Por Marco Aurélio Luz
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No Brasil nós recebemos e incorporamos no nosso viver cotidiano, essa tradição desde África de usar os provérbios para reafirmarmos e garantirmos a veracidade de nossas assertivas. Além disso, os provérbios têm também um caráter didático e pedagógico de numa situação vivida num aqui e agora aprendermos e extrairmos uma lição.
A experiência transmitida por gerações encontrará um mais velho que pronunciará e transmitirá o provérbio na hora certa e adequada para os mais novos que adiante também se valerão dele.
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Para efeito de ilustração escolhemos alguns provérbios que foram criados e guardados na memória coletiva de nossa realidade histórica. Quero me referir como realidade histórica, que os provérbios refletem não só o contexto comunitário afrobrasileiro, mas também as relações sociais com a sociedade oficial eivada de preconceito e racismo.
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Assim vão se dando respostas; “baiano burro nasce morto”, “eles que são brancos que se entendam”, “pau que nasce torto morre torto”, “quem muito se abaixa alguma coisa aparece”, “graveto é quem derruba panela”, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” “chuva forte não me molha sereno quer me molhar” “cada macaco no seu galho” “por eu comer toucinho não chamo porco de ioiô”...
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Outros são conselhos alertando para situações de perigo; “quem não ouve cuidado ouve coitado”, “na luta entre o mar e o rochedo, siri é quem leva a pior”, “camarão que dorme a onda leva”, “cochilou cachimbo cai”, “em rio que tem piranha, jacaré nada de costas”, “se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem”, “só boto meu boné onde eu posso apanhar”, “não se deve se meter de pato a ganso”...
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Há sempre o uso de figuras de animais para ministrar lições, prevenindo para se preocupar com a própria vida e evitar fofocas; “macaco olha o seu rabo”, “o peixe morre pela boca”, “boca fechada não entra mosca”, “quem muito fala dá bom dia a cavalo”, prevenindo em relação ao poder das palavras soltas e a necessidade da descrição; “caveira quem te matou? - foi a língua”. 
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Também previnem em relação ao poder da experiência para enfrentar situações adversas; “macaco velho não mete a mão em cumbuca”, “gato escaldado tem medo de água fria”, “só leva pedrada árvore que dá fruto”...
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Provérbios também aconselham sobre o valor de ter paciência para se obter solução dos problemas da vida, e vencer os obstáculos; “cachorro de vexado nasceu de olho fechado”, “não se deve botar o carro adiante dos bois”, “cada dia sua agonia”, “devagar se vai ao longe”, “devagar e sempre” “a fruta só dá no tempo”...
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Outras vezes, referem-se às ações e atitudes em geral face aos acontecimentos de nosso cotidiano; “quem com ferro fere com ferro será ferido”, “o pau que dá em Chico dá em Francisco”, “vaso que é ruim não quebra”, “não adianta chorar o leite derramado”, “laranja madura na beira da estrada ou ta bichada ou tem marimbondo no pé”,”Deus não dá asa a cobra”...
Eles remetem às atitudes que levam ao êxito; “Deus ajuda a quem cedo madruga”, “mais vale um pássaro na mão que dois voando”,” seguro morreu de velho”, “de grão em grão a galinha enche o papo”, “ galinha come é com o bico no chão”, “água parada não move moinho”,e “pedra que rola não cria limo” e é vantagem “matar dois coelhos com uma cajadada só”, mas em geral “tem que se matar um leão por dia”, “fazer do limão uma limonada”, e previnem “macaco quanto mais sobe no coqueiro mais se expõe às pedradas” e “não se pode botar raposa para tomar conta do galinheiro” e por fim uma consolação “ “quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré”...
Enfim há provérbios que nos fazem pensar na condição humana e o estar no mundo; sobre a sociabilidade, ”uma mão lava a outra e as duas lavam a cara”, sobre o existir, “quem se matou já morreu”, “o mundo dá muitas voltas”, “nesse mundo nós somos galinhas de Deus”, “do nada Deus fez esse Mundo”.
E encerrando as ilustrações sobre o aconselhamento dos provérbios: “cavalo dado não se olha os dentes” e “pé de galinha não mata pinto”...
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Indicamos livros para quem se interessar por provérbios.
Azevedo Stella, Mãe Stella de Oxóssi, PROVÉRBIOS, Salvador:Sociedade Cruz santa do Ilê Axé Opô Afonjá,2007
Cabrera Lydia, REFRANES DE NEGROS VIEJOS, La Habana:Ediciones C.R.,1955
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