sábado, 28 de agosto de 2010

A SITUAÇÃO DOS KRENAKS

Símbolo de ancestralidade e hierarquia

O blog da ACRA é um espaço aberto para compor reflexões, debates,proposições e aproximação dos temas que vêm mobilizando as sociedades contemporâneas de todo o planeta, e que merecem estar na agenda da formação dos/as educadores/as. Fizemos algumas pesquisas essas semana sobre questões urgentes que vêm angustiando os povos inaugurais do Brasil.Selecionamos do conjunto de entrevistas disponibilizadas na internet,a entrevista feita pelo jornalista Marco Antônio Tavares Coelho a Ailton Krenak importante liderança do povo Krenak.
Acompanhem a abordagem da entrevista e encontre outras entrevistas interessantes disponibilizadas na página http://ruabrasilquinhentos.wordpress.com/2009/06/18/a-situacao-dos-krenaks/

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O povo indígena conhecido hoje como Krenak formou-se ao longo de um processo histórico marcado pelo caráter violento da expansão econômica sobre a região da margem esquerda do Rio Doce, localizada no município de Resplendor, região Leste de Minas Gerais. O território que ocupam hoje foi demarcado pelo governo em 1920, mas foi logo invadido por fazendeiros e posseiros, que lá permaneceram até 1997. Nessa época os índios fugiram para o Pankas, no Espírito Santo, outros para o lado do Kuparak, originalmente de densa mata atlântica, onde diversos grupos de ‘Botocudos’ – resistindo à colonização em outras zonas já ‘conquistadas’ pelos brancos – se abrigaram até meados do Século XIX.
Após uma longa trajetória de expulsões e dispersões de famílias por áreas indígenas em todo o país, quando a aldeia foi incendiada, mulheres e crianças fuziladas e muitos foram mortos a facão, os Krenak voltaram a tomar posse de uma área de aproximadamente 2.000ha. Lá eles desenvolvem até hoje suas atividades econômicas, passando por um momento de ‘intensificação cultural’ que visa o fortalecimento de seu projeto de autonomia. Três famílias extensas compostas por membros de origens étnicas distintas conformam uma população de aproximadamente 32 famílias nucleares, que compreendem cerca de 180 indivíduos, divididos em três núcleos ou ‘aldeias’. Em decorrência de sua história de dispersão, há indivíduos Krenak dispersos em várias áreas indígenas, grande parte na Fazenda Guarani junto aos Pataxó no município de Carmésia, Minas Gerais, mas o grupo mais importante se situa no município de Vanuíre, São Paulo, juntamente com os Kaingang, na Área Indígena conhecida como ‘Tupã’. O jornalista Marco Antônio Tavares Coelho procurou o líder da comunidade Krenak, Ailton Krenak para esclarecer algumas dúvidas sobre a questão dos Krenak hoje. Na entrevista concedida ao jornalista em setembro de 2008, Ailton Krenak dá seu posicionamento sobre a questão deste grupo étnico tão perseguido ao longo da história.”

Ailton Krenak

Marco Antônio Tavares Coelho – Como você vê o problema do relacionamento dos brancos com os índios hoje?
Ailton Krenak –
Acompanhando a história do Brasil até a Constituinte de 1988, não só em Minas, mas no Brasil inteiro, a perspectiva do Estado brasileiro era acabar com índio. Só que na Constituinte houve uma grande pressão para mudar essa política.
Esse negócio de a literatura dizer que os “Botocudo” eram antropófagos é um ato falho, é um truque da má consciência neobrasileira formadora do Brasil. Eles tinham de dizer que minha gente era antropófaga para nos aniquilarem. Participei na Constituinte de 1988 pintando a cara de preto no Congresso Nacional. Estava com 36 anos de idade quando fiz aquilo. Fui defender a emenda popular, pois não se defendia o artigo 231 da Constituição porque ele afirma que o Brasil precisa parar de matar índio e assegurar os direitos para os índios restantes.
Isso tudo foi uma ruptura com o que havia acontecido no passado. Mudança que o Estado não conseguiu assimilar até hoje, pois o Estado ainda tem cacoetes. O Estado parece uma daquelas feras que ficam mansas, mas, de vez em quando, ainda comem alguém. Ainda agora há os pit bulls soltos lá em Roraima. Eles se esquecem de que há uma Constituição. Mas o ministro do Supremo Tribunal Federal lembrou muito bem em seu voto, dizendo: “Tirem os dentes, tirem as presas”. O que aconteceu da Constituinte para cá foi um fenômeno fantástico, o surgimento de nova identidade.
No século XX, em Minas Gerais, se dizia que não havia mais índios, ou que no máximo havia “Botocudo” sobreviventes e Maxacali (aqueles de Mucuri, de Santa Helena e Bertópolis). Esses Maxacali são um fenômeno impressionante, pois não se aculturaram. Você chega numa aldeia maxacali e eles estão falando a língua deles, vivendo na religião deles, vivendo no mundo deles. Pelo menos nos últimos duzentos anos ficaram isolados. Tempos atrás estiveram em Diamantina e em outras regiões, no Jequitinhonha. Mas, nos últimos duzentos anos, fizeram um movimento e se fixaram nessa região do Mucuri. Eram inimigos preferenciais dos “Botocudo”. Quando não havia branco para brigar, os “Botocudo” brigavam com os Maxacali. O que resultava em roubo de mulheres de um lado e do outro. Logo, nós somos parentes, somos parentes porque nossos grupos guerreavam e tomavam crianças uns dos outros, e mulheres uns dos outros.
Marco Antônio Tavares Coelho – O que vocês têm feito pelos índios? Qual o resultado desse trabalho?
Ailton Krenak –
O que dá resultado é tratar esse conjunto de famílias tribais, remanescentes desses povos – Xacriabá, Maxacali e inclusive dos que migraram para cá vindos do Nordeste, Pataxó, Xukuru-Kariri, Pacararu, além dos nativos Aranã e Kaxixó – como cidadãos que têm direito à proteção do Estado, sem discriminação. Eles têm direito às políticas públicas no sentido de atendimento às mães, quanto ao nascimento de seus filhinhos, o pré-natal e o acompanhamento dessas mães até que a criança faça cinco anos de idade. Têm direito à alimentação. Deve-se respeitar o direito dos índios de continuar morando em casa de palha que fizeram, dando a eles e elas a oportunidade de, se quiserem, ter uma habitação adequada. Porque não admito que arranquem um costume, que é próprio de uma família indígena, para botá-la num conjuntinho residencial do Banco Nacional de Habitação (BNH).
A gente não tem povo indígena vivendo num apartamento do BNH , em Minas Gerais, pois temos nos esforçado para arrecadar terras públicas, seja terra da União seja terra do Estado, para criar assentamentos adequados para atender às necessidades dessas famílias indígenas. Uma família indígena reduzida a 200 ou 300 indivíduos não quer viver nos fundos de uma fazenda, hostilizada por pecuaristas ou por garimpeiros. Ela sente a necessidade de estar num lugar mais parecido com essas unidades de conservação, num parque ou numa unidade biológica. Estamos argumentando no sentido de que os índios possam ter acesso a um lugar desse tipo e que o Estado crie os instrumentos para que eles possam viver desse modo, não agredidos pelo município ou pelos vizinhos. Isso deve ser feito através das secretarias de Estado, como as da Saúde, do Meio Ambiente, de Agricultura ou de Bem-Estar Social.
Programas públicos para realizarem ações que atendam a questões como água potável, para eles pararem de beber água de córrego que está envenenada com agrotóxico, com esgoto, com detritos de todo tipo. A água do Rio Doce está muito ruim. No meio dela há partículas de mercúrio, bauxita e outros minérios pesados, fora os resíduos jogados no Rio Doce pelos municípios, desde o Rio Piracicaba. Quando a gente toma banho, sai bronzeado, mineralizado. Num seminário no médio Rio Doce acusei os municípios de serem responsáveis por jogarem detritos no rio. Uma pessoa se levantou e disse: “Em Ipatinga não se faz mais isso, pois tratamos de nossa água, antes de jogá-la no Rio Doce”. Ora, mas, em Governador Valadares, jogam restos de hospital, sofás velhos, televisões e até geladeiras dentro do rio. Todo mundo na beira do Watu (nome que os índios dão ao Rio Doce) acha que ele é o depósito de todos seus restos.
Marco Antônio Tavares Coelho – Qual a sua atuação e sua relação com o governo de Minas Gerais?
Ailton Krenak –
O governador Aécio Neves me perguntou: “O que dá pra fazer pelos índios?”. Respondi: “Podemos fazer o que Guido Marlière fazia quando cuidou da questão dos índios, no gabinete militar do Império”. Então, desde 2003, o governador me deu um mandato, de assessor especial para assuntos indígenas. Sou vinculado à Secretaria de Governo. Ele me disse então: “Você vai criar o programa para inclusão social dos que ainda restam de povo indígena no nosso Estado, porque não queremos que sejam aniquilados e desapareçam”.
Assim, de certa maneira, a guerra contra os índios em Minas Gerais só parou com o governador Aécio Neves. O governador me perguntou se teria sentido criar uma Secretaria de Assuntos Indígenas. Respondi que em Minas não há uma população indígena que justifique a criação de uma Secretaria de Estado. Assim, propus fazer meu trabalho no gabinete dele. Disse-me que, então, eu deveria trabalhar em nível de igualdade com qualquer secretário. Empossou-me e avisou aos demais secretários para colaborarem comigo, a fim de cumprir minha missão. O objetivo é trabalhar para que em Minas sejam respeitados os direitos humanos e sociais dos índios.
Tenho, portanto, o compromisso de agir assim até 2010. Nosso propósito é criar um Centro de Referência da Cultura Indígena e um Memorial Indígena, na Serra do Cipó, um sítio que se chamará Monumento Natural da Mãe D’Água. O Instituto Estadual da Floresta, junto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), está demarcando esse sítio. É cheio de grutas, cavernas e sítios arqueológicos da maior relevância. Dentro desse memorial vamos recolher o acervo que foi para a Rússia, a fim de resgatarmos cem anos da cultura material dos “Botocudo”. Eles são os primeiros registros das escritas fonéticas de “Botocudo” gravados por essa expedição russa. Em torno desse acervo deveremos ter um espaço para a formação de jovens indígenas, a fim de administrar seus territórios, tendo em vista sua educação e saúde, além de outros objetivos.
Repórter Alessandra Morandi

