segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

AGADÁ, DINÂMICA DA CIVILIZAÇÃO AFRICANO-BRASILEIRA



Capa da 3ª Edição do clássico livro 
Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira
de Marco Aurélio de Oliveira Luz



                                                                  Por Narcimária C.P.Luz

A Editora da Universidade Federal da Bahia lançou essa semana a 3ª edição do livro Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira, de autoria de Marco Aurélio de Luz.
Esse grande clássico das Ciências Sociais, originou-se da tese de Doutorado do Professor Marco Aurélio no âmbito da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro defendida em outubro de 1989.

Professor Marco Aurélio defendendo a sua tese na UFRJ

A banca de Doutorado da esquerda para a direita Professores/as Márcio Tavares do Amaral,Ivone Maggie,o orientador da tese Carneiro Leão,Patrícia Birman e Muniz Sodré.
Acompanhando a defesa no auditório estão as professoras Helena Teodoro e Narcimária Luz.

Professor Marco Aurélio defendendo a sua tese na UFRJ.
Na mesa compondo a sua defesa, uma das suas esculturas Exu Odara

Após a conclusão do Doutorado,o professor Doutor Marco Aurélio Luz foi para a França dedicar-se ao Pós-Doutorado na Université Paris Descartes – Sorbonne, Centre D’Etude Sur L’Actuel et le Quotidien-CEAQ  sob a coordenação do Professor Michel Maffesoli.
O CEAQ  realiza  pesquisas com foco internacional, principalmente aquelas dedicadas às  novas formas de sociabilidade e a imaginação em suas diversas formas
No CEAQ o professor Marco Aurélio colaborou através de diversas atividades de pesquisa,publicações e palestras.


Professor Marco Aurélio  numa visita a biblioteca da Sorbonne

Professor Marco Aurélio apresentando uma das suas pesquisas no auditório Èmile Durkheim na Sorbonne


 Auditório Èmile Durkheim na Sorbonne



 Michel Maffesoli,Marco Aurélio e Narcimária Luz  no auditório Èmile Durkheim na Sorbonne



 Uma das abordagens desenvolvidas pelo Professor Marco Aurélio na Sorbonne foi publicada na Revista Sociétés.O ensaio apresentado foi "Arkhé et Axexé:les communautés afro-brésiliennes,ethos,langage et identité"

De volta para o Brasil,em 1995 o livro Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira é publicado pela EDUFBA,tornando-se um dos livros mais lidos e citados na ambiência científico-acadêmica no que se refere a abordagem sobre o contínuo civilizatório africano nas Américas.
Agadá integra também,  o acervo de bibliotecas brasileiras e de instituições de estudos e pesquisas internacionais.


Marco Aurélio autografando o livro Agadá na noite de lançamento em 1995


Mãe Celina no lançamento do Agadá que aconteceu no Centro de Estudos Afro Orientais-CEAO 

Prestigiaram o lançamento o saudoso e querido Mestre Didi e seus netos herdeiros do seu legado na tradição africano brasileira SrºAntônio Carlos dos Santos Oloxedê  Nilê Asipá e Cátia Dos Santos Osi Babadaraô NiIlê Asipá




                                      Professor Narciso prestigiando o lançamento

                                           Em destaque França dos NEGÕES

     Narcimária e Marco Aurélio no lançamento do Agadá

Em destaque na mesa a escultura do Oxê Xangô 

Após essa breve retrospectiva sobre o clássico AGADÁ: dinâmica da civilização africano-brasileira,passaremos a abordar a seguir aspectos que comunicam a força do pensamento desenvolvido por Marco Aurélio Luz.

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AGADÁ e o Programa de Descolonização e Educação-Prodese.


Nosso propósito aqui é aproximar os/as educadores/as de uma das obras mais importantes produzidas no Brasil sobre a civilização africana e seu contínuo nas Américas, refiro-me a “AGADÁ: dinâmica da civilização africano-brasileira”, de autoria de Marco Aurélio Luz, obra muito citada, pois se tornou alicerce para diversos estudos e pesquisas de muitas gerações nas universidades brasileiras.
A obra AGADÁ: dinâmica da civilização africano-brasileira, é um dos principais lastros teórico-epistemológico da equipe de professores-pesquisadores do PRODESE-Programa Descolonização e Educação, e pelas contribuições que vêm alicerçando nossas iniciativas resolvemos apresentar nesse espaço, aspectos que demonstram o quão necessário é atuar na área de Educação, com maturidade de conhecimentos vinculados às comunalidades africano-brasileiras, e é sobre isso que trata de modo especial o livro AGADÁ.


