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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 2 de agosto de 2025

MOJUBÁ! TEMPOS DE CELEBRAR A COLHEITA EPISÓDIO 1

 





Selo comemorativo dos 30 anos do livro
Criação do designer Marcelo do Patrocínio Luz





Por Narcimária C. P. Luz 


“A força do negro está na sua própria civilização”

Marco Aurélio Luz.



 

Monumento Opo Baba Nla

 Recriação da escultura Opa Exin ati Eyele Meji de Mestre Didi. 

Ancestralidade projetada. Passado Presente e futuro.



Muito o que celebrar, sim!


Capa da 5ª Edição 1995

 Celebrar os trinta anos do Agadá, reconhecendo-o como um manancial valioso do pensamento africano-brasileiro.

O Agadá, ao longo dos anos, contribuiu veementemente com exercícios de pensar para que gerações de graduandos e pós-graduandos (re) adquirissem a capacidade de espanto diante das tramas que tecem os discursos e retóricas de suas “formações”.

Vamos ilustrar, a partir daqui, o quão inspirador se tornou o livro Agadá, dinâmica da Civilização Afro-brasileira, estimulando iniciativas institucionais de grande vigor no contexto científico, acadêmico e comunitário.

O próprio autor se refere a composição do Agadá, como resultado:

“(...)de uma relação vivido-concebido, em que durante toda minha existência me fez adquirir a consciência da luta da afirmação existencial da populações negras, em diversos contextos que convivi e convivo.(...) Abordamos o real significado histórico da insurgência negra na África e no Brasil, caracterizado como uma luta pela afirmação existencial própria, contra o genocídio perpetrado pela escravidão e pela política de embranquecimento, oriunda do período pós-abolição da escravatura no Brasil e nas Américas. Procuramos demonstrar, sobretudo, que essa luta se constitui no verdadeiro "motor", capaz de ocasionar as transformações ocorridas nos últimos quatro séculos da história. (...) Procuramos demonstrar a dinâmica da reposição dos valores e linguagem do processo civilizatório negro africano na formação social brasileira, e seu real significado na constituição de nossa identidade própria.”

E mais:

“Na verdade, essa luta é uma luta pela realização de valores e aspirações legítimas da constituição do Estado brasileiro, mas que são completamente desvirtuados e deslocados, e até, pelo contrário, servem à ideologia do embranquecimento de forma sinistra e lúgubre, como sejam: os consagrados valores da "integração nacional" e da "democracia racial", que acabam sempre por ratificar nesse contexto o argumento repetitivo, cínico e desgastado, de que não há racismo no Brasil ... e portanto, é perda de tempo debater ou tocar em tais assuntos ... É exatamente por que "esses assuntos" são tão censurados, tão tapados, tão silenciados, que este silêncio fala pelos quatro cantos, e se constituem na verdade na principal questão da nossa nacionalidade contemporaneamente. Somente destapando o reprimido em nós poderemos avançar para assumir nossa real identidade, ultrapassando o complexo de inferioridade, os efeitos da desculturação, do europocentrismo, enfim, do neocolonialismo.”

É assim que nasceu a influência do pensamento do autor na composição estrutural dos Programas de Pós-Graduação na área de Comunicação das Universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)e na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, onde concebeu as linhas de pesquisa: Pluralidade Cultural e Educação e Dimensão Estética e Educação.


Marco Aurélio Luz entre graduandos/as na Eco

Aulas de teoria da Comunicação na escola de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Na atmosfera de linguagens criativas performáticas Marco Aurélio desenvolvia suas aulas





Ambiência da UFRJ no evento dos 70 Anos de Muniz Sodré 

Da esquerda para a direita Narcimária Luz, Muniz Sodré, Márcio Tavares do Amaral e Marco Aurélio Luz

Imbuído da dinâmica do vivido e concebido destaque para outras contribuições extraordinárias de Marco Aurélio,a exemplo da direção, produção e coautoria do texto para os filmes Orixá Ninu Ile e Iya-mi Agba, Arte Sacra Negra II, realizado pela SECNEB com o apoio da Embrafilme e da Secretaria de Assuntos Culturais do MEC e Embrafilme.


Arte Sacra Negra. 

O Panteão da Terra. Nanan , Obaluaiye e Oxumare.

