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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 20 de maio de 2018

Iª COMTOC Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura


Acervo: M. A. Luz

Em 1980 o Caribean Art Center de Nova York através de sua dirigente Martha Moreno Vega teve a iniciativa de promover um encontro entre representativas lideranças da tradição africana. A reunião tornou-se uma celebração histórica que teve como desdobramento a criação das COMTOC Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura.  


Os líderes presentes no encontro histórico gerador das COMTOC: Max Beauvoir Ougan Haiti, Wande Abimbola Reitor da Universidade de Ifé, Julito Collazo Babalawo Cuba, Deoscoredes M. das Santos Mestre Didi Alapini Brasil.

Além de Marta Moreno Vega do Caribbean Art Center acompanharam o encontro Juana E. dos Santos da Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil-Secneb  e Moly Haye de Trinidad e Tobago.


Escultura em bronze arte tradicional de Ile Ife
Foto disponível na internet


Iª COMTOC

Saudação do Oni Ife OBA OKUNADE SIJUWADE OLUBUSE II OLUFE OONI ADIMULA OLOFIN AYE na Iª COMTOC



"Eu saúdo todos os reis presentes aqui hoje. Eu saúdo o vice-chanceller desta Universidade professor C. A. Onwumechili, e eu saúdo todos os mais antigos desta instituição. A todos meus filhos que vieram de lugares distantes eu digo boas vindas. Eu espero que tenham uma agradável estadia. Eu os saúdo porque vocês não esqueceram do lar ancestral. A todos que estão de pé e a todos que estão sentados, eu digo meus cumprimentos. Cumprimento também àqueles que vieram assistir este evento, vindo da cidades vizinhas.
É um motivo de grande alegria para mim ser hoje o responsável pela abertura da Primeira Conferência Mundial de tradição dos Orixá. hoje é um dia histórico. Minhas congratulações àqueles que planejaram esse evento de hoje. Odua; ele que desceu para a terra numa corrente, e que foi o primeiro Olofin não deixará secar nunca a fonte de vossa sabedoria.
A todos vocês estudantes desta Universidade, e todos os meus filhos de lares distantes, eu digo para nunca esquecerem o lugar de suas origens. Se nós participamos na religião de outros, se nós aprendemos a cultura dos outros, não devemos esquecer a nossa.
Portanto, nós não devemos usar nossas mãos para relegar nossa própria cultura à posições inferiores.
toda pessoa deve aprender a colocar-se a si mesmo num pedestal. Isto porque a galinha é que se abaixa quando está entrando em casa.
Meus filhos todos os tesouros do povo Yorubá estão em Ilé-Ifé. Ifé é o lar e a origem de todos nós...
Ilé-Ifé é a terra sagrada da raça negra e de todos os devotos da religião dos Orixá espalhados pelo mundo. Foi aqui em Ifé que Oduduwa primeiro criador da terra sobre a qual todos nós hoje estamos em pé e no seio da qual nós desapareceremos quando mudarmos nossa presente posição mortal!!!
Eu asseguro a todos vocês, meus filhos, aqueles que são nossas visitas de lugares distantes, que nós nunca esqueceremos de vocês. Eu saúdo a vossa coragem. Eu saúdo vossa paciência. Eu estou muito feliz por ver que vocês não esqueceram o seu lar ancestral [...]."

Disponível em Scielo:Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira by Marco Aurélio Luz




Opon Ifa elemento do culto de Orumila Baba Ifa.
Foto disponível na internet

Wande Abimbola Reitor da Universidade de Ifé fez importante pronunciamento na ocasião da abertura:

