terça-feira, 25 de julho de 2017
segunda-feira, 24 de julho de 2017
Lélia Gonzales
Legado de Lélia Gonzalez é
tema de exposição e mesa no Pelourinho
Ações são promovidas pelo Centro
de Culturas Populares e Identitárias, unidade da SecultBA
Precursora do feminismo negro no Brasil, a vida e influência da intelectual,
professora, militante e ativista política Lélia Gonzalez é tema de uma
programação especial no Pelourinho. A abertura da exposição “Lélia Gonzalez: O
Feminismo Negro no Palco da História” acontece na próxima terça-feira, 25 de
julho, às 14h, data do Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Já na
sexta-feira, 28, às 16h, sete mulheres negras consideradas referências no meio
cultural e da militância se encontram para debater os “Avanços nas conquistas a
partir do legado de Lélia Gonzalez”. Toda a programação acontece na sede do
Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), casa 12, no Largo do
Pelourinho.
A exposição, que já passou por Rio de Janeiro e Belo Horizonte, é
trazida pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), através do
CCPI, em parceria com a Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH) e o Conselho
Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher – Lauro de Freitas. Uma série de 16 banners
relata a vida e legado de Lélia Gonzalez, a sua infância em Belo Horizonte e a
partida com a família para o Rio de Janeiro, a sua brilhante jornada acadêmica,
a tomada de consciência de sua situação como uma mulher negra numa sociedade em
que o machismo e o racismo predominavam, iniciando a sua extensa trajetória
como militante, que a levou a ter uma ativa participação política no Brasil e
no exterior. Os quadros reúnem fotografias, cartas, relatos, imagens raras,
depoimentos, um extenso material para não apenas conhecer a história, mas
compreender de fato tudo o que Lélia representa. A visitação permanece até 31
de julho.
Também na abertura da exposição, 25 de julho, e em comemoração ao Dia
da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, é a hora do Sarau das Pretas,
comandado pelo Slam das Minas BA. A ação consiste num encontro em que as poetas
demonstram seus desempenhos com os versos, tudo isso com muita força, beleza e
adrenalina. O evento é uma parceria da SecultBA com o Instituto Odara.
Penúltima filha entre 18 irmãos, vinda de origem humilde, única da
casa a ter ido além do ensino superior, Lélia Gonzalez foi a personificação de
uma mulher à frente do seu tempo, inspirando outras mulheres de sua geração e
também as gerações seguintes. Sete destas mulheres negras que mantém o legado
de Lélia estarão reunidas para conversar sobre os avanços nas conquistas a partir
de tudo o que ela deixou. São elas a diretora do CCPI e co-fundadora do
Movimento Negro Unificado e do Ilê Aiyê, Arany Santana; a militante negra,
feminista, psicóloga e perita criminal Vanda Menezes; a professora, coreógrafa
e dançarina do Balé Folclórico, Nildinha Fonseca; a presidente do projeto Didá,
Débora Souza; a empreendedora de estética e Rainha do Ilê em 1980, Gerusa
Menezes; a professora universitária e militante Ana Célia; e a jornalista,
apresentadora de TV e militante Wanda Chase. O debate será na sexta-feira, 28,
também na sede do CCPI, às 16h, e o acesso é gratuito.
O Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI) da Secretaria de Cultura do Estado
da Bahia (SecultBA) é responsável pela execução, proteção e promoção das
políticas públicas de valorização e fortalecimento das manifestações populares
e de identidade, orientadas de acordo com o pensamento contemporâneo da
Unesco e do Ministério da Cultura. Seu campo de atuação contempla
a cultura do sertão, de matrizes africanas, ciganas e indígenas, LGBT,
infância e idosos. Coordena o projeto Pelourinho Cultural, responsável
pela programação artística dos largos do Pelourinho e suas grandes festas
populares.
Serviço:
Exposição Lélia Gonzalez: O Feminismo Negro no Palco da História
Abertura: 25 de julho, 14h
Atração: Slam das Minas – BA: convida Sarau das Pretas
Visitação: 25 de julho a 31 de julho de 2017
Local: Hall do Centro de Culturas Populares e
Identitárias, Casa 12, Largo do Pelourinho
Funcionamento: segunda a sexta, 08h30 às
12h e 13h30 às 17h30
Gratuito
Mesa redonda: Avanços nas
Conquistas a partir do legado da Lélia Gonzalez
Participantes: Arany Santana; Vanda Menezes; Nildinha Fonseca; Débora Souza; Gerusa
Menezes; Ana Célia; Wanda Chase.