ACRA ESPAÇO DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA

Duas monografias foram apresentadas em 2010 no âmbito do Departamento de Educação do Campus I da Universidade do Estado da Bahia, abordando aspectos do cotidiano socioeducativo da ACRA. Através do Projeto de extensão PRODESE/DAYÓ, as pesquisas foram desenvolvidas pelas professoras e pesquisadoras do PRODESE Daniela Santana Cidreira dos Santos e Sara Soares ambas as orientandas de Professora Narcimária C.P. Luz.
A monografia “Contos Indígenas e Africano-Brasileiros,” de autoria da Professora Daniela Santana Cidreira dos Santos, apresenta uma rica abordagem lúdico estética vivenciada no cotidiano da ACRA. Para a pesquisadora”
“Os contos se constituem mais uma das linguagens exploradas com as crianças da ACRA. Dessa forma são realizadas oficinas no intuito de destacar através do universo dos contos indígenas e africano-brasileiros aspectos que promovem os laços de sociabilidade nessa territorialidade, resgatando assim a história do lugar como forma de fortalecer as identidades socioculturais das crianças dessas comunalidades presentes em Itapuã. A opção de trabalhar a partir da linguagem do universo simbólico dos contos originários desses povos surge da inquietação em perceber que essa e tantas outras formas de expressão aborígine e africana são excluídas da prática pedagógica da maioria de nossas escolas e, por conseqüência disso, nossas crianças ficam sem uma referência que as remetam à sua ancestralidade e com uma grande lacuna no que se refere à construção de sua identidade.”

Professora Daniela Cidreira Santos


Através do DAYÓ, a Professora Daniela selecionou contos, cujas narrativas caracterizam-se por afirmações pedagógicas socializadoras. São narrativas orais e que dão formas singulares às formas de educação africano-brasileira e indígena, possuindo importante finalidade e função, porque, além de expressarem a arte, constituem o significado das diversas relações da humanidade com seu contexto técnico e estético. Os contos narrados ilustram o significado de conhecimentos e da ética das diversas representações simbólicas que ensinam e erigem a socialização.
A outra contribuição monográfica se dedicou a realizar ações voltadas para a “Valorização da cultura negra numa perspectiva de resgate da identidade das crianças e adolescente no âmbito da ACRA” de autoria da Professora Sara Soares dos Reis. A monografia procurou caracterizar o contexto do recalque a identidade africano-brasileira que aflige crianças e adolescentes na idade entre 09 a 14 anos que participam das atividades desenvolvidas na ACRA - Associação Crianças Raízes do Abaeté.Durante um ano a professora desenvolveu estudos,análises e coleta de dados como o objetivo de promover a superação do recalque entre as crianças e adolescentes,e enfatizar linguagens socioeducativas capazes de afirmar os valores de civilização africano-brasileiro no âmbito do ACRA. Sobre o resultado da pesquisa a professora sara comenta: ”... A pesquisa respaldada por análises de documentos iconográficos, entrevistas, e oficinas que traduziram a história das populações negras no Brasil, apelaram para artes plásticas e memoriais escritos pelas crianças. Conseguimos indicar perspectivas didático-pedagógicas que transcendam idéias preconceituosas e racistas que tentam recalcar o legado civilizatório africano no Brasil, de modo especial na Bahia”.



Professora Sara Soares

Gostaríamos de ressaltar que na avaliacão das Bancas examinadoras, as monografias receberam a nota máxima: primeiro, por atenderem plenamente as exigências de um trabalho científico-acadêmico; segundo, por apresentarem um impacto social relevante e original no campo da diversidade Cultural e Educação. A Banca examinadora da pesquisa “Contos Indígenas e Africano-Brasileiros,” de autoria da Professora Daniela Santana Cidreira dos Santos foi presidida pela Professora Narcimária Luz e composta pelas Professoras Claudia Sisan e Janice de Sena Nicolin. A Banca examinadora da pesquisa “Valorização da cultura negra numa perspectiva de resgate da identidade das crianças e adolescente no âmbito da ACRA” de autoria da Professora Sara Soares dos Reis foi presidida pela Professora Narcimária Luz e composta pelas Professoras Claudia Sisan e Jackeline Pinto do Amor Divino.

sábado, 21 de agosto de 2010

POR UMA ESCOLA SEM VIOLÊNCIA

Consideramos importante trazer para o espaço do blog o debate sobre a violência que atravessa os muros da escola,amendrotando professores,funcionários alunos/as,pais...Como enfrentar esse desafio?Encontramos um bate papo interessante no site do Educar para Crescer com o educador Ubiratan D’Ambrosio.
Acompanhem as reflexões que promovem outras inquietações.


