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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


domingo, 31 de outubro de 2010

CONTINUAÇÃO DA ENTREVISTA DO DIA 23/10/2010

Galinha d'angola,uma das referências simbólicas da ancestralidade africano-brasileira

Concluimos essa semana, a entrevista concedida pelo Professor Marco Aurélio Luz(M.A.) a Márcio Nery de Almeida(M.N.).Para conhecer a entrevista na íntegra consultar o SEMENTES Caderno de Pesquisa,Vol. 3,nº5/6 de 2002 pela Editora da UNEB.
Boa leitura!

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MN- Eu agora vou tocar num ponto que considero delicado. Delicado porque já vi muitos posicionamentos contra e a favor, não sei se de correntes mais “progressistas” ou das que mantêm genuinamente a tradição africana, que é o sacrifício de animais. Qual é a opinião do senhor a respeito disso?

MA-Na tradição para o animal ser sacrificado, tem que ter condições muito específicas dentro da liturgia. Ele se apresenta como uma compreensão, uma elaboração de circulação de axé, no que se refere à restituição. Uma pessoa, ou uma comunidade está atravessando determinado problema e precisa reforçar o seu orixá. Há na natureza substâncias que, utilizadas liturgicamente, resultam em acionar axé, promover força de existência.
A conquém ou galinha d`angola é uma ave de profunda significação litúrgica.Pano da Costa do Marfim.Acervo de Narcimária Luz,foto Marco Aurélio Luz

Quando se oferece um animal a um orixá, a um ancestral quer-se reforçar o axé desse orixá ou desse ancestral. Refere-se ao orixá de uma pessoa, ou um orixá ligado a uma comunidade que uma vez reforçado, vai também reforçar a comunidade. Por isso as entidades compartilham essa integração de axé das oferendas com as pessoas. As pessoas comem determinadas partes. Então, há uma comunhão entre as forças da natureza e aquelas pessoas. Agora, para isso, não é preciso ser uma quantidade enorme de animal, mesmo porque não são só animais que compõem as oferendas, são folhas, vegetais e outros elementos, substâncias que entram, que vão ser transformados em alimento pela culinária litúrgica, é uma culinária de símbolos, que expressa a visão de mundo, vai ser repartida entre os fiéis, convidados, sacerdotisas e sacerdotes, é uma confraternização.

MN- Não é só matar por matar o animal...
MA-
Não, não, muito longe disso!...Não...muito pelo contrário! Vai ser uma elaboração muito grande em relação à vida, porque ali você está elaborando o viver e o morrer, uma elaboração muito delicada, muito sutil, muito vivenciada. Ali você não tem o frango do super mercado de que você come um pedaço de perna e come como se nem tivesse um frango ou uma galinha ali. A idéia de galinha está muito longe encoberta pela coxinha... Muito diferente da tradição religiosa, você tem o animal inteiro, com quem você entra em contato... . Você vai viver a dramaticidade natural da situação do viver e do
morrer e, por isso são poucos animais. É uma certa hipocrisia a crítica a esse ato porque nessa sociedade industrial é que o animal é reduzido simplesmente a um animal seriado para morrer e que vai ser engordado de acordo com a necessidade do mercado econômico que exige produção em massa. Vão ser dados a eles alhos e bugalhos para ele alcançar rapidamente determinado peso. Até coisas que comprometem a saúde humana de quem consome, são dadas a esses animais, e os deformam. Eles têm uma vida completamente voltada para isso. São presos ou confinados, vivem uma vida como carne. Eles não vivem uma vida de animal. Eles não têm uma identificação de animal. A eles é projetada uma identificação de carne, um produto de uma cadeia de produção. Não se cria o animal como animal, aquilo é criado como a produção de um bem unicamente para dar lucro, que vai favorecer uma atividade econômica. Então é uma hipocrisia se colocar a favor dessa sociedade que faz isso e lança no mercado diariamente uma enorme quantidade, porque são mortos industrialmente e chegam para o consumidor sem nenhum aspecto daquele bicho que foi e você nem se lembra do que ele é ou que deixa de ser. Então, todas as referências de uma vida social que esteja ligada a isso estão esmaecidas ou apagadas, é simplesmente uma atividade de ir ao super mercado e consumir, assim como você compra uma pêra você compra um animal e tudo mais que é oferecido é tudo produto. Assim como se consome chiclete se consome um animal. Está tudo ali reduzido a condição de produto para o consumo. Não há nada ali que faça pensar na condição da vida animal. Ao contrário da situação da oferenda em que a pessoa que está oferecendo se identifica com aquele animal, fala com ele dá recados e elabora a restituição que integra a dinâmica do ciclo vital, a circulação de axé. Na comunidade terreiro inclusive não é permitido maltratar ou matar qualquer animal. Embora como vimos no início da entrevista a função do caçador do predador acompanha a natureza humana, algo característico da espécie, há diferentes contextos...Agora o que não podemos é aceitar a hipocrisia das críticas vindas do preconceito...