 Esculturas  em madeira de Marco Aurélio Luz 
Exposição organizada pela equipe PRODESE sob a curadoria do professor e artista plástico Ronaldo Martins
Hall do Departamento de Educação do Campus I UNEB/2005
Nossas referências no campo do Direito à Alteridade Civilizatória Africano-Brasileira que vimos fomentando e sistematizando nos nossos trabalhos no Programa Descolonização e Educação PRODESE, (Grupo de Pesquisa vinculado à Universidade do Estado da Bahia e ao Diretório de Grupos do CNPq), foram introduzidas na área de Educação nos anos 1980 pelo Professor Doutor Marco Aurélio Luz na sua atuação no âmbito da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ e Universidade Federal da Bahia-UFBA nas Linhas de Pesquisa e na Pós Graduação sob a sua responsabilidade.
A produção acadêmico-científica do Professor Doutor Marco Aurélio Luz no campo da Diversidade Cultural e Educação em que a dinâmica da civilização africano-brasileira ganha relevo, se constitui a partir da sua inserção comunitária que lhe permitiu vivenciar a primeira experiência de educação pluricultural, no Brasil, a Mini Comunidade Oba Biyi (1976-1986).

Marco Aurélio tendo à sua volta as crianças que participaram da Mini Comunidade Oba Biyi


Durante dez anos a Mini promoveu com muito êxito a educação de crianças e jovens vinculados a uma comunalidade tradicional da Bahia, Ilê Axé Opô Afonjá na territorialidade do Cabula em Salvador, Bahia.
O nome da Mini Oba Biyi, que significa em yorubá “o rei nasce aqui”, vem da homenagem ao nome sacerdotal nagô de Eugênia Anna dos Santos, a Iyalorixá fundadora do Ilê Opô Afonjá na territorialidade do Cabula em Salvador, Bahia. Quando Mãe Aninha, a Iyá Oba Biyi, implantou a comunidade-terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá em 1910 nas imediações do Cabula (onde está a nossa UNEB) foi porque considerou, sobretudo, que aquele território estava profundamente marcado pelo passado heróico de continuidade civilizatória, rico em axé e forças míticas emanadas pelos antepassados africanos do quilombo do Cabula.
Esse território se impregnou de profundo significado histórico para a população africano-brasileira, que reelaborou, no local, modos de sociabilidade ancorados à preservação da memória coletiva das comunidades que ali existiram.
A Mini Oba Biyi fomentou uma epistemologia educacional africano-brasileira que se transformou num legado importante para muitas gerações de educadores/as.


[...] Para atender as expectativas das crianças e jovens integrantes de uma comunidade de tradições culturais afro-brasileira, e que se sentiam rejeitadas pelas escolas do sistema oficial de ensino, constituiu-se um novo “continente pedagógico” que iria caracterizar o projeto educacional Mini Comunidade Oba Biyi. O caminho indicado na primeira metade do século passado por Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi, de ver as crianças da comunidade no dia de amanhã “de anel no dedo e aos pés de Xangô ”inspirou a trajetória de nascimento de uma nova linguagem educacional. Fundou-se um espaço pedagógico assentado na recriação das linguagens e nos valores da comunidade. Da tradição nasceu o novo; gerado na criação um novo currículo, uma nova forma de aprendizagem. Uma revolução à lá Copérnico, uma inversão, o sol e não a Terra está no centro do universo. A cultura que guarda o saber da tradição comunitária passa a ocupar o centro da experiência educacional [...] [1]


É preciso registrar isso! É no currículo da Mini Comunidade Oba Biyi que começam as reflexões na área de Educação, tendo a alteridade civilizatória africano-brasileira como base no âmbito acadêmico, numa tentativa de aproximar os educadores do singular universo de linguagens africano-brasileiras.

