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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 27 de fevereiro de 2011

CARNAVAL:TERRITÓRIO DE TENSÕES,CONFLITOS E AFIRMAÇÃO DE IDENTIDADE CULTURAL

Por Narcimária Luz
Entrudo manifestação carnavalesca européia
Conhecemos o carnaval como uma grande festa de concentração popular,muita animação envolta em música,dança,diversão que providencia um colorido especial,atravessando as ruas das cidades, mobilizando as pessoas a compartilharem emoções.
E quantas emoções!!!
Uma observação:essa festa que tende a estabelecer comportamentos que transgridem e subvertem a ordem moral asséptica,angelical extensão do colonialismo, é regida pelo calendário do cristianismo.O nome carnaval nesse contexto cristão, significa “adeus à carne” ou "carne vale".
A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. A palavra "carnaval" está, desse modo, relacionada com a idéia de deleite dos prazeres da carne marcado pela expressão "carnis valles", que, acabou por formar a palavra "carnaval", sendo que "carnis" do grego significa carne e "valles" significa prazeres.”(Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Carnaval)
Há também outra interpretação, de que o termo carnaval tem sua origem “no latim medieval, como carnem levare ou carnelevarium, palavra dos séculos XI e XII, que significava a véspera da quarta-feira de cinzas, isto é, a hora em que começava a abstinência da carne durante os quarenta dias nos quais, no passado, os católicos eram proibidos pela igreja de comer carne.” (http://www.miniweb.com.br/cidadania/Dicas/carnaval.html
Imaginem!!!
Há registros que no Brasil, o carnaval surgiu em 1641 para homenagear o rei Dom João IV que restaurou o trono de Portugal. O carnaval no contexto colonial,monárquico e do império vai se caracterizar com um espaço de diversão para a elite branca no Brasil.Essa elite cria um espaço carnavalesco através dos entrudos portugueses,manifestação que consistia em brincadeiras entre os “foliões” de jogar água uns nos outros,pó de cal,vinagre,e por aí vai...
Segundo historiadores, “... o entrudo, importado dos Açores, foi o precursor das festas de carnaval, trazido pelo colonizador português. Grosseiro, violento, imundo, constituiu a forma mais generalizada de brincar no período colonial e monárquico, mas também a mais popular. Consistia em lançar, sobre os outros foliões, baldes de água, esguichos de bisnagas e limões-de-cheiro (feitos ambos de cera), pó de cal (uma brutalidade, que poderia cegar as pessoas atingidas), vinagre, groselha ou vinho e atéoutros líquidos que estragavam roupas e sujavam ou tornavam mal-cheirosas as vítimas. Esta estupidez, porém, era tolerada pelo imperador Pedro II e foi praticada com entusiasmo, na Quinta da Boa Vista e em seus jardins, pela chamada nobreza... E foi livre até o aparecimento do lança-perfume, já no século XX, assim como do confete e da serpentina, trazidos da Europa.” (http://www.miniweb.com.br/cidadania/Dicas/carnaval.html)


Carnaval das elites no início do século XX.Foto disponível em http://jornale.com.br/

Tempos depois, surge a manifestação carnavalesca conhecida como Zé Pereira uma sátira a figuras populares das cidades,bairros,etc. A maioria da população formada principalmente por negros, não podia compartilhar desses espaços carnavalescos regidos pela política de embranquecimento em voga desde o tempo de D.João VI se estendendo até a República,restringindo-se a uma elite constituída por brancos .
A população negra se impõe nos espaços dos carnavais das cidades brasileiras, (re) criando de modo surpreendente os valores da civilização africana desdobramentos das comunidades afrobrasileiras que ocupavam territórios próprios,a exemplo da “pequena África” no Rio de Janeiro como se referia o compositor Heitor dos Prazeres, e a “Bahia a Roma negra” assim chamada por Mãe Aninha.
São desdobramentos das comunidades afrobrasileiras caracterizadas como “pequenas Áfricas” e” Romas negras”,a criação de instituições valiosas, que vão constituir a dinâmica da subversão a ordem da política de embranquecimento representada pelos entrudos e Zé Pereira,e fundar territórios caracterizados pelas linguagens africanas.Estamos nos referindo aos ranchos de carnaval, como o Rosa Branca de Tia Ciata;os afoxés, como o Pae Burokô do Mestre Didi;as Escolas de Samba,blocos de índios e blocos afro que vão africanizar o carnaval brasileiro,reterritorializando-o ,estabelecendo insurgências eternizadas pelas mensagens éticas e estéticas anunciadas nas alegorias,figurinos,danças,ritmos,músicas,etc.