Colaborou na organização das Semanas Afro-brasileiras Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro em 1974.

Cartaz das semanas Afrobrasileiras

Integrou o Grupo de Trabalho em Educação da Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil colaborando na implantação e coordenação, do projeto de Educação Pluricultural Mini-comunidade Oba Biyi.



Mini Comunidade OBA BIYI experiência de educação Pluricultural.

Colaborou com  a equipe que desenvolveu o projeto de Educação Pluricultural Odemodé Egbé Asipá no âmbito da comunidade-terreiro Ilê Asipá(1999-2003). Aqui é necessário salientar aspectos relevantes desse projeto, isto porque é necessário que as gerações sucessoras saibam da perspectiva vanguardista que o Mestre Didi ergueu dentro do Ilê Asipá na virada do século XX para o XXI, mobilizando membros da hierarquia da comunidade e parcerias institucionais, a exemplo do Programa Descolonização e Educação, o Núcleo de Tecnologias Inteligentes e ambos pertencentes ao Departamento de Educação do Campus I da Universidade do Estado da Bahia-UNEB; Núcleo de Estudos Canadenses  também da Uneb envolvendo a Universidades do Québec e Montreal, e a equipe de professores na área de Manutenção de Computadores do Centro Federal de Educação Tecnológica, hoje Instituto Federal de Educação.



Marco Aurélio Luz entre os jovens do Odemodé Egbé Asipá no auge do projeto em 1999.Hoje integram a hierarquia do terreiro assumindo o legado incontestável do Alapini,Mestre Didi

 É importante destacar que o Odemode Egbé Asipá foi uma iniciativa pioneira no Brasil no que se refere a dinâmica de educação envolvendo Filosofia Nagô, Contos Nagô, Geografia, História da África, Yorubá, Língua Portuguesa, Inglês, Matemática e Tecnologias da Informação, além de conseguir reunir jovens de outras comunidades-terreiro a exemplo do Oxumarê e Ilê Axé Opô Afonjá, permitindo a troca de experiências enriquecida tanto pela percepção ética e estético- mítica das forças cósmicas do universo, quanto do culto aos ancestrais.

Merece ser destacado aqui, a participação valiosa da pesquisadora do Programa Descolonização e Educação Léa Austrelina Ferreira dos Santos que na época de sua graduação em Pedagogia na Uneb, integrou a equipe de pesquisadoras do Programa Descolonização e Educação equipe responsável pelo projeto Odemodé Egbé Asipá(1999-2003).

Durante  a graduação e Mestrado na Uneb  e depois, no início do seu Doutorado em Genebra na  Suíça, o livro Agadá, dinâmica da civilização africano foi o pilar da sua formação. Ressalte-se que  a sua pesquisa de Iniciação Científica baseada no projeto Odemodé foi premiada e reconhecida no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Aqui uma mensagem recente de  Léa para Marco Aurélio Luz, comentando sobre o  impacto do pensamento dele no seu mais recente livro dedicado ao Ilê Asipá, o "ninho" do pensamento e filosofia africana transatlântica,  inspiração do Odemode Egbé Asipá.

"Professor Marco Aurélio

Mais uma vez parabéns pelo seu novo livro e também obrigada.

Recentemente acabei de lê-lo. Considero esse livro uma contribuição essencial para a compreensão das formas de transposição dos valores africanos no Brasil. Porque vai além do conhecimento estereotipado e amplamente divulgado pela mídia. Ele traz para a discussão a complexidade da recriação de valores culturais múltiplos, de um legado fundamental e fundador da diversidade cultural na Bahia e Considero o livro também bastante completo, com referências documentais importantes. Englobando as dimensões históricas, culturais e institucionais. Ou seja, uma fonte bibliográfica de relevância. A vida de Mestre Didi é destacada na sua importância comunitária.

Fico feliz ao terminar a leitura porque esse livro representa para mim pessoalmente uma forma de oposição aos valores que reduzem e tentam aniquilar a alteridade. Porque reconhece e dá vazão à riqueza das diferenças e da diversidade. Precisamos aprender com o senhor, com a história do Ilê Asipá, do Mestre Didi e de todos que afirmam o direito de existência desse patrimônio cultural.