 Marco Aurélio Luz dá entrevista a Revista Escola  sobre a Mini Oba Biyi em 1986
Na efervescência das reflexões feitas até aqui, algumas perguntas, a princípio, se impõem:
Como é possível a “formação” de educadores/as para a História e Cultura Afro-brasileira sem aproximá-los da base epistemológica do continuum civilizatório africano nas Américas e Brasil? Como é possível a “formação” de educadores/as para a História e Cultura Afro-brasileira sabendo que muitos deles/as estão submetidos à ideologia do recalque que os afasta/as das linguagens próprias das nossas comunalidades?Como superar o discurso da historiografia etnocêntrico-evolucionista (que “forma” nossos educadores/as) que recalca a força do patrimônio civilizatório africano? Como é possível a “formação” de educadores/as para a História e Cultura Afro-brasileira se muitos deles/as se afastaram das suas origens, das suas comunalidades, não se reconhecem como afro-brasileiros/as? Como é possível a “formação” de educadores/as para a História e Cultura Afro-brasileira que assegurem às nossas crianças e jovens espaços educacionais que lhes permitam vivenciar de forma ininterrupta, num aqui e agora, nossas origens, nossa ancestralidade milenar africana, cuja dinâmica vem impulsionando várias gerações a lutar pelo direito à existência própria?

Autocoreográfico de autoria de Mestre Didi  "Odé e os Orixá do Mato" dramatizado pelas crianças da Mini Oba Biyi

Essas inquietações próprias de todos/as aqueles/as educadores/as que acreditam ser possível erguer espaços institucionais capazes de acolher os valores da civilização africano-brasileira que estruturam as comunalidades, podem ser aplacadas através do estudo apurado de Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira.


A FORÇA DO NEGRO ESTÁ NA SUA PRÓPRIA CIVILIZAÇÃO [2]

Capa da 1ª Edição
Agadá é o nome da espada de Ogum, com a qual ele abre caminhos para a expansão da civilização africana pelos quatro cantos do mundo. Ogum tem o título de Asiwajú o que vai à frente desbravando, inaugurando caminhos e lidando com o mistério do desconhecido. Está associado ao princípio do ferro, metalurgia, a transcendência do conhecimento da pedra para os metais.
É ao sabor desse universo mítico-simbólico, que caracteriza o discurso e linguagens transcendentes próprias da elaboração de mundo africano, que o autor desenvolverá de modo singular e original sua abordagem, apelando para o mito como discurso primordial.


        Expressão de OXUMARÊ, arco íris fluxo dos destinos multiplicidade da vida
Foto M.A. Luz
Através da simbologia da espada Agadá, Marco Aurélio nos apresenta um fluxo de informações valorosas sobre as instituições das tradições africanas no Brasil, seu universo de valores e linguagens, como também as tensões e conflitos que se estabelecem na relação com as políticas etnocêntricas da Razão de Estado no decorrer da nossa história.
A singularidade da obra reside, sobretudo, na ruptura que o autor provoca com os limites positivistas, valorizando a partir daí as narrativas míticas da tradição africana como fonte da pujança do contínuo da civilização africana antes do período colonial e neocolonial. Sublinha ainda, que o elo mais forte do sistema colonial mercantilista escravista europeu foi o capital financeiro, e nele a atividade mais rentável, era o tráfico escravista que caracterizava a pedra angular do triângulo comercial Europa, África e América.Por outro lado, o livro nos leva a perceber que o elo mais fraco desse sistema era o próprio tráfico escravista, que proporcionava a incessante vinda dos africanos para as Américas, o que propiciou a expansão constante da insurgência de africanos nas Américas, a exemplo de fatos históricos como Palmares, independência do Haiti, os grandes quilombos da Jamaica, Cuba e principalmente a luta de afirmação existencial cotidiana do povo negro, inviabilizando a acumulação mercantil escravista.
As populações negras são apresentadas no livro como sujeitos coletivos da história, que interfere diretamente no fim do tráfico e da escravatura, além de repor nas Américas suas comunidades e instituições baseadas em seus valores, linguagens e formas de sociabilidades das suas diversas tradições.


