domingo, 25 de setembro de 2011

O PENSAMENTO UNIVERSAL E A LINGUAGEM DE ABDIAS DO NASCIMENTO:PALESTRA NA SIOBÁ

Por Marco Aurélio Luz

Confesso que hesitei em aceitar o convite da SIOBÁ-Sociedade Beneficente de Ojés,Ogãs e Tatas, devido à responsabilidade que implica falar sobre uma pessoa da grandeza do estimado e admirado Abdias. Mas como o convite partiu de Duarte Abajigan do terreiro do Bogun, amigo e irmão de longa data para falar numa sociedade da qual participa e que reúne ojés, obás, ogans e tatas, senti-me a vontade, pois o interesse deles é a presença cultural da religião africano-brasileira na obra e na trajetória de vida de Abdias, sua composição na luta contra o racismo em sua variada forma.

Everaldo Duarte ogã do Bogum e Coordenador Religioso da SIOBÁ

 O motivo do convite foi que ele leu meu artigo no blog da ACRA. Enfim acabei por aceitar. Não me arrependo tanto mais que Narcimária foi também. Um público pequeno, porém muito interessado e que por vários momentos se emocionaram e me emocionaram durante a apresentação.

Diretoria do SIOBÁ formada por ojés, ogãs,tatas

Comecei dizendo que em nossa cultura africana, espiritualidade, linguagem e identidade, se manifestam através das artes, poesia, pintura, conjuntamente com ciência, filosofia, política; e se inter-relacionam, e em Abdias essas expressões são uma coisa só, embora possam parecer separadas no tempo e no espaço.
Fiz com meus filhos uma pequena montagem de slides ilustrando a emocionante e vibrante récita da poesia Padê do Exu Libertador na voz de Abdias. Comecei por essa exibição.
Todos ouviram contritos e emocionados ao final responderam:
- Laroiê! e bateram palmas.

Público atento a palestra

Fiz algumas considerações sobre os fundamentos teológicos da poesia; Padê= reunião de entidades, invocação para Exu tornar os desejos exeqüíveis, uma vez recebidas as oferendas mobilizadoras de axé, e na poesia de Abdias os pedidos são para que se possa combater e vencer as injustiças que afligem o povo negro. Contei o itan, a história, que se refere ao Exu Yangi, de como a humanidade ficou encarregada de restituir através das oferendas o axé necessário a continuidade da existência. Ficou bom porque é uma história também de Orunmilá e era dia de sexta-feira.
Contei do episódio do filme de Antônio Olavo, em que Abdias narra, da mãe protegendo e se solidarizando com o menino carente agredido pela mulher branca em Franca, e que ficou desde a infância para sempre gravado em sua memória como um ato que influencia e impulsiona sua vocação de luta pan-africanista.
Nesse sentido contei também, o episódio narrado por Mestre Didi, em que Mãe Senhora Iyalorixá..., Iyá Nasô... Asipá.. deixa esperando o cônsul americano em visita ao ilê Afonjá e depois explica para os ogãs agoniados, que da porteira para dentro estão seus poderes absolutos,e  da porteira para fora a luta pelos direitos da gente dela, que ela bem sabia estava sendo maltratada na terra dele.
Então nessa dinâmica "da porteira para dentro/da porteira para fora" é que se dá a defesa da tradição africana e a luta pan africanista.
“-O Teatro Experimental do Negro foi criado para fortalecer os valores da cultura tradicional africana. Foi criado para combater o racismo sim, mas também para firmar nossos valores. Não queríamos apenas ter o direito de entrar numa barbearia, num cassino ou num restaurante”... (Abdias ,entrevista ao Portal Afro)
Como cientista social engajado, Abdias se destacou pela crítica fundamentada à ideologia da “democracia racial” que obnubilava a percepção da prática do racismo no Brasil enganando muita gente. Era a ideologia vigente ou dominante como querem uns e outros.
Ele demonstrou a intencionalidade genocida da criação ideológica da política do embranquecimento pelas teorias psi de Nina Rodrigues, que fez uma equivalência entre o transe ou manifestação de entidades das religiões afrobrasileiras com o surto de histeria. Duas situações completamente diferentes mas aproximadas grosseiramente para concluir que a doença mental era genética na raça negra e por isso seria uma “raça inferior”. Ora, com o apoio de Roger Bastide, Abdias demonstrou que uma manifestação está na ordem do discurso da cultura, do simbólico, é um momento da religião, do religare, a transição do aiyê para o orun de nossa dimensão profana para a sagrada compartilhada e acompanhada por sacerdotisas, sacerdotes e fiéis em determinado momento da liturgia. É um aspecto de um momento de profunda comunhão e fortalecimento dos vínculos sociais comunitários. A outra, é um acontecimento da ordem de um delírio em direção ao imaginário, de fuga das vinculações sociais. A intenção de Nina Rodrigues era desqualificar a tradição religiosa africana fonte de afirmação da identidade cultural negro brasileira.
Outra ideologia foi a da mestiçagem, incentivando a emigração de europeus para “melhorar a raça brasileira” para predizer que com o aumento dos mestiços a tendência seria o fim dos negros no Brasil. Também com isso acabaria o racismo? Abdias logo viu que aí mesmo estava o racismo, e pior o mais cruel, ou seja, o desejo genocida do fim, do extermínio de um povo. Tudo isso com farta documentação de discursos ideológicos que alimentam a Razão de Estado.
Destaco a crítica à ideologia do sincretismo, também como na teoria da mestiçagem em direção a predominância do branco, aqui é o esmaecimento da pujante tradição cultural afrobrasileira para algo misturado, amalgamado com as linguagens e valores do catolicismo. Nada mais falso. Se alguma aproximação ocorre, foi por conta da repressão feroz aos cultos de tradição africana seja pelos aparelhos da força publica seja pelas instituições ideológicas. O negro se defendeu fazendo determinadas associações simbólicas com muito alarde, mas no espaço púbico das festas de largo, nas procissões e datas comemorativas dos santos então associados a determinadas entidades do panteão africano. Todavia, no âmbito da liturgia da tradição africana nada há de católico, como acrescentei eu nas minhas obras; na verdade, ao contrário do que se faz crer, há muito mais uma africanização do catolicismo que qualquer outra coisa.