Muito obrigada mais uma vez. Espero que esse livro tenha sido festejado com todas as honras que ele merece.

 Léa Austrelina"

Outra contribuição desdobramento das perspectivas transatlânticas do Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira foi a Associação crianças Raízes do Abaeté  idealizada por José luís Correia do Patrocínio, Contra Mestre Luís Negão, que na sua convivência com Marco Aurélio ousou em propor  um projeto de educação pluricultural que tinha seu lastro na sociabilidade da capoeira e assim,  promoveu intercâmbios com crianças  e jovens do Brasil, Salvador, Bahia, do bairro de Itapuã, e também crianças e jovens do vilarejo de Hamburgo na África do Sul, e jovens da cidade de Oxford na Inglaterra.

Atenção caro leitor: o logo da Associação Crianças Raízes do Abaeté é uma criação de Marco Aurélio Luz que através da sua criatividade poética apresenta o conceito dos elementos que compõem a marca.

“Berimbau!

Saudações, histórias, músicas, coreografias, movimentos, gestos, ginga, golpes, luta.../ Biriba, pau que enverga, mas não quebra/ O arame tem a fibra de aguentar os toques da vareta ao som dos grãos contidos na palha trançada do caxixi/ Som:o resultante, terceiro elemento proporcionado pelo Senhor do movimento/ A cabaça - ventre no ventre constituindo a sonoridade/ Peixes, peixinhos filhos da Lagoa do Abaeté, filhos da CAPOEIRA/ Verde e Amarelo?/ Ô sô, até na África sabem que ela é BRASILEIRA!”

 

O repertório africano transatlântico que o Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira, incentivou a corajosa criação do Sementes Caderno de Pesquisa no como uma referência do Programa Descolonização e Educação-Prodese no Departamento de Educação do Campus I da Uneb. 


Exemplares do Sementes Caderno de Pesquisa

O Sementes se caracterizou por apresentar, em todas as suas edições, o discurso fundador das comunidades tradicionais da Bahia. Todas as pesquisas que o Prodese desenvolveu tinham seu espaço de divulgação assegurado no Sementes. O Prodese convidou  Marco Aurélio Luz para criar o logo referência do Sementes.

Assim todo o conceito da criação revela o cuidado de Marco Aurélio com o pensamento africano-brasileiro expresso de forma original.

  


Prestem atenção aos  triângulos. Eles formam o machado duplo, símbolo de sociabilidade 2 + 1 = 3, o casal mais um, continuidade ininterrupta da existência, princípio do orixá Xangô, complementado pelos pequenos círculos que contém as três cores básicas da existência: branco, preto e vermelho, existência abstrata, mistério, sangue circulante. Duas flechas, simbologia da origem da humanidade, emblemas de Odé o caçador. Dois arcos complementariam o ofá, arco e flecha, e também alusão ao berimbau, instrumento básico da capoeira, ícone da liberdade. Coluna de triângulos, losângulos, simbologia dos machados duplos sustentando a sucessão contínua do existir. 

Essas contribuições teórico-epistemológicas nas várias áreas do conhecimento, repercutiram também, de modo extraordinário, na área de Educação da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), na graduação no Programa de Pós-graduação em Educação e Contemporaneidade, colaborando em diversas pesquisas, projetos de extensão e em eventos de grande porte.


Homenagem ao Professor Doutor Marco Aurélio Luz.

Marco Aurélio recebendo a placa de Amigo da Turma pela Graduanda Ana Patrícia F. Reis da Silva

Foto Maurício Luz

Ainda na Uneb, Marco Aurélio participou das duas edições do Sinbaianidade, iniciativa interessante idealizada pelo professor Gildeci Pereira Leite, que na ocasião, como diretor do Campus de Seabra, fez-lhe uma homenagem.



