sábado, 27 de fevereiro de 2016
LIVRO DA EKEDE SINHA DA CASA BRANCA
No dia internacional da
mulher - 08 de março - será lançado às 19h, no Terreiro da Casa Branca, em
Salvador,
Equede - A Mãe de
Todos, o livro testemunho de Gersonice Azevedo Brandão, conhecida como Equede
Sinha. A publicação é da editora Barabô e mostra a importância, o respeito e o
reconhecimento que o cargo de equede tem dentro do candomblé.
Além registrar um testemunho – visto a
raridade de se encontrar publicações com figuras de destaques da comunidade
negra sendo porta vozes de sua própria história, sem intermediários – o livro é
também uma publicação histórica, já que a vida de Sinha, nascida dentro do
terreiro da Casa Branca, se funde com a história do mais famoso terreiro de
candomblé nagô do Brasil.
Com 172 páginas, o
livro conta com mais de 200 fotos do acervo pessoal da autora, da Casa Branca e
dos fotógrafos Dadá Jaques, Flávio Damm, da Fundação Pierre Verger, além de
ilustrações exclusivas do artista Carlos
Rezende. Organizado por Alexandre Lyrio e Dadá
Jaques, traz ainda histórias inéditas, nunca registradas, como a invasão do
Posto Esso imposta contra o terreiro na década de 70.
“A dedicação é a marca
de equede (...) Para exercê-lo devidamente, como mostra Sinha com sua obra e
exemplo, o amor é indispensável”, garante o antropólogo e ogâ de Iansã da Casa
Branca, Ordep Serra, ao escrever a apresentação
do livro, logo nas primeiras páginas. O livro
Equede - A Mãe de Todos é uma declaração de amor da Equede Sinha ao povo de axé
e especialmente à família da Casa Branca, a sua mãe biológica, vovó Conceição e
as entidades de luz, os Orixás. Uma leitura
que ensina um pouco da cultura afro-brasileira
e muito da nossa história. E como diz a própria autora. Equede é mãe. De Exu a
Oxalá.
Quando:
08 de março, às 19h.
Local:
Praça de Oxum do Ilê Axé Iyá Nassô Oká – Terreiro Casa Branca, Avenida Vasco da
Gama, 463.
Editora
Barabô
Valor
do livro: R$ 100 (promocional de lançamento
Assessoria
de imprensa: Mel Adún (71) 98802-4314 | Kaliane Barbos (71) 99987-9013.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
A GEMA CARIOCA É AFRO BAIANA
Por
Marco Aurélio Luz
Rio de Janeiro, região portuária e Pedra do Sal, localidades da imigração baiana
Efemérides da religião nagô de então lá
estiveram deixando sua marca na história para sempre, dentre elas destacamos
Mãe Aninha, Iyalorixá Oba Biyi, fundadora do Ilê Axé Opo Afonjá, que juntamente
com Mãe Agripina a Iyalorixá Oba Deyi fundaram o Ilê Axé Opo Afonjá do Rio de
Janeiro; também Maria Ogala da sociedade Gelede, Rodolpho Martins de Andrade, Bamboxê Obitiko,
e Joaquim Vieira, Obá Sanya dentre outros e que ainda podemos destacar Arsênio dos Santos, Paizinho Alaba
personalidade proeminente do culto aos Egungun.
Não
vou me estender nessa presença que incluiria além das casas de culto o afoxé
Filhos de Gandhi e tanto mais. Vou me deter nas escolas de samba, a propósito
do desfile vitorioso da Mangueira neste ano.
Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi
Hilária
Batista de Almeida, Omo Oxum, Tia Ciata, Iyá Kekere do Ilê Axé de João Alabá,
nascida em Santo Amaro conseguiu através da medicina da cultura africana curar a
perna do presidente Wenceslau Bras de uma ferida incurável. Obteve então a
liberdade de seu território. Oásis da repressão da época sua casa tornou-se
centro de encontro de religiosos e gente de toda arte das tradições afro
baiana.