                                   IBEJI, escultura de Marco Aurélio Luz
Para o autor,
[...] os princípios inaugurais da civilização africana, os princípios de valores e linguagens que sustentam toda a visão de mundo de uma civilização, de tradição milenar, foram transportados para a América, especialmente para o Brasil e especificamente para a Bahia. No que se refere a determinados pólos, houve a continuidade desses princípios, mantendo essa dimensão muito antiga, milenar, porque eles se caracterizam por uma continuidade de uma civilização que se constituiu desde tempos muito antigos na África. Transpostos para o Brasil, eles se adaptaram, se caracterizaram de uma forma própria, mas mantiveram intactos os princípios fundamentais. (...) Essa tradição africano-brasileira ela remonta a um passado da humanidade muito rico e significativo, e nós temos que perceber essa riqueza na nossa sociedade. [3]


È importante destacar a coexistência do contínuo civilizatório africano com a civilização aborígine, caracterizando a pluralidade das nações nas Américas e marcam formas de enfrentamento ao Estado nação moderno europocêntrico. Agadá aprofunda a perspectiva que trata a tensão entre os valores etnocêntrico-evolucionista que regem a sociedade oficial e as comunalidades africano-brasileira e aborígine demonstrando, que é no seio dessa tensão, que se dá a dinâmica histórica das formações sociais nas Américas para além do paradigma das lutas de classes.
Essas tensões se caracterizam pelo colonialismo e seus desdobramentos estratégicos como: catequização, políticas genocidas, políticas de embranquecimento, repressão, recalque; por outro lado, a insurgências negras e aborígines pela afirmação existencial e coletiva dos seus patrimônios civilizatórios.
Assim, essa luta envolve, portanto, formas, geralmente, desprezadas pelos cientistas sociais, ou seja, uma dinâmica na microfísica do poder rotulada como “cultura”, que abarca as tentativas de impor valores e políticas de abandono para atender ao projeto neocolonial e imperialista.
Agadá inaugura e desbrava caminhos teórico-epistemológicos que indicam que nos interstícios do Estado moderno, uno, positivista, a comunalidade africano-brasileira repôs suas tradições, instituições, sociabilidades mantendo com dignidade o legado dos seus antepassados, características essenciais no exercício do direito à sua alteridade civilizatória.
Muniz Sodré Cientista Social e Presidente da Fundação Biblioteca Nacional afirma ser Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira[4]:


Muniz Sodré

[...] um trabalho realmente original, por ser o primeiro a inscrever a presença do negro brasileiro numa dinâmica civilizatória, qualificando-a como uma dialética própria na questão do entrecruzamento das diversas nações [...]. A pesquisa de Marco Aurélio contribui para o reforço da compreensão crescente de que as divindades do panteão africano (orixá, voduns, inquices) não são entidades apenas religiosas, mas principalmente, suportes simbólicos, isto é, condutores de regras sociais, para a continuidade de um grupo determinado. Zelar por um orixá, ou seja, cultuá-lo nos termos da tradição implica aderir a um sistema de pensamento, uma filosofia, capaz de responder a questões essenciais sobre o sentido da existência do grupo.
Michel Maffesoli, professor da Sorbonne e Diretor do Centre D´Etudes sur L´Actuel et le Quotidien da Université Paris V, considera Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira[5]:
Professor Michel Mafessoli assistindo a palestra do Professor Marco Aurélio na Sorbonne

[...] como modelo de trabalho sócio-antropológico. Ele alia ao mesmo tempo um bom conhecimento histórico, uma análise pertinente da cultura, tudo a partir de uma problemática teórica das mais pertinentes. Desse ponto de vista, a sinergia entre os diversos elementos indicados fazem deste livro um trabalho dos mais prospectivos para compreender as sociedades contemporâneas.
Por fim, insisto aqui em afirmar uma análise que venho desenvolvendo em cursos, palestras, entrevistas, etc: a contribuição desse clássico Agadá, para nós educadores/as, está em nos permitir a compreensão da África e sua expansão nas Américas, a partir do repertório das comunalidades que a (re) criaram aqui, tornando-a visceral em nossas vidas. 
A África que aparece no currículo escolar tende a soar como um lugar distante, tudo é estranho, fora das nossas entranhas. Essa África que ganha o status jurídico no âmbito das políticas de Educação, perde a dinâmica de civilização transatlântica que há muito atravessa o nosso viver cotidiano no Brasil.
Ora, se estamos dentro da dinâmica entre tradição e contemporaneidade, é preciso que se diga: a África também está aqui! Está aqui o tempo todo envolvendo nossas crianças e jovens, animando-os a estruturar suas identidades e erguer a cabeça para lidar com os espaços institucionais impregnados do recalque ao que somos, enquanto povos descendentes de africanos.
 Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira magnifica a episteme africana, abrindo perspectivas de afirmação do princípio de ancestralidade que dinamiza o estar no mundo de muitas comunalidades na Bahia, portadoras de sabedorias milenares.