"[...] Existe um grande hiato entre os intelectuais e os líderes da comunidade. Isto é algo muito triste. Nenhuma nação pode progredir se os líderes de sua cultura e o povo que propaga ideias não se encontram e não tenham nenhuma forma para se reunir e trocar ideias. Este é um dos problemas que nós devemos enfatizar. A África desde o colonialismo, podemos perceber, criou uma classe de povo elitista que tem sua base de origem no comércio, despossuído de cultura, e que deu nascimentos, podemos perceber em um orgulho e vaidade baseado em dissociar-se a si próprios de sua própria cultura.
Nós percebemos que esta é a razão pela qual não quisemos organizar mais uma conferência apenas com a população acadêmica. Queremos realizá-la juntando os líderes da cultura tradicional Africana com os acadêmicos, pois só assim seriamos capazes de interagir entre nós mesmos e obter os mútuos benefícios advindos desta interação.



Mestre Didi Asipa Alapini representante do Brasil faz seu pronunciamento na abertura da Iª COMTOC
Foto Marco Kalish
Acervo M. A. Luz
Em qualquer parte que vamos nas Américas e em outras partes do mundo, o povo não nos deixa esquecer nossa cultura tradicional. O povo não quer igualmente que muitos de nós separemo-nos de nossa cultura. Quando falamos isto, não estamos querendo dizer que devemos retornar a uma cultura de centenas de anos atrás. O que estamos querendo dizer é que cada geração deve aprender como organizar e revitalizar a cultura na sociedade em que deu nascimento a essa geração. Isto tem sido nossa falha com a geração atual do povo da África, que nós temos sempre e completamente virado as costas para nossa cultura tradicional, especialmente nossa religião tradicional.
[...] O sistema de ideias e religião, razão pela qual nós todos estamos reunidos aqui para falarmos, assumiu na atualidade dimensões de uma cultura internacional.
Deixe-me dar a vocês uns poucos exemplos. Falando há poucos dias atrás com um colega meu de Porto Rico, eu fui informado que o número de sacerdotes e sacerdotisas do culto aos Orixá em Porto rico é muito maior do que os sacerdotes do culto católico neste país. No Brasil, onde você tem uma nação com cem milhões de habitantes, mais da metade desta população do pais está diretamente ou indiretamente envolvida com a cultura da tradição dos Orixá. Em Cuba, especialmente há mais sacerdotes de Ifá que na Nigéria. Em trindad, até os dias de hoje é cultivada, ainda, nós temos sacerdotes e sacerdotisas de Xangô, alguns dos quais são renomados professores e acadêmicos. Por toda diáspora africana, em qualquer lugar onde você vá, seja na Guatemala, ou na Colômbia ou Peru ou Guiana ou honduras ou nos Estados Unidos da América, você encontra gente que devota suas vidas para a propagação da cultura da tradição dos Orixá. todavia, na África que é o berço desta religião, muita gente de nossa geração tem virado as costas para sua própria cultura."

Disponível em Scielo:Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira by Marco Aurélio Luz


Iª COMTOC em Ile Ife
Foto Marco Kalish
Acervo M.A.Luz
O professor Abimbola, depois de ter chamado a atenção sobre o fato de que enquanto nas Américas a tradição dos orixá se revitaliza e se expande, infelizmente na África as novas gerações escolarizadas têm virado as costas para sua própria cultura, acentuou os pontos principais do sistema cultural e religioso tradicional que, deixado de lado, poderá ocasionar que a sociedade caminhe para um estado de anomia, isto é, completa desorganização social.
Representantes do Brasil foram Mestre Didi Asipa Alapini, Iya Bido de Iyemanja e Juana E. dos Santos Elefunde Egide.
Foi um marco histórico de grande importância na continuidade civilizatória de nossa tradição religiosa e cultural.
A cidade de Salvador foi escolhida para a realização da IIª COMTOC.















