Por Marco Aurélio Luz
Nos meses de novembro e dezembro de 2013 o PRODESE
representado pela Professora Doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz,
participou de três mesas redondas em eventos científicos nacionais e internacionais.
Procuraremos resumir as
participações a começar pelo EPENN, o XXI Encontro de Pesquisa Educacional do
Norte e Nordeste realizado entre os dias 10 a 13 na Universidade Federal
de Pernambuco no campus de Recife.
A temática do Encontro foi Internacionalização da Educação e
Desenvolvimento Regional. A Mesa que recebeu as contribuições do PRODESE foi realizada no dia 12 no auditório
do Centro de Tecnologia e Geociências teve como tema Cidadania e Diversidade.
A Mesa foi formada por:
Diomar das Graças Motta- Universidade Federal do Maranhão
Narcimária do Patrocínio Luz-
Universidade do Estado da Bahia/Programa Descolonização e Educação-Prodese
Rosângela Tenório- Universidade Federal de Pernambuco
Mariza Carvalho Coordenadora-
Universidade Federal de Pernambuco
A comunicação da Dra. Diomar foi
sobre a trajetória de luta das mulheres em geral para alcançar os direitos de
cidadania plena vencendo as restrições e obstáculos políticos, ideológicos e
econômicos. Essa luta ainda acontece nos dias atuais apesar das muitas
conquistas alcançadas.
A comunicação da Dra. Narcimária
foi demonstrar que a constituição da República no Brasil, repousa num patamar
ideológico eurocêntrico que alimenta a Razão de Estado, fomentando a
discriminação e políticas genocidas em relação aos povos constituintes da
origem da nação como os aborígines e os oriundos do continente africano.
Dra. Narcimária demonstrou que desde o império
quando se fomentou a política do embranquecimento da população, D. PedroII
procurou reforçá-la com a vinda dos ideólogos franceses como o Conde de Gobineau e Lapouge que
implantaram na Razão de Estado as sementes da ideologia do racismo e das
políticas de eugenismo.
Discorreu sobre seus sucessores como o
médico Nina Rodrigues com sua psiquiatria da época, relacionando a
crise de histeria com a manifestação de entidades pelas sacerdotisas das
religiões africano-brasileiras,com o propósito de afirmar que "o negro é incapaz de civilização". O médico italiano Cesare Lombroso
autor da teoria do "criminoso nato" influenciou Nina Rodrigues, e sua ideologia foi adotada na Universidade
da Bahia na época e depois nas décadas seguintes, teve continuação nas
reformulações do psicanalista eugenista Arthur Ramos e tantos outros cientistas
sociais, juristas e educadores.
Flagrante do Auditório
O fato é que todos esses
ideólogos alimentaram a política da discriminação, impedindo os segmentos mais
expressivos da nação de conquistarem direitos de cidadania plena e mais ainda,o direito de ficarem livres das políticas genocidas. Estando no nordeste, não podemos esquecer
da história de Canudos nos inícios da República e seus atuais desdobramentos.
Narcimária referiu-se ainda, sobre um desenho
de um menino kachinawá que apontava a escola como ¨fábrica de transformação dos povos indígenas em branco¨ .
Para encerrar Narcimária citou como um exemplo
de educação pluricultural, a experiência pioneira (1976-1986) da Mini Comunidade
Oba Biyi realizada na Bahia representando um valioso desdobramento dos valores e linguagens da tradição
cultural africano-brasileira.
A Dra. Rosângela Tenório explorou aspectos
de histórias em quadrinhos de autores europeus, que descrevem o infortúnio dos
imigrantes judeus que têm que viver em contextos sociais exógenos a sua
identidade própria, e têm que se adaptar em meio a discriminações.
disse que num evento na
Guatemala com a presença de muitos povos índigenas lhe perguntaram qual era sua
nação. Surpresa, ela foi no "fundo do baú" de sua memória, lembrando da sua
família do interior e de seus pais e avós que diziam ser da nação Fulni-ô.
Grupo da nação Fulni-Ô
Quando respondeu que ela é Fulni-Ô
sentiu-se integra, emocionada e confortada.
Encerradas as atividades houve,
numa feira de livros, o lançamento de Descolonização
e Educação publicação do PRODESE e editora CRV organizado pela Dra.