[1] Entrevista ao blog da ACRA - Associação Crianças Raízes do Abaeté. Out 2009. http://blogdoacra.blogspot.com/
[2] Marco Aurélio Luz em entrevista a Lago Júnior, A Tarde, Salvador, 17 de junho de 1995. Caderno Cultural
[3]Entrevista a Lago Júnior, A Tarde, Salvador, 17 de junho de 1995. Caderno Cultural
[4] Carta enviada ao autor a propósito do lançamento da segunda edição da obra.
[5] Carta enviada ao autor a propósito do lançamento da segunda edição da obra.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

PARTICIPAÇÂO DO PRODESE EM EVENTOS DE NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2013

Por Marco Aurélio Luz


 Nos meses de novembro e dezembro de 2013 o PRODESE representado pela Professora Doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz, participou de três mesas redondas em eventos científicos nacionais e internacionais. 
Procuraremos resumir as participações a começar pelo EPENN, o XXI Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste realizado entre os dias 10 a 13 na Universidade Federal de Pernambuco no campus de Recife.
A temática do Encontro foi Internacionalização da Educação e Desenvolvimento Regional. A Mesa que recebeu as contribuições do PRODESE foi  realizada no dia 12 no auditório do Centro de Tecnologia e Geociências teve como tema Cidadania e Diversidade.




A Mesa foi formada por:

Diomar das Graças Motta- Universidade Federal do Maranhão
Narcimária do Patrocínio Luz- Universidade do Estado da Bahia/Programa Descolonização e Educação-Prodese
Rosângela Tenório- Universidade Federal de Pernambuco
Mariza Carvalho Coordenadora- Universidade Federal de Pernambuco



Dra. Diomar


A comunicação da Dra. Diomar foi sobre a trajetória de luta das mulheres em geral para alcançar os direitos de cidadania plena vencendo as restrições e obstáculos políticos, ideológicos e econômicos. Essa luta ainda acontece nos dias atuais apesar das muitas conquistas alcançadas.
A comunicação da Dra. Narcimária foi demonstrar que a constituição da República no Brasil, repousa num patamar ideológico eurocêntrico que alimenta a Razão de Estado, fomentando a discriminação e  políticas genocidas em relação aos povos constituintes da origem da nação como os aborígines e os oriundos do continente africano.



Dra. Narcimária demonstrou que desde o império quando se fomentou a política do embranquecimento da população, D. PedroII procurou reforçá-la com a vinda dos ideólogos franceses como  o Conde de Gobineau e  Lapouge que implantaram na Razão de Estado as sementes da ideologia do racismo e das políticas de eugenismo.

Discorreu sobre seus sucessores como o médico  Nina Rodrigues com sua psiquiatria da época, relacionando a crise de histeria com a manifestação de entidades pelas sacerdotisas das religiões africano-brasileiras,com o propósito de  afirmar  que "o negro é incapaz de civilização". O médico italiano Cesare Lombroso autor da teoria do "criminoso nato"  influenciou Nina Rodrigues, e sua ideologia foi adotada na Universidade da Bahia na época e depois nas décadas seguintes, teve continuação nas reformulações do psicanalista eugenista Arthur Ramos e tantos outros cientistas sociais, juristas e educadores.



Flagrante do Auditório


O fato é que todos esses ideólogos alimentaram a política da discriminação, impedindo os segmentos mais expressivos da nação de conquistarem direitos de cidadania plena e mais ainda,o direito de ficarem  livres das políticas genocidas. Estando no nordeste, não podemos esquecer da história de Canudos nos inícios da República e seus atuais desdobramentos.

Narcimária referiu-se ainda, sobre um desenho de um menino kachinawá que apontava a escola como ¨fábrica de transformação dos povos indígenas em branco¨ .
Para encerrar Narcimária citou como um exemplo de educação pluricultural, a experiência pioneira (1976-1986) da Mini Comunidade Oba Biyi realizada na Bahia representando um valioso desdobramento dos valores e linguagens da tradição cultural africano-brasileira.