Troça carnavalesca Pae Burokô.Integrante da troça carrega o boneco criado por Mestre Didi em 1942 como um dos símbolos do afoxé.Foto disponível em http://carnaval.bahia.com.br/noticias/afoxe-pai-buruko-desfila-no-terreiro-de-jesus

No seu livro “Do Tronco ao Opa Exim”, Marco Aurélio Luz desenvolve análises interessantes sobre o carnaval no Brasil,uma delas destaca que face às expressões do carnaval com características afrobrasileiras a elite dirigente radicaliza ao apelo jurídico da política de embranquecimento.A polícia e imprensa serão canais de repressão importantes para inibir as instituições carnavalescas afrobrasileiras.
Um jornal na Bahia no início do século XX em 1901:” Começaram infelizmente,desde ontem a se exibir em algazarra infernal,sem espírito nem gosto,os célebres grupos africanos de canzais e búzios,que, carnavalescas,deprimem o nome da Bahia,com esses espetáculos incômodos e sem sabores.Apesar de, nesse sentido,já se haver reclamadoda polícia providências,é bom,ainda uma vez,lembrarmos que não seria má a proibição desses “candomblés” nas festas carnavalescas “(LUZ,Marco Aurélio.Do Tronco ao Opa Exim.Rio de Janeiro:PALLAS,p.103)
E ainda no mesmo jornal em 1903:”O carnaval deste ano,não obstante o pedido patriótico e civilizador,que fez o mesmo,foi ainda a exibição pública do ‘candomblé’,salvo raríssimas exceções...Se alguém de fora julgar a Bahia pelo seu carnaval,não pode deixá-la de colocá-la a par da África e note-se,para a nossa vergonha,que aqui se acha hospedada uma comissão de sábios austríacos que,naturalmente,de pena engatilhada vai registrando esses fatos para divulgar nos jornais da culta Europa,em suas impressões de viagem” (LUZ,Marco Aurélio.Do Tronco ao Opa Exim.Rio de Janeiro:PALLAS,p.103).
Apesar da repressão alimentada pela ideologia do embranquecimento as “pequenas Áfricas” conseguiram afirmar suas linguagens criativas,incluam-se nelas os blocos de índios em Salvador inspirados nas lutas e formas de resistências dos aborígines nas Américas face à colonização e suas políticas genocidas.Exemplos:Embaixada Mexicana (1949),Apaches do Tororó (1966),Comanches (1975) e Sioux (1977).“No fim do século XIX e na primeira metade do século XX,os negros baianos já haviam se organizado em blocos de índio,inspirados nos aborígines do Brasil e nos índios do México.Pierre Verger chegou a fotografar a Embaixada do Mexicana,no carnaval de Salvador em 1949.Este tipo de entidade começou a se organizar a partir das proibições a que foram submetidos os prétitos dos clubes com temáticas africanas.” (Cf.GUERREIRO,Goli.A Trama dos Tambores.Salvador:Editora 34,2000,p.85)



Mestre Sala e Porta bandeira da Escola de Samba Mangueirahttp://www.flickr.com/photos/nelsoncerinofestaspopularesbaianas/4370937814/

Por outro lado,não podemos esquecer que “a imagem do índio na figura do caboclo,já era cultuada como ancestral,os donos da terra,os fundadores da terra.Nos terreiros tradicionais afrobrasileiros há o culto ao caboclo.A figura do índio penetrou na sociedade em geral como símbolo da independência e figura romantizada em José de Alencar e Gonçalves dias.Na Bahia a referência ao caboclo está representada no desfile da independência com a exibição das estátuas em cera do caboclo e da cabocla.Nada mais pertinente e estratégico,como usar a referência do índio no espaço do carnaval para marcar a conquista de território e afirmação de identidade,estamos lidando com oprincípio inaugural :o fundador da terra,dono da terra,nosso ancestral”(entrevista de Marco Aurélio Luz para o blog da ACRA 27/02/2011).

