexta-feira) teremos o prazer de receber o Professor Doutor Henrique Cunha Júnior na Universidade do Estado da Bahia Departamento de Educação do Campus I ,realizando a Conferência "O Estado atual das pesquisas sobre as Populações Negras no Brasil".

Boa leitura!
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A história da formação social brasileira é a história do escravismo criminoso que produziu ao longo de quase 300 anos a imigração massiva de africanos. Como os processos de invasões européias no continente africano encontraram fortes resistências, as regiões de exploração e lutas variaram e se alternaram no tempo, fazendo com que os cativos africanos para aqui trazidos viessem de diversas regiões e culturas.
Dado o imenso desenvolvimento técnico e social, para época, vivido pelos diversos países africanos, o Brasil absorveu e se beneficiou de mão-de-obra portadora de todas as técnicas e conhecimentos utilizados nos diversos campos da produção no país. O conhecimento produtivo do Brasil Colônia é fundamentalmente africano, nas áreas de mineração, produção de ferro, agricultura, produção de açúcar, manufaturas, tecelagem, construção.
O mesmo se dá no campo da política, se considerarmos que os quilombos foram à forma mais sistemática da produção de contestação do estado escravista. Não paradoxalmente, as artes e a cultura se fundam também sobre as mesmas heranças africanas. Até as literaturas e as músicas ditas eruditas são realizadas por africanos e descendentes de africanos. Basta nomearmos os marcos das nossas artes e da nossa literatura para constatarmos tal evidência.
A produção da pesquisa científica no Brasil é iniciada nos finais do século XIX e início do XX, aí também, vamos encontrar a participação ativa de afrodescendentes. Há casos extremos como o do engenheiro Teodoro Sampaio, que filho de escrava, depois de formado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, volta à Bahia para comprar a liberdade de sua mãe. Tornou-se geógrafo, sanitarista, pesquisador, está entre os fundadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
A contradição que nos preocupa é a de que, mesmo em face de inúmeras evidências históricas, ainda ser necessária a discussão sobre a pesquisa que trata da população negra e sobre a formação de pesquisadores negros. Os argumentos da história não são suficientes para a consciência de que existe um erro se perpetrando na composição do corpus de pesquisadores brasileiros, nas temáticas eleitas pela ciência brasileira e, sobretudo nas políticas científicas e de formação de pesquisadores no país.
Surpreendente não é apenas a ausência de políticas nesta área, como também a falta de preocupações democráticas com a implantação destas. Num país que forma 6000 doutores por ano, temos que menos de 1% são negros e menos das teses 1% tratam temas de interesse das populações afrodescendentes."Ninguém discrimina ninguém, a razão disso é que o negro é pobre", dizem. Errado, a razão é que os métodos de discriminação estão tão institucionalizados que não incomodam às consciências críticas.
É tido natural o negro não entrar nos programas de pós-graduação. Examinando o histórico de cerca de dois mil mestres e doutores negros existentes no país, vemos que a faixa etária das candidaturas e os regimes de trabalhos estão fora dos perfis privilegiados pelas políticas e pelos programas de pós-graduação. A média dos pesquisadores negros ingressa no mestrado aos 35 anos, trabalha e precisam participar do sustento da família, o que é incompatível com o número e valores das bolsas.
Os programas favorecem quem, em iniciação cientifica e artigos? Os pesquisadores negros vêm de ensino universitário noturno, que não dá oportunidades para a iniciação científica. As disciplinas de base dos temas pretendidos pelos pesquisadores negros não existem nas graduações. A única fonte de formação tem sido o próprio movimento negro.
Os programas rejeitam pesquisadores militantes dos movimentos negros. Bancas de entrevista não conseguem superar a relação patroa-empregada existente nas nossas relações sociais cotidianas, tornando as entrevistas tensas e as pesquisadoras negras antipáticas. Fato mais notado entre as mulheres: "quem é antipático não entra, as negras 'muito da exibida' não entram".
Mas, para os que entram, não há orientadores conheçam os temas, o que alimenta a dificuldade em se ter sucesso na pesquisa no tempo determinado. A universidade brasileira não confessa a sua ignorância nos temas de interesse dos afrodescendentes, sendo que única responsabilidade do insucesso fica por conta dos pesquisadores negros. O problema é grave, mais grave ainda é que nada disso tem sido questionado pela sociedade democrática acadêmica...
Continue a leitura através da página http://www.comciencia.br/reportagens/negros/17.shtml

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