Dra. Rosângela

A Dra. Rosângela Tenório explorou aspectos de histórias em quadrinhos de autores europeus, que descrevem o infortúnio dos imigrantes judeus que têm que viver em contextos sociais exógenos a sua identidade própria, e têm que se adaptar em meio a discriminações.
 disse que num evento na Guatemala com a presença de muitos povos índigenas lhe perguntaram qual era sua nação. Surpresa, ela foi no "fundo do baú" de sua memória,  lembrando da sua família do interior e de seus pais e avós que diziam ser da nação Fulni-ô.



Grupo da nação Fulni-Ô


Quando respondeu que ela é Fulni-Ô sentiu-se integra, emocionada e confortada.
Encerradas as atividades houve, numa feira de livros, o lançamento de Descolonização e Educação publicação do PRODESE e editora CRV organizado pela Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz.

Outro Evento foi o II Fórum Internacional 20 de Novembro na Universidade Federal do Recôncavo em Cruz das Almas.
O PRODESE na pessoa da Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz participou do Simpósio1: Educação e Relações Étnico-raciais na Sociedade do Conhecimento.
Fizeram parte do simpósio:
Dra. Ana Célia Silva- UNEB
Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz
Dra. Martha Rosa F. Queiroz- Fundação Palmares
Mediadora: Dra. Rita Dias (CAHL/UFRB)



Portal do Fórum no campus de Cruz das Almas


O simpósio foi realizado no dia 21 na sala Dr. Kabengele Munanga



A mediadora Profa. Rita Dias

Após as apresentações pela mediadora, a palavra passou para a Dra. Ana Célia que dissertou sobre a representação do negro no livro didático.

Escolheu o livro didático por ser um instrumento de recalque e discriminação das crianças negras no sistema de ensino gerando não só a baixa da auto- estima, envolvendo problemas emocionais que tem por consequência não só o  comprometimento do aproveitamento escolar como até mesmo a evasão.
Apoiando-se no conceito de representação social, suas pesquisas comprovaram a discriminação e o preconceito e que geraram a dissertação de mestrado, e que depois se transformou num livro de ampla circulação.
Durante o doutorado resolveu manter-se no mesmo tema para avaliar que mudanças houveram ocorrido depois de muitas denúncias.
De fato constatou que houve mudanças, em geral, para melhor, não só nos conteúdos mas também nas ilustrações.
As pesquisas geram então a tese de doutorado que também se transformou num livro.
Após os aplausos a palavra passou par a representante da Fundação Palmares, Dra. Martha Rosa Queiroz. Ela chegou num pé e voltou noutro. Deu seu recado acentuando o preconceito em relação as crianças e jovens negros (as) aludindo a entronização da matemática e a valorização da abstração no sistema de ensino e que em conseqüencia vão criticar os que emergem de outras culturas em que a abstração não se limita  a números. Deu vários exemplos de como a abstração está presente na cultura e no ¨fazer¨ do mundo negro.
Pediu licença e saíu para atender outros compromissos.
Após apresentou-se a Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz que começou demonstrando as falácias e ignomínias da tal ¨abstração¨ mostrando como a projeção de um Mapa Mundi da época colonial proporcionou e assegurou a divisão de terras e conquistas de europeus sobre outros continentes.
Desde então a contabilidade da acumulação de dinheiro reduz todos os seres à números. No caso dos povos africanos aqueles seres escravizados eram  reduzidos pelo escravismo à ¨peças¨ uma medida métrica que envolvia o comércio da escravidão.




Dra. Narcimária

Cada vez mais o capital, a contabilidade da incessante acumulação de dinheiro, vem regendo os valores da chamada ¨sociedade moderna¨ e seus desdobramentos ideológicos como essa  ¨sociedade de conhecimento¨ reduzida a corrida tecnológica que apóia os valores  dessa acumulação, passando por cima da natureza e estabelecendo mega- cidades voltadas para produção e consumo de bens que como disse Foucault é onde predomina ¨a luta de todos contra todos¨.
Após usando a linguagem dos akpalo, contadores de história do patrimônio cultural nagô/yoruba narrou o conto O Filho de Oxalá que se Chamava Dinheiro, publicado no livro Contos Negros da Bahia de Mestre Didi.