Narcimária Correia do Patrocínio Luz.
Outro Evento foi o II Fórum Internacional 20 de Novembro na
Universidade Federal do Recôncavo em Cruz das Almas.
O PRODESE na pessoa da Dra.
Narcimária Correia do Patrocínio Luz participou do Simpósio1: Educação e Relações Étnico-raciais na
Sociedade do Conhecimento.
Fizeram parte do simpósio:
Dra. Ana Célia Silva- UNEB
Dra. Narcimária Correia do
Patrocínio Luz
Dra. Martha Rosa F. Queiroz-
Fundação Palmares
Mediadora: Dra. Rita Dias (CAHL/UFRB)
Portal do Fórum no campus de Cruz das Almas
O simpósio foi realizado no dia
21 na sala Dr. Kabengele Munanga
A mediadora Profa. Rita Dias
Após as apresentações pela
mediadora, a palavra passou para a Dra. Ana Célia que dissertou sobre a
representação do negro no livro didático.
Escolheu o livro didático por ser
um instrumento de recalque e discriminação das crianças negras no sistema de
ensino gerando não só a baixa da auto- estima, envolvendo problemas emocionais
que tem por consequência não só o
comprometimento do aproveitamento escolar como até mesmo a evasão.
Apoiando-se no conceito de
representação social, suas pesquisas comprovaram a discriminação e o
preconceito e que geraram a dissertação de mestrado, e que depois se
transformou num livro de ampla circulação.
Durante o doutorado resolveu
manter-se no mesmo tema para avaliar que mudanças houveram ocorrido depois de
muitas denúncias.
De fato constatou que houve
mudanças, em geral, para melhor, não só nos conteúdos mas também nas
ilustrações.
As pesquisas geram então a tese
de doutorado que também se transformou num livro.
Após os aplausos a palavra passou
par a representante da Fundação Palmares, Dra. Martha Rosa Queiroz. Ela chegou
num pé e voltou noutro. Deu seu recado acentuando o preconceito em relação as
crianças e jovens negros (as) aludindo a entronização da matemática e a
valorização da abstração no sistema de ensino e que em conseqüencia vão
criticar os que emergem de outras culturas em que a abstração não se
limita a números. Deu vários exemplos de
como a abstração está presente na cultura e no ¨fazer¨ do mundo negro.
Pediu licença e saíu para atender
outros compromissos.
Após apresentou-se a Dra.
Narcimária Correia do Patrocínio Luz que começou demonstrando as falácias e
ignomínias da tal ¨abstração¨ mostrando como a projeção de um Mapa Mundi da
época colonial proporcionou e assegurou a divisão de terras e conquistas de
europeus sobre outros continentes.
Desde então a contabilidade da
acumulação de dinheiro reduz todos os seres à números. No caso dos povos
africanos aqueles seres escravizados eram reduzidos pelo escravismo à ¨peças¨ uma medida
métrica que envolvia o comércio da escravidão.
Cada vez mais o capital, a
contabilidade da incessante acumulação de dinheiro, vem regendo os valores da
chamada ¨sociedade moderna¨ e seus desdobramentos ideológicos como essa ¨sociedade de conhecimento¨ reduzida a corrida
tecnológica que apóia os valores dessa
acumulação, passando por cima da natureza e estabelecendo mega- cidades
voltadas para produção e consumo de bens que como disse Foucault é onde
predomina ¨a luta de todos contra todos¨.
Após usando a linguagem dos
akpalo, contadores de história do patrimônio cultural nagô/yoruba narrou o
conto O Filho de Oxalá que se Chamava
Dinheiro, publicado no livro Contos Negros da Bahia de Mestre Didi.
Resumidamente, o conto dá o
seguinte alô:
Dinheiro é o nome de um filho de
Oxalá muito poderoso mas também muito arrogante e prepotente.
Um dia ele invadiu e interrompeu
uma reunião de anciões, e se dirigindo a Oxalá disse quer era tão poderoso que
podia capturar e trazer Morte até aquele local. Após se retirou deixando todos
admirados com tamanha ousadia.
Depois de alguns estratagemas ele
conseguiu o que queria e levou Morte enredado numa rede até o local das
reuniões.
Diante de todos se gabou do
feito. Todavia Oxalá enfurecido mandou que se retirasse e que dali em diante
sempre estaria ao lado de Morte...