Os
ranchos desfilavam com seus estandartes, suas músicas sua agregação da gente
baiana pelas regiões limítrofes da zona portuária. O rancho da gente de tia
Ciata era o Rosa Branca. Participavam também no rancho organizado por membros
da Resistência dos Trabalhadores em Trapiches de Café.
Hilário
Jovino Ferreira, Lalu de Ouro, Ogã, da casa de João Alaba, fundada por Bamboxe,
transferiu a data de saída de seu rancho, o Rei de Ouro de 6 de janeiro para os
dias de carnaval. Fez transformações e adaptações para o tempo e espaço do
carnaval. Em depoimento a Roberto Moura,
Jovino comenta:
"Nunca se tinha visto aquilo aqui
no Rio de Janeiro: Porta-bandeira, porta-machado, batedores etc. Perfeitamente
organizado, saímos licenciado pela polícia..."
Hilario Jovino e filhos
A formação dos ranchos, além disso, tinha comissão de frente, mestre de harmonia, canto e coreografia.
Célebres
músicos e compositores se encontravam como Donga, João da Baiana, Sinhô,
Pixinguinha e outros em meio ao samba de roda do Recôncavo.
Personalidades da música, João da Baiana, Clementina de Jesus, Pixinguinha,e Donga.
O primeiro samba registrado e gravado foi Pelo Telefone de Donga.
Imagem disponível em
A culinária baiana alimentava o povo pelos dias desses encontros. Tia Ciata teve tabuleiro da baiana no centro da cidade sempre muito concorrido e apreciado.
Germano, genro de Tia Ciata criou um bloco de carnaval o famoso "O Macaco é Outro".
As escolas de samba derivam da efervescência da Pequena África que ia da zona portuária a Cidade Nova sendo a Praça Onze a culminância das apresentações e desfiles de carnaval.As escolas de samba surgiram com a mudança da música. A percussão e o samba se distinguiram das marchas e os instrumentos de sopro dos ranchos.Ismael Silva foi fundador da Deixa Falar e Bide criador da bateria de percussão.Daí foi-se desdobrando, a Mangueira de Cartola, a Portela de Paulo da Portela e muito mais.
É importante dizer que tudo isso se apoiava na estética africana desdobrada e recriada congregando o povo num momento de afirmação cultural e existencial.
Pela década de 30 começa a presença de ``brancos no samba´´. O jornalista Mário Filho através do Jornal do Brasil promove o concurso de Escolas de Samba. Surge a figura do carnavalesco.Um dos primeiros foi Toniquinho, funcionário do Teatro Municipal que consegue faróis da Marinha para em frente a sede do Jornal do Brasil iluminar o enredo Aída derivado da Ópera de mesmo nome. As escolas passam cada vez mais a depender dos carnavalescos vão se transformando no que Cartola definiu como "teatro ambulante".
A entrada da TV nos desfiles vai alterar bastante, dando valor as imagens, dimensões visuais espetaculares em detrimento da estética original. Além disso, impondo essa estética adaptada a linguagem do espetáculo cria especialistas que irão referendá-la nos concursos.
É neste caudal que se afirmam os carnavalescos mais próximos de escolas de samba de menos tradição. É tempo de Beija Flor, Unidos da Tijuca, Vila Isabel dentre outras. Fantásticos carros alegóricos e personagens do mundo do espetáculo ganham espaço e poder nos desfiles. Transformam a comissão de frente originalmente formada pelos dignitários da escola, criação da Portela, e a ala das baianas, homenagem à tradição.
Cartola e a Comissão de Frente da Mangueira
O samba no pé dá vez às coreografias de passo marcado das alas. Enfim, surge "o maior espetáculo da Terra". Tempo e espaço são adaptados, altera-se o ritmo da bateria. Toda essa linguagem transfere para o carnavalesco o poder de organização e até mesmo na ala de compositores ele terá ingerência na composição do samba. As escolas de samba adquirem feição empresarial exigindo corpus administrativo.