Marco Aurélio Luz palestrante no evento do SIOBÁ

Essas são de modo resumido as ideologias para manter um Estado europocêntrico que reluta em assumir a africanidade da maioria de seu povo, tanto mais que a cultura afrobrasileira é a predominante da maioria do povo.
Portanto o Brasil padece de um verdadeiro abismo entre o Estado e a Nação.
Quando saindo de S. Paulo no final dos anos 30 para o Rio de Janeiro, foi que Abdias teve suas primeiras aproximações com a religião africana, e que conheceu o terreiro do afamado Babalorixá Joãozinho da Goméia, em Caxias.
Desde então se desenvolve cada vez mais essa relação e a sabedoria de que para tudo que se pretende fazer, deve-se mobilizar o axé correspondente. Daí a invocação dos orixás, em vários momentos de seus discursos para que as ações se concretizem.
Li um trecho do texto conclusivo do livro “O Genocídio do Negro Brasileiro, processo de um racismo mascarado”:
Para mim, o mistério ontológico e as vicissitudes da raça negra no Brasil se encontram e se fundem na religião dos orixás;o Candomblé. Experiência e ciência, revelação e profecia, comunhão entre os vivos, os mortos, e os não nascidos, o Candomblé marca o ponto onde a continuidade existencial africana tem sido resgatada. Onde o homem pode olhar a si mesmo sem ver refletida a cara branca do violador físico e espiritual de sua raça. No Candomblé, o paradigma opressivo do poder branco, que há quatro séculos vem se alimentando e se enriquecendo de um país que os africanos sozinhos construíram, não tem lugar nem validez.É por isso que os Orixás são a fundação da minha pintura”. (p. 182)
Recentemente ele visitou o Ilê Axé Opô Afonjá e se confraternizou com Mãe Stela, Iyalorixá Odé Kaiodê.
Finalizei com a projeção do filme de Antônio Olavo, o trecho em que Abdias é condecorado no decorrer de um Congresso Internacional, e recebe uma medalha de comendador das mãos do presidente Lula, e depois ele sai empurrado em sua cadeira de rodas por Elisa Larkin do Nascimento(sua esposa), parando para receber os cumprimentos.A ação é acompanhada pela interpretação do cântico que saúda os alabês os tocadores de atabaques, que proporcionam a comunicação entre o aiyê e o orun. Quem canta com uma bela interpretação criativa no solo do bel canto, é Inaycira filha do Mestre Didi, neta de Mãe Senhora. Nisso no saguão ouve-se os atabaques ao vivo nos toques do samba de roda do recôncavo. Ele se aproxima, e surpreendentemente se ergue da cadeira arrebatado pelo ritmo que não deixa ninguém parado, e faz par com a senhora que já estava na roda. É tudo muito bonito, sublime e alegre.
No nosso auditório todo mundo fica tomado de emoção por essas imagens. Então vou encerrando minha modesta contribuição agradecendo por ter sido honrado com essa participação.
Mas aí,Everaldo Duarte retoma a palavra após os aplausos e relata a experiência que viveu com a visita de Abdias ao Ilê Aiyê. O mais importante além da emoção por ele vivida, inclusive por estar trabalhando na direção de um grupo de teatro da entidade, foi que Abdias comunicou a Mãe Hilda, Iyá Jitolú, que era importante fazer alguma cerimônia funerária para o glorioso líder e herói Zumbi dos Palmares. Ela concordou e no ano seguinte subiram a Serra da Barriga para as homenagens merecidas com enorme séquito do movimento negro ao som das baterias e cânticos dos blocos afros.
Acrescento agora que Abdias nessa ocasião, fez veemente discurso de esperança nas vitórias do povo negro invocando e pedindo a proteção dos orixás.
 
