terça-feira, 22 de maio de 2018
domingo, 20 de maio de 2018
Iª COMTOC Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura
Acervo: M. A. Luz
Em 1980 o Caribean Art Center de Nova York através de sua dirigente Martha Moreno Vega teve a iniciativa de promover um encontro entre representativas lideranças da tradição africana. A reunião tornou-se uma celebração histórica que teve como desdobramento a criação das COMTOC Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura.
Os líderes presentes no encontro histórico gerador das COMTOC: Max Beauvoir Ougan Haiti, Wande Abimbola Reitor da Universidade de Ifé, Julito Collazo Babalawo Cuba, Deoscoredes M. das Santos Mestre Didi Alapini Brasil.
Além de Marta Moreno Vega do Caribbean Art Center acompanharam o encontro Juana E. dos Santos da Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil-Secneb e Moly Haye de Trinidad e Tobago.
Escultura em bronze arte tradicional de Ile Ife
Foto disponível na internet
Iª COMTOC
Saudação do
Oni Ife OBA OKUNADE SIJUWADE OLUBUSE II OLUFE OONI ADIMULA OLOFIN AYE na Iª COMTOC
"Eu saúdo
todos os reis presentes aqui hoje. Eu saúdo o vice-chanceller desta
Universidade professor C. A. Onwumechili, e eu saúdo todos os mais antigos
desta instituição. A todos meus filhos que vieram de lugares distantes eu digo
boas vindas. Eu espero que tenham uma agradável estadia. Eu os saúdo porque
vocês não esqueceram do lar ancestral. A todos que estão de pé e a todos que
estão sentados, eu digo meus cumprimentos. Cumprimento também àqueles que
vieram assistir este evento, vindo da cidades vizinhas.
É um motivo
de grande alegria para mim ser hoje o responsável pela abertura da Primeira
Conferência Mundial de tradição dos Orixá. hoje é um dia histórico. Minhas
congratulações àqueles que planejaram esse evento de hoje. Odua; ele que desceu
para a terra numa corrente, e que foi o primeiro Olofin não deixará secar nunca
a fonte de vossa sabedoria.
A todos
vocês estudantes desta Universidade, e todos os meus filhos de lares distantes,
eu digo para nunca esquecerem o lugar de suas origens. Se nós participamos na
religião de outros, se nós aprendemos a cultura dos outros, não devemos
esquecer a nossa.
Portanto,
nós não devemos usar nossas mãos para relegar nossa própria cultura à posições
inferiores.
toda pessoa
deve aprender a colocar-se a si mesmo num pedestal. Isto porque a galinha é que
se abaixa quando está entrando em casa.
Meus filhos
todos os tesouros do povo Yorubá estão em Ilé-Ifé. Ifé é o lar e a origem de
todos nós...
Ilé-Ifé é a
terra sagrada da raça negra e de todos os devotos da religião dos Orixá
espalhados pelo mundo. Foi aqui em Ifé que Oduduwa primeiro criador da terra
sobre a qual todos nós hoje estamos em pé e no seio da qual nós desapareceremos
quando mudarmos nossa presente posição mortal!!!
Eu asseguro
a todos vocês, meus filhos, aqueles que são nossas visitas de lugares
distantes, que nós nunca esqueceremos de vocês. Eu saúdo a vossa coragem. Eu
saúdo vossa paciência. Eu estou muito feliz por ver que vocês não esqueceram o
seu lar ancestral [...]."
Disponível em Scielo:Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira by Marco Aurélio Luz
Opon Ifa elemento do culto de Orumila Baba Ifa.
Foto disponível na internet
Wande Abimbola Reitor da Universidade de Ifé fez importante pronunciamento na ocasião da abertura:
"[...] Existe um grande hiato entre os intelectuais e os líderes da comunidade. Isto é algo muito triste. Nenhuma nação pode progredir se os líderes de sua cultura e o povo que propaga ideias não se encontram e não tenham nenhuma forma para se reunir e trocar ideias. Este é um dos problemas que nós devemos enfatizar. A África desde o colonialismo, podemos perceber, criou uma classe de povo elitista que tem sua base de origem no comércio, despossuído de cultura, e que deu nascimentos, podemos perceber em um orgulho e vaidade baseado em dissociar-se a si próprios de sua própria cultura.
