domingo, 27 de março de 2011

"SUSTO" E ENCANTAMENTO: CONHECENDO O POVO BRASILEIRO ATRAVÉS DA CAPOEIRA

OU SIM,SIM,SIM!OU NÃO,NÃO NÃO!

Por Narcimária Luz

A capoeira é uma linguagem que se organiza através da dinâmica da roda.Linguagem que carrega mistério,transcendência.Estamos falando de uma linguagem permanente dos africanos vindos de Angola no século XVI (re) criando a capoeira de modo especial em Salvador e Recôncavo.A (re) criação da capoeira pelo africano caracterizava uma territorialidade possível de liberdade e mais do que isso,era possível realizar e expandir o modo próprio africano de existir e manter a sua identidade profunda. Chamo atenção para o fato de que os africanos de Angola carregavam consigo vínculos de sociabilidade importantes principalmente a referência da Rainha Nzinga,a Rainha Ginga ou Rainha Invisível.


Como já ressaltamos outras vezes, Nzinga é um marco de força e resistência para os descendentes de africanos nas Américas e especialmente no Brasil .As incursões portuguesas em Angola no fim do século XVI e início do XVII sofreram derrotas significativas face às estratégias extraordinárias de guerrilhas organizadas por Nzinga a Mãe Negra.É importante considerar a perspectiva de expansão e afirmação comunal e funcionalidade societal que estruturava a liderança de Nzinga e suas atividades de resistência.


Crianças da ACRA no batizado de capoeira em 2010 Foto N.Luz


O termo ginga referência importante na capoeira é uma alusão a rainha invisível,a rainha Ginga com seus traços estratégicos de guerrilha,surpreendendo o inimigo apelando para as táticas do visível-invísivel,está aqui,não está mais...Dessa ginga aflora a comunicação estruturada pela manha,habilidade,sorte,risco,improvisação,alegria,arte...


Linguagem que traz para a roda o jogo que no aqui e agora desenha e amplia de forma magnífica o tempo e espaço do legado africano-brasileiro ornamentado por : chapa de frente, chapa de costas, meia lua e cutilada de mão rabo de arraia, moquete, banho de fumaça, passo de sirycopé, baiana, chifrada, bracear, caveira no espelho, topete a cheirar, lamparina, pantana, trastejar, caçador, negaça, ponta-pé e pancada de cotovelo, pronto, chato, negaça de inclinar, negaça de achatar, negaça de bambear, negaça de crescer, cocada, grampear, joelhada, arranque, tesoura, tesoura baixa, canelada,bolacha beiço arriba, corta capim, passo de cegonha, tombo da ladeira,baú, pentear ou peneirar, chincha, xulipa, me esquece, vôo do morcego, espada e tantos outros desenhos ornamentais e suas variações em que o corpo é o instrumento dessa arte ,ganhando características próprias a depender doespaço-tempo da capoeira seja ela de matriz angola ou de matriz regional nas territorialidades afrobrasileiras onde se afirmam.(Cf.http://www.capoeira-fica.org/PDF/Nomenclatura_de_Movimentos_de_Capoeira.pdf) http://www.ufjf.br/virtu/files/2010/04/artigo-2a36.pdf )


Crianças da Cidade de Deus Imagem disponível emhttp://www.blogdapacificacao.com.br/tag/michelle-obama/


Um desses desenhos magníficos é o “balão cinturado”,que semana passada fez a primeira dama dos Estados Unidos Michele Obama, tomar vários sustos ao assistir a apresentação de capoeira de crianças da Cidade de Deus. O “balão cinturado” é um movimento em que a dupla de capoeiras fica de costas um para o outro de mãos dadas e um deles dá um salto sobre o outro.



Casal Obama comentando a performance das crinaças Imagem disponível em http://www.blogdapacificacao.com.br/tag/michelle-obama/


O menino responsável pelo o “balão cinturado” que deu o tal “susto” em Michele Obama,chama-se Cauã que tem de sete anos, 1,20m de altura e uma excelente desenvoltura na roda, demonstrando o quanto a linguagem da capoeira está impregnada na sua identidade afrobrasileira. Cauã tem todos os sentidos do seu corpo acessos para adentrar no jogo, e assumir com maestria as exigências que a roda lhe faz.Isso acontece com a maioria das crianças brasileiras que crescem jogando a capoeira.



Admiração da família Obama Imagem disponível em http://www.blogdapacificacao.com.br/tag/michelle-obama/


Quando assediado pela mídia perplexa pelo “encantamento” da família Obama pela apresentação das crianças, Cauã que fez bonito comentou:


“Não fiquei nervoso. Foi bom por causa das palmas, das músicas, do presidente” (Cf. http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1654509-15605,00-JOVENS+DA+CIDADE+DE+DEUS+CONVERSAM+COM+OBAMA.html)


Convidamos vocês a assistirem ao vídeo da entrevista das crianças da Cidade de Deus.


Vale à pena conferir!


Vejam no link: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1465343-7823-CAPOEIRISTAS+ENCANTAM+MICHELLE+OBAMA+NA+CIDADE+DE+DEUS,00.html

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