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Ubiratan D’Ambrosio é Professor emérito de matemática da Universidade Estadual de Campinas e, atualmente, da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de São Paulo, este paulistano do bairro do Brás é um resgatador de esperança. "Só quem pode surgir com o novo é o novo. E o novo são as crianças. Com elas, poderão vir as respostas que não encontramos", declara.
1. "Violência vem de medo. Medo, de incompreensão, que vem de ignorância. E ignorância se combate com educação." O senhor costuma citar essa frase da professora americana Leah Weels. Como a sala de aula pode contribuir para a paz?
Ubiratan D'Ambrosio:
Educação é preparar para o futuro. Os governantes pensam que isso é instrumentalizar mão-de-obra para uma indústria que está se desenvolvendo, instruir para a cidadania de modo que o sujeito seja cumpridor de leis. Mas, se só pensarem desse jeito, nós não teremos muito futuro. Corremos o risco de formar uma geração, duas, três para viver como nós, e esse é um mundo inviável. Um bom engenheiro, um bom agricultor, o que eles vão fazer? Abrir mais terreno para plantar mais. E isso sabemos que tem impacto no meio ambiente. Você tem que produzir mais alimento, claro, mas não deve sacrificar uma fonte vital, como a água e as árvores. O que cabe a nós, educadores, engenheiros, cientistas? Encontrar alternativas.
Ubiratan D'Ambrosio: Educação é preparar para o futuro. Os governantes pensam que isso é instrumentalizar mão-de-obra para uma indústria que está se desenvolvendo, instruir para a cidadania de modo que o sujeito seja cumpridor de leis. Mas, se só pensarem desse jeito, nós não teremos muito futuro. Corremos o risco de formar uma geração, duas, três para viver como nós, e esse é um mundo inviável. Um bom engenheiro, um bom agricultor, o que eles vão fazer? Abrir mais terreno para plantar mais. E isso sabemos que tem impacto no meio ambiente. Você tem que produzir mais alimento, claro, mas não deve sacrificar uma fonte vital, como a água e as árvores. O que cabe a nós, educadores, engenheiros, cientistas? Encontrar alternativas.

2. Por onde se começa?
Ubiratan D'Ambrosio:
Incluindo os aspectos emocional e espiritual. Na hora em que você faz uma usina hidrelétrica e cobre um lugar onde estavam as raízes de muitas pessoas, nem percebe a angústia que gerou. A transposição do rio São Francisco é o caso mais recente. O rio, se passasse por outra região, beneficiaria mais gente. Há méritos nisso. Por outro lado, as pessoas que hoje estão perto dele sentirão um vazio quando ele mudar de lugar. E não estamos pensando no impacto desse vazio a médio e longo prazo. É mais ou menos o que acontece com uma árvore sem raiz. Se bate um vento forte, ela tomba. Assim se dá com o indivíduo que imigrou para fugir da seca, para fugir da violência, para buscar novas oportunidades.

O que acontece com ele? Como fica seu passado e sua tradição?
Ubiratan D'Ambrosio:
Incluindo os aspectos emocional e espiritual. Na hora em que você faz uma usina hidrelétrica e cobre um lugar onde estavam as raízes de muitas pessoas, nem percebe a angústia que gerou. A transposição do rio São Francisco é o caso mais recente. O rio, se passasse por outra região, beneficiaria mais gente. Há méritos nisso. Por outro lado, as pessoas que hoje estão perto dele sentirão um vazio quando ele mudar de lugar. E não estamos pensando no impacto desse vazio a médio e longo prazo. É mais ou menos o que acontece com uma árvore sem raiz. Se bate um vento forte, ela tomba. Assim se dá com o indivíduo que imigrou para fugir da seca, para fugir da violência, para buscar novas oportunidades. O que acontece com ele? Como fica seu passado e sua tradição?

3. Ele carrega tudo consigo, não?
Ubiratan D'Ambrosio: Isso desaparece. Mesmo na cozinha. Os filhos começam a comer mais fast food do que a comida tradicional dos pais. Então, a escola básica tem como responsabilidade valorizar a cultura dos pais. Estimular a curiosidade da criança, pedindo para ela perguntar, por exemplo, como era a vida deles ou com o que o pai brincava quando tinha a idade dela. Dificilmente uma criança vai para casa perguntar uma coisa que só os pais sabem.
Ubiratan D'Ambrosio: Isso desaparece. Mesmo na cozinha. Os filhos começam a comer mais fast food do que a comida tradicional dos pais. Então, a escola básica tem como responsabilidade valorizar a cultura dos pais. Estimular a curiosidade da criança, pedindo para ela perguntar, por exemplo, como era a vida deles ou com o que o pai brincava quando tinha a idade dela. Dificilmente uma criança vai para casa perguntar uma coisa que só os pais sabem.

4. Em qualquer extrato social?
Ubiratan D'Ambrosio: Os filhos dos engenheiros, dos professores, dos jornalistas enfrentam o seguinte problema: a falta de tempo dos pais. O pai paga o professor particular, dá um computador melhor, mas não estuda com o filho. A comunicação continua interrompida entre as gerações. Ao trabalhar com isso, a escola devolve a dignidade. Quando os pais se tornam detentores de um conhecimento que interessa ao filho, ambos se beneficiam. Isso valoriza a geração mais velha e dá às crianças legitimidade para admirar os pais. "Poxa, até que essa geração mais velha tem algo a oferecer", pensam. E é nisso que se inserem as tradições.
A escola pode ajudar? Mas é claro. Só a escola.

5. Como o senhor relaciona a tradição e o combate à violência?
Ubiratan D'Ambrosio: Aí entra a crítica. Nessa lembrança do passado, os pais imigrantes, por exemplo, vão contar a violência social que os fez deixarem a casa, e os filhos, sentir que não é esse o caminho a repetir.
Ubiratan D'Ambrosio: Aí entra a crítica. Nessa lembrança do passado, os pais imigrantes, por exemplo, vão contar a violência social que os fez deixarem a casa, e os filhos, sentir que não é esse o caminho a repetir.

6. O senhor está falando em recuperar a dignidade.
Ubiratan D'Ambrosio: Essa é a maior violência que pode haver. E a sala de aula pode interferir. Se você quer manter a vida, reconheça a essencialidade do outro. Simplesmente porque, sem ele, não há você nem nada mais será gerado. E não adianta só ser outro igual a você. Tem que ser diferente. Só posso dar continuidade à vida se encontro uma mulher e tenho um filho.

7. Por que estamos tão longe desse raciocínio macro?
Ubiratan D'Ambrosio: Cada um se pensa como indivíduo, mas esquece que é uma criatura extinta se não tiver o outro. O que aconteceria com o Palmeiras se o Corinthians desaparecesse? Nos esportes, essa interdependência fica evidente: como os times podem jogar se forem iguais e não houver adversário? O conflito é importante. Agora, o conflito não significa o confronto, que tem por objetivo subordinar e mesmo eliminar uma das partes. A paz e a sobrevivência têm que ser baseadas na convivência entre os diferentes. Eu não vou transformar minha mulher em um homem para poder viver com ela. Ela vai poder ser mulher, completamente diferente. Isso, aliás, é o que há de mais criativo e agradável

8. A matemática, a gramática e a história ajudam o aluno da escola básica a entender a necessidade da diferença?
Ubiratan D'Ambrosio: Nossa conversa toda é mais de natureza filosófica, mas o modelo escolar nunca está separado. Vamos pensar na matemática. O professor diz: eu tenho tantos mil reais e o outro não tem nada. Para ter uma vida boa, precisaria de tanto. E o resto? Coloco no banco e ele vai aumentando. O outro tem quase nada. Mas ele precisa de coisas para sobreviver, assim como eu. Como vai fazer? Vai procurar no banco. O banco tem porque eu deixei o dinheiro que não uso lá. Aí o banco empresta para ele e cobra uma fortuna de juros. A minha vida fica cada vez mais perfeita porque eu ganho juros do outro. E a vida dele fica cada vez pior. Alguns dizem que esse tipo de reflexão não é para criança. Discordo.

9. Qual seria, então, um sistema alternativo?
Ubiratan D'Ambrosio: Eu não sei. Os que estão aí na política também não. Quem pode saber um novo sistema? A criançada de hoje, que pode surgir com algumas idéias que a nós não ocorrem. Essa é uma grande falha da escola hoje. Estimula-se um sentimento de que alguém é melhor, o professor, e merece a medalha de ouro. Esquece-se de que, sem adversário, não haveria medalha alguma. Aí pode estar a raiz do conflito. Pois embute o conceito de que, se alguém é superior, o outro pode ser subjugado. Toda vez que o outro - seja uma criança, seja um povo - não é respeitado como ser pensante, há a possibilidade de o conflito virar um confronto. No fundo, é preciso aprender a lidar com o encontro de culturas. Evidentemente que há conflitos, mas precisam ser resolvidos sem o cala-boca. Assim se constrói uma criança livre, capaz de pensar por si. Se ela fizer isso, nós teremos uma chance de que pense o novo.