Everaldo Duarte Abajigã e Marco Aurélio Luz Oju Obá

PADÊ DE EXU LIBERTADOR


Abdias do Nascimento


 Ó Exu

ao bruxoleio das velas
vejo-te comer a própria mãe
vertendo o sangue negro
que a teu sangue branco enegrece
ao sangue vermelho
aquece nas veias humanas
no corrimento menstrual
à encruzilhada dos
teus três sangues
deposito este ebó
preparado para ti
Tu me ofereces?
não recuso provar do teu mel
cheirando meia-noite de marafo forte
sangue branco espumante das delgadas palmeiras
bebo em teu alguidar de prata
onde ainda frescos bóiam
o sêmen a saliva a seiva
sobre o negro sangue que circula
no âmago do ferro
e explode em ilu azul
Ó Exu-Yangui
príncipe do universo e último a nascer
receba estas aves e os bichos de patas que
trouxe para satisfazer tua voracidade ritual
fume destes charutos
vindos da africana Bahia
esta flauta de Pixinguinha
é para que possas chorar
chorinhos aos nossos ancestrais
espero que estas oferendas agradem
teu coração e alegrem teu paladar
um coração alegre é
um estômago satisfeito e
no contentamento de ambos
está a melhor predisposição para o cumprimento
das leis da retribuição asseguradoras da harmonia cósmica

Imagem disponível em http://www.ipeafro.org.br/home/br/acervo-digital/24/81/69/obras-abdias-nascimento
Invocando estas leis imploro-te Exu
plantares na minha boca
o teu axé verbal
restituindo-me a língua
que era minha e ma roubaram
sopre Exu teu hálito
no fundo da minha garganta
lá onde brota o botão da voz para
que o botão desabroche
se abrindo na flor do
meu falar antigo
por tua força devolvido
monta-me no axé das palavras
prenhas do teu fundamento dinâmico
e cavalgarei o infinito
sobrenatural do orum
percorrerei as distâncias
do nosso aiyê feito de
terra incerta e perigosa
Fecha o meu corpo aos perigos
transporta-me nas asas
da tua mobilidade expansiva
cresça-me à tua linhagem
de ironia preventiva
à minha indomável paixão
amadureça-me à tua desabusada linguagem
escandalizemos os puritanos
desmascaremos os hipócritas
filhos da puta
assim à catarse das impurezas culturais
exorcizaremos a domesticação
do gesto e outras
impostas a nosso povo negro
Teu punho sou
Exu-Pelintra
quando desdenhando a polícia
defendes os indefesos
vítimas dos crimes do
esquadrão da morte
punhal traiçoeiro da mão branca
somos assassinados
porque nos julgam órfãos
desrespeitam nossa humanidade
ignorando que somos os homens negros
as mulheres negras
orgulhosos filhos e filhas do
Senhor do Orum
Olorum
Pai nosso e teu
Exu de quem és o fruto alado
da comunicação e da mensagem


Imagem disponível em http://www.ipeafro.org.br/home/br/acervo-digital/24/81/69/obras-abdias-nascimento
Ó Exu
uno e onipresente
em todos nós
na tua carne retalhada
espalhada por este mundo e o outro
faça chegar ao Pai a
notícia da nossa devoção
o retrato de nossas mãos calosas
vazias da justa retribuição
transbordantes de lágrimas
diga ao Pai que nunca
no trabalho descansamos
esse contínuo fazer de proibido lazer
encheu o cofre dos exploradores
à mais valia do nosso suor
recebemos nossa
menos valia humana
na sociedade deles
nossos estômagos roncam de
fome e revolta nas cozinhas alheias
nas prisões
nos prostíbulos
exiba ao Pai
nossos corações
feridos de angústia
nossas costas chicoteadas
ontem no pelourinho da escravidão
hoje no pelourinho da discriminação
Exu
tu que és o senhor dos caminhos
da libertação do teu povo
sabes daqueles que empunharam
teus ferros em brasa
contra a injustiça e a opressão
Zumbi
Luiza Mahin
Luiz Gama
Cosme Isidoro
João Cândido
sabes que em cada coração de negro
há um quilombo pulsando
em cada barraco
outro palmares crepita
os fogos de Xangô iluminando nossa luta
atual e passada


Imagem disponível em http://www.ipeafro.org.br/home/br/acervo-digital/24/81/69/obras-abdias-nascimento

Ofereço-te Exu
o ebó das minhas palavras
neste padê que te consagra
não eu
porém os meus e teus
irmãos e irmãs em Olorum
nosso Pai
que está no Orum
Laroiê!


Búfalo, 2 de fevereiro de 1981


Abdias do Nascimento

sábado, 17 de setembro de 2011

LIMA BARRETO :"OU O BRASIL ACABA COM AS SAÚVAS OU AS SAÚVAS ACABAM COM O BRASIL!"

Apresentamos mais uma vez aspectos da vida e obra do escritor Lima Barreto,trazendo através de dois vídeos, pontos de reflexões que atravesam suas criações literárias  abordando a sociedade brasileira presa a  ideologia racista,as desigualdades sociais e  mazelas características do período escravista ,pós-abolição e República.

Convidamos vocês para conhecerem um pouco mais  do legado literário,pensamento crítico e competente desse exponencial jornalista e escritor.