I Simpósio Internacinal de Baianidade 

Conferência de abertura do Simpósio. A Esquerda Professor Doutor Marco Aurélio Luz que fez a apresentação do conferencista Muniz Sodré. A direita o Professor Doutor Muniz Sodré realizando a Conferência Magna "Sobre a Maneira de Estar no Mundo" Campus XXIII da UNEB na cidade de Seabra 2011


IIºSimpósio Internacinal de Baianidade 

Salvador 

Marco Aurélio Luz coordena a mesa "Baianidade e Africanidades" compartilhando com Muniz Sodré e Jaime Sodré

No início dos anos 1990, o jornalista e poeta Florisvaldo Matos criou um espaço de publicação conhecido como Caderno Cultural que circulava aos sábados no Jornal A Tarde. Neste Caderno, Marco Aurélio Luz, recém-chegado da França, colaborou com artigos inéditos, instigantes e contemporâneos, ganhando um público assíduo de leitores e leitoras, que ficavam aguardando seus ensaios sábados. Era interessante a atmosfera de análises e reflexões que se instalava nas universidades na segunda-feira, em torno do tema Marco abordou no sábado. Era muito interessante! E esses artigos/ensaios serviam como material didático para as aulas na graduação e pós-graduação.

Em 1995, Florisvaldo Matos organizou um Caderno Especial temático dedicado aos 300 Anos de Palmares, e nesta edição lá estava a extraordinária contribuição de Marco Aurélio. O sucesso dessa publicação estimulou Florisvaldo Matos a criar com regularidade cadernos temáticos.



Caderno Cultural dedicado aos 300 Anos de Palmares

 Marco Aurélio Luz foi  membro do Conselho Consultivo do Instituto Nacional da Tradição Africano-Brasileira. A criação do Intecab foi proposta no Brasil após a 3ª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura  durante o Iº Encontro Nacional da Tradição dos Orixá e Cultura, realizado em Salvador , no Ilê Axé Opô Afonjá , em agosto de 1987, coordenado por Mãe Stella Azevedo e o Alapini, Mestre Didi.



  Reunião preparatória para IIª Comtoc realizada na sede da SECNEB

Não podemos deixar de ressaltar o talento de Marco Aurélio Luz na arte escultórica em madeira, barro e cimento.

Exu Lonã

O senhor dos caminhos. 

Na cabeça a pena de ekodide que o torna o Asiwaju o que vai à frente.

Escultura de Marco Aurélio Luz



O escultor em ação na ambiência do Ilê Asipá



Esculturas em alto relevo criadas por Marco Aurélio Luz  para  compor as colunas do lesain no Ilê Asipá

Suas obras estiveram expostas, por exemplo, no em 1986   Aron    David Hall durante exposição coletiva da arte sacra negra na IIIª Conferência Mundial da Tradição dos Orixás e Cultura em Nova York, EUA e no Encontro Nacional da Tradição dos Orixás e Cultura Afro-brasileira, organizado pelo INTECAB, no Centro de Convenções, Salvador 1988.



Exposição no Centro de Convenções da Bahia durante o Encontro Nacional do INTECAB 1988.

E mais uma informação relevante sobre a versatilidade do nosso pensador Marco Aurélio Luz: ele é compositor! 

Fez um samba muito belo que procura contar com poesia a história da tradição que vincula Mestre aos seus ancestrais na África e sua extensão no Brasil. O samba se chama: Homenagem ao Mestre Didi.

 Todo aniversário do Mestre Didi ele puxava o samba e toda a comunidade cantava com muita alegria.



Marco Aurélio Luz canta o samba no aniversário de Mestre Didi no Ilê Asipá acompanhado do grupo de samba Jatobá


Sem sombra de dúvidas, AGADÁ é uma obra que aguça a sensibilidade de tal forma, que instiga o “pensamento insurgente “(1)  face aos discursos e retóricas que instituem genocídios a existência diversa dos povos e o legado dos contínuos civilizatórios que os constituem.

Um saudoso amigo e importante cientista político, Dalmir Francisco Costa, que foi professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais, certa vez expressou, usando a sua forma “mineira” acolhedora e divertida de se comunicar:

Dalmir Franscisco 
Imagem disponível em https://blogdoacra.blogspot.com/search?q=Dalmir+francisco+

— Pense num assunto, tema ou questões sociais das mais inquietantes, que que se possa imaginar. Pois bem, tem no Agadá!


 Awon Esó

Evento comemorativo dos 10 anos do Prodese  Uneb

Da esquerda para a direita o Landê Awanalê,Dalmir Francisco,José Carlos Limeira e Marco Aurélio Luz


 A vitalidade que envolve o clássico Agadá, dinâmica da civilização africano-brasileira nas Ciências Humanas e Sociais, deve-se a efervescência do pensar para além das obviedades das análises fixadas na História moderna, suas análises empíricas e racionalistas que geralmente não conseguem indicar novos horizontes para a compreensão mais ampla dos povos e suas civilizações.

