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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 10 de março de 2012

EU-MULHER


Por Conceição Evaristo


Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes - agora - o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.

MULHERES



Por Vito Cesar

Mulheres serenas, promessas de nada.
mulheres de vento, de sopro divino,
mulheres de sonho, mulheres sentido,
mulheres da vida, melhor ter vivido...
Mulheres de tempo, em que tudo que havia fazia sentido,
mulheres que eu vejo, no sol de janeiro,
mulheres saídas de potes de vidro,
mulheres faceiras, as mais feiticeiras, melhor ter sorrido...
Mulheres de tantos e tantos perigos,
mulheres de vinho e de vã harmonia,
mulheres convívio,
mulheres no cio, as mais parideiras, melhor ter nascido...
mulheres de luzes e de absinto,
mulheres que um dia sonhei colorido,
mulheres de santos, mulheres de igrejas,
as mais rezadeiras, melhor sacrifício
mulheres que um dia deitaram comigo,
mulheres tão lindas e de maior juízo,
mulheres de danças,
As tranças nos ombros, meus olhos caídos....
mulheres que fecham a vã poesia,
mulheres que o ouro não tem nem princípio,
mulheres de outono,
O seu abandono, melhor ter carinho...
mulheres de um tempo em que estive sozinho,
mulheres de riso abrindo janelas,
mulheres que sonham,
seu sono macio, melhor o seu ninho....
mulheres do dia e da noite, eternos,
Mulheres que lutam, raízes na terra,
mulheres que as feras,
no meio da noite, não mais intimidam...
Mulheres espera, no mar do abandono,
mulheres teares, tecendo seu linho,
mulheres tão loucas,
seu beijo na boca, uma taça de vinho....

AKPALÔ NOSSA HISTÓRIA



Por Rosângela Accioly


O projeto Akpalô nossa história surgiu da necessidade,nas minhas atividades como pesquisadora do PRODESE Programa Descolonização e Educação/UNEB, em propor novas metodologias que contemplem as presenças africanas e aborígines nos conteúdos curriculares das escolas baianas. Soa também como um convite aos pedagogos contemporâneos a esta prática, tendo como ponto de referência as narrativas oriundas desses patrimônios civilizatórios, que nos levam a uma perspectiva inovadora que busca priorizar um novo continente teórico epistemológico baseado em narrativas orais, além de autores como: Mestre Didi, Marco Aurélio Luz, Narcimária C. P. Luz, Ana Célia da Silva, Kabengele Munanga, dentre outros exponenciais.


Professora Rosângela apresentando um de seus projetos no campo da Pluralidade Cultural e Educação para a comunidade da Escola Santa Júlia no bairro de Itinga

Com uma dinâmica bem interessante e bonita, e a essencial participação das crianças e suas famílias no projeto, nos aproximamos de valores e linguagens da civilização africana, desconstruímos estereótipos e redescobrimos importância desse patrimônio nas nossas vidas. Semânticas que fizeram parte do nosso projeto: Agbalá que quer dizer um pedaço da África em você, Akpalô que quer dizer contador de histórias na tradição nagô, ou Sankofa ideograma do povo ashante de Gana na África contribuições de Elisa Larkin que significa dizer: ‘... voltar e apanhar de novo. Aprender do passado, construir sobre as fundações do passado. Em outras palavras, volte às suas raízes e construa sobre elas para (...) a prosperidade de sua comunidade em todos os aspectos da realização humana’.
Assim desenvolvemos uma metodologia explorando textos que animavam nossos encontros durante as aulas: O Aleijadinho de Mestre Didi, Agablá um lugar continente de Marilda da Castanha; As tranças de Bintou de Sylviane A. Diouf; Aguemom Carolina Cunha; O casamento da princesa Celso Sisto, Itapuã quem te viu e quem te vê! de Narcimária C. P. Luz; O Boi Multicor, de Jorge Conceição; Ossayin; Bruna e a galinha d‘Angola de Gercilda Almeida. Além desses textos, nos preocupamos em estudar as biografias dos/as autores/as e de grandes personalidades da nossa história, considerando nessa busca aqueles/as que contribuíram e ainda contribuem para afirmar os valores africano-brasileiros e dos povos inaugurais.
As personalidades históricas trabalhadas ao longo do ano foram: Zumbi dos Palmares, Maria de Marumbá liderança feminina (com 108 anos) importante no município de Lauro de Freitas, Adhemar Ferreira da Silva, Chiquinha Gonzaga, Clementina de Jesus, Cruz e Souza, João Cândido, Lélia González, Luís Gama, Mãe Menininha, Mãe Senhora, Milton Santos, dentre outros.

A cantora e intérprete Clementina de Jesus uma das personalidades estudadas pelas crianças 

Dentro de uma perspectiva de Educação Pluricultural, organizamos encontros com o objetivo de aproximar nossas crianças de conhecimentos milenares que constituem a sua alteridade civilizatória.
Participaram dessa iniciativa o grupo cultural As Mariatas coordenado por Teresa Alves no bairro de Itinga, apresentando o Bumba meu Boi. Interessante também foi a visita da liderança do povo cariri-xocó grupo indígena que vive em Lauro de Freitas na Aldeia Thá-fene.
Aldeia Thá-fene.


Outra abordagem metodológica foi a projeção de filmes, a saber: Kiara: nome de Rainha/MEC SECAD Programa Diversidade na Universidade/Projetos Inovadores de Curso-PIC Ano de 2006; Dois de Julho; Kirikou Os animais Selvagens; Kiribou e a feiticeira.
Ainda compondo a metodologia do projeto Akpalô trabalhamos as obras escultóricas de Mestre Didi e Marco Aurélio Luz.