Estátua do caboclo em desfile comemorativo da independência da Bahiahttp://www.saofranciscodoconde.ba.gov.br/conteudo-unico.aspx?t=NOTICI&p=NOTICIA&r=NOTICIA&nid=463

Século XXI e os carnavais das cidades brasileiras foram inundados por esses valores da ancestralidade aborígine e africana!
Hoje novas questões aparecem como desafios urgentes para superarmos o monopólio de uma linguagem que cala a diversidade de culturas das nossas cidades, saturando todos os espaços,tentando devorar a vitalidade dos afoxés e blocos afros.
A imprensa que no início do século XX utilizando a forma impressa de comunicação,como já vimos, criticava e achava vergonhosa a presença das instituições carnavalescas afrobrasileiras,hoje utilizando canais midiáticos mais sofisticados e rápidos na circulação de informações,impõe um modelo de carnaval para atender a uma minoria “branca” como dizia nossos/as antepassados/as “para inglês ver” e insistem em dizer que é o carnaval genuíno brasileiro.É muito comum ouvirmos comentários na televisão (vitrine da ideologia do embranquecimento) se referindo há algum bloco da elite baiana:”Esse bloco só tem gente bonita!”
Os blocos de trio,em geral, hoje possuem homólogos valores aos da TV,visam essencialmente ao lucro,realizam show de comunicação de massa,veiculam propaganda,se atrelam à indústria cultural...” (LUZ,Marco Aurélio.Do Tronco ao Opa Exim.Rio de Janeiro:PALLAS,p.115).


Carnaval pelas ruas de Olinda em Pernambuco foto disponível emhttp://www.flickr.com/photos/nelsoncerinofestaspopularesbaianas/4370937814/

As linguagens afrobrasileiras persistem,recriam,subvertem e continuam surpreendendo e expandindo os valores de sua civilização.
Mas é claro que esse brevíssimo histórico sobre o carnaval não acaba aqui.Esse texto é um convite para vocês refletirem conosco aspectos sobre as tensões e conflitos que envolvem o nosso carnaval.

Para saber mais além das referências citadas no texto, visitem também no blog da ACRA a postagem de 08 de fevereiro de 2010”AFOXÉ É DE ORIGEM NOBRE” colaboração de Marco Aurélio Luz.

Artigo de Marco Aurélio Luz publicado no Jornal a tarde sobre o afoxé Pae Burokô

Para ilustrar essas reflexões selecionamos alguns vídeos divertidosque passeiam no tempo trazendo em alguns sucessos carnavalescos,interpretados de várias formas nos ajudando a pensar na abordagem apresentada.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ÁFRICA: NOSSO CONTINENTE ANCESTRAL

O blog da ACRA apresenta essa semana, o relato da professora Rosângela Accioly sobre o projeto de sua autoria “África nosso continente ancestral” concebido para ser realizado no âmbito do Colégio Municipal Santa Júlia, Itinga no município de Lauro de Freitas. Rosângela Accioly é pedagoga pela Universidade do Estado da Bahia, pesquisadora do PRODESE-Programa Descolonização e Educação e integra a equipe de educadores da ACRA.
Na UNEB, Rosângela vivenciou disciplinas como: Processos Civilizatórios e Pluralidade Cultural com a professora Narcimária Correia do Patrocínio Luz, e Currículo com a professora Dra. Ana Célia da Silva que trouxeram contribuições relevantes para sua trajetória como educadora e ampliando estimulando-a a desenvolver proposições de Educação Pluricultural.


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A professora Rosângela Accioly, os alunos do 4º ano A, e a vice diretora do Colégio Santa Júlia Rosameiry

