Por Marco Aurélio Luz
Kátia M. de Queirós Mattoso que partiu por esses dias nos deixou uma obra de grande significação para a compreensão da trajetória histórica dos afro-descendentes no Brasil sobretudo na Bahia. Seus trabalhos como historiadora integram sem sombra de dúvida os mesmos patamares de alguns clássicos que problematizaram o processo histórico do fim do escravismo e as situações resultantes até a atualidade. Dentre esses ressaltamos as obras, O Escravismo Colonial de Jacob Gorender, do A Integração Negro na Sociedade de Classes de Florestan Fernandes, o polêmico livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire O Genocídio do Negro Brasileiro, de Abdias do Nascimento dentre outros.
Conheci Kátia na SECNEB e como colega na UFBA comentando da falta de sossego para poder se concentrar em seus trabalhos intelectuais e de pesquisa. Mais do que professora ela era uma dedicada e brilhante pesquisadora que nos deixou o fabuloso livro Être Esclave Au Brésil XVI-XIX siècle; traduzido na edição brasileira como Ser Escravo no Brasil. Entre seus alunos e seguidores destaco os já renomados historiadores, João Reis e Ubiratan Castro de Araújo.
Estive com Bira em Paris na Sorbonne acompanhando com Narcimária algumas sessões de aulas da professora Kátia. Seus cursos eram dedicados a história do Brasil. Sua casa era aberta aos amigos brasileiros para matar a saudade da feijoada. Já Bira se destacava pelo caruru de Santa Bárbara.
Voltando as obras citadas acima elas nos revelam inúmeros aspectos da complexidade das formas do escravismo de acordo ao contexto histórico com suas variações no tempo e no espaço. Ora ressaltam mais o aspecto da funcionalidade econômica do escravismo, ora ressaltam as situações econômicas e sociais geradas com a vinda de emigranteseuropeus no ínicio do século XX em S. Paulo , ora apresentam aspectos referentes aos serviços domésticos nas Casas Grandes de Pernambuco e suas peculiaridades, e ora ressaltam a política genocida de embranquecimento iniciada na colônia , presente na República até os nossos dias.
O que ressalto na obra da professora Kátia é que ela embora aborde o processo histórico escravista desde o século XVI ela com muita originalidade traz à tona a situação de Salvador no século XIX. Adotando todos os procedimentos metodológicos da pesquisa histórica ela comprova de forma cabal, como a atividade do “ganho” proporcionou uma territorialização africana da cidade, o que a Iyalorixá Oba Biyi, Mãe Aninha certa feita conceituou como “Roma Negra”.
Aqui nós vemos os escravos e libertos exercerem todas as profissões de serviços necessários para a cidade e com isso conseguirem negociar a libertação e com ela a constituição de espaços institucionais capazes de proporcionar a reposição do contínuo processo civilizatório negro africano.
“A sociedade brasileira de dupla estrutura que nós quisemos descrever resiste nesse momento à ordem social capitalista unificadora? Sim sem nenhuma dúvida. A herança africana foi tão rica para que se apague, muito profunda para que se esqueça. A África não está perdida. Presente ela germina, cresce, refloresce nas solidariedades dos Negros que partilham um destino de misérias, nas práticas das religiões africanas que guardam viva toda relação cultural com a mãe distante, sempre capaz de preservarem seus filhos as qualidades de dignidade, altivez e coragem que eram aqueles dos escravos brasileiros."(MATTOSO, Kátia Queirós.Être Esclave au Brésil.Paris:Hachette,1979,p.274)
Com essas palavras Kátia encerra o seu livro Être esclave... Pelo teor de suas narrativas que demonstra o denodo dos africanos e seus descendentes na luta solidária pela liberdade podemos insinuar que Estar é uma tradução de Être mais correta e pertinente para significar a transitoriedade de uma situação histórica. Em francês être pode significar ser ou estar.