10. Esse pensamento é bastante transdisciplinar, não?
Ubiratan D'Ambrosio:
É. Todas essas coisas estão subordinadas a algo maior, no qual, penso eu, as crianças são como pássaros. Se vivem presas, com medo, sem poder falar muito porque falam errado, sem poder se mexer muito porque são estabanadas, acabam com um comportamento que não ajuda na formação do novo. A grande responsabilidade de nós, educadores, não é dizer que o mundo deve ser assim ou assado porque, se soubéssemos o que é melhor, já teríamos feito. Precisamos dar espaço à criança durante seu processo de aprendizado. Lá na frente, não basta abrir a porta da gaiola. Se ela não praticou, não saberá voar

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA

Paulo Freire


Apresentamos essa semana uma entrevista importante com o saudoso Mestre e exímio educador Paulo Freire.Essa entrevista foi feita pela equipe do Programa Salto para o Futuro em 20/4/1997.
Paulo Freire dedicou-se a diferentes experiências no campo da educação: Alfabetização de Jovens e Adultos, formação de professores. São muitos os temas destas áreas que ele toma como um desafio, visando desvendar as questões da formação do leitor, da autonomia, da liberdade, da pedagogia da esperança, da pedagogia do oprimido”.
É com essa apresentação que a equipe do Salto para o Futuro começa a entrevista.
Recomendamos a visita a página http://www.tvbrasil.org.br/saltoparaofuturo/entrevista.asp?cod_Entrevista=70 que disponibiliza entrevistas interessantes para os/as educadores/as

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Salto – Paulo Freire, para começar essa entrevista, nós gostaríamos que você comentasse um pouco sobre esse livro que você acabou de lançar, que trata da questão da autonomia.


Paulo Freire – É, esse é o mais recente livrinho que eu acabo de lançar e que se chama: Pedagogia da Autonomia, saberes necessários à prática educativa. Quer dizer este livro, ou neste livro, a minha preocupação, ou uma das preocupações fundamentais, foi deixar claro que, de acordo com uma perspectiva democrática, com uma opção democrática em que eu me situo, é impossível viver a prática educativa sem perseguir, sem trabalhar no sentido da autonomia do ser, do educando e do educador. Quer dizer, no fundo, esse livro poderia também se chamar Formação Docente, poderia também se chamar Pedagogia da Liberdade, por exemplo. Eu discuto, nesse livro, alguns saberes que eu considero indispensáveis a um educador, a uma educadora, cuja opção seja uma opção de liberdade. Como, por exemplo: mudar o mundo, mudar é difícil, mas é possível. No fundo, esse livro é um apelo que eu faço a mim mesmo como educador, no sentido de um trabalho coerente com uma postura democrática, uma opção formadora, uma opção ética no esforço de, inclusive, ajudar um pouco a formação e o desenvolvimento de uma mentalidade democrática entre nós. O que me interessa fortemente neste livro não é dar receitas, mas é propor desafios, é discutir aspectos que eu considero necessários e permanentemente presentes na prática docente, que eu chamei de saberes fundamentais.
Eu vou dar alguns exemplos desses saberes que eu discuto nesse livro, num parêntese: em primeiro lugar, eu gostaria até de dizer da grande satisfação que eu tenho de não me inibir, por exemplo, de sugerir a leitura desse livro, porque ele foi lançado numa série nova que a editora Paz e Terra criou e que se chama: Lei. E o preço desse livro, ou desta série, me deixou livre para dizer que "comprem o livro", quer dizer, o livro tem um preço bem acessível. De maneira que, então, eu não me sinto tão livre de sugerir a leitura da Pedagogia da Esperança, de Cartas a Cristina e outros livros que eu recentemente escrevi, precisamente por causa do preço, mas esse é um livro muito barato. Um dos saberes, por exemplo, que eu discuto nesse livro é o seguinte: mudar é difícil, mas é possível. Eu confesso a vocês que me vêem e que me ouvem, no momento, que se eu não estivesse convencido de que mudar é difícil, mas, mesmo difícil, mudar é possível, eu não seria professor. Quer dizer, quando eu saio de casa nas terças-feiras de tarde e vou à Universidade Católica de São Paulo, para participar de um debate, de um seminário com estudantes de Pós-Graduação, e faço isso com a mesma gostosura com que eu fazia quando eu tinha 25 anos, e hoje eu tenho 76 anos. Quando eu vou para a PUC, toda terça-feira, discutir, por exemplo, a ideologia da imobilização que nos cobre hoje, pelo mundo todo, com o neoliberalismo. Essa ideologia do fatalismo, de que mudar não é possível, de que a realidade é essa mesma, quando eu vou para a PUC discutir, eu vou precisamente porque eu estou convencido de que mudar é difícil, mas é possível.
Um outro saber que eu discuto nesse livro e que eu acho fundamental na perspectiva democrática é, por exemplo, saber escutar. Como é que pode uma pessoa ser um professor, ou uma professora se, por exemplo, entende que o tempo de sua fala é o tempo total e absoluto? Como que vai dizer que não há mais tempo, se o que escuta a sua fala não tem tempo de fala? Porque o tempo da fala de quem escuta se esgota na audição de quem fala. Quer dizer, essa propriedade do tempo, essa possibilidade do tempo para falar é uma possibilidade autoritária, é antidemocrático. Quer dizer, um professor, ou uma professora, que sonha o sonho democrático, o sonho da formação, o sonho da autonomia de si e do educando, não pode se apoderar do tempo para falar. Então, saber escutar é não apenas a expressão de uma sabedoria democrática, mas é também uma arte, quer dizer, é preciso que eu vá me constituindo na audição de quem fala. O que vale dizer: é preciso que eu limite o meu tempo de fala para que quem me escuta tenha o direito de falar também. E é na medida em que eu aprendo a escutar quem me ouve que eu falo com ele ou com ela. Na medida em que eu não aprenda a escutar quem me ouve, eu falo apenas a quem me ouve e não com quem me ouve. E falar apenas a quem (me ouve) é uma espécie de falar sobre, é um falar de cima para baixo, que termina por inibir o direito de quem escuta de falar.
Ora, e falar, falar é a forma nossa de estar sendo no mundo. Quer dizer, falar está associado a fazer porque, inclusive, historicamente, homens e mulheres inventaram a linguagem para dar nome às coisas que fizeram, ou às coisas que faziam. Quer dizer, eu falo e dou nome quando falo ao mundo que eu transformo. Então, o respeito à fala do outro implica saber escutar o outro e não posso ser um educador democrático se eu não escuto o outro. Ainda do ponto de vista do saber ou do aprender a escutar, há uma importância fundamental no saber escutar diferente. Como é que pode uma professora que se pensa democrática não dar ouvido à fala do diferente? Quer dizer, você discrimina o diferente só porque ele é diferente de você. Então, aprender a escutar o diferente, a cultura diferente, aprender a valorizar o diferente de nós é absolutamente fundamental para o exercício da autonomia. Quer dizer, a professora que fecha seus ouvidos à dor, à indecisão, à angústia, à curiosidade do diferente é a professora que mata no diferente a possibilidade de ser. Então, esse é um outro saber de que eu falo no livro. Para mim, o que é interessante também é o seguinte: é que, quando eu falo em autonomia do ser, no caso eu poderia falar na autonomia da escola, não estou de maneira nenhuma pretendendo, como eu disse antes, o isolacionismo do ser. Por exemplo, pensar na escola com autonomia não é pensar na escola licenciosa, quer dizer na escola que, enquanto ela mesma fosse dona de sua verdade, sem nenhuma preocupação com as outras escolas de cujo sistema ela e as escolas A, B ou C fazem parte. A autonomia, a minha autonomia será tão mais autêntica quanto mais eu a reconheça em relação dialógica com a tua autonomia. Quer dizer, a minha autonomia deixa de ser autêntica na medida em ela seja absorvente da autonomia dos outros. Quer dizer, eu só sou se você puder ser, se eu obstaculizo a possibilidade sua de ser, ou de estar sendo, eu também não sou, e a nossa autonomia vai para o escanteio. Quer dizer, a nossa autonomia some e é esmagada. Entã, no fundo, o espírito do livro é esse. Eu queria, para terminar essa primeira pergunta que você me fez, dizer o seguinte: para mim, um dos equívocos das escolas tem sido o de sugerir, ou insinuar, ou até dizer explicitamente ao educando que a compreensão de um texto deve ser procurada pelo leitor, mas por isso mesmo, por ser procurada pelo leitor, é que a compreensão do texto é criação de quem escreve o texto. O que eu quero dizer é que não é isso, não pode ser, o leitor é também produtor da compreensão do texto que lê. Então, eu gostaria de pedir a quem possa, ou queira ler esse livro amanhã, que não desista de ler porque não entendeu na primeira página uma palavra. Se não entendeu, consulte o dicionário. Quer dizer, dicionário foi inventado para nos ajudar, para ensinar a ler e escrever, o dicionário não é um instrumento de burro como se diz... Dicionário é tão instrumento de quem escreve e lê como a pá de pedreiro é instrumento fundamental para fazer essa parede. Então, a minha sugestão é: não desistam de ler o livro como coisa difícil, antes de trabalhar o exercício da compreensão do texto que não é só problema meu, mas problema de quem lê.