Local: Salão principal do Centro de Culturas Populares
e Identitárias, Casa 12, Largo do Pelourinho
Data: 28 de julho, 16h
Gratuito
sexta-feira, 7 de julho de 2017
OS OLÓYÈ NÃO ADOSU
Por Everaldo Duarte
Abajigan Everaldo Duarte da coordenação do Sioba
Foto acervo: M.A. Luz
Em
verdade, este trabalho começou no Recife. Enquanto participava do IV CAB,
realizado naquela cidade, fui convidado a participar de um seminário que se
realizaria no Ilê Opo Afonjá, em abril de 1994. Eu deveria falar sobre os Olóyê
nào Adosu. Fiquei temeroso diante daquele novo desafio.
Algumas
horas depois, durante uma outra palestra, abria-se uma discussão entre nós,
levantada por um Ogã residente em São Paulo, sobre "O Chamamento para o
Adosu e para o nào Adosu". Estava aparente a resposta para o desafio que
Cléo me colocara horas antes. Dizia aquele Ogã: O chamamento não é diferente, é
o mesmo. Aí estávamos separados: eu tentava entender qual o chamamento a que
ele se referia ou o que ele estava entendendo e por isso, não estava junto à
sua explicação.
Continuava
ele: O Adosu recebe o Orisa e está confirmada a sua presença, enquanto o Ogã,
não incorporado, tem que acreditar por convicção e fé. Aí, estávamos quase
juntos: a incorporação reforça a existência do Orisa e conduz o Adosu a um
outro universo de relacionamento, ou seja, um estado de relacionamento direto
em que as energias, física e espiritual, se juntam e se bastam enquanto
presença e demonstração da Divindade.
Nesse
momento o Adosu é a própria Divindade.
O Ogã não incorpora. Não dispõe dessa forma mágica de ser ou de não ser. O Ogã tem sempre que ser.
O Ogã não incorpora. Não dispõe dessa forma mágica de ser ou de não ser. O Ogã tem sempre que ser.
E
essa compreensão, a interpretação ao chamamento, o face a face com o misterioso
é o que capacita cada Olóyé nào Adosu a seguir os caminhos traçados pelas
divindades,
sem a certeza de chegar aos seus limites. Afinal quais
são os limites?
O não Adosu tem que saber se comunicar a
qualquer distância. Tem que entender os sinais, as mudanças de tempo, os sons
da natureza, o cantar dos pássaros, para assim poder, a qualquer momento,
entrar em diálogo com sua concepção de Divindade.
E dessa concepção depende o sobreviver em harmonia com a sua crença e com sua fidelidade a seus comunitários e, por que não dizer, seus irmãos de axé.
A fidelidade deve andar acima de todas as outras características. Ser fiel aos ensinamentos já é uma tarefa preocupante, porém, antes de preocupante, é uma tarefa gratificante. Cada descoberta, cada coisa nova é como se fosse um tesouro encontrado. Preocupante é o dever de guardá-lo. Quando o Olóyê dorme, dorme de ouvidos abertos.
E dessa concepção depende o sobreviver em harmonia com a sua crença e com sua fidelidade a seus comunitários e, por que não dizer, seus irmãos de axé.
A fidelidade deve andar acima de todas as outras características. Ser fiel aos ensinamentos já é uma tarefa preocupante, porém, antes de preocupante, é uma tarefa gratificante. Cada descoberta, cada coisa nova é como se fosse um tesouro encontrado. Preocupante é o dever de guardá-lo. Quando o Olóyê dorme, dorme de ouvidos abertos.
Abajigan Everaldo Duarte coordenador do Intecab
Foto disponível na internet
O
que chama o Adosu também chama o Olóyê nào Adosu.E os chamamentos, são diferentes? Voltamos ao antigo questionamento. Se nós estávamos entendendo como chamamento a escolha feita pelo Orisa a cada um de nós, haveríamos de tentar entender como ele, o Orisa, faz a escolha e determina a condição de ser ou não ser Adosu, ou seja, a necessidade ou a sua vontade de tomar cada um de nós como filho (Adosu) ou com pai (Ogã) ou como mãe (Ekedi).
