Por Narcimária C. do Patrocinio Luz
Solenidade de Colação de Grau dos Formandos 2.014.2- Pedagogia - UNEB Lauro de Freitas
Mesa composta por autoridades e membros do corpo docente da UNEB
Ao centro o Reitor da Universidade do Estado da Bahia José Bites.Da esquerda para à direita: Elita Nair dos Santos, uma das funcionárias homenageada;Narcimária Correia do Patrocínio Luz, Patrona da turma;Mary Valda Souza Sales, Coordenadora do Colegiado de Pedagogia;Valdélio Santos da Silva, professor homenageado da turma e Diretor do Departamento de Educação Campus I;representante da Prefeitura de Lauro de Freitas;Maria Helena Moraes Amorim, Paraninfa da turma;Antônio Amorim, professor homenageado da turma;Elaine Cristina Secretária Acadêmica do Departamento de Educação.
Foto Maurício Luz
Estendo essa homenagem às gerações de educadores que muito influenciaram a minha
vida científico acadêmica.
Dentre
eles, educadores como meus pais, Januária e Narciso com os quais compartilhei
muitas ideias, valores e diversas performances na área de Educação.
Professora,pintora e educadora Januária Correia do Patrocínio
Professor, Educador Narciso José do Patrocínio
Meu
pai costuma dizer:
“Acredito
em Educação como um caminho valioso para superarmos as
desigualdades sociais, a desesperança que toma o planeta... A
Educação para mim é uma forma de aplacarmos o ponto de interrogação que temos
sobre
o futuro. Estamos vivendo uma sociedade que valoriza o ter mais
que o ser... O dinheiro é a máxima da vida agora, e
esse valor coloca a vida por um fio...” (Narciso Patrocínio).
Outra
personalidade de suma importância na minha vida foi o querido Mestre Didi, um
educador importante na história da Educação no Brasil, e que sempre me inspirou
e proporcionou descobertas infindáveis de linguagens na área de Educação.
Líder sacerdotal, escritor, escultor, educador, Deoscoredes M. dos Santos, Mestre Didi
Peço
uma salva de palmas para o Professor Doutor Marco Aurélio Luz, cientista
social, cujo pensamento teórico-epistemológico alicerçou todas as aulas que
realizei nessa turma.
Professor, escritor, escultor, educador Marco Aurélio Luz no auditório do Cine Teatro de Lauro de Freitas.
Foto Maurício Luz
Outra
personalidade que gostaria de destacar estendendo essa homenagem, é B.B. King,conhecido como o"Rei do Blues" e que perdemos neste mês de maio.A genialidade do toque da guitarra de B.B. King e a riqueza do seu seu repertório, também faz parte das escutas poéticas que marcaram a minha vida alimentando-me emocionalmente.
Imagem disponível em http://www.business2community.com/social-buzz/thrill-gone-b-b-king-gone-01227823
Assim como o blues,o samba,o jazz, também me inspiram animando-me como educadora a transcender corajosamente a teia dos discursos tecnoburocráticos na área de Educação. BB
King certa vez comentou:
“A beleza do aprendizado é que ninguém pode
roubá-lo de você. Eu sei que tenho um trabalho que eu gosto, e quando parece
que as pessoas gostam do que eu faço, eu ainda gosto mais. Quando eu consigo
deixar aflorar algo que me faz mais forte, sinto que isso me dá energia.” (B.B.
King).
Também
tenho esse mesmo sentimento!
Esse é meu ânimo!
Acredito
que pensar e atuar na área da Educação no Brasil do jeito que venho fazendo, deve-se muito ao meu
envolvimento comunitário! Através dele me aproximo das minhas origens,
ancestralidade africana, minha descendência africano-brasileira que me envolve
em linguagens ético-estéticas singulares. Só sei que minhas atividades
científicas e acadêmicas são influenciadas por esse envolvimento comunitário
que torna possível identificar abordagens, reflexões, proposições e iniciativas
preciosas.
Há
um provérbio africano nagô que diz que “os dedos não são iguais”.
Simples,
não? Não.
Não é!
Imagem disponível em http://pt.dreamstime.com/fotografia-de-stock-aberto-entregue-para-tr%C3%A1s-image2183782
Cada
dedo tem um tamanho que os diferencia. Eles são opostos, mas a mão serve como
base de sustentação, reunindo-os, assegurando as diferenças que os caracteriza,
fazendo-os conviverem com suas singularidades, tornando cada um importante para
a funcionalidade da mão.