ENCONTRO DE PESQUISADORES DO NORTE E NORDESTE


Por Mille Fernandes



No período de 23 a 26 de agosto de 2011 aconteceu na cidade de Manaus no Amazonas o EPENN-Encontro de pesquisadores do Norte e Nordeste, reunindo pesquisadores do Norte e Nordeste do Brasil, para discutirem e apresentarem temáticas relevantes do cenário educacional brasileiro. O EPENN é um encontro bianual, vinculado à ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação.
A temática central deste ano foi “Educação, Cultura e Diversidade”, uma temática desafiadora para cada um de nós pesquisadores em Educação, pois nos convidou a pensar, discutir e promover um intercâmbio sociocultural de idéias através das pesquisas e ações que saem do lugar comum enfatizado pelo currículo escolar que tende a tratar produções culturais desdobramentos de diferentes dinâmicas sociais, folclorizando-as, reduzindo os valores simbólicos que estruturam a existência de comunalidades.

Mestrandos da área de Educação da UNEB.
Da esquerda para a direita em pé Sérgio Bahialista,Josinélia Moreira, Jurandir Araújo, Mille Fernandes, João Max e ao centro, abaixado, Rogério Vidal.
O EPENN foi organizado com 26 Gt’s (grupos de trabalho), que se propuseram a refletir e debater sobre questões, tais como: de que forma promover cidadanias que afirmem identidades, em um mundo tensionado entre pluralidade e universalidade, entre o local e o global, entre o oral e o escrito? De que maneira converter a pluralidade social existente no microespaço da sala de aula, em estímulo para (re)estruturas curriculares, organizacionais e pedagógicas que abarquem projetos oriundos da diversidade sociocultural? Como suplantar a invisibilidade institucionalizada das diferenças culturais que corrobora com avaliações sobre desempenho escolar de crianças, jovens e adultos, sem levar em conta as suas peculiaridades e pertencimentos socioculturais?
Os poucos Gt’s que pude participar, apresentaram trabalhos riquíssimos, os quais contribuíram não só para disseminar as bases conceituais para um (re)novado conhecimento da sociodiversidade na contemporaneidade, mas também para prover subsídios no fortalecimento de pesquisas no espaço acadêmico, tornando mais desafiador e complexo o conhecimento dos pesquisadores sobre a realidade e sobre as relações que se estabelecem no convívio com as diferenças culturais.
Na ginga em tentar fortalecer as pesquisas que contemplem a diversidade cultural características das comunalidades no espaço acadêmico, eu e Sérgio Bahialista, mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da UNEB e pesquisadores do PRODESE-Programa Descolonização e Educação, apresentamos nossas pesquisas nos Gt’s 21- Educação e Relações Ético-raciais e 24 - Educação e Arte, respectivamente.


Professora Mille apresentando sua pesquisa  no EPENN

O aspecto que abordei na minha comunicação no GT 21, é desdobramento de um trabalho monográfico, que buscou repensar o papel da Escola Ruy Barbosa em Nilo Peçanha na Bahia, como espaço possível de afirmação das identidades de crianças e jovens, que vivem a sociabilidade do quilombo de Boitaraca, situado em Nilo Peçanha na Bahia. Desse estudo nasceram os subsídios que dão hoje a estrutura, forma e conteúdo para minha pesquisa no mestrado. A comunicação que fiz, recebeu o título de “Labalábá: o papel decisivo da Oralidade, da Memória e dos Valores Ancestrais para a Educação de Crianças e Jovens no Quilombo de Boitaraca”.
Labalábá na língua nagô significa borboleta, é um ser especial. Na rica simbologia afrobrasileira, está relacionada a capacidade de transformação, metamorfose, e o encanto de tornar os lugares mais belos. Assim, enfatizei que este é o papel da professora da comunidade, Arlete Assunção do Rosário, “borboleta”, que metamorfoseia sua sala de aula para inserir a cultura, a memória e a oralidade no ambiente escolar.

Público acompanhando a exposição da professora Mille Fernandes

A comunicação trouxe para discussão a importância da memória, oralidade e a ancestralidade africano-brasileira como ponto central das reflexões acadêmicas em relação a educação em comunidades quilombolas. Através da memória, oralidade e a ancestralidade africano-brasileira muitos/as professores/as quilombolas têm extraído valores e linguagens capazes de constituir uma perspectiva pedagógica que atende a diversidade étnico-cultural, das crianças e jovens quilombolas. Essas perspectivas pedagógicas tendem a abrir possibilidades,para que crianças e jovens quilombolas enfrentem as adversidades impostas no contexto escolar, afirmando seus valores socioexistenciais.
Já Sérgio Bahialista, trouxe para o bojo de sua comunicação aspectos da sua pesquisa de mestrado, intitulado “Cordel – o Verso Espetacular Cavalgando do Sertão para a Educação: (re) elaborações de valores comunais por meio da Literatura de Cordel”.


Professor Sérgio Bahialista apresentando sua pesquisa no EPENN

A comunicação de Sérgio desencadeou a construção de um diálogo a partir dos entrelugares e dos intertextos que fazem parte da nossa existência, e que são negados pelas normatizações etnocêntricas enfatizadas no cotidiano das escolas. A “dinâmica do Pilão”, referência metodológica que caracteriza as iniciativas do PRODESE, foi um dos canais de linguagens utilizados por Sérgio para introduzir a Literatura de Cordel como um corpo complexo de linguagens versadas, educativas que constroem e (re)elaboram os valores comunais. Para Sérgio a palavra é um instrumento de encantamento.