Entendendo
essa parte da questão, abria-se então um espaço para se discutir a forma, ou as
formas, desse chamamento. E aí se deve ceder lugar a uma bifurcação para
admitir, primeiro, a forma como método, simplismente, e a forma como
processo ou sintomas e efeitos pelos quais passam os Adosu ao serem chamados a
incorporar. Para mim parecia evidente que a chamada, enquanto escolha para ser
isso ou aquilo não oferecia diferença que se pudesse tomar como valor
representativo. O Orisa nos chama para cada função segundo a sua vontade. Todos
nós nascemos Omorisa e, por conseguinte, as mudanças ou a evolução posterior de
cada um dentro ou fora da comunidade religiosa, é consequência da intensidade
do chamamento da divindade que o envolve. Seja para Adosu ou nào.
Aí,
partimos para entender a forma como processo.
Não
precisou muito para se concluir que o processo de incorporação, por ser
exclusivo, não tem nem como se tentar comparar com a forma de chamar de um Ogã
ou Ekedi. Aqui o chamamento é diferente.
Também
diferentes são as respostas. Cada qual, Olóyé Adosu e Oloyé nào Adosu responde
de uma forma, entretanto todas são sofridas, todas são acompanhadas de
ansiedade, enlevo á apoteose.
Finalmente,
chegamos juntos. E nos despedimos.
Mãe Stella, Iyalorixa Odé Kaiodê do ilê Axá Opô Afonjá.
Foto disponível na internet
O Ogã não tem nenhum modo para disfarçar ou reequilibrar seu descaminho. E aqui se dá o meu encontro com o livro de mãe Stella, Meu tempo é agora, ainda no Recife, lido às pressas no hotel.
Naquele
livro Stella reafirma: O Olóyè não Adosu é pai do Orisa que o suspendeu e o
confirmou.
E
então, como ser pai sem possuir uma postura de dignidade, respeito e fidelidade
a uma Divindade que antes de tudo é pai ou mãe de todas as coisas?
O
Ogã tem que estar imaculado, bem como as Ekedis. As suas imagens refletem o seu
terreiro e muitas vezes atingem até os seus descendentes. Dentre muitos
exemplos Stella cita Antônio Kakanfo, filho de Miguel Santana (Oba Are) e
acrescenta, é filho de peixe). Bié, filho de Darinho, Adrianinho (Otún Abiodum)
filho de Adriano e outros. Cada um além de suas próprias características, seu
valor individual, ainda carregam os traços comportamentais de seus ilustres
ascendentes.
A
nossa religião possui muitos mistérios. E parte desses não são os invisíveis,
somos nós próprios, os olóyê, Adosu e nào Adosu. O Olóyê não Adosu tem que
saber decifrar todos os mistérios. Tem que saber decifrar o sorriso de Osum, o
cenho franzido de Oxossi, os ímpetos de Ogum, os gestos de realeza de Sàngó;
tudo isso refletido através do comportamento de cada um dos respectivos Adosu.
Para tal, o Ogã terá dispensado pelo menos metade da sua vida se
aventurando pelos caminhos do axé, lado a lado com eles, Orisa e Adosu.
Ekedi Sinha do Ilê Iyá Nasso Oka
Foto disponível na internet
Longe de pretender levantar polêmicas ou discutir quem é mais importante no axé, mesmo porque ninguém pode subsistir sem outras referências, enquanto comunitário, a bem da verdade é bom que se discuta o papel do Ogã, sua importância e responsabilidade frente a sociedade civil e religiosa, como proposta de se obter cada vez mais Ogãs comprometidos com a preservação da tradição, ao tempo em que se reforce essa consciência com os poucos ainda existentes.
REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTOS Stella de Azevedo, Meu tempo é agora, São Paulo: Oduduwa, 1993.
*****************
Nota: Everaldo Duarte é Abajigan no kerebetan Zoogodô Bogun Malê Rundó de tradição jeje é Coordenador Nacional do INTECAB, Instituto Nacional da Tradição Cultural Afro Brasileira e um dos líderes do SIOBA Sociedade Beneficiente de Ojés, Ogãs e Tatas.É graduado em Economia pela Universidade Católica de Salvador-UCSAL.
Este artigo foi publicado na Revista Cepaia Centro de Estudos das Populações Afro- Indo Americanas da UNEB em Salvador, 2001.
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