Por mais que tenha tentado o escravismo, a história do Negro no Brasil e nas Américas é a da recusa a todas as tentativas de reduzi-lo à escravo.
Toda sua afirmação de identidade própria é no sentido de repor suas linguagens valores e instituições, enfim a cultura e o contínuo civilizatório africano.
Aliás, como diria Heráclito de Èfeso, “tudo muda, tudo é transitório como as águas do rio”...
Conheci Kátia na SECNEB e como colega na UFBA comentando da falta de sossego para poder se concentrar em seus trabalhos intelectuais e de pesquisa. Mais do que professora ela era uma dedicada e brilhante pesquisadora que nos deixou o fabuloso livro Être Esclave Au Brésil XVI-XIX siècle; traduzido na edição brasileira como Ser Escravo no Brasil. Entre seus alunos e seguidores destaco os já renomados historiadores, João Reis e Ubiratan Castro de Araújo.
Estive com Bira em Paris na Sorbonne acompanhando com Narcimária algumas sessões de aulas da professora Kátia. Seus cursos eram dedicados a história do Brasil. Sua casa era aberta aos amigos brasileiros para matar a saudade da feijoada. Já Bira se destacava pelo caruru de Santa Bárbara.
Voltando as obras citadas acima elas nos revelam inúmeros aspectos da complexidade das formas do escravismo de acordo ao contexto histórico com suas variações no tempo e no espaço. Ora ressaltam mais o aspecto da funcionalidade econômica do escravismo, ora ressaltam as situações econômicas e sociais geradas com a vinda de emigranteseuropeus no ínicio do século XX em S. Paulo , ora apresentam aspectos referentes aos serviços domésticos nas Casas Grandes de Pernambuco e suas peculiaridades, e ora ressaltam a política genocida de embranquecimento iniciada na colônia , presente na República até os nossos dias.
O que ressalto na obra da professora Kátia é que ela embora aborde o processo histórico escravista desde o século XVI ela com muita originalidade traz à tona a situação de Salvador no século XIX. Adotando todos os procedimentos metodológicos da pesquisa histórica ela comprova de forma cabal, como a atividade do “ganho” proporcionou uma territorialização africana da cidade, o que a Iyalorixá Oba Biyi, Mãe Aninha certa feita conceituou como “Roma Negra”.
Aqui nós vemos os escravos e libertos exercerem todas as profissões de serviços necessários para a cidade e com isso conseguirem negociar a libertação e com ela a constituição de espaços institucionais capazes de proporcionar a reposição do contínuo processo civilizatório negro africano.
“A sociedade brasileira de dupla estrutura que nós quisemos descrever resiste nesse momento à ordem social capitalista unificadora? Sim sem nenhuma dúvida. A herança africana foi tão rica para que se apague, muito profunda para que se esqueça. A África não está perdida. Presente ela germina, cresce, refloresce nas solidariedades dos Negros que partilham um destino de misérias, nas práticas das religiões africanas que guardam viva toda relação cultural com a mãe distante, sempre capaz de preservarem seus filhos as qualidades de dignidade, altivez e coragem que eram aqueles dos escravos brasileiros."(MATTOSO, Kátia Queirós.Être Esclave au Brésil.Paris:Hachette,1979,p.274)
Com essas palavras Kátia encerra o seu livro Être esclave... Pelo teor de suas narrativas que demonstra o denodo dos africanos e seus descendentes na luta solidária pela liberdade podemos insinuar que Estar é uma tradução de Être mais correta e pertinente para significar a transitoriedade de uma situação histórica. Em francês être pode significar ser ou estar.
Por mais que tenha tentado o escravismo, a história do Negro no Brasil e nas Américas é a da recusa a todas as tentativas de reduzi-lo à escravo.
Toda sua afirmação de identidade própria é no sentido de repor suas linguagens valores e instituições, enfim a cultura e o contínuo civilizatório africano.
Aliás, como diria Heráclito de Èfeso, “tudo muda, tudo é transitório como as águas do rio”...
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