GALO, pintura de Chico da Silva, acervo e foto de M A Luz

MN-Para encerrar a nossa conversa, eu vou tocar noutro ponto polêmico e que é uma coisa que eu também concordo: aqui na Bahia é muito difundido que Iansã é Santa Bárbara, quando a gente bem sabe que Iansã não é Santa Bárbara, que Iansã é um princípio é uma outra elaboração. No entanto, aqui a gente observa, excetuando as comunidades terreiros ou litúrgicas, as pessoas que consideram que consideram Iansã como Santa Bárbara têm isso tão arraigado dentro delas que já não mais conseguem dissociar uma coisa da outra. Por um lado eu considero válido para a pessoa, para o devoto que assim acha, mas por outro lado considero prejudicial dentro do contexto cultural. O que o senhor acha?

MA-Isso aí são duas coisas: uma é a situação individual das pessoas que têm suas vidas e eu não vou entrar no mérito de aconselhar “faça isso ou aquilo”. Não é o caso. Mas em relação a um posicionamento estratégico de resguardar a continuidade da tradição, a gente vem lutando por esclarecer, de levar a um conhecimento maior sobre o que é uma religião e o que é a outra religião, e marcamos que hoje em dia, apesar do preconceito de muita gente atrasada, é possível viver a liberdade de culto e se ter religiões diferentes existindo num mesmo contexto como o brasileiro. Não precisamos mais estar colocando a imagem de santo perto do peji, um altar perto do peji, isso só prá dizer: “Somos católicos”... . Há alguns anos, fez-se o senso aqui na Bahia e o IBGE perguntou a uma veneranda Iyalorixá que era considerada a principal, qual era a religião dela. Ela falou: “Eu sou católica!” Todo mundo se dizia católico... Ainda mais ela que viveu todo o transcurso da perseguição policial, que viu terreiros invadidos, levarem instrumentos sagrados, perseguirem e prenderem pessoas, baterem em sacerdotisas e sacerdotes, impedirem o culto, criticarem na imprensa, nas universidades, Dizerem que era coisa do demônio, dizer que era coisa que não prestava, e que era um atraso e tudo mais, e você saber que aquilo na verdade era um legado de seus ancestrais que tanto sofreram para trazer essa riqueza da tradição até nós, até aquela comunidade e tantas mais e ela ter aquela responsabilidade , aquela obrigação, de manter , fazia-se qualquer coisa no sentido de preservar a religião. Então se esse terreiro é dedicado a Oxossi, quer que eu bote aqui alguma coisa do católico que faça referência a Oxossi? Eu boto aqui um São Jorge na entrada e, se vierem, eu digo que sou católico, que estou aqui cultuando da minha forma, mas não vou deixar que ninguém de fora se aproxime lá de dentro, onde está o chamado quarto do orixá, mas aqui na frente que é uma parte pública mostro para quem chegar que está aqui, que sou católico e eu não vou renegar isso, tenho batismo, vou à missas e levo as iyawo, e se um dia acontecer de chegada a hora, para se r enterrado, que um padre venha. Mas isso tudo foram formas da comunidade conseguir ir caçando um jeito de viver. Mas isso ficou arraigado como disse, nesses comportamentos e em determinados espaços públicos em que a comunidade não podia encontrar-se só podia através do catolicismo. Então a comunidade: “... Vamos à festa de Nossa Senhora da Conceição, à festa de Santa Barbara, à festa de S. Cosme e Damião, como é que eu vou? Vamos nos reunir todos juntos e fazer uma consagração, então todos juntos podem compartilhar dessa sociabilidade, de um encontro, de uma referência de Identidade de sua comunidade. Vamos aos encontros da terça-feira da Benção de S. Francisco no Terreiro de Jesus, tem samba, tem bloco afro...
MN- Utilizando outro referencial...