O projeto “África nosso continente ancestral” de autoria da professora Rosângela Accioly, procurou aproximar as crianças, e comunidade escolar da arkhé(origens) africano-brasileira em Lauro de Freitas,Região Metropolitana de Salvador.Para isso,foram desenvolvidas propostas pedagógicas no colégio Santa Júlia no bairro de Itinga,durante o ano letivo de 2010. A Bahia detém o patrimônio de linguagens e valores éticos e estéticos do contínuo civilizatório africano-brasileiro caracterizando os vínculos comunais que inspiraram o projeto.
Para a autora do projeto, o educador contemporâneo tem acesso a perspectivas jurídicas que sustentam iniciativas pluriculturais para o repertório curricular das escolas, a exemplo dos aspectos contidos na Lei 11.465/08 de 27 de março de 2008 que altera um artigo da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) ampliando a lei 10.639/03 instituindo, por sua vez, a obrigatoriedade do ensino sobre história e cultura afro-brasileira em todas as escolas brasileiras. A partir de agora, confere-se o mesmo destaque ao ensino da história e cultura dos povos indígenas e que devem ser desenvolvidos em sala de aula de maneira contínua com os outros conteúdos.
A dinâmica do projeto promoveu entre as crianças uma série de aproximações com a história e cultura africano-brasileira, a partir da história de vida de Deoscoredes Maximiliano dos Santos o Mestre Didi, assim como outras figuras exponenciais.O repertório das obras de Mestre Didi, escultoras,contos, e também sua responsabilidade como sacerdote dos cultos aos ancestrais Egun nas Américas, foi uma das bases do projeto.
Para subsidiar o projeto a professora Rosângela recorreu às obras de autores como: Marco Aurélio Luz, Narcimária Luz, Michel Maffesoli, Ana Célia da Silva, Janice Nicolin, Hampatê Bâ, Muniz Sodré, Kabengele Munanga. Por outro lado, o trabalho foi baseado, também, na lei 11.645/08, e 10.639/03 que trazem as Diretrizes Curriculares para a inclusão da História e Cultura afro-brasileira e africana no sistema Municipal de Ensino de Salvador, assim como, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Racial e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, Livros como Educação anti- racista: caminhos aberto pela Lei Federal 10.639/03, entre outras obras de igual robustez teórica e analítica.


Jogo “Yotè, O jogo da nossa história” que traz vários heróis, personalidades e grandes nomes da cultura africano-brasileira como: Milton Santos, Mãe Senhora, Zumbi, dentre outros que foram reconhecidas suas trajetórias ao longo do ano com as crianças.


O projeto se preocupou em apresentar formas de resistência e manutenção do patrimônio civilizatório africano-brasileiro demonstrando a maneira de viver das comunidades realçando a importância das tradições milenares primando por contribuir na preservação dos valores, que marcam a formação social do povo brasileiro.
Destacamos também a importância da oralidade para os povos africanos, além de pesquisas, exposições, escuta musical, conhecimento da estética africana com trabalhos de arte, enfim uma diversidade de proposições teórico-metodológicas como forma de superarmos a visão europocêntrica de mundo que tende a imperar nos currículos escolares.

Professoras Rosângela Accioly e Maria Eliana.

A partir das trajetórias de vida das crianças e o repertório de valores das suas comunidades, foram criadas vivências destacando a figura de griots e apalôs, personagens importantes no contexto dos povos africanos, porque são responsáveis pela preservação da memória e valores das comunidades utilizando a contação de histórias através de vários repertórios orais.
O projeto “África nosso continente ancestral” reuniu ações que demonstraram formas de proporcionar as novas gerações o acesso a riquíssima herança africano-brasileira dentro do contexto escolar.

Exposição das obras do artista Jadsom Costa


Rosângela Accioly reconhece que foi uma iniciativa apaixonante,pois permitiu as crianças e educadores/as um mergulho em uma nova abordagem teórica e metodológica permitindo a toda comunidade escolar um novo olhar sobre o legado africano-brasileiro,afastado de preconceitos e de atitudes racistas.Esse projeto é uma ilustração significativa para os currículos das escolas em Lauro de Freitas.



Dramatização dos alunos do 4º ano B.