quarta-feira, 9 de maio de 2018

OBIRIN ATI IYA Mulher e Mãe




IYÁ IBEJI, Escultura de Marco Aurélio Luz
Foto: Hans Olu Obi
                                                   
                                           OBIRIN

Comecemos as nossas homenagens conversando com o Oju Obá Marco Aurélio Luz sobre o significado de mulher na tradição afro-brasileira nagô. Nessa breve entrevista a ACRA Marco Aurélio destaca que na língua yorubá a palavra OBIRIN significa MULHER e demonstra que essa semântica “mulher” aprisionada na lógica das sociedades urbano-industriais não corresponde e não dá conta da infinitude de valores e linguagens que o universo simbólico afro-brasileiro apresenta e legitima.
Marco Aurélio lançou recentemente o livro “TUN ONÁ RI RETOMANDO O CAMINHO” que aborda aspectos das culturas africano-brasileiras e a visão de mundo que se expressa através de refinados códigos estéticos e suas formas de comunicação.
Acompanhem a entrevista consultando a escultura na foto acima para identificar a riqueza da simbologia expressa.

ENTREVISTA

ACRA - Fale-nos do significado de mulher na tradição afro-brasileira nagô.

Marco Aurélio Luz - Na tradição nagô a mulher, obirin, está representada por seus mistérios e poderes imutáveis. Na tradição a linguagem e as instituições elaboraram a essência dos seres no caso o ser da mulher é uma expressão do princípio feminino da existência.

ACRA - Você recentemente fez uma exposição de suas esculturas no foyer do Teatro UNEB e entre elas estava uma escultura representando o princípio feminino da existência. Você poderia comentar a simbologia dessa escultura?

Marco Aurélio Luz -
Essa escultura de minha autoria é a IYÁ IBEJI, a Mãe dos Gêmeos, que emerge dentro dos cânones estéticos da tradição. De início devo logo dizer que a capacidade de concepção, de gestação, de formidável transformação do corpo feminino constitui e expressa o mistério e o poder da mulher, tanto mais em sociedades em que o valor da expansão de famílias e linhagens significa fortes elos de ancestralidade, sucessão, gerações, continuidade comunal.

ACRA - A IYÁ IBEJI expressa em sua simbologia esses valores?

Marco Aurélio Luz -
Sim. Sei que vocês irão ilustrar essa entrevista com a foto dessa escultura e isso dará ao leitor a dimensão dos comentários que irei fazer. Uma mulher jovem e fértil sustenta duas crianças gêmeas em suas pernas caracterizando poder de procriação. Os gêmeos, IBEJI, ibi+eji, nascidos dois, são símbolos de fertilidade e como tal são entidades muito cultuadas na Bahia. Eles seguram com uma mão o seio da IYÁ, e com a outra um abebe, emblema em forma de leque, de forma a representar o útero fecundado. O abebe é emblema característico dos paramentos dos orixá que regem príncipios femininos como Oxum e Iyemanjá caracterizando seus poderes e mistérios.

ACRA - Na escultura vemos outro abebe também gravado na figura de um ovo.O que significa?

Marco Aurélio Luz -
O ovo é um elemento símbolo integrante da representação de Oxun caracterizando a continuidade das próximas gestações, que está representado nos IBEJI por Dou o nascido subsequente.

ACRA - Na base da escultura você esculpiu umas ondulações o que representam?

Marco Aurélio Luz –
Contornando a escultura na base, tem a representação de água corrente, expressão da natureza regida pelos poderes de Oxum, simbolizando também o corrimento menstrual símbolo do poder de fertilidade feminina. Oxum representa poderes de beleza, encantamento e sedução da jovem mãe. Conforme uma saudação da tradição africana relatada por Fatumbi Verger, "Oxum limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos".


Atrás da escultura, referência e alusão a passado, poente, dois pássaros caracterizando a proteção das IYA-MI, as antigas e venerandas mães ancestrais, que se consubstanciam em pássaros, peixes ou sereias...
Muitos outros aspectos podem ser abordados sobre OBIRIN é um assunto que não tem fim.

ACRA - Mais uma vez agradecemos sua valiosa colaboração nos ajudando a consolidar o blog da ACRA.

Nota: Publicado em 2010