Professor Sérgio Bahialista surpreendendo através da linguagem criativa do cordel

 O pilão é utilizado como uma metáfora que (re)significa os valores afro-brasileiros, pois este elemento nas comunidades africanas tem a função de transformar os grãos que serão consumidos e compartilhados como alimento para todos na comunidade, assim pode ser o Cordel, um entrelaçamento dentro da linguagem popular educativa na comunidade escolar.
Tanto no meu trabalho quanto no trabalho de Sérgio, procuramos explorar a concepção de arkhé, a dinâmica do vivido-concebido tão difundidos pelos autores Marco Aurélio e Narcimária Luz. Concepções que tocaram intensamente na essência de pesquisadores preocupados em entender os contínuos civilizatórios e as diversas formas de se fazer Educação.


Da esquerda para a direitaSérgio Bahialista, Jurandir Araújo, Mille Fernandes e Rogério Vidal marcando presença no EPENN 2011.


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Graduada em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade de Ciências Educacionais – FACE,mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia,professora de História da África no Ensino Fundamental II do município de Nazaré/BA; Professora de Psicologia da Aprendizagem na Faculdade de Ciências Educacionais – FACE; Professora de História e Cultura Afro-brasileira da Plataforma Freire UNEB Campus V; presta serviço a Secretaria de Educação do Estado da Bahia (Coordenação de Educação e Diversidade) juntamente a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD, desenvolvendo pesquisas e elaborando Diretrizes Curriculares para Educação Quilombola; pesquisadora do PRODESE – Programa Descolonização e Educação CNPQ/UNEB. Atua na área de Educação, desenvolvendo projetos voltados a contemplar a Lei 10.639/03 e pesquisas em educação nas comunidades quilombolas.

domingo, 11 de setembro de 2011

"RACISMO":MOVIMENTOS SOCIAIS E DIVERSIDADE HUMANA

Marco Aurélio Luz

A propósito do atentado ao WTC
Foto disponível na Web

A maior contribuição apresentada nas questões sobre discriminação social é ratificar e aprofundar e ampliar a problemática do “racismo” abrindo espaço para reflexões, debates e intercâmbio em outro continente teórico, qual seja o da diversidade humana.
A diversidade humana entendida não só como diferenças morfológicas ou fenotípicas características da humanidade, mas, sobretudo também pelo fluxo dos contínuos processos civilizatórios distintos entre si cuja origem se perde na noite dos tempos. Eles são capazes de gerar culturas que promovem por sua vez o desejo de estar junto, a pulsão de sociabilidade que irá caracterizar a diversidade pelo prisma das identidades sociais. Desde as mais remotas formas de organização social, elas são distintas no tempo e no espaço.
No que se referem ao movimento negro no Brasil, desde 1944 quando fundou o TEN, o Teatro Experimental do Negro, Abdias do Nascimento já reivindicava no combate ao racismo o direito a sua própria civilização, a civilização de seu povo.
Abdias do Nascimento - O TEN foi criado para fortalecer os valores da cultura tradicional africana. Foi criado para combater o racismo, sim mas também para firmar nossos valores. Não queríamos apenas ter o direito de entrar numa barbearia, num cassino ou em um restaurante, esses eram nossos direitos como cidadãos que nasceram aqui e ajudaram a construir este país.
"Queríamos principalmente que os valores da personalidade do africano fossem respeitados no Brasil, e fizessem parte da consciência e da cultura das instituições brasileiras".
Foi para isso que criamos o TEN, para resgatar os valores perdidos no transcorrer de nossa história. Para que os negros não continuassem apenas representando para a diversão dos brancos. Não queríamos que toda a história do negro no Brasil, todo seu sofrimento, suas alegrias e tudo o que ele construiu continuasse figurando de forma acidental na cultura brasileira. Queríamos uma participação organizada viva, dinâmica e criativa, com  olhos para o futuro."

Ideograma sankofa compondo exposição em homenagem a Abdias do Nascimento
Foto de Narcimária Luz

Portal Afro - O aparecimento do TEN deve ter assustado muita gente...
Abdias do Nascimento - Quando o TEN apareceu nos jornais foi uma revolução. O fato de o negro aparecer associado a algo positivo surpreendeu muita gente. O negro era olhado como algo negativo, um estigma. Ninguém queria ser negro. Antes de lançar o projeto, muitas pessoas falavam que se eu colocasse o nome "negro" no teatro, seria apedrejado, desprezado e marginalizado. Insisti. Não que eu achasse que o negro ali representasse o valor máximo do trabalho, mas o objetivo era representar um espelho da africanidade, mostrar a importância de sermos africanos.
O que o Brasil rejeita não é tanto a cor da pele, mas sim a África. O Brasil não quer ser africano"