Dra. Narcimária

Resumidamente, o conto dá o seguinte alô:
Dinheiro é o nome de um filho de Oxalá muito poderoso mas também muito arrogante e prepotente.
Um dia ele invadiu e interrompeu uma reunião de anciões, e se dirigindo a Oxalá disse quer era tão poderoso que podia capturar e trazer Morte até aquele local. Após se retirou deixando todos admirados com tamanha ousadia.
Depois de alguns estratagemas ele conseguiu o que queria e levou Morte enredado numa rede até o local das reuniões.
Diante de todos se gabou do feito. Todavia Oxalá enfurecido mandou que se retirasse e que dali em diante sempre estaria ao lado de Morte...



Flagrante do Auditório 

Conclusão há que se ter cuidado, cautela e parcimônia com Dinheiro.
Após os aplausos A Dra. Narcimária registrou a presença do Dr. Marco Aurélio Luz, sem o qual não teria sido possível a trajetória de sua produção acadêmica tal qual é.
Aberta a palavra para o auditório o Dr. Claudio Orlando manifestou-se no mesmo sentido dizendo que a presença do professor Dr. Marco Aurélio Luz na graduação e pós graduação da Faced Ufba abriu novos caminhos para que hoje estivéssemos ali tratando de assuntos ligados a Educação, Identidade e Pluralidade Cultural.
Uma outra assistente agradeceu as contribuições da Dra. Ana Celia com quem muito tem aprendido.
A Dra. Ana Célia se manifestou também no mesmo sentindo de agradecimento dizendo que o professor Dr. Marco Aurélio Luz foi o orientador de sua dissertação de Mestrado que rendeu a publicação do livro inclusive também fazendo o prefácio.




Um encontro antes da palestra no II Fórum Internacional 20 de novembro.
Da esquerda para a direita Professores/as Romilson Souza,Narcimária Luz,Zelinda,Valdélio Silva,Ana Célia da Silva e Marco Aurélio Luz.


O Prof. Marco Aurélio Luz agradeceu dizendo que a gratidão é um valor muito especial, e acrescentou que por sua vez devia agradecer a tudo que vem realizando à tradição civilizatória inerente as comunidades tradicionais africano- brasileiras especialmente a influência absoluta de seu pai Mestre Didi Axipa Alapini, cujo pensamento futuro está ainda para ser reconhecido em sua profundidade pela intelectualidade afro-brasileira e brasileira e em geral.

Em 3 de dezembro, a professora titular plena Narcimária C. P. Luz  organizou uma mesa redonda pelo PRODESE na Jornada Pedagógica do DEDCI, realizada no auditório Jurandir de Oliveira na UNEB.
Participaram da mesa além da Dra. Narcimária os professores:
Valdélio Santos Silva
Janice de Sena Nicolin
Marco Aurélio Luz



Encontro dos autores/as do livro "Descolonização e Educação;diálogos e perspectivas metodológicas"Narcimária Luz,Valdélio Silva,Marco Aurélio Luz e Janice de Sena Nicolin do  PRODESE na Jornada Pedagógica do Departamento de Educação da UNEB


A Professora Narcimária iniciou falando que a temática seria uma abordagem sobre os ensaios que constituem a publicação do PRODESE, Descolonização e Educação:diálogos e proposições metodológicas.

Após referiu-se ao seu tema Descolonização e Educação:por uma epistemologia africano-brasileira. Se referiu ao fato que essa epistemologia se assenta no contínuo civilizatório que está contido basicamente na comunalidade africano- brasileira, isto é, a rede de comunidades que mantém e expandem a tradição. Seguindo estratégias dos mais antigos.Como Mãe Aninha que dizia envergar para não quebrar, mas também que quando muito se abaixa alguma coisa aparece, e Mãe Senhora indicando caminhos, da porteira para dentro da porteira para fora, ou Mestre Didi, trabalhando como cupim, são indicações valiosas para poder se elaborar recriações pedagógicas na Educação do Sistema de Ensino.
 Várias experiências já podem se constituir em indicações valiosas para a continuidade dessa nova pedagogia. Poderia citar algumas que tenho mais familiaridade, como a  Mini Comunidade Oba Biyi e seus





Grupo do ACRA participa de evento semestral com a peça A CANÇÃO DO INFINITO autocoreográfico de autoria da professora  Narcimária C.P. Luz


desdobramentos como a ACRA, o Odeart, as linhas de pesquisa propostas por Marco Aurélio Luz na pós-graduação que geraram várias dissertações,  teses e publicações,também a criação de disciplinas na graduação, a fundação do grupo de pesquisa do PRODESE, a elaboração de inúmeras dissertações teses e publicações, as Revistas SEMENTES, livros, congressos, seminários, enfim já há um caminho percorrido que precisa não ser esquecido.