Nós percebemos que esta é a razão pela qual não quisemos organizar mais uma conferência apenas com a população acadêmica. Queremos realizá-la juntando os líderes da cultura tradicional Africana com os acadêmicos, pois só assim seriamos capazes de interagir entre nós mesmos e obter os mútuos benefícios advindos desta interação.
Mestre Didi Asipa Alapini representante do Brasil faz seu pronunciamento na abertura da Iª COMTOC
Foto Marco Kalish
Acervo M. A. Luz
Em qualquer parte que vamos nas Américas e em outras partes do mundo, o povo não nos deixa esquecer nossa cultura tradicional. O povo não quer igualmente que muitos de nós separemo-nos de nossa cultura. Quando falamos isto, não estamos querendo dizer que devemos retornar a uma cultura de centenas de anos atrás. O que estamos querendo dizer é que cada geração deve aprender como organizar e revitalizar a cultura na sociedade em que deu nascimento a essa geração. Isto tem sido nossa falha com a geração atual do povo da África, que nós temos sempre e completamente virado as costas para nossa cultura tradicional, especialmente nossa religião tradicional.
[...] O sistema de ideias e religião, razão pela qual nós todos estamos reunidos aqui para falarmos, assumiu na atualidade dimensões de uma cultura internacional.
Deixe-me dar a vocês uns poucos exemplos. Falando há poucos dias atrás com um colega meu de Porto Rico, eu fui informado que o número de sacerdotes e sacerdotisas do culto aos Orixá em Porto rico é muito maior do que os sacerdotes do culto católico neste país. No Brasil, onde você tem uma nação com cem milhões de habitantes, mais da metade desta população do pais está diretamente ou indiretamente envolvida com a cultura da tradição dos Orixá. Em Cuba, especialmente há mais sacerdotes de Ifá que na Nigéria. Em trindad, até os dias de hoje é cultivada, ainda, nós temos sacerdotes e sacerdotisas de Xangô, alguns dos quais são renomados professores e acadêmicos. Por toda diáspora africana, em qualquer lugar onde você vá, seja na Guatemala, ou na Colômbia ou Peru ou Guiana ou honduras ou nos Estados Unidos da América, você encontra gente que devota suas vidas para a propagação da cultura da tradição dos Orixá. todavia, na África que é o berço desta religião, muita gente de nossa geração tem virado as costas para sua própria cultura."
Disponível em Scielo:Agadá Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira by Marco Aurélio Luz
Iª COMTOC em Ile Ife
Foto Marco Kalish
Acervo M.A.Luz
O professor Abimbola, depois de ter chamado a atenção sobre o fato de que enquanto nas Américas a tradição dos orixá se revitaliza e se expande, infelizmente na África as novas gerações escolarizadas têm virado as costas para sua própria cultura, acentuou os pontos principais do sistema cultural e religioso tradicional que, deixado de lado, poderá ocasionar que a sociedade caminhe para um estado de anomia, isto é, completa desorganização social.
Representantes do Brasil foram Mestre Didi Asipa Alapini, Iya Bido de Iyemanja e Juana E. dos Santos Elefunde Egide.
Foi um marco histórico de grande importância na continuidade civilizatória de nossa tradição religiosa e cultural.
A cidade de Salvador foi escolhida para a realização da IIª COMTOC.
quarta-feira, 9 de maio de 2018
OBIRIN ATI IYA Mulher e Mãe
IYÁ
IBEJI, Escultura de Marco Aurélio Luz
Foto: Hans Olu Obi
OBIRIN
Comecemos as nossas
homenagens conversando com o Oju Obá Marco Aurélio Luz sobre o significado de
mulher na tradição afro-brasileira nagô. Nessa breve entrevista a ACRA Marco
Aurélio destaca que na língua yorubá a palavra OBIRIN significa MULHER e
demonstra que essa semântica “mulher” aprisionada na lógica das sociedades
urbano-industriais não corresponde e não dá conta da infinitude de valores e
linguagens que o universo simbólico afro-brasileiro apresenta e legitima.