Flagrante do Auditório
Conclusão há que se ter cuidado,
cautela e parcimônia com Dinheiro.
Após os aplausos A Dra.
Narcimária registrou a presença do Dr. Marco Aurélio Luz, sem o qual não teria
sido possível a trajetória de sua produção acadêmica tal qual é.
Aberta a palavra para o auditório
o Dr. Claudio Orlando manifestou-se no mesmo sentido dizendo que a presença do
professor Dr. Marco Aurélio Luz na graduação e pós graduação da Faced Ufba
abriu novos caminhos para que hoje estivéssemos ali tratando de assuntos
ligados a Educação, Identidade e Pluralidade Cultural.
Uma outra assistente agradeceu as
contribuições da Dra. Ana Celia com quem muito tem aprendido.
A Dra. Ana Célia se manifestou
também no mesmo sentindo de agradecimento dizendo que o professor Dr. Marco
Aurélio Luz foi o orientador de sua dissertação de Mestrado que rendeu a
publicação do livro inclusive também fazendo o prefácio.
Um encontro antes da palestra no II Fórum Internacional 20 de novembro.
Da esquerda para a direita Professores/as Romilson Souza,Narcimária Luz,Zelinda,Valdélio Silva,Ana Célia da Silva e Marco Aurélio Luz.
O Prof. Marco Aurélio Luz
agradeceu dizendo que a gratidão é um valor muito especial, e acrescentou que
por sua vez devia agradecer a tudo que vem realizando à tradição civilizatória
inerente as comunidades tradicionais africano- brasileiras especialmente a
influência absoluta de seu pai Mestre Didi Axipa Alapini, cujo pensamento
futuro está ainda para ser reconhecido em sua profundidade pela
intelectualidade afro-brasileira e brasileira e em geral.
Em 3 de dezembro, a professora
titular plena Narcimária C. P. Luz
organizou uma mesa redonda pelo PRODESE na Jornada Pedagógica do DEDCI, realizada no auditório Jurandir de
Oliveira na UNEB.
Participaram da mesa além da Dra.
Narcimária os professores:
Valdélio Santos Silva
Janice de Sena Nicolin
Marco Aurélio Luz
Encontro dos autores/as do livro "Descolonização e Educação;diálogos e perspectivas metodológicas"Narcimária Luz,Valdélio Silva,Marco Aurélio Luz e Janice de Sena Nicolin do PRODESE na Jornada Pedagógica do Departamento de Educação da UNEB
A Professora Narcimária iniciou
falando que a temática seria uma abordagem sobre os ensaios que constituem a
publicação do PRODESE, Descolonização e
Educação:diálogos e proposições
metodológicas.
Após referiu-se ao seu tema Descolonização e Educação:por uma
epistemologia africano-brasileira. Se referiu ao fato que essa
epistemologia se assenta no contínuo civilizatório que está contido basicamente
na comunalidade africano- brasileira, isto é, a rede de comunidades que mantém
e expandem a tradição. Seguindo estratégias dos mais antigos.Como Mãe Aninha
que dizia envergar para não quebrar,
mas também que quando muito se abaixa
alguma coisa aparece, e Mãe
Senhora indicando caminhos, da porteira
para dentro da porteira para fora, ou Mestre Didi, trabalhando como cupim, são indicações valiosas para poder se
elaborar recriações pedagógicas na Educação do Sistema de Ensino.
Várias experiências já podem se constituir em
indicações valiosas para a continuidade dessa nova pedagogia. Poderia citar
algumas que tenho mais familiaridade, como a
Mini Comunidade Oba Biyi e seus
Grupo do ACRA participa de evento semestral com a peça A CANÇÃO DO INFINITO autocoreográfico de autoria da professora Narcimária C.P. Luz
desdobramentos como a ACRA, o Odeart, as
linhas de pesquisa propostas por Marco Aurélio Luz na pós-graduação que geraram
várias dissertações, teses e
publicações,também a criação de disciplinas na graduação, a fundação do grupo
de pesquisa do PRODESE, a elaboração de inúmeras dissertações teses e
publicações, as Revistas SEMENTES, livros, congressos, seminários, enfim já há
um caminho percorrido que precisa não ser esquecido.