Salto – O que é a escola cidadã?

Paulo Freire – Olha, a escola cidadã, no meu entender, é aquela que se assume enquanto um centro, um centro de direitos e um centro de deveres, a formação que se dá dentro do espaço e do tempo que caracterizam a escola cidadã é uma formação para a cidadania. Quer dizer, a escola cidadã é, então, a escola que viabiliza a cidadania de quem está nela e de quem vem a ela. Porque a escola cidadã não pode ser uma escola cidadã em si e para si. Ela é cidadã na medida mesmo, também, em que ela briga pela cidadania, pelo exercício e pela fabricação da cidadania de quem vem para ela, de quem usa o seu espaço. Por exemplo, seria um absurdo que se pensasse na existência de uma escola em que um professor perguntasse ao aluno rebelde se o aluno sabe com quem está falando.

domingo, 15 de agosto de 2010

IMPRESSÕES DAS CRIANÇAS E EDUCADORES/AS DA ACRA SOBRE "ÁFRICAS"

Professor Narciso José do Patrocínio no palco do Teatro Vila Velha sendo entrevistado pela produção do espetáculo

Se a minha geração tivesse tido oportunidade de aprender sobre o continente africano abordando-o com o respeito e a dignidade que ele merece poderíamos ter avançado muito nas relações entre os povos. O espetáculo foi lindo! Emocionante! É um espetáculo que deve entrar na agenda das políticas públicas na área de Educação. As escolas devem viver essa experiência maravilhosa que tivemos a oportunidade de compartilhar com as crianças da ACRA”
(Professor Narciso José do Patrocínio Diretor Presidente da ACRA).

Jadson,Joyce,Carla,Yasmine Marcos

“Adorei a história de Abidu! Ele é um cara muito engraçado.”
(Jadson C. de Santana)

As crianças acomodadas no interior do teatro na expectativa para assistir ao espetáculo

“Na história de Abidu a gente aprende que as pessoas que querem ser muito espertas, muitas vezes acaba mal”
(Alex A. dos Santos)

A atriz Elane Nascimento que interpretou Yassedi no conto do Feiticeiro e as duas irmãs com Ana Paula,Gabriela e Bobby Kenne
“A história que mais gostei foi a das duas irmãs”
(Joyce A. Santos)
“Uma das irmãs sabia respeitar os mais velhos e por isso ela ganhou tantos presentes do feiticeiro”
(Ian Argolo da Silva)

“Fiquei emocionado quando vi os artistas do filme Besouro!”
(Tauã Argolo da silva)

Momento de confraternização após o espetáculo

Foi uma aula riquíssima sobre diversidade cultural. Souberam apresentar a África de uma forma original, criativa, ritmada, cheia de alegria. Nossas crianças precisam encontrar espaços de aprendizagem onde essa forma de transmissão de conhecimento seja possível. Parabéns ao Bando de Teatro Olodum!”
(Professora Januária Patrocínio Diretora da ACRA)

Marcos Vinícius com a atriz Elane nascimento que interpretou Yassedi no conto das duas irmãs.
Ah! Foi massa a história de Yassedi e o Feiticeiro!”
(Marcos Vinícius)

A atriz Valdinéia Soriano com Marcela Assis

Foi muito bom! Gostei de tudo!”

(João Felipe)
Vocês viram como eles dançaram? Conseguiam ficar paradinhos com um pé só!Como é que eles fizeram juntos o movimento da cobra, hein?”
(Bobby Kenne)

Hora da merenda após o espetáculo

“A história de Omolu com Yansã é muito legal. Agora entendi porque Omolu usa aquela vestimenta. Aprendi que a gente não deve ter vergonha de ser como é... Devemos tentar enfrentar o medo...”

(Marcelo do Patrocínio Luz)


“E aquele homem da bocona no celular? (risos)”

(Todos/as)


DAYÓ!Compartilhando a alegria de estarmos juntos!

"Áfricas'! O nome vem a calhar. Sutil, enraizado, consciente. O espetáculo Áfricas traz as várias Áfricas encontradas no nosso cotidiano, histórias de feira, histórias de rua, meninos de feiras, meninos de rua. Incluir todas essas histórias e vivências no contexto escolar e extra-escolar no coloca mais um passo a frente no processo de Descolonização! Estamos a caminhar!"
(Professora Caroline Nepomuceno Pesquisadora PRODESE/DAYÓ/ACRA)


Olha as crianças de Itapuã da ACRA aí gente!

“Um espetáculo belíssimo; uma possibilidade e oportunidade de entendimento do passado e do presente; um espaço de afirmação da nossa identidade, enfim um momento de muita emoção, alegria, satisfação. Axé! “
(Naira Bittencourt Pesquisadora PRODESE//DAYÓ/ACRA)

A atriz Auristela Sá com Vitor Mendes

“Áfricas: inserir História de nossos ancestrais em uma leitura e no encanto das artes que geram á humanidade...”
(Sidney Argolo educador da ACRA)

Somos todos/as descendentes da África!
“Foi bom ter ido ao teatro! Foi muito bom! O som dos instrumentos, a agitação da feira, as histórias... A do feiticeiro adorei! Sem contar também a oportunidade de conhecer os artistas sem confusão, todo mundo igual... Foi muito bom!A história em si, foi muito educativa e também teve um valor de conscientização das nossas raízes, compreendendo a herança africana e o seu desenvolvimento na nossa cultura socioeducativa.”
(Célia Maria de Jesus mãe e educadora da ACRA)




Professora Narcimária C. P. Luz fazendo o registro de suas impressões para a produção do espetáculo

“Apesar da pujança do continente africano, encontramos no cotidiano escolar professores que lêem a África como um país, não conseguem percebê-la como um importante continente que protagoniza a história da humanidade. Quando questionados sobre essa leitura equivocada, corrigem imediatamente apelando para a bacia semântica técnico-científica da cartografia que ilustra a África como um continente, mas não conseguem avançar na análise, pois a formação/informação que recebem constituem fragmentos da História e Geografia etnocêntrico-evolucionista, que apresentam a África como um lugar destituído de tradições, vigor civilizatório, destituída da riqueza de instituições milenares, religião, universo filosófico, complexo sistema de comunicação, arquitetura e uma magnífica erudição estética. O espetáculo “Áfricas” através de uma linguagem lúdico estética tende a aproximar o público infantil e adulto da áfrica que atravessa o nosso viver cotidiano. ”
(Narcimária Luz Coordenadora PRODESE/DAYÓ/ACRA)

Todas as fotos aqui reunidas são de autoria da Professora e pesquisadora do PRODESE/DAYÓ/ACRA Caroline Nepomuceno.