Abdias do Nascimento - Por considerar isso uma coisa negativa. Daí a importância do TEN: resgatar o valor da pele negra, exorcizar da raça negra todos esses estereótipos que foram introduzidos desde a colonização, que diziam que nossa cor representava tudo o que havia de ruim e negativo, de feio e mau. Naturalmente não tínhamos como objetivo único achar que a cor da pele fosse o limite. Nosso ponto focal era a humanidade do ser afrodescendente, era isso que deveria ser valorizado. O TEN veio cumprir este papel e foi fiel a esta idéia até o final.
Portal Afro - Em seus textos, o Senhor apresentava personagens baseados na mitologia africana. Qual foi o impacto dessa iniciativa?
Abdias do Nascimento - Num primeiro momento foi perturbador. Todos estavam acostumados com os mitos greco-romanos como os grandes e talvez únicos referenciais da mitologia universal. Assim, foi muito difícil mostrar que os próprios mitos greco-romanos, se olhados com a devida proximidade, eram também africanos. Foi a partir da África que toda essa cultura se expandiu, de onde foi copiada pelos gregos.
A maioria dos tratados e estudos sobre o teatro, dizem que ele nasceu na Grécia. Isto não é verdade! Mil anos antes da Grécia já havia textos dramáticos no Egito Negro, como exemplo podemos citar o texto sobre a morte do filho de Ísis e Osíris, que tinha toda a estrutura de uma peça teatral.
Eu mesmo trabalhei numa peça onde tive muitos choques: "Orfeu Negro". Não Precisamos trazer um Orfeu negro quando temos nossos próprios mitos, muito mais próximos de nossa realidade e com a mesma bela densidade dramática e trágica.
"Foi difícil ter que enfrentar essa lavagem cerebral que a comunidade sofre até hoje; ter que mostrar o outro lado da moeda e não essa versão caricatural, estereotipada e folclórica que o negro tem."
Portal Afro - Qual é esse outro lado?
Abdias do Nascimento - A raça negra também tem seu lado sério. Mitologia e filosofias muito bem fundamentadas. Era isso que o TEN queria mostrar. Era essa a revolução que queríamos iniciar. O que fizemos representa uma gota d'água no que deve ser feito para eliminarmos os 500 anos de lavagem cerebral e distorção cultural que os negros sofrerão neste país. Temos que trabalhar muito para reverter esse quadro.
E esta é uma tarefa nossa, pois os brancos que estão nas Academias e Universidades não o farão. Eles continuarão contestando as verdades que revelamos, que os incomoda.
A verdade: "Que os negros é que foram a verdadeira fonte da chamada cultura ocidental"
Portal Afro - É uma afirmação que pode gerar polêmica...
Abdias do Nascimento - Existem provas. Minha mulher, por exemplo, tem várias pesquisas, algumas já publicadas, que mostram toda a raiz africana da ciência, da arte e da cultura do ocidente, onde tudo que está lá tem origem na África Negra.
Portal Afro - Como mudar conceitos estabelecidos há tanto tempo?
Abdias do Nascimento - Temos que limpar da cabeça do negro essas falsas noções de inferioridade. Nossos acadêmicos são racistas e puramente etnocêntricos, sempre a favor de valores europeus. Temos que combater esse problema não somente através da palavra, mas também por nossas obras nos mais variados setores.
É por isso que também comecei a pintar. Além de colocar elementos de nossa mitologia e símbolos de nossas lendas e valores religiosos em meus textos teatrais, passei a expressar-me também pela pintura.

ABDIAS DO NASCIMENTO: "Uma vida dedicada a um ideal"17/12/01 - entrevista e fotos: Jader Nicolau Jr. - edição: Milton C. Nicolau. apoio - Muene e José Paixão de Sousa.Expusemos esse trecho da entrevista do Portal Afro para ilustrar através das palavras de Abdias Nascimento exponencial liderança incontestável do movimento negro de combate ao racismo a temática que ora desenvolvemos.

Mãe nas ruas de Paris
Foto Marco Aurélio Luz

Mães nagô
Pintura de Caribé
No contexto da contemporaneidade os processos civilizatórios e os complexos culturais se entrecruzam. É o resultado da dinâmica histórica própria da modernidade, ou seja, os eventos do colonialismo escravista primeiramente, e do imperialismo industrialista posteriormente. Atualmente seu desdobramento se refere, aos processos de comunicação, o que se denomina “globalização”.
Além de conflitos de interesses territoriais interligados aos interesses sócio econômicos dos povos, a territorialidade das identidades faz aflorar o inevitável convívio das alteridades, das diferenças.
Então o conflito das alteridades é o desafio contemporâneo fundamental. Para o bem ou para o mal, a diversidade dos povos emerge ou para engrandecimento ou para o padecimento da humanidade. Dependerá de a própria humanidade reconhecer sua constituição ontológica, marcada pela singularidade diversa dos distintos povos que a compõem e recriar uma nova ética que permita a coexistência ou enfim o direito à existência própria.
Por último mas não menos importante devemos estender essa preocupação com o convívio da espécie humana com as outras formas de vida do planeta para que ele não se acabe.

Foto Narcimária Luz

POEMA PRESO

Colaboração de Léa Austrelina Grandchamp


 Um poema de Viviane Mosé
A maioria das doenças que as pessoas têm são poemas presos.