Após o professor Valdélio falou
do processo de pesquisa que no caso das comunidades terreiros há
necessariamente um envolvimento pois o saber nesse contexto é iniciático. Ele
disse que de início ficou surpreso com a sabedoria dos mais antigos e tendo que
se contentar com uma elaboração de perda de suas referências teóricas
adquiridas ao longo de sua trajetória universitária. A partir desse ponto é que
a ``pesquisa`` pode avançar.
Também nesse sentido caminhou as
observações da professora Janice Nicolin. Disse que suas pesquisas se referem
ao bairro do Cabula que foi um antigo quilombo e aí estão concentrados
importantes fontes de expressão e expansão da cultura afro-brasileira como os
terreiros do Axé Opô Afonjá e o Inzo Manzu Bandukenke o conhecido Bate Folha.
Assim sendo o Cabula está eivado de história e continuidade das tradições
culturais nagô/yoruba e congo/angola.
Portanto o sistema da ensino ali
inserido para alcançar qualquer viabilidade de sucesso terá de abrir as portas
para crianças e jovens que respiram a cultura do lugar.
Inspirada nos êxitos alcançados
pela experiência da Mini- Comunidade Oba Biyi, localizada no Cabula, e em seus
desdobramentos como a bibliografia já existente dos livros de Mestre Didi,
Marco Aurélio Luz e de Narcimária Luz, ela foi trabalhando no sentido de dar
forma e conteúdo ao grupo que é o Odéarte do qual é coordenadora..
Odeart participa de evento do PRODESE com a peça de Mestre Didi
A montagem do autocoreográfico
Odé e os Orixá do Mato de autoria de
Mestre Didi foi um ponto fundamental para caracterizar o grupo e teve muito boa
aceitação e receptividade por parte do público. A partir de então o Odearte
realiza inúmeras ações culturais educativas, sempre proporcionando a afirmação
da identidade da gente do Cabula e afins.
Após o professor Marco Aurélio
Luz falou de seu texto Dos Tumbeiros às Fábricas, Dos Quilombos às
Comunalidades Afro-brasileiras. Apresenta o panorama do colonialismo
mercantil escravista que entrelaça na Europa de então, o capital financeiro, o
comercial e o produtivista, que promovem o tráfico triangular, a escravização
na África o transporte e venda de africanos (as) nas Américas, a produção e
comercialização de produtos, principalmente de açúcar para a Europa.
O tráfico triangular apoiado na
manufatura naval e bélica engendra a formação do capital primitivo do
capitalismo nascente.
Por outro lado a vinda de
africanos gerou uma reposição dos reinos de origem nas Américas, um contínuo de
civilização que inicialmente constituíu vários quilombos, o principal foi o de
Palmares no Brasil, uma continuidade do reino do Ndongo da Rainha Ginga, e
depois os de S.Domingos, o Haiti, quando os quilombolas derrotaram o exército
de Napoleão e proclamaram a independência. Inúmeras comunidades de africanos e
seus descendentes se formam nas Américas tanto no campo quanto nas cidades.
Ougan Mackandal ressurge da fogueira da condenação e irradia as chamas da libertação
Comandados de Dessalines derrotam as tropas de Napoleão
Comemoração da vitória da libertação
O desdobramento dessa luta foi
que por iniciativa da Inglaterra criou-se uma estratégia capaz de encerrar a
vinda de africanos para as Américas e incentivar a vinda de europeus para
estabelecer colônia não só de exploração, mas também de exploração e povoamento,
o que se convencionou chamar de política de branqueamento.
Indepêndencia do Brasil, o fim do
tráfico escravista e a abolição da escravatura abriram caminho para a
proclamação da República no Brasil, aquela altura já sob a égide do domínio
britânico e influências de outras nações europeias.
O capital financeiro e comercial
se ajustam as fábricas e ao ¨trabalhador livre¨. A política de embranquecimento
se constitui em pedra angular das tentativas de dominação, a ideologia do
racismo, com suas variadas nuances, alimenta a razão de Estado e variados tipos
de genocídio vem sendo cometidos.
Por outro lado o contínuo
civilizatório africano brasileiro sustenta a rede de comunidades, a
comunalidade que abriga os povos primordiais formadores da nação e que constituem
sua forte identidade.