A seguir, um breve relato da tarde que compartilhamos emoções e alegrias que ficaram nos corações das crianças e dos/as educadores/as do PRODESE/ACRA sobre o espetáculo "Áfricas", encenado pelo Bando de Teatro Olodum.
O relato assume o anúncio de "ÁFRICAS":espaço de comunicação africano-brasileiro!"
Acompanhem os detalhes do relato “tim tim por tim tim”!

sábado, 14 de agosto de 2010

"ÁFRICAS":ESPAÇO DE COMUNICAÇÃO AFRICANO-BRASILEIRO

Detalhes do cenário do espetáculo "Áfricas"criação de Hélio Eichbauer
Foto Caroline Nepomuceno

Dia 09 de agosto as crianças da ACRA foram convidadas pelo Bando de Teatro Olodum para assistiram ao espetáculo “Áfricas” no Teatro Vila Velha, localizado no Passeio Público no Campo Grande.

Participaram da excursão as crianças envolvidas nas encenações do autocoreográfico "Itapuã,a Canção do Infinito" de autoria da Professora Narcimária Luz.

Foi uma tarde de aprendizagens envolvendo emoções,alegrias,surpresas agradáveis e momentos de tietagens.As crianças foram de ônibus admirando e conhecendo vários lugares da cidade de Salvador que nem sempre têm acesso. Um dos pontos que despertou comentários das crianças foi o estádio Governador Otávio Mangabeira construído nos anos 1950(conhecido como Fonte Nova) que está sendo demolido para a copa de 2014.Acompanhando as crianças estava a equipe administrativa e pedagógica da ACRA: Professor Narciso Patrocínio, Professora Januária Patrocínio, Professora Narcimária Luz, Professor Sidney Argolo e a Sr ª Célia Maria de Jesus(mãe de duas crianças na ACRA e uma grande entusiasta das nossas iniciativas). No Passeio Público estavam nos esperando as Professoras Caroline Nepomuceno,Nayara Bittencourt e Tárcio Vasconcelos que integram a equipe ACRA.Uma experiência emocionante! Foi assim que as crianças se referiram ao ambiente do teatro e ao espetáculo.

Algumas crianças da ACRA na porta do Teatro Vila Velha preparando-se para assistir ao espetáculo"Áfricas".

Foto da Professora e pesquisadora do PRODESE Caroline Nepomuceno

Música dança luz, som, contos africanos e afro-brasileiros, cores, o contato com línguas africanas que influenciam nossos falares na Bahia...A ACRA foi recebida com muito carinho por toda a equipe envolvida no espetáculo.Destaque para o lanche delicioso que foi oferecido ao público presente;mingau de milho,tapioca,biscoitos,pãozinho delícia e outras iguarias.No momento do lanche tivemos a oportunidade de conhecer e conversar com atores e atrizes do espetáculo,e entre eles as crianças identificaram(aliás desde o palco)ator Leno Sacramento e Sérgio Laurentino que que participaram do filme Besouro. Tudo isso está em “Áfricas”!

Sérgio Laurentino que integrou o elenco de atores do filme Besouro

Foto disponível no Google

Leno Sacramento que integrou o elenco de atores do filme Besouro
Foto disponível no Google

Inesquecível!
A volta para Itapuã no ambiente do ônibus encarando o enorme engarrafamento no Dique do Tororó,Bonocô,Iguatemi,Paralela...Enfim a volta para a sede da ACRA foi recheada de comentários sobre o espetáculo acompanhados de muitos risos,dramatizações,ladainhas de capoeira,músicas diversas incluindo o Hino Nacional(imaginem só!) comandadas pelo Professor Sidney,Professora Narcimária e Srª Célia Maria de Jesus.
As crianças estavam inspiradas e com “todo gás” (risos).
Valeu!

O ator Jorge Washington interpretando a liderança imponente de um rei africano no espetáculo "Áfricas"
Foto disponível no Google


Agradecimento muito especial,ao ator Jorge Washington que integra o elenco do espetáculo "Áfricas" interpretando um imponente rei africano,a Chica Carelli diretora do espetáculo“Áfricas”, que nos acolheram com todo carinho e cuidado, possibilitando essa experiência inesquecível nas vidas das nossas crianças.
Não poderíamos deixar de registrar a importância de um grande incentivador da ACRA,o Professor Marco Aurélio Luz que abriu canais de diálogos para assistirmos o espetáculo.

UM DOS CONTOS DO ESPETÁCULO “ÁFRICAS” INDICADOS PELASCRIANÇAS DA ACRA

ABIDU O CAÇADOR DE CROCODILO


Procurando no Youtube encontramos um pouquinho do conto que tem Abidu o caçador de crocodilo,e que foi um dos preferidos pelas crianças da ACRA.É um conto senegalês do povo uolof. Essa apresentação do Bando de Teatro Olodum foi feita no Rio de Janeiro em 2008.
Divirtam-se!


II SEMINÁRIO NACIONAL AFRICANIDADES E AFRODESCENDÊNCIA/PARTE II

Mosaico de tecidos africanos
Continuamos essa semana a apresentar algumas contribuições apresentadas pelos Professores Marco Aurélio Luz,Makota Valdina Pinto e Professora Narcimária Luz, no âmbito do IIºSeminário Nacional Africanidades e Afrodescendência realizado na Universidade Federal do Espiríto Santo em maio de 2010.A participação dos professores/as foi na Mesa "Educação na Perspectiva da Ancestralidade Africana" coordenada pela Professora Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto.
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Por Marco Aurélio Luz
O PRODESE-Programa Descolonização e Educação coordenado pela Professora Narcimária Correia do Patrocínio Luz,atua no plano das atividades didáticas, tanto da graduação quanto da pós-graduação e também promove estudos e pesquisas integradas à extensão universitária. Como resultado das ações do PRODESE destacamos a publicação de diversos livros dentre os quais pluralidade cultural e educação, os Cadernos de Pesquisa SEMENTES, e muitos outros. Destacamos também a realização de conferências, palestras, simpósios e seminários como ÉTICA DA COEXISTÊNCIA. Em 2001. Além disso, promove amostra de artes, pintura e esculturas, apresentações de grupos de dança e música e dramatizações.
No que se refere à extensão o PRODESE além de estimular a atuação de seus alunos professores junto às escolas publicas ou particulares para imprimir os resultados pedagógicos alcançados, criou o projeto DAYÒ.
DAYÒ fortalecendo a alegria socioexistencial em comunalidades africano- brasileiras “é constituído por uma equipe que realiza experiências de extensão em projetos que ousam nos situar em um novo continente teórico–epistemológico em educação, assentado na erudição dos valores e linguagens do continuum civilizatório africano-brasileiro.
Toda essa atuação procura se situar no sentido de dar continuidade a perspectiva da Iyalorixá Oxun Muiwá, Sra. Maria Bibiana do Espírito Santo, conhecida como Mãe Senhora, sucessora de Mãe Aninha que se referiu as estratégias da luta de afirmação das comunidades com uma dinâmica peculiar, “Da porteira para dentro, da porteira para fora.” De um lado a preservação e expansão do axé através da manutenção da liturgia, de outro os desdobramentos das recriações culturais para reforço comunitário.
No IIº Seminário Nacional Africanidades e Afrodescendência a Professora Narcimária trouxe a contextualização do PRODESE,e em seguida prosseguiu a sua participação recitando um pequeno trecho de um oriki, poema laudatório, de saudação as mães ancestrais, especialmente dedicada a Oba Tossi, Sra. Marcelina da Silva, da tradicional linhagem dos Axipá, foi das primeiras Iyalorixá do Ilê Iyá Nasso Oká, casa original da tradição nagô e que foi quem iniciou Mãe Aninha. Foi na tradução do idioma yorubá que Narcimária recitou:
A guerra trouxe a Mãe,
Filha de Xangô que chegouCom a guerra.
Mas não tema a batalha
Pois a Mãe perdeu o medo
Roguemos aos Orixás,
Para que a alegria se expanda pelo mundo”