Agradecimentos ao apoio e incentivo da diretora Rosilda Leal, vice diretora Rosa Meire e das coordenadoras Delamara e Débora Privat.Incluam-se os/as professores/as Márcia Luz,Josélia,Thiago Bols(UFBA),Teresa,Vanusa,Maria Eliana,Paulo e todo o corpo docente(destacando o professor de Música do projeto Mais Educação),funcionários e pais do Colégio Santa Júlia que apoiaram e prestigiaram o evento.Registramos também a presença da professora e coordenadora do PRODESE-Programa Descolonização e Educação da UNEB/CNPQ Narcimária Luz.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

LEITURA, LÍNGUA, VIDA, DIVERSÃO, ARTE, CIDADANIA, PAZ

A colaboração dessa semana para o blog é do professor Abílio Manuel Marques de Mendonça,professor de Inglês da ACRA desde a sua fundação em 2005.O professor Abílio Manuel é mestrando da UNEB, professor de Língua Portuguesa em Escola Pública Estadual e Municipal e pesquisador do GEAALC (Grupo de Estudos Africanos e Afrobrasileiros de Línguas e Culturas) da UNEB.
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Por Abílio Manuel Marques de Mendonça

Através de obras literárias africanas e afrobrasileiras, procurou-se levar a crianças, e adolescentes o prazer de ler e aprimorar o uso da Língua Portuguesa, assim como trabalhar a elaboração e criação textual, estimulando o educando a ler criticamente, enfocando a ética e a cidadania. Foram usados textos variados, como os de Literatura de Cordel, para enriquecer o conhecimento do aluno, mostrando a sua riqueza e ligação com sua comunidade, tendo esses, mensagens ligadas a temas como o amor ao próximo e a natureza, o autoconhecimento, a paz e outros, que objetivavam sensibilizar aos educandos uma consciência de si e da importância em viver em comunidade, ressignicando a importância da literatura, arte da palavra.

Professor Abílio,professora Rosângela Accioly(professora de Espanhol da ACRA e pesquisadora do PRODESE) e as crianças da ACRA num dos momentos de culminância criativa a partir do conto "Itapuã,a canção do infinito"(de autoria da professora Narcimária Luz) composição feita para alimentar as atividades na Associação.