No prefácio da primeira edição do livro, Muniz Sodré destaca:

 “Agadá, dinâmica da civilização Africano-Brasileira, é um trabalho realmente original, por ser o primeiro a inscrever a presença do negro brasileiro numa dinâmica "civilizatória", qualificando-a como uma dialética própria na questão do entrecruzamento das diversas "nações" (etnias) que aqui chegaram como grupos primários...O trabalho de Marco Aurélio é a descrição rigorosa e emotiva dessa movimentação originalíssima dentro do espaço nacional brasileiro.” (2)

Agadá, nos aproxima do discurso inaugural da civilização africana, apresentando os princípios fundadores, tradições, a transcendência do viver, importância do corpo comunitário, as estratégias de continuidade da herança cultural dos antepassados, a dignidade característica dos povos constituintes dessa civilização, comunicando também quem nós somos e a importância do legado desses vínculos de sociabilidade.                                                                             

O autor Marco Aurélio Luz nessa obra, faz transbordar um pensamento singular, original, radical e cuidadoso dedicado a expressar o conhecimento e filosofia africana de tempos imemoriais, Ou no dizer dos mais velhos quando nos apresentam os itans: “no tempo em que a humanidade morava nas árvores e conversava com elas...” 

No prefácio da quinta edição do livro, Nei Lopes, compositor de sambas extraordinários que marcam a história da música popular brasileira e também escritor da tradição afrobrasileira, contextualiza a obra, ressaltando que:


Imagem disponível em https://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/literatura/romance-de-nei-lopes-lembra-um-samba-de-breque-9zaszamgwzgk504ee5402gw55/

Marco Aurélio Luz, discípulo de Mestre Didi Asipá, venerado sacerdote afro-baiano; e confrade de outro mestre, Muniz Sodré, na seleta comunidade dos obás de Xangô(...) é um dos grandes nomes da intelectualidade brasileira, e faz da pena a sua espada. Integrando o grupo de criadores de marcantes obras de conhecimento e cidadania(...), em que ele é ‘herói fundador’. E a presente obra é um eloquente símbolo do legado africano e da dinâmica do processo civilizatório negro(...)que na sua continuidade nas Américas se refaz diante dos novos sistemas e novas relações que encontra a cada passo, sem perder a conexão com a matriz africana. Assim, esta nova edição de um dos maiores clássicos da ensaística afro-brasileira, (...) é muito bem-vinda. ”(3)

É importante mencionar aqui, que os vínculos de sociabilidades vivenciadas por Marco Aurélio Luz na ambiência comunitária tradicional na Bahia, derivaram títulos honoríficos ele é Oju Oba, “os olhos do rei” ati, Elebogi “o adorador de árvores”, permitindo-lhe uma imersão extraordinária nesse sofisticado universo da civilização africano-brasileira e seus títulos estão sob anuência das entidades do Ilê Axé.



Mãe Stela Iya Kayode, Mestre Didi Asogba e Alapini, Muniz Sodré

Otun Oba Aresa, Juana Elbein dos Santos Elefunde, Marco Aurélio Luz Osi Oju Oba, Dorival Caymi Oba Onikoi. Sentada Mãe Pinguinho Iya Kekere.

Confirmação dos títulos no Axé Opo Afonja´em 1977.

Continue acompanhando os próximos episódios que trazem mais histórias, curiosidades e emoções que envolvem o pensamento insurgente e transatlântico do Agadá,dinâmica da civilização africano brasileira

 

REFERÊNCIAS

1-     LUZ, Marco Aurélio; LUZ, Narcimária.Pensamento Insurgente, direito à alteridade, comunicação e Educação.Salvador:Edufba,2018.

2-  SODRÉ,Muniz.Prefácio da 1ª Edição de Agadá,dinâmica da Civilização africano-brasileira,Salvador:Edufba,1995.

3- Nei Lopes.Prefácio da 5ª Edição de Agadá,dinâmica da Civilização africano-brasileira,Salvador:Edufba,2020.