Professor Marco Aurélio Luz e a Professora Narcimária Luz
(Fotos arquivo da ACRA/Seminário Internacional de Capoeira da ACRA /2006)
Narcimária referiu-se a um episódio da Mini Comunidade Oba Biyi que certa feita um professor apresentou a maquete do globo terrestre, e que os alunos replicaram:- “isso é o mundo?Da mesma forma falando sobre a África apresentaram o mapa. Em contraposição um dos alunos aproveitando os materiais de uma exposição de arte integrada compôs uma escultura da figura de um Baba Egun, o ancestral masculino da nossa tradição. Para eles a África está em nós e quem garante é a ancestralidade.Por fim ela dramatizou dois contos de livros de Mestre Didi, “A Tartaruga e o Elefante”, e a “O Cágado, a Nambú e o Jacaré”, demonstrando todo poder de encantamento e ludicidade que proporcionam as narrativas de nosso patrimônio cultural.
Encerrada a exposição da Professora Narcimária, a Professora Maria Aparecida passou a palavra a Makota Valdina Pinto. Ela se apresentou como uma professora lutadora para vencer os preconceitos referentes a quem além de mulher negra participa da religião afro brasileira, da tradição Angola em que é conhecida como Makota. Acrescentou que sua atividade didática, porém não se refere à religião não tem posições sectárias muito menos de catequese. Ao contrário de professores seguidores de outras religiões que procuram realizar pregações e mesmo difamar as religiões de origem africanas. O Estado brasileiro é laico e, portanto na escola não deve haver esse tipo de comportamento, tanto mais que a nossa constituição garante a liberdade de culto, e, portanto é um dever de todo cidadão respeitar esse direito.
Makota Valdina Pinto
No decorrer de sua trajetória como educadora ela se referiu a sua aproximação com o bloco afro Ilê Aiyê, e o esforço dessa instituição de cultura afro brasileira em procurar resguardar o orgulho do povo negro realizando vários eventos anualmente além de aproveitar o espaço do carnaval para divulgar nossos valores. Além disso, a instituição mantém a escola Mãe Hilda cujo nome é homenagem a Iyá Jitolú que sempre proporcionou a sustentação espiritual da instituição.Anualmente o Ilê Aiyê escolhe um tema relacionado à África ou a comunidade afro brasileira para enriquecer os conhecimentos de seus participantes através da linguagem própria do bloco.Assim é que como um desdobramento das ações do Ilê Aiyê ela trabalhou com seus alunos as temáticas do bloco divulgando conhecimento música e poesia. Dessa forma ela conseguia aumentar a auto-estima e vencer os preconceitos e os recalques no âmbito de sua atividade escolar.Após a abordagem realizada pela Makota Valdina,a Professora Maria Aparecida coordenadora da Mesa, proporcionou ao auditório espaço pára que fossem feitas algumas perguntas e uma delas foi: como se combate especificamente as agressões racistas?
Marco Aurélio Luz respondeu que agressões às aparências físicas das crianças negras resultam de uma construção ideológica complexa e que devemos ser radicais isto é, ir à raiz do preconceito para entender de onde derivam os estereótipos que atravessam nosso cotidiano. Isso nos remonta ao período histórico em que se processou o fim da escravidão e o início da República. Esse período é composto pela política e pela ideologia do embranquecimento presente até os nossos dias de variadas formas. O nosso admirável líder Abdias do Nascimento demonstrou no livro O Genocídio do Negro Brasileiro todas as estratégias do Estado para aumentar a população branca e de diminuir a população negra. Além disso, damos relevância as estratégias de realização do neo colonialismo para tentar implantar o que alguém denominou de Europa tropical em nossa terra. Para resumir o assunto no plano ideológico, alimentando a Razão de Estado a Universidade através do médico e professor Nina Rodrigues no início do século passado construiu a ideologia teórica do racismo. Foi ampliada a criação do falso conceito de raça e a partir dele ele constituiu uma escala evolutiva. O branco mais evoluído o negro mais atrasado. Isso porque inventando falsas teorias afirmou que a mente do negro estaria comprometida pela doença mental da histeria, cujo sintoma no seu entender acometeria as sacerdotisas das religiões no momento da possessão das entidades. Assim ele coloca no âmago do recalque na base da rejeição da construção ideológica do racismo a religião de tradição africana e suas sacerdotisas. Como a religião é a fonte da cultura e da civilização negro africana ele procura desqualificar esse processo que é uma herança milenar de nosso povo e tenta incapacitar o cidadão negro para o exercício pleno da cidadania. Nossos projetos e experiências erigindo nossas Iya mi Agbá, nossas mães ancestrais, como símbolos da continuidade de nossa riquíssima herança cultural ancestral dá ensejo a que avancemos tentando superar os limites da problemática do racismo.

domingo, 8 de agosto de 2010

A ARTE DO GRAFITE NA ACRA

Crianças explorando a arte do grafite desenhando a lagoa do Abaeté numa das paredes da área da ACRA sob a orientação do professor Tárcio Vasconcelos

A ACRA desenvolve atividades de grafite sob a responsabilidade do Professor Tárcio Vasconcelos, que em entrevista ao blog em outubro de 2009 comentou sobre o seu trabalho com as crianças da ACRA:
Quando cheguei vi tudo como uma troca de informações por se tratar da poesia encantadora que o bairro de Itapuã possui. As crianças topam tudo e são diretamente ativas no trabalho que desenvolvo... Para é mim é gratificante demais, é uma proposta unitária que envolve a comunidade, sua história e vivências. Na ACRA ao longo do processo de trabalho foram desenvolvidos os métodos básicos para entender e praticar o grafite, entre teoria e história da arte, até o cotidiano dos alunos e, na prática, os conceitos básicos do desenho, cor, luz, sombra, ate o manuseio das latinhas de spray sobre a parede. Os meninos e meninas são ótimos, temos uma amizade além do plano formal professor/aluno, trabalhos com muita vontade e de acordo com a realidade que vivemos”.
Pensando em ampliar as referências sobre o grafite, apresentamos a seguir aspectos interessantes e curiosos que tratam o grafite como uma manifestação artística importante na rede de sociabilidade da nossa juventude.
Acompanhem.

Peixe desenhado em madeirite pelas crianças da ACRA através da arte do grafite sob a orientação do Professor Tárcio Vasconcelos

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Por Eliene Percília

A arte do grafite é uma forma de manifestação artística em espaços públicos. A definição mais popular diz que o grafite é um tipo de inscrição feita em paredes, dessa maneira temos relatos e vestígios do mesmo desde o Império Romano. Seu aparecimento na idade contemporânea se deu na década de 1970, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Alguns jovens começaram a deixar suas marcas nas paredes da cidade, algum tempo depois essas marcas evoluíram com técnicas e desenhos.
O grafite está ligado diretamente a vários movimentos, em especial ao Hip Hop. Para esse movimento, o grafite é a forma de expressar toda a opressão que a humanidade vive principalmente os menos favorecidos, ou seja, o grafite reflete a realidade das ruas. O grafite foi introduzido no Brasil no final da década de 1970, em São Paulo.
Os brasileiros por sua vez não se contentaram com o grafite norte-americano, então começaram a incrementar a arte com um toque brasileiro, o estilo do grafite brasileiro é reconhecido entre os melhores de todo o mundo.
Muitas polêmicas giram em torno desse movimento artístico, pois de um lado o grafite é desempenhado com qualidade artística, e do outro não passa de poluição visual e vandalismo. A pichação ou vandalismo é caracterizado pelo ato de escrever em muros, edifícios, monumentos e vias públicas. Os materiais utilizados pelos grafiteiros vão desde tradicionais latas de spray até o látex.
Principais termos e gírias utilizadas nessa arte:

Grafiteiro/writter: o artista que pinta.