Este projeto foi realizado em 2007, sendo que ainda está acontecendo na ACRA-Associação Crianças Raízes do Abaeté em Itapuã, mas farei um recorte na experiência que tive neste primeiro ano dele, na ONG que trabalhei como professor e pesquisador de Língua Portuguesa e Literatura desenvolvido com crianças de 10 a 16 anos, sendo estes moradores deste bairro, e esses encontros se deram uma vez por mês dentro da aula de Língua Inglesa.O objetivo geral dele é procurar levar os jovens e adolescentes de comunidades carentes e com poucos recursos econômicos a ter prazer pelo hábito de leitura e incentiva-los a ler textos variados que possuam uma mensagem significativa para sua vida, procurando trabalhar a auto-estima deles, aprimorando a linguagem formal e trabalhando a sua escrita e fala,enriquecendo seus conhecimentos literários tendo como fonte a Literatura Africana e a Afrobrasileira, assim como trabalhar a ética e a cidadania para melhor interação social em sua comunidade.
Uma sondage oral foi realizada no primeiro dia, sendo que esta foi feita descontraidamente, perguntando aos alunos se eles já tinham lido obras africanas, quais os tipos de literatura que eles tinham lido e qual a freqüência. Eles disseram que pouco liam. Alguns tinham lido alguns romances na escola, mas estes eram de origem portuguesa ou brasileira. Nenhum tinha lido uma obra literária africana, mas tinham curiosidade de fazer isso.
As aulas foram ministradas com obras da Literatura Africana, enfocando autores consagrados, como exemplo, a escritora angolana Alda Lara, servindo como referencial de uma mulher negra que através de sua poesia denuncia o preconceito e a sensibilidade de uma pessoa que usa sua poesia para revelar as belezas de sua Terra natal, e a contista Isabel Ferreira que com seus trabalhos, nos mostra os hábitos e costumes africanos da região de onde ela veio, nos dando dados que podem ser interligados aos nossos, baianos. A Literatura Afrobrasileira também foi trabalhada, como a de Mestre Didi, contista e artista plástico soteropolitano, sendo que sua obra “Contos Crioulos da Bahia” serve de referencial para mostrar aos alunos que um homem vindo de uma família humilde, superou todos os obstáculos e ascendeu socialmente, sendo reconhecido internacionalmente. Estas obras foram analisadas, interpretadas e interligados com a cultura afrobrasileira, trabalhando a ligação Literatura Africana em língua portuguesa com a Literatura Afrobrasileira e a realidade do aluno. O objetivo deste trabalho é reforçar a consciência étnica do aluno e trabalhar a sua auto-estima através da valorização da riqueza do legado literário africano e sua conexão com a comunidade que o aluno está inserido, procurando fazer os educandos a se reconhecer nestas.
Através da leitura, interpretação e reelaboração destes textos, buscou-se o aprimorar da linguagem formal escrita e falada, através da análise, crítica e recriação destes, pois a língua portuguesa é a que os brasileiros se interagem, se comunicam, expressando os seus sentimentos, ideologias e construindo sua identidade própria. Sua utilização na forma culta é um meio de especialização do indivíduo que o possibilita a galgar melhores empregos e se destacar mais na sociedade. Houve um enfoque nas palavras que os educandos não conheciam, trocando-as por seus sinônimos ou antônimos. Muitas dúvidas encontradas pelos alunos de qual a forma eleita pela gramática normativa como a “certa” foram discutidas. Mas também houve o respeito ao uso informal que foi a utilizada pela comunidade destes. Esta foi respeitada, não sendo criticada ou estigmatizada, mas sim entendendo que ela faz parte da riqueza de várias formas e possibilidades de comunicação e interação social.
Trabalhou-se também a Redação após a leitura e interpretação de textos diversos, sendo que os alunos os leram, questionaram e deram sua opinião, servindo de base para a criação daqueles de sua própria autoria, trabalhando a criatividade de forma lúdica e criativa, expondo suas ideias e reelaborando os seus conceitos e desmistificando a concepção que os mesmos “não sabem escrever ou não possuem criatividade”.
Procurou-se não limitar o educando a ler e escrever somente um tipo de texto, como somente a prosa, mas também poesia. O intuito foi de sensibilizar e chamar a atenção para a beleza e grandiosidade deste gênero. Mas alguns contos de literatura de cordel foram usados também. Estes serviram para ilustrar a riqueza regional e sua ligação com a vida cotidiana do educando. Este tipo de literatura tem o objetivo maior de mostrar que mesmo as coisas que aparentemente são simples, possuem uma riqueza no seu interior de mensagens que servem para a reflexão sobre o viver em comunidade e o respeito ao ser humano e o convívio com a mãe natureza e com os nossos irmãos, filhos desta bela e rica matriarca.
Os textos selecionados possuiram em seu interior temas que serviram para aprimorar o aluno em sua vida social, tais como a ética, a paz, o amor ao próximo, a vida em coletividade, a importância do auto-conhecimento e a cidadania, colocados de forma lúdica, através das mensagens intrínsecas e extrínsecas que tiveram em seu bojo o intuito de provocar o questionamento do indivíduo como um cidadão membro de sua comunidade.
Minha metodologia pautada em trabalhar com textos e gêneros variados, pois cada membro envolvido no processo possui um gosto diferente por determinado tipo de leitura, sendo esses selecionados por todos, pois alguns gostavam de romance, outros de drama ou até mesmo de comédia. Eles não foram impostos, mas sim negociados entre os membros, tendo como elemento norteador as mensagens significativas que possuem como tema principal o amor, a cooperação mútua, a valorização da paz e a importância de uma vida saudável materialmente e espiritualmente. A ênfase maior foi dada a Literatura Africana (de língua portuguesa, principalmente da angolana) e a Afrobrasileira, por estas estarem mais próximas da realidade dos estudantes e as literaturas populares como a de cordel, mas também são analisadas obras internacionais, como os de Martin Luther King (Eu tenho um sonho), John Lennon (Imagine), Nelson Mandela (pequenos dizeres dele sobre o Apartheid) e outros que colaboraram com a tentativa de construir um mundo mais justo, mais pacífico e sem violência. Trabalhou-se com interpretação e elaboração textual, colocando o estudante como membro construtor de seu próprio texto e com a dramatização destes para tornar os encontros mais animados e prazerosos. A poesia também entra neste processo com importante papel no incentivo a criação e a sensibilização. Procurei incentiva-los para a criação de poesias e outros tipos de textos, dando oportunidade do educando a expor o seu dom criativo.
A música teve um papel importante para descontrair o clima e exibir sorrisos descontraídos. Os envolvidos no processo cantaram e interpretaram-nas, demonstrando a importância deste recurso como uma forma de tornar mais leve os encontros.
Outros recursos utilizados foram contos, romances, revistas, filmes. Todos de diversos gêneros com temas voltados para o crescimento espiritual e intelectual do educando. Estes foram ligados com a realidade deste, possuindo um valor significativo na sua vida em comunidade .