Abscessos, tumores, nódulos, pedras…
São palavras calcificadas, poemas sem vazão.
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado, prisão de ventre…
Poderiam um dia ter sido poema, mas não…
Pessoas adoecem da razão, de gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima.
Lágrima é dor derretida, dor endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida, raiva endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida, alegria endurecida é tumor.


Cachoeira da Fumaça no Espírito Santo tem  140 metros de quedas d’água


Lágrima é pessoa derretida, pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor, tempo derretido é poema.
E você pode arrancar os poemas endurecidos do seu corpo
Com buchas vegetais, óleos medicinais, com a ponta dos dedos, com as unhas.
Você pode arrancar poema com alicate de cutícula, com pente, com uma agulha.
Você pode arrancar poema com pomada de basilicão, com massagem, hidratação.
Mas não use bisturi quase nunca,
Em caso de poemas difíceis use a dança.
Imagem disponível em http://caetanocampisi.blogspot.com/2009/12/palavras.html
A dança é uma forma de amolecer os poemas endurecidos do corpo.
Uma forma de soltá-los das dobras, dos dedos dos pés, das unhas.
São os poemas-corte, os poemas-peito, os poemas-olhos,
Os poemas-sexo, os poemas-cílio…
Atualmente, ando gostando dos pensamentos-chão.


Pensamento-chão é grama e nasce do pé,
É poema de pé no chão,
É poema de gente normal, de gente simples,
Gente de Espírito Santo.
Eu venho de Espírito Santo.
Eu sou do Espírito Santo, eu trago a Vitória do Espírito Santo.
Santo é um espírito capaz de operar o milagre sobre si mesmo.



********************************
Viviane Mosé nasceu na cidade de  Vitória no Espírito Santo.É Mestra e Doutora em Filosofia.  Para saber  mais sobre Viviane visite:http://www.vivianemose.com.br/#

sábado, 10 de setembro de 2011

JACKSON DO PANDEIRO “O REI DO RITMO” -PARTE I

José Gomes Filho,conhecido como Jackson do Pandeiro nasceu em Alagoa Grande na Paraíba em 31 de agosto de 1919.Foi através de sua mãe Flora Mourão que Jackson se aproximou do universo rítmico nordestino. Foi sua mãe que lhe deu o pandeiro,instrumento pelo qual ficou conhecido. D. Flora Mourão cantava coco, um ritmo de origem indígena e africana muito comum no litoral do nordeste.Esse ritmo do coco se dança formando rodas, acompanhadas de cantigas divertidas, com letras simples apoiadas pelos instrumentos pandeiro, triângulo,ganzá e surdo. Na época de D. Flora Mourão, o tamanco de madeira também entrava na roda como um instrumento,além das palmas.
Sobre essa personalidade da história da música popular brasileira,identificamos dois vídeos com Jackson do Pandeiro sendo entrevistado por Grande Otelo, outra personalidade importante na dramaturgia nacional.
Acompanhem.



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

LANÇAMENTO DO LIVRO A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO.O QUE MUDOU?POR QUE MUDOU?

 Por Marco Aurélio Luz
 No lançamento do livro encontro da autora  Professora Doutora Ana Célia  da Silva UNEB e  da  Professora Doutora Narcimária Luz também da UNEB  e da  ACRA.


Em 24 de agosto foi lançado no CEAO o livro da Professora Doutora  Ana Célia da Silva  Silva: "A Representação Social do Negro no Livro Didático: O que Mudou? Por que Mudou?" Editado pela Edufba.
A professora Ana Célia sempre se destacou por demonstrar e denunciar o racismo presente nos livros didáticos através das representações deformadas do negro e de sua cultura assentadas nas ideologias que alimentam a Razão de Estado republicano na execução de sua política de embranquecimento.
Essa ideologia,se desdobra numa pedagogia do embranquecimento que tem por efeito produzir o recalque, atingindo a todos que participam do aparelho ideológico escolar prejudicando sensivelmente o aproveitamento, principalmente daqueles que se sentem agredidos em seu amor próprio por essa atuação.
No seu livro que obteve ampla repercussão, "A Discriminação do Negro no Livro Didático", editado pela Edufba em 1995, Ana Célia ilustrou com inúmeros exemplos de livros didáticos nas mais diversas áreas do ensino essa repressão ideológica.
Professora Ana Célia recebe as congratulações da Professora Ivete Sacramento ex Reitora da UNEB.



Após  quinze anos dessa pesquisa, ela volta a publicar para dizer aos seus leitores quais as mudanças que ocorreram, desde aquelas denúncias divulgadas através das suas pesquisas.
Parabéns Doutora Ana Célia da Silva pelo tirocínio e coragem que sempre a caracterizam na profissão de professora,no Movimento Negro Unificado e por aí afora...

  

MERCADOLOGIA E FUTEBOL


O tema da "mercadologização" da vida e seus valores,vem sendo cada vez mais tratado com o avanço das relações  capitalistas de produção e consumo invadindo espaços infensos aos interesses predominantemente econômicos,  como a religião e o esporte. Hoje a paixão clubística romântica do futebol profissional, vem sendo objeto de manipulações de “marketing” visando  atender aos mais diversos interesses econômicos e financeiros. Marcos Luz, formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal da Bahia-UFBA analisa num estudo de caso aspectos desse fenômeno, sem trocadilho. 