Marco Aurélio lançou
recentemente o livro “TUN ONÁ RI RETOMANDO O CAMINHO” que aborda aspectos das
culturas africano-brasileiras e a visão de mundo que se expressa através de
refinados códigos estéticos e suas formas de comunicação.
Acompanhem a entrevista
consultando a escultura na foto acima para identificar a riqueza da simbologia
expressa.
ENTREVISTA
ACRA - Fale-nos do
significado de mulher na tradição afro-brasileira nagô.
Marco Aurélio Luz - Na
tradição nagô a mulher, obirin, está representada por seus mistérios e poderes
imutáveis. Na tradição a linguagem e as instituições elaboraram a essência dos
seres no caso o ser da mulher é uma expressão do princípio feminino da
existência.
ACRA - Você recentemente fez
uma exposição de suas esculturas no foyer do Teatro UNEB e entre elas estava
uma escultura representando o princípio feminino da existência. Você poderia
comentar a simbologia dessa escultura?
Marco Aurélio Luz -
Essa escultura de minha
autoria é a IYÁ IBEJI, a Mãe dos Gêmeos, que emerge dentro dos cânones
estéticos da tradição. De início devo logo dizer que a capacidade de concepção,
de gestação, de formidável transformação do corpo feminino constitui e expressa
o mistério e o poder da mulher, tanto mais em sociedades em que o valor da
expansão de famílias e linhagens significa fortes elos de ancestralidade,
sucessão, gerações, continuidade comunal.
ACRA - A IYÁ IBEJI expressa
em sua simbologia esses valores?
Marco Aurélio Luz -
Sim. Sei que vocês irão
ilustrar essa entrevista com a foto dessa escultura e isso dará ao leitor a
dimensão dos comentários que irei fazer. Uma mulher jovem e fértil sustenta
duas crianças gêmeas em suas pernas caracterizando poder de procriação. Os
gêmeos, IBEJI, ibi+eji, nascidos dois, são símbolos de fertilidade e como tal
são entidades muito cultuadas na Bahia. Eles seguram com uma mão o seio da IYÁ,
e com a outra um abebe, emblema em forma de leque, de forma a representar o
útero fecundado. O abebe é emblema característico dos paramentos dos orixá que
regem príncipios femininos como Oxum e Iyemanjá caracterizando seus poderes e
mistérios.
ACRA - Na escultura vemos
outro abebe também gravado na figura de um ovo.O que significa?
Marco Aurélio Luz -
O ovo é um elemento símbolo
integrante da representação de Oxun caracterizando a continuidade das próximas
gestações, que está representado nos IBEJI por Dou o nascido subsequente.
ACRA - Na base da escultura
você esculpiu umas ondulações o que representam?
Marco Aurélio Luz –
Contornando a escultura na
base, tem a representação de água corrente, expressão da natureza regida pelos
poderes de Oxum, simbolizando também o corrimento menstrual símbolo do poder de
fertilidade feminina. Oxum representa poderes de beleza, encantamento e sedução
da jovem mãe. Conforme uma saudação da tradição africana relatada por Fatumbi
Verger, "Oxum limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos".
Atrás da escultura,
referência e alusão a passado, poente, dois pássaros caracterizando a proteção
das IYA-MI, as antigas e venerandas mães ancestrais, que se consubstanciam em
pássaros, peixes ou sereias...
Muitos outros aspectos podem
ser abordados sobre OBIRIN é um assunto que não tem fim.
ACRA - Mais uma vez
agradecemos sua valiosa colaboração nos ajudando a consolidar o blog da ACRA.
Nota: Publicado em 2010
sexta-feira, 4 de maio de 2018
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