Esse
aprendizado dos provérbios caracterizam canais valiosos para nós educadores!
Esse de modo especial, me fez reconhecer e valorizar a pulsão de vida que essa turma
emana!
Professora Narcimária C. Do Patrocínio Luz profere seu discurso de patronesse.
Foto: Maurício Luz
Aprendi
com vocês a lidar com emoções envolvendo, dor, alegrias, perdas, ternura,
raiva, recalques profundos a identidade própria, silêncios profundos, medos,
frustrações, vitórias, impotências, superação, sonhos, encontros, desencontros,
arrogância, egocentrismo, lágrimas, ternura, morte/vida... ou parafraseando o
poeta Gonzaguinha “trajetórias opostas sem jamais deixar de sonhar”.
Pois
bem graduandos/as (aqui acho melhor falar no singular): Se você sabe quem você é,
a sua origem, sempre vai fazer o exercício de: "... Voltar e apanhar de novo. Aprender do
passado, construir sobre as fundações do passado. Em outras palavras, volte às suas raízes e
construa sobre elas para (...) a prosperidade de sua comunidade em todos os
aspectos da realização humana". (Elisa Larkin)
Lembram-se do nosso
mosaico de histórias da educação?
Oficinas lúdico-estéticas Sankofa Mosaico Redivivo de História(S) de Educação desenvolvidas com crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental pelos graduandos/as de Pedagogia no 1ºsemestre 2011.
Oficinas lúdico-estéticas Sankofa Mosaico Redivivo de História(S) de Educação desenvolvidas com crianças da Educação Infantil e Ensino Fundamental pelos graduandos/as de Pedagogia no 1ºsemestre 2011.
Indagações
de princípio compuseram a minha convivência com vocês: é possível “formar” educadores
sem aproximá-los da riqueza de linguagens que caracterizam a formação social
brasileira? É possível “formar” educadores sem que eles exercitem a análise do discurso fundamental às elaborações contextuais capazes de transcender
a abordagem linear e evolucionista da história?
Audácia,
curiosidade, sensibilidade, criatividade e vivacidade eis algumas das
características fundamentais para o exercício de uma nova arte de pensar a
contemporaneidade e seus desdobramentos na educação. Como ser educador sem
conhecer a História da humanidade, e aqui me refiro às civilizações da Áfricas,
Américas, Caribe, Ásia, Europa, Oceania? Que educador pode viver sem conhecer a
história das suas origens?
Aqui
destaco que todo caminho que percorremos foi o da descolonização e, através
dele, conseguimos compor uma ECOLOGIA DE SABERES . A descolonização nos obriga a
pensar radicalmente o lugar em que estamos pensar a partir das nossas raízes.
Você só muda ou se transforma a partir do seu lugar, da sua comunidade. Você só
se universaliza a partir da sua cidade de seu país.
Descolonizar
na área de Educação é para promover a diversidade, educar para o sensível, o
afeto, para uma ética da coexistência.
Quando
me refiro à ecologia de saberes, é para destacar a importância de darmos valor as
nossas territorialidades, ao povo que nela vive, e aprendermos a recorrer a
esses arquivos vivos de sabedorias e memórias africanas e aborígines para
falarmos sobre o nosso solo de origem, sobre quem nós somos e o impacto desses
valores para as gerações sucessoras.
Homenagem à professora Narcimária.
Professora Narcimária com a graduanda Cremilda Sacramento
Foto Maurício Luz
De
tudo o que fica...
O
exercício que fizemos durante o tempo de convivência... A recusa implacável ao
lugar comum e equivocado da educação neocolonial que impõe a subserviência.
Estamos
formando uma geração de educadores que terão que lidar com muitos desafios.
Aproveito a oportunidade para me referir a Declaração de Incheon na Coréia do
Sul que traça a agenda de educação global para os próximos 15 anos, ou seja, as
novas metas mundiais de educação no período 2016-2030. Nelas estão as orientações legais de
políticas para a educação, em um documento que irá mobilizar todos os países para
implementar a nova agenda.
Desejo
que vocês não se calem diante da agenda da Declaração de Incheon. Ousem!
Proponham! Incluam inquietações urgentes e candentes! Assumam
o direito à alteridade civilizatória dos povos como um princípio fundamental!