Bite: imitar o estilo de outro grafiteiro.

Crew: é um conjunto de grafiteiros que se reúnem para pintar juntos. • Tag: é assinatura de grafiteiro.

Toy: é o grafiteiro iniciante.

Spot: lugar onde é praticada a arte do grafitismo.

Confira outras curiosidades em http://www.brasilescola.com/artes/grafite.htm

II SEMINÁRIO NACIONAL AFRICANIDADES E AFRODESCENDÊNCIA PARTE I

Da equerda para direita:Professor Marco Aurélio Luz,Professora Maria Aparecida Santos,Makota Valdina e professora Narcimária Luz.

No período de 11 a 14 de maio de 2010,aconteceu em Vitória no Espírito Santo o II Seminário Nacional Africanidades e Afrodescendência na Universidade Federal do Espírito Santo.Daremos destaque no blog ao relato sobre a Mesa Educação na Perspectiva da Ancestralidade Africana,que teve a participação de dois colaboradores assíduos na ACRA:Marco Aurélio Luz e Narcimária Luz,além da presença de uma liderança importante da tradição africano-brasileira a Makota Valdina. Destacamos que a conferência de abertura foi conduzida pelo Prof. Dr. Henrique Cunha Jr que introduziu as homenagens do Seminário ao Prof. Dr. Abdias do Nascimento, líder exponencial das lutas das populações negras, que dispensa maiores comentários. A emocionante cerimônia aconteceu no Teatro Universitário da Universidade.
Acompanhem a primeira parte do relato II Seminário Nacional Africanidades e Afrodescendência.

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EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DA ANCESTRALIDADE AFRICANA

A mesa coordenada pela Profa. Maria Aparecida Santos teve como expositores: Profa. Valdina Pinto de Oliveira Makota do Tanuri Junssara, Profa. Dra. Narcimária Correia. do Patrocínio Luz, e o Prof. Dr. Marco Aurélio de Oliveira Luz.
Após a apresentação da Mesa Profa. Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto convida o Professor Marco Aurélio Luz para iniciar sua exposição, em que ele destaca que para as comunidades de cultura e tradição afro–brasileiras o valor da ancestralidade é exatamente honrar, homenagear e cultuar, os ancestrais que dedicaram suas vidas a preservação, desse contínuo civilizatório.
Esse contínuo legado pela sucessão dos ancestrais possibilita trilharmos os caminhos do bem viver nesse mundo da melhor maneira possível procurando reforçar a tradição.
O valor dos seres humanos, dos ancestrais que foram viventes nesse mundo já está constituído nos destinos. A eles já é atribuído determinadas obrigações que sustentam a continuidade da tradição. Assim podemos dizer que determinadas lideranças comunitárias já podem ser consideradas ancestrais até mesmo antes de sua viagem definitiva para o orun, o além.
De 1976 a 1986, realizou-se a experiência educacional Mini-Comunidade Oba Biyi. Foi uma rica experiência que abre caminhos para a Educação Pluricultural Africano Brasileira. Oba Biyi era o nome do Xangô da Sra. Eugennia Ana dos Santos, a fundadora da comunidade do Ilê Axé Opô Afonjá. Então, o nome da experiência já constituía uma homenagem a uma ancestral, uma Iya mi Agba que foi a primeira Iyalorixá da casa fundada em 1910.
Certa ocasião Mãe Aninha como era também conhecida manifestou o desejo de: - “Quero ver as crianças de hoje, no dia de amanhã de anel no dedo e aos pés de Xangô.”
Oba Biyi no idioma yoruba significa, O Rei Nasce Aqui, e dessa forma se homenageia também o orixá patrono da comunidade protegendo a todos.
A experiência constituiu-se num processo que resultou numa nova pedagogia baseada nas formas da comunicação e transmissão do saber emergente da linguagem e dos valores comunitários.
A base do novo currículo foi a dramatização dos contos adaptados de Mestre Didi Axipa, Alapini e Assogba, Sr. Deoscoredes M. dos Santos líder inconteste da comunalidade da tradição religiosa afro brasileira.
A recriação de uma nova pedagogia estabeleceu um novo continente epistemológico, composto de uma nova bacia semântica que alimenta uma nova didática para além do manto de ferro da imposição da escrita universalizante e totalitária.
Acontece uma revolução à la Copérnico, não é mais o livro o centro único do sistema totalizante erigido em seu entorno , mas a linguagem dramática dos contos espiralando conhecimentos para uma metodologia sinérgica de ensino.
A experiência se desdobra em vários níveis inspirando novos projetos comunitários, estudos, pesquisas e publicações acadêmicas, formação de grupos de extensão universitária atuantes nas comunidades como o PRODESE da UNEB que será mais bem apresentado por sua coordenadora.
Para encerrar ele escolheu apresentar o conto “A Vendedora de Akasa que ficou rica” de mestre Didi que foi escolhido para encenação pelo Grupo de Jovens da Oba Biyi compostos por aqueles que por conta de terem mais de 14 anos de idade não tinham mais como participar das atividades rotineiras da Mini Comunidade.
Após a coordenadora passou a palavra para a profa. Doutora Narcimária Luz que iniciou falando do precioso legado da Mini Comunidade Oba Biyi que está relatado em várias publicações, dentre as quais o livro, OBA BIYI, O Rei Nasce Aqui.
As formas de acesso ao universo simbólico de conhecimentos das milenares civilizações africanas exigem do sistema de ensino uma adaptação para que possam dar o acolhimento as nossas crianças. Um dos fatos geradores da criação da experiência de educação pluricultural foi que em certa ocasião em que indagadas por não freqüentarem a escola do bairro as crianças afirmaram:- “Não gostam da gente lá”.
Para se entender melhor as razões do contexto dessa rejeição é que foi criado o PRODESE Programa de Descolonização e Educação, na faculdade de Educação da UNEB. Ele de certa forma dá continuidade as primeiras atuações realizadas na graduação e pós graduação da Faculdade de Educação da UFBA pelo prof. Marco Aurélio Luz entre 1985e1994, a partir de sua experiência na Mini-Comunidade Oba Biyi.

CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

APRENDENDO AS NARRATIVAS DA CAPOEIRA COM O BERIMBAU

Já tivemos a oportunidade de apresentar o Mestre Olavo tocando o berimbau com a maestria exigida pela capoeira dos nossos antepassados.Trazemos essa semana um outro registro importante para que vocês observem a destreza com o berimbau e suas extensões,trazendo fazendo uma ou várias narrativas que atravessam os tempos nos fazendo lembrar como dizem os poetas Hermínio Belo de Carvalho e Paulinho da Viola"...que a vida não é só isso que se vê é um pouco mais".

Com vocês um dos parceiros mais queridos da nossa ACRA:Mestre Olavo


Mestre Olavo o rei do berimbau

Gostaríamos de compartilhar com os nossos visitantes um pouco da sabedoria dos velhos africanos,preservada pelo nosso querido Mestre Olavo, figura importante na formação das crianças e jovens da ACRA.Ao longo dos cinco anos de existência da Associação temos aprendido muito sobre a capoeira,seus elementos e a dinâmica que a compõe.O berimbau traduz essa força de comunicação própria da capoeira.O vídeo a seguir vai ilustrar a sabedoria ancestral africano-brasileira que Mestre Olavo carrega e ensina com maestria.

Acompanhem.