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Por Marcos Gonçalves Pires Luz
Contextualização

O futebol e seus componentes atuais é o foco deste caso, é bom lembrarmos que até a década de 80 dava-se pouca importância ao marketing seja por parte dos clubes, seja por parte das outras entidades do futebol(Confederações estaduais, confederações internacionais ou FIFA). Porém  em meados da década de 90 iniciou-se um movimento pró-marketing no futebol, e no início da atual década houve um “BUM” e a grande maioria dos clubes tem um departamento de marketing desenvolvendo estratégias. O importante mesmo era ganhar os jogos, ser campeão, tanto para dirigentes como para torcedores. Há dois tipos de torcedores(consumidores), os associados e os simpatizantes, que vão além da simpatia do clube, na verdade são torcedores de jogadores, por exemplo: qualquer clube que o Ronaldinho Gaúcho jogar, vou torcer para o Ronaldinho e por conseqüência, para o clube.
O Real Madrid conseguiu o que qualquer empresa do mundo quer, visão mundial da empresa(clube) e inserção no mercado asiático(mercado que mais cresce ultimamente). O Real Madrid é visto com bom olhos em qualquer parte do mundo(com exceção da Catalunha), e muitos torcedores de outro clube, seja no Brasil ou no Japão acabam torcendo por ele(ou pelo seus jogadores), visto que o Real Madrid tem poderio econômico para contratar os melhores do mundo. E faz disso uma bandeira do clube, contrata estrelas(os galácticos) e os mais carismáticos jogadores, para depois fazer um marketing agressivo em cima deles,como  exemplo as  excursões  anuais à Ásia e EUA.
Imagem disponível em http://www.ludopedio.com.br/rc/index.php/futebolarte/view/916
Os concorrentes do Real Madrid são os outros clubes e podem ser classificados em três esferas, Espanhóis, Locais e Mundiais. Os Espanhóis mais importantes são: Barcelona, Atlético de Madrid, Valencia, Sevilha, e outros clubes da Espanha de menor expressão. Os Locais são os clubes de outros países em que o Real quer estabelecer suas ações de marketing, no Japão um bom exemplo é o Kashima Antlers(clube em que Zico jogou e ainda tem muitos brasileiros), nos EUA poderia ser citado o Los Angeles Galaxy, no Brasil o melhor exemplo é o São Paulo que também desenvolve forte atuação no marketing. E os Mundiais seriam mais na verdade (por enquanto) clubes europeus que têm forte atuação marketeira, são exemplos: Manchester United, Chelsea, Bayern de Munique, Milan, entre outros.
Vale a pena complementar o texto do caso, atualizando-o, Florentino Pérez sofreu várias críticas e conseguiu ficar três anos consecutivos sem nenhum título sendo demitido em 2006, hoje o presidente disposto a acabar com o jejum de títulos do Real Madrid chama-se Ramón Calderon. Tem um estilo diferente de Pérez talvez até pela situação atual do clube, que continua mal.
Definição do Problema

O grande problema do caso está na ambigüidade que se faz necessária para prosperar no marketing do futebol. O primeiro marketing para um clube é a vitória, o título. O Real Madrid antes de ter uma intensificação maciça na área de marketing, era um clube que ganhava muitos títulos, desde torneios amistosos como o Teresa Herrera e Ramon de Carranza, como campeonatos espanhóis, copas do rei, campeonatos europeus e campeonatos mundiais. Contudo, depois dessa política de marketing primeiro, futebol depois, aos poucos o Real foi caindo e hoje em dia não briga mais por títulos, briga para conseguir jogar a Liga dos Campeões, onde não tem condições de título também.
 

Logo, o que sustenta a campanha de marketing do Real Madrid são suas glórias do passado. É preciso ganhar para continuar a ter lucros exorbitantes, pois em seguida só com os “galácticos” não será possível continuar com os mesmos lucros nem obviamente aumenta-los.
Conclusão

A solução do problema parece ser fácil, mas o difícil é implementá-la, já que temos duas frentes para serem desenvolvidas. Uma frente, talvez a mais importante do futebol, é a torcida, os associados. A outra seria a dos simpatizantes, onde hoje em dia, é a menina dos olhos do marketing no futebol.

Na primeira frente, o ideal é montar um time mais do que competitivo, um time vencedor, e para isso não basta apenas investir em estrelas de dentro do gramado, tem que se investir fora dele também, desde a comissão técnica (para a parte tática e técnica do time), passando pelos preparadores físicos, médicos até seus dirigentes(ter um diretor de futebol que entenda de futebol por exemplo). Ter jogadores que possam se identificar com o clube ao invés de jogadores “mercenários”.

Já na segunda frente, é preciso montar uma estratégia que não derrube a primeira, o importante é achar o equilíbrio, visto que as duas são muito importantes hoje em dia. Dificilmente vai existir um time só de galácticos que seja vencedor, pois o problema começa com as guerras de vaidades. Uma boa estratégia seria desenvolver estrelas depois que ela já estivessem no clube criando assim uma identidade dos novos astros com o clube, e claro investir em um ou dois craques consagrados para facilitar a penetração nos mercados alvos do marketing.