Após o professor Valdélio falou do processo de pesquisa que no caso das comunidades terreiros há necessariamente um envolvimento pois o saber nesse contexto é iniciático. Ele disse que de início ficou surpreso com a sabedoria dos mais antigos e tendo que se contentar com uma elaboração de perda de suas referências teóricas adquiridas ao longo de sua trajetória universitária. A partir desse ponto é que a ``pesquisa`` pode avançar.
Também nesse sentido caminhou as observações da professora Janice Nicolin. Disse que suas pesquisas se referem ao bairro do Cabula que foi um antigo quilombo e aí estão concentrados importantes fontes de expressão e expansão da cultura afro-brasileira como os terreiros do Axé Opô Afonjá e o Inzo Manzu Bandukenke o conhecido Bate Folha. Assim sendo o Cabula está eivado de história e continuidade das tradições culturais nagô/yoruba e congo/angola.
Portanto o sistema da ensino ali inserido para alcançar qualquer viabilidade de sucesso terá de abrir as portas para crianças e jovens que respiram a cultura do lugar.
Inspirada nos êxitos alcançados pela experiência da Mini- Comunidade Oba Biyi, localizada no Cabula, e em seus desdobramentos como a bibliografia já existente dos livros de Mestre Didi, Marco Aurélio Luz e de Narcimária Luz, ela foi trabalhando no sentido de dar forma e conteúdo ao grupo que é o  Odéarte do qual é coordenadora..




Odeart participa de evento do PRODESE com a peça de Mestre Didi


A montagem do autocoreográfico Odé e os Orixá do Mato de autoria de Mestre Didi foi um ponto fundamental para caracterizar o grupo e teve muito boa aceitação e receptividade por parte do público. A partir de então o Odearte realiza inúmeras ações culturais educativas, sempre proporcionando a afirmação da identidade da gente do Cabula e afins.
Após o professor Marco Aurélio Luz falou  de seu texto Dos Tumbeiros às Fábricas, Dos Quilombos às Comunalidades Afro-brasileiras. Apresenta o panorama do colonialismo mercantil escravista que entrelaça na Europa de então, o capital financeiro, o comercial e o produtivista, que promovem o tráfico triangular, a escravização na África o transporte e venda de africanos (as) nas Américas, a produção e comercialização de produtos, principalmente de açúcar para a Europa.
O tráfico triangular apoiado na manufatura naval e bélica engendra a formação do capital primitivo do capitalismo nascente.
Por outro lado a vinda de africanos gerou uma reposição dos reinos de origem nas Américas, um contínuo de civilização que inicialmente constituíu vários quilombos, o principal foi o de Palmares no Brasil, uma continuidade do reino do Ndongo da Rainha Ginga, e depois os de S.Domingos, o Haiti, quando os quilombolas derrotaram o exército de Napoleão e proclamaram a independência. Inúmeras comunidades de africanos e seus descendentes se formam nas Américas tanto no campo quanto nas cidades.




Ougan Mackandal ressurge da fogueira da condenação e irradia as chamas da libertação



Comandados de Dessalines derrotam as tropas de Napoleão




Comemoração da vitória da libertação


O desdobramento dessa luta foi que por iniciativa da Inglaterra criou-se uma estratégia capaz de encerrar a
vinda de africanos para as Américas e incentivar a vinda de europeus para estabelecer colônia não só de exploração, mas também de exploração e povoamento, o que se convencionou chamar de política de branqueamento.
Indepêndencia do Brasil, o fim do tráfico escravista e a abolição da escravatura abriram caminho para a proclamação da República no Brasil, aquela altura já sob a égide do domínio britânico e influências de outras nações europeias.
O capital financeiro e comercial se ajustam as fábricas e ao ¨trabalhador livre¨. A política de embranquecimento se constitui em pedra angular das tentativas de dominação, a ideologia do racismo, com suas variadas nuances, alimenta a razão de Estado e variados tipos de genocídio vem sendo cometidos.
Por outro lado o contínuo civilizatório africano brasileiro sustenta a rede de comunidades, a comunalidade que abriga os povos primordiais formadores da nação e que constituem sua forte identidade.