Rio de Janeiro, região portuária e Pedra do Sal, localidades da imigração baiana
O
amigo Roberto Moura foi quem abriu caminho com seu livro sobre Tia Ciata para
compreendermos a importância da história da imigração baiana no Rio de Janeiro
nos fins do século XIX e início do século XX. O destaque é a cultura africana
da Bahia se desdobrando no Rio de Janeiro.
Efemérides da religião nagô de então lá
estiveram deixando sua marca na história para sempre, dentre elas destacamos
Mãe Aninha, Iyalorixá Oba Biyi, fundadora do Ilê Axé Opo Afonjá, que juntamente
com Mãe Agripina a Iyalorixá Oba Deyi fundaram o Ilê Axé Opo Afonjá do Rio de
Janeiro; também Maria Ogala da sociedade Gelede, Rodolpho Martins de Andrade, Bamboxê Obitiko,
e Joaquim Vieira, Obá Sanya dentre outros e que ainda podemos destacar Arsênio dos Santos, Paizinho Alaba
personalidade proeminente do culto aos Egungun.
Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi
Não
vou me estender nessa presença que incluiria além das casas de culto o afoxé
Filhos de Gandhi e tanto mais. Vou me deter nas escolas de samba, a propósito
do desfile vitorioso da Mangueira neste ano.
Hilária
Batista de Almeida, Omo Oxum, Tia Ciata, Iyá Kekere do Ilê Axé de João Alabá,
nascida em Santo Amaro conseguiu através da medicina da cultura africana curar a
perna do presidente Wenceslau Bras de uma ferida incurável. Obteve então a
liberdade de seu território. Oásis da repressão da época sua casa tornou-se
centro de encontro de religiosos e gente de toda arte das tradições afro
baiana.
Tia Ciata Iya Kekere
Os
ranchos desfilavam com seus estandartes, suas músicas sua agregação da gente
baiana pelas regiões limítrofes da zona portuária. O rancho da gente de tia
Ciata era o Rosa Branca. Participavam também no rancho organizado por membros
da Resistência dos Trabalhadores em Trapiches de Café.
Hilário
Jovino Ferreira, Lalu de Ouro, Ogã, da casa de João Alaba, fundada por Bamboxe,
transferiu a data de saída de seu rancho, o Rei de Ouro de 6 de janeiro para os
dias de carnaval. Fez transformações e adaptações para o tempo e espaço do
carnaval. Em depoimento a Roberto Moura,
Jovino comenta:
"Nunca se tinha visto aquilo aqui
no Rio de Janeiro: Porta-bandeira, porta-machado, batedores etc. Perfeitamente
organizado, saímos licenciado pela polícia..."
Hilario Jovino e filhos
A
formação dos ranchos, além disso, tinha comissão de frente, mestre de harmonia,
canto e coreografia.
Célebres
músicos e compositores se encontravam como Donga, João da Baiana, Sinhô,
Pixinguinha e outros em meio ao samba de roda do Recôncavo.
Personalidades da música, João da Baiana, Clementina de Jesus, Pixinguinha,e Donga.
O primeiro samba registrado e gravado foi Pelo Telefone de Donga.
Imagem disponível em
A culinária baiana alimentava o povo pelos dias desses encontros. Tia Ciata teve tabuleiro da baiana no centro da cidade sempre muito concorrido e apreciado.
Germano, genro de Tia Ciata criou um bloco de carnaval o famoso "O Macaco é Outro".
As escolas de samba derivam da efervescência da Pequena África que ia da zona portuária a Cidade Nova sendo a Praça Onze a culminância das apresentações e desfiles de carnaval.As escolas de samba surgiram com a mudança da música. A percussão e o samba se distinguiram das marchas e os instrumentos de sopro dos ranchos.Ismael Silva foi fundador da Deixa Falar e Bide criador da bateria de percussão.Daí foi-se desdobrando, a Mangueira de Cartola, a Portela de Paulo da Portela e muito mais.
É importante dizer que tudo isso se apoiava na estética africana desdobrada e recriada congregando o povo num momento de afirmação cultural e existencial.
Pela década de 30 começa a presença de ``brancos no samba´´. O jornalista Mário Filho através do Jornal do Brasil promove o concurso de Escolas de Samba. Surge a figura do carnavalesco.Um dos primeiros foi Toniquinho, funcionário do Teatro Municipal que consegue faróis da Marinha para em frente a sede do Jornal do Brasil iluminar o enredo Aída derivado da Ópera de mesmo nome. As escolas passam cada vez mais a depender dos carnavalescos vão se transformando no que Cartola definiu como "teatro ambulante".
A entrada da TV nos desfiles vai alterar bastante, dando valor as imagens, dimensões visuais espetaculares em detrimento da estética original. Além disso, impondo essa estética adaptada a linguagem do espetáculo cria especialistas que irão referendá-la nos concursos.
É neste caudal que se afirmam os carnavalescos mais próximos de escolas de samba de menos tradição. É tempo de Beija Flor, Unidos da Tijuca, Vila Isabel dentre outras. Fantásticos carros alegóricos e personagens do mundo do espetáculo ganham espaço e poder nos desfiles. Transformam a comissão de frente originalmente formada pelos dignitários da escola, criação da Portela, e a ala das baianas, homenagem à tradição.
Cartola e a Comissão de Frente da Mangueira
O samba no pé dá vez às coreografias de passo marcado das alas. Enfim, surge "o maior espetáculo da Terra". Tempo e espaço são adaptados, altera-se o ritmo da bateria. Toda essa linguagem transfere para o carnavalesco o poder de organização e até mesmo na ala de compositores ele terá ingerência na composição do samba. As escolas de samba adquirem feição empresarial exigindo corpus administrativo.
Uma luta ideológica se estabelece entre líderes da tradição e os que navegam pela indústria do espetáculo.
Neste ano o novo se apresenta através dos ventos de Oya.A tradição da Mangueira se renova. Um desfile magnifico através da recriação dos valores e linguagem da estética africano brasileira.
Imagem disponível em http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/09/mangueira_fabio_tito-g1_img_0323.jpg
Da crina da cauda do bufalo, parte poente do animal, são confeccionados os irukere, emblema instrumento de Iyansã, com que limpa os males comandando os ancestrais.
Nesse carro é homenageado um dos dignatários da Escola, Nelson Sargento.
Imagem disponível em http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/02/09/mangueira_fabio_tito-g1_img_0323.jpg
A iyawô, caracteriza a continuidade ininterrupta da tradição religiosa. Ela inspira a roupagem da porta bandeira de forma magnifica.
O jovem carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira se referiu: "Queria fazer um enredo que dialogasse com a cultura brasileira e acho que a Bethânia representa muito bem esse diálogo".
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