Uma luta ideológica se estabelece entre líderes da tradição e os que navegam pela indústria do espetáculo.
Neste ano o novo se apresenta através dos ventos de Oya.A tradição da Mangueira se renova. Um desfile magnifico através da recriação dos valores e linguagem da estética africano brasileira.
Imagem disponível em http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/09/mangueira_fabio_tito-g1_img_0323.jpg
Da crina da cauda do bufalo, parte poente do animal, são confeccionados os irukere, emblema instrumento de Iyansã, com que limpa os males comandando os ancestrais.
Nesse carro é homenageado um dos dignatários da Escola, Nelson Sargento.
Imagem disponível em http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/09/mangueira_fabio_tito-g1_img_0323.jpg
A iyawô, caracteriza a continuidade ininterrupta da tradição religiosa. Ela inspira a roupagem da porta bandeira de forma magnifica.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
O ELO MAIS FORTE,O VALOR DOS CONTOS NAGÔ
Por Marco Aurélio Luz
É com muita alegria no
coração que leio "Peregun e Outras Fabulações da Minha Terra" do amigo e irmão
Félix Ayoh’ Omidire, que aproveita nossos laços identitários alicerçados numa
civilização milenar.
‘’ Pela força da história,...os iorubanos passaram a ter uma ativa atuação intercontinental, uma parte significativa da população...forçada para o outro lado do Atlântico, em condição de extremos constrangimentos, nunca deixou de lutar para não permitir morrer o que há de mais livre em cada ser humano, a sua cultura que constitui a sua única e verdadeira identidade.’’
‘’ Pela força da história,...os iorubanos passaram a ter uma ativa atuação intercontinental, uma parte significativa da população...forçada para o outro lado do Atlântico, em condição de extremos constrangimentos, nunca deixou de lutar para não permitir morrer o que há de mais livre em cada ser humano, a sua cultura que constitui a sua única e verdadeira identidade.’’
Há pouco tivemos o
(re)lançamento das obras de Mestre Didi, que fundou entre nós uma escritura que
adapta a narrativa da comunicação direta do acervo de contos emergentes da
comunalidade africano- brasileira.
Esses relançamentos enriquecem sobremaneira não só as relações da comunalidade negra ampliando os raios de comunicação de suas riquezas culturais, mas também a própria sociedade brasileira, acrescentando um gênero literário que sobressai no cenário de nossa pujante herança africana.
Os contos que originalmente,
em nossa terra por um lado, fazem parte do acervo das comunidades-terreiro,
também eram parte da narrativa dos contadores de histórias, os apalo
que percorriam cidades e fazendas de nosso interior, se apresentando
com música e danças dramáticas, ensinando lições de vida e de existência
baseado nos valores éticos e estéticos e visão de mundo nagô. Nessas
narrativas, personagens de animais, especialmente o jabuti, ocupam a cena
principal.
Agora, com o livro de Ayoh’
Omidire de Ilê Ifé revela-se o fluxo do continuum cultural nagô-yorubá no
terreno da literatura escrita das adaptações do acervo das narrativas
tradicionais dos Apálo; Onde também a presença de animais, especialmente Ijàpá,
o cágado que ocupa um lugar especial.
Em diversas ocasiões nos
referimos a essa literatura no Brasil. ‘’
Vemos um estilo que se aproxima muito mais da chamada narrativa oral do que da
narrativa escrita. A plasticidade das imagens, as analogias, as alegorias, os
diálogos dramatizáveis, a maneira negra de falar, o português dos antigos
africanos, procuram adaptar e ilustrar no plano do texto, o complexo contexto
simbólico nagô. ’’
Da mesma forma, PEREGUN... reúne os contos adaptando-os à
escrita e além disso à necessidade de realizar a continuidade da tradição
cultural negro-africana reforçando os elos dos valores estéticos de nossa
comunalidade transatlântica.