Quando
apresentarem a vocês (os tecnoburocratas da educação) a Declaração de Incheon,
como uma “moda” a ser seguida. Insurjam-se! Incluam na agenda da Declaração de Incheon o
direito à vida, à existência! Abram o debate para a institucionalização de
instrumentos jurídicos que protejam as nossas crianças e jovens das políticas
genocidas tão presentes nas sociedades contemporâneas; Reivindiquem políticas
públicas que contemplem direitos coletivos capazes de estabelecer espaços
institucionais de combate ao racismo e suas engrenagens ideológicas, que tendem
a tragar a vida, levando muitos povos a terem que lidar com situações marcadas por muita
dor e humilhação.
Vocês
podem perguntar: mas professora será que estamos preparados/as?
Essa
pergunta me lembra um diálogo muito interessante que vi no filme “Selma, uma
luta pela igualdade”(2014).
Imagem disponível em http://ahoradofilme.com.br/2015/01/12/bilheteira-fim-de-semana-nos-eua-busca-implacavel-3-fica-com-lideranca/
O filme aborda aspectos da organização e realização da
marcha pelos direitos civis na cidade de Selma no Alabama em 1965. O diálogo
acontece entre Coretta King esposa de Martin Luther King e Amélia Boynton, uma
liderança feminina importante na história do movimento dos direitos civis nos
EUA.
Martin Luther King é preso,e Coretta se vê envolvida na condução do processo de organização da marcha e outras providências.Nesse ínterim,acontecerá um importante encontro com Malcom X e nele, ela terá que afirmar e assegurar que as ideias do seu marido não se dispersem. Coretta se sente insegura no decorrer desses preparativos,é assim que ela expõe seus sentimentos e receios para Amélia.
O
diálogo é assim:
Coretta
King: Gostaria de ter mais tempo para preparar todos nós. Será que estou
preparada?
Amélia
Boynton: Não tema!Somos descendentes de gente poderosa, que deu a civilização para o
mundo. Gente que sobreviveu a navios negreiros, através de vastos oceanos. Gente
que inovou ,criou e amou, apesar das grandes pressões e torturas inimagináveis.
Estão no nosso sangue, bombeando nossos corações a cada segundo. Eles lhe prepararam! "
Cena do filme “Selma, uma luta pela igualdade”(2014) Diálogo entre Coretta King e Amélia Boynton interpretada pelas atrizes Carmen Ejogo e Lorraine Toussaint
Imagem disponível em https://abbieplouff.wordpress.com/2015/01/19/on-the-women-of-selma/
Vocês estão preparados/as!
Homenagem ao Professor Doutor Marco Aurélio Luz.
Marco Aurélio recebendo a placa de Amigo da Turma pela Graduanda Ana Patrícia F. Reis da Silva
Foto Maurício Luz
Acrescento
ainda outra perspectiva político filosófica que ratifica a abordagem da
Descolonização e Educação tão preciosa em nossas vidas.
A
utopia que nos move na direção dessa abordagem da
Descolonização e Educação, carrega também um pouco da sabedoria guerreira milenar
dos nossos povos inaugurais das Américas. Escutem a mensagem que finaliza o conjunto dessas reflexões que trago essa noite com o coração:
“[...] no caminho do guerreiro, cabe você
discernir o que foi tecido pelos fios divinos e o que foi tecido pelos fios
humanos. Quando você principia a discernir, você se torna um txucarramãe-um
guerreiro sem armas. Porque os fios tecidos pela mão do humano formam pedaços
vivificados pelo seu espírito. Essa mão gera todos os tipos de criação. Muitas
coisas fazem parte de você para se defender do mundo externo, geradas pela sua
própria mão e pelo seu pensamento. Quando você descobre o que tem feito da sua
vida e como é a sua dança no mundo, desapega-se aos poucos das armas, que são
criações feitas para matar criações. De repente, descobre-se que, quando
paramos de criar o inimigo, extingue-se a necessidade das armas” (Kaká Werá
Jecupé).
Kaká Werá Jecupé
Imagem disponível em http://www.irradiandoluz.com.br/2008/10/somos-parte-da-terra-e-ela-e-parte-de.html
Muito
obrigada por essa singela e importante homenagem!
Para dar mais vigor a essas reflexões acompanhem a genialidade do Rei do Blues B. B. King no vídeo a seguir.