Através de contos africanos e afrobrasileiros as crianças são motivadas criar formas de demonstrar seu aprendizado

O público alvo deste foram crianças e adolescentes de escola pública e moradores da comunidade de Itapuã. Uma das regras desta ONG é que os alunos estivessem matriculados e frequentando a escola. Eles não foram obrigados a participar das aulas, mas sim estimulados a serem sujeitos ativos e a fazerem parte dela. Muitas mães relatavam que queriam seus filhos participando desta unidade porque não os queriam “nas ruas”, devido a violência que as mesmas atestavam viver no bairro. Elas eram pessoas que se preocupavam em estar questionando como os seus filhos estavam e diziam querer um futuro melhor para eles através de outras aulas que eram ministradas, como Inglês, Português e outras. Estas mães não pagam por estas atividades.
O período de aulas ministradas foi com a duração de 2 horas semanais, formando um bloco semestral, totalizando 48 horas, sendo sempre as quartas-feiras.
A avaliação foi processual, o educador observou as atividades e através das respostas escritas e faladas dos educandos, pode-se fazer um dignóstico da mudança comportamental destes e qual a significação das aulas para sua vida prática na comunidade. Os alunos se mostraram mais interessados em ler obras literárias e disseram que elas são importantes para melhorar a escrita e a desenvolver melhor a criatividade. Também reconheceram a importância de estudar as obras de autores africanos, como forma de conhecer melhor as suas origens e viram nela uma ligação muito grande com a brasileira, principalmente nos temas por elas abordados. Não foi atribuído notas, mas sim feito intervenções, estas foram feitas de forma sutil aos educandos pelo educador, mostrando a eles através de conversas como eles poderiam melhorar seus textos e incentivando-os a ler mais e leituras que os dessem prazer de ler.
Os resultados apurados ao final foi a satisfação do mestre em poder fazer algo por outros seres humanos que convivem no mesmo espaço e que juntos a eles dividem um espaço neste planeta rico em beleza e cheio de oportunidades para crescer espiritualmente, pois através destes encontros, ele teve a certeza de que não podemos viver isolados e que devemos caminhar juntos na construção de um mundo melhor, no qual a literatura, arte da palavra,pode levar em seu interior, mensagens que possam despertar outros seres, filhos dessa generosa e rica mãe natureza, a reverencia-la e admira-la, despertando o amor ao próximo e a sensibilidade para reconhecer as coisas lindas do mundo, tentando não mudar o mundo, pois isto é utopia, mas tendo certeza que colaborei para algo se transformar, porque os pequenos atos com amor podem levar a grandes resultados, por eles terem em seu interior a semente que ao ser plantada, pode ser germinada e afetar a vida de outros, através de mensagens contidas na Literatura ou na Arte de Viver.


Crianças da ACRA compondo cartaz durante a aula de inglês

REFERÊNCIAS
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domingo, 6 de fevereiro de 2011

LÉLIA,SAUDADES...

Por ocasião do aniversário de nascimento de Lélia Gonzalez no dia 01 de fevereiro, prestamos nossa singela homenagem.
Uma pessoa muito especial que merece toda nossa consideração e que estará para sempre em nossas mais queridas lembranças. Omo Oxum filha do orixá Oxum, ela era filha do babalorixá Nilson de Ossaiyn que dirigia o terreiro Ilê Ossaiyn em Vista Alegre Rio de Janeiro. Nilson de Ossaiyn foi um filho dileto do professor e babalawo Agenor Miranda que lhe iniciou nos mistérios do oráculo africano.
Outras informações sobre Lélia de Almeida Gonzalez sugerimos o site http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=13070&cod_canal=71
A seguir um vídeo especial que apresenta uma entrevista com a nossa querida e saudosa homenageada.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

KÁTIA M. DE QUEIRÓS MATTOSO:“ÊTRE”, SER OU ESTAR.