Os contos yorubá enfatizam a
dimensão transcendente do existir, através das narrativas que englobam o
fantástico, o mundo contíguo e atuante entrecruzando-se entre as fronteiras do
cotidiano consciente e o bizarro latente, o indescritível, o inefável, o
surpreendente.
Nele as categorias de aiyê,
este mundo e orun, o além, constituem
uma relação de diferença contígua e dinâmica. A função restituidora das
oferendas, o fluxo do axé, os ebós, e o conhecimento
profundo dos babalawô (pais dos mistérios, conhecedores do oráculo de ifá) pode
minimizar o caos oriundo do desconhecido.
Nessa medida a ética dos
contos é principalmente a de procurar demonstrar essa característica do
existir, isto é, o conflito entre tendência da anomia caótica de um lado, e da
tentativa de controle do outro, baseado nas liturgias da religião tradicional.
Em ambos aspectos o mistério, o segredo, incluso o não saber, o desconhecido se
pronunciam.
Nesse ponto mais do que
nunca o fluxo da existência contido no processo civilizatório negro africano,
espalhado pelo ‘’novo mundo’’ nos incluem num compromisso, num comprometimento
com as ‘’obrigações’’ para que os destinos se desenvolvam e esse mundo não se
acabe.
Com certeza, o livro de
Ayoh’ Omidire é um reforço para a manutenção do elo mais forte de nossos
vínculos com a África, berço da humanidade e da civilização.
Lauro
de Freitas, 16 de agosto de 2004
Marco Aurélio Luz
(Oju Oba ati Elebogui do Ilê Asipá)
Nota: Esse texto é o prefácio do livro PÉRÉGÚN E OUTRAS FABULAÇÕES DA MINHA TERRA.Contos cantados iorubá-africanos de Félix Ayoh`OMIDIRE(EDUFBA,2004) .
PRESENÇA DOS CONTOS NO PROCESSO EDUCATIVO
Os contos da tradição nagô foram recriados na experiência pioneira de educação pluricultural MINI COMUNIDADE OBA BIYI. Adaptados por Mestre Didi ele constituíram a base do currículo.
Mini Comunidade Oba Biyi
foto M.A.Luz
foto M.A.Luz
"A CHUVA DOS PODERES" conto de Mestre Didi encenada na Mini Comunidade Oba Biyi 1985
Foto M.A.LUZ
Foto M.A.LUZ
Outras experiências se desdobraram através da divulgação dessa experiência original através dos trabalhos de Marco Aurélio Luz dentre os quais o livro em co-autoria com Mestre Didi "Oba Biyi o Rei Nasce Aqui"(Fala Nagô,2007).
A Doutora Narcimária do PatrocÍnio Luz escreveu "A Canção do Infinito"(2009)e os integrantes da equipe pedagógica da Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra) orientaram as crianças e jovens para a encenação.
Demais encenações e narrativas dos contos se espalham enriquecendo processos educacionais.
Demais encenações e narrativas dos contos se espalham enriquecendo processos educacionais.
Sidney Argolo prepara a performance musical ACRA 2009
Foto acêrvo Narcimária P. Luz
Participantes da Associação Crianças Raízes do Abaeté desenvolvem a encenação de A Canção do Infinito de Narcimária C. P. Luz
Encenação de trechos do livro Oba Nijo(Pallas Editora,2015) pelo grupo Teatral ODEART coordenado pela Doutora Janice Nicolin durante o lançamento do livro da Doutora Narcimária Luz Livraria Cultura.
Grupo ODEART em "Oba Nijô o Rei que Dança Pela Liberdade"
Acervo Narcimária C. P. Luz
Acervo Narcimária C. P. Luz
Babalawo e Akpalo a fonte dos contos nagô
Entrevista de Marco Aurélio Luz concedida a doutoranda Janice Nicolin do PRODESE em 2015.
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