Esculturas de Marco Aurélio Luz foram abordadas pelo projeto AKPALÔ nossa história

Ampliando as iniciativas vivenciamos o jogo pedagógicos yoté,pinturas, dramatizações, leituras, recontos, construção de um livro para observação e estudo da lectoescrita a partir das narrativas africanas e indígenas com crianças de 5 anos, (re)leituras das pinturas do livro Agbalá um lugar continente e Itapuã, quem te viu, e quem te vê, de Narcimária Correia do Patrocínio Luz.Nos dedicamos a escuta musical com canções como Ilha de Maré interpretada por Mariene de Castro e África do CD Pé com Pé e músicas indígenas, dentre outras canções.

O livro Itapuã, quem te viu, e quem te vê, de Narcimária Correia do Patrocínio Luz integrou as atividades do projeto concebido pela profesora Rosângela Accioly

Muito importante e emocionante foi a parceria estabelecida com o Projeto SANKOFA:Mosaico Redivivo de HistóriaS da Educação em 2011 com a primeira turma de Pedagogia do Campus I da UNEB, em Lauro de Freitas com a disciplina História da Educação I ministrada pela professora Narcimária Correia do Patrocínio Luz que na culminância do projeto comentou: “... O que mais nos gratificou nessas elaborações e vivências do semestre é o valor encontrado por todos/as os graduandos/as sobre suas/nossas origens! Aprender sobre aspectos da história da humanidade realizando diálogos que abram canais de intercâmbio entre civilizações milenares que caracterizam os povos da África, Américas, Caribe, Ásia, Oceania e Europa. Graduandos/as que nunca tinham ouvido falar ou calavam sobre as trajetórias e legados de civilizações milenares, (re) descobriram suas histórias, organizações políticas, constituição de cidades, hierarquias, patrimônio cultural e científico, etc. E ainda, as formas de enfrentamentos, resistências que essas sociedades constituíram para expandir e afirmar os seus valores de civilização e mantê-los com dignidade até os nossos dias.”


Cenário organizado por graduandos/as de Pedagogia da UNEB reunindo as criações plásticas das crianças da Escola Santa Júlia  no contexto SANKOFA:Mosaico Redivivo de HistóriaS da Educação em
outubro de 2011.

Na culminância do projeto Akpalô nossa história nossos/as alunos/as foram ao Cine Teatro de Lauro de Freitas coordenado pelo Sr. Hamilton Vieira para assistir algumas apresentações: a Orquestra Castro Alves; o coral do bairro da Paz com o professor Sidney Argolo, e a dramatização do conto Boi Multicor com o autor Jorge Conceição.
Os/as alunos/as do Ensino Fundamental I (2º ano B e 1º ano) produziram algumas dramatizações a partir dos livros Agbalá um lugar continente e Itapuã, quem te viu, e quem te vê! sob a minha orientação, da professora Josélia Bispo e o coreógrafo Falcão.
Realizamos uma homenagem as lavadeiras de Itapuã, com as crianças do 1º ano na Escola Professora Marilene Silvestre. Destaque para o desfile de roupas e penteados africanos com as crianças do Ensino Fundamental I 5ºano sob a orientação das professoras Deise, Fernanda Barbosa, Luzinete Sales.
Para finalizar as projeções pedagógicas anuais, os 2º anos do Ensino Fundamental I, foram ao Teatro Castro Alves assistirem a apresentação do conserto didático com o Neojibá e Orquestra Dois de Julho que oportuniza a formação e capacitação de núcleos de orquestras e corais infanto-juvenis.
O projeto Akpalô nossa história, foi desenvolvido na Escola Municipal do Loteamento Santa Júlia no bairro de Itinga em 2011, na gestão da diretora Rosilda Leal da Cruz Castro, e Vice-diretoras Rosa Meire Marques de Santana e Francislene Celestino dos Reis contando com a direção artística de Rosemar Tatagiba.


Professora Rosângela Accioly com a diretora da Escola Loteamento Santa Júlia Rosilda Leal da Cruz Castro

Recebemos o apoio, e daí meus sinceros agradecimentos a SEMED Secretaria Municipal de Educação, Teatro Castro Alves com a participação da Orquestra Castro Alves, o PRODESE-Programa Descolonização e Educação/ UNEB, coordenado pela professora Narcimária Correia do Patrocínio Luz. Recebemos também a coordenadora do Departamento de Educação do Campus I professora Maria Helena Amorim, professora Rita Cruz do projeto Mais Educação, e Sr. Júnior do Departamento financeiro da SEMED. Além do coordenador Hamilton Vieira do Cine Teatro Lauro de Freitas, e Jorge Conceição autor do Livro O Boi Multicor que abrilhantaram as proposições didáticas com suas presenças.

Professora Maria Helena Amorim Coordenadora do curso de Pedagogia do Departamento de Educação do Campus I em Lauro de Freitas, em visita a  Escola Loteamento Santa Júlia ao lado da  Professora Rosângela.


A todos/as muito obrigada!

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Rosângela Accioly é Pedagoga,integra o grupo  de pesquisa PRODESE,mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia,porfessora da escola Loteamento Santa Júlia no bairro de Itinga no município de Lauro de Freitas,Bahia.


UM ESPETÁCULO COREOGRÁFICO! VALE A PENA CONFERIR!!!

Essa colaboração foi enviada para nosso blog por Marcelo do Patrocínio Luz que integra o grupo de Teatro da ACRA.