Kátia M. de Queirós Mattoso
Foto disponível em
http://www.sudoestenarede.com.br/v1/2011/01/11/
Por Marco Aurélio Luz
Kátia M. de Queirós Mattoso que partiu por esses dias nos deixou uma obra de grande significação para a compreensão da trajetória histórica dos afro-descendentes no Brasil sobretudo na Bahia. Seus trabalhos como historiadora integram sem sombra de dúvida os mesmos patamares de alguns clássicos que problematizaram o processo histórico do fim do escravismo e as situações resultantes até a atualidade. Dentre esses ressaltamos as obras, O Escravismo Colonial de Jacob Gorender, do A Integração Negro na Sociedade de Classes de Florestan Fernandes, o polêmico livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire O Genocídio do Negro Brasileiro, de Abdias do Nascimento dentre outros.
Conheci Kátia na SECNEB e como colega na UFBA comentando da falta de sossego para poder se concentrar em seus trabalhos intelectuais e de pesquisa. Mais do que professora ela era uma dedicada e brilhante pesquisadora que nos deixou o fabuloso livro Être Esclave Au Brésil XVI-XIX siècle; traduzido na edição brasileira como Ser Escravo no Brasil. Entre seus alunos e seguidores destaco os já renomados historiadores, João Reis e Ubiratan Castro de Araújo.
Estive com Bira em Paris na Sorbonne acompanhando com Narcimária algumas sessões de aulas da professora Kátia. Seus cursos eram dedicados a história do Brasil. Sua casa era aberta aos amigos brasileiros para matar a saudade da feijoada. Já Bira se destacava pelo caruru de Santa Bárbara.
Voltando as obras citadas acima elas nos revelam inúmeros aspectos da complexidade das formas do escravismo de acordo ao contexto histórico com suas variações no tempo e no espaço. Ora ressaltam mais o aspecto da funcionalidade econômica do escravismo, ora ressaltam as situações econômicas e sociais geradas com a vinda de emigranteseuropeus no ínicio do século XX em S. Paulo , ora apresentam aspectos referentes aos serviços domésticos nas Casas Grandes de Pernambuco e suas peculiaridades, e ora ressaltam a política genocida de embranquecimento iniciada na colônia , presente na República até os nossos dias.
O que ressalto na obra da professora Kátia é que ela embora aborde o processo histórico escravista desde o século XVI ela com muita originalidade traz à tona a situação de Salvador no século XIX. Adotando todos os procedimentos metodológicos da pesquisa histórica ela comprova de forma cabal, como a atividade do “ganho” proporcionou uma territorialização africana da cidade, o que a Iyalorixá Oba Biyi, Mãe Aninha certa feita conceituou como “Roma Negra”.
Aqui nós vemos os escravos e libertos exercerem todas as profissões de serviços necessários para a cidade e com isso conseguirem negociar a libertação e com ela a constituição de espaços institucionais capazes de proporcionar a reposição do contínuo processo civilizatório negro africano.
“A sociedade brasileira de dupla estrutura que nós quisemos descrever resiste nesse momento à ordem social capitalista unificadora? Sim sem nenhuma dúvida. A herança africana foi tão rica para que se apague, muito profunda para que se esqueça. A África não está perdida. Presente ela germina, cresce, refloresce nas solidariedades dos Negros que partilham um destino de misérias, nas práticas das religiões africanas que guardam viva toda relação cultural com a mãe distante, sempre capaz de preservarem seus filhos as qualidades de dignidade, altivez e coragem que eram aqueles dos escravos brasileiros."(MATTOSO, Kátia Queirós.Être Esclave au Brésil.Paris:Hachette,1979,p.274)
Com essas palavras Kátia encerra o seu livro Être esclave... Pelo teor de suas narrativas que demonstra o denodo dos africanos e seus descendentes na luta solidária pela liberdade podemos insinuar que Estar é uma tradução de Être mais correta e pertinente para significar a transitoriedade de uma situação histórica. Em francês être pode significar ser ou estar.
Por mais que tenha tentado o escravismo, a história do Negro no Brasil e nas Américas é a da recusa a todas as tentativas de reduzi-lo à escravo.
Toda sua afirmação de identidade própria é no sentido de repor suas linguagens valores e instituições, enfim a cultura e o contínuo civilizatório africano.
Aliás, como diria Heráclito de Èfeso, “tudo muda, tudo é transitório como as águas do rio”...