MA-Ter um espaço e um tempo em que fosse possível você se reunir. Precisava botar um disfarce.

MN- Estratégias que hoje em dia a gente vê que não tem tanta necessidade...

MA- Tem sido uma luta, mas não tem tanta necessidade e é isso que estamos agora tentando fazer, afirmar a auto-estima, o orgulho de uma tradição brasileira de ter o direito de poder existir sem disfarces dessa ordem por conta de uma repressão.
Agora é preciso que se diga as associações simbólicas não foram feitas ao acaso e o vetor das aproximações é sempre da simbologia africana. è evidente que se faz a associação de Iyansan com Santa Bárbara é porque é uma santa cuja imagem é de uma jovem guerreira vestida de vermelho e com uma espada. Aproxima-se então de atributos do orixá. São Jorge, cuja imagem é de um cavaleiro montado a cavalo caçando uma fera. São atributos que recaem em Oxossi. Em algumas regiões do Brasil é associado à Ogun por ser um guerreiro com armadura e com instrumentos de metal...

MN- Não foi uma coisa arbitrária...

MA- Não foi. São Jerônimo está associado a Xangô. Sua imagem é do santo vestido de vermelho sentado numa pedra, com um leão ao lado, um livro de leis na mão. Então Xangô que é o princípio que regula a sociedade, é rei, legislador, apoiado numa pedra, Xangô Jakutá, o lançador de pedras e o leão símbolo da realeza...O Senhor do Bonfim associado a Oxalá. Assim como Jesus padecendo na cruz, as histórias da tradição contam que Oxalá teimando em visitar Nanan no reino de Xangô, foi confundido, esteve preso e passou necessidade, apanhou, até que se fizesse a justiça e fosse reparado. A igreja branca fica no alto de uma colina.
Enfim, você vê que isso são associações simbólicas que vão não ao sentido de descaracterizar Iyansan para Santa Bárbara, mas no sentido de através da imagem de Santa Bárbara preservar a simbologia de Iyansan.
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Pelo conjunto de aspectos abordados nessa entrevista e sua importância no contexto do direito à alteridade civilizatória,destacamos a seguir, um capítulo da Constituição da Bahia dedicado a Cultura e Educação.

Constituição da Bahia




CAPÍTULO XV
Da Cultura


Art. 275 - É dever do Estado preservar e garantir a integridade, a respeitabilidade e a permanência dos valores da religião afro-brasileira e especialmente:
I - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados à religião afro-brasileira, cuja identificação caberá aos terreiros e à Federação do Culto Afro-Brasileiro;
II - proibir aos órgãos encarregados da promoção turística, vinculados ao Estado, a exposição, exploração comercial, veiculação, titulação ou procedimento prejudicial aos símbolos, expressões, músicas, danças, instrumentos, adereços, vestuário e culinária, estritamente vinculados à religião afro-brasileira;
III- assegurar a participação proporcional de representantes da religião afro-brasileira, ao lado da representação das demais religiões, em comissões, conselhos e órgãos que venham a ser criados, bem como em eventos e promoções de caráter religioso;
IV - promover a adequação dos programas de ensino das disciplinas de geografia, história, comunicação e expressão, estudos sociais e educação artística à realidade histórica afro-brasileira, nos estabelecimentos estaduais de 1º, 2º e 3º graus.[1]
[1] Onde se lê 1º,2º e 3º graus entenda-se Ensino Fundamental,Ensino Médio e Ensino Superior.

TROCANDO IDÉIAS SOBRE EDUCAÇÃO

Localização da ACRA no Parque Metropolitano do Abaeté
Imagem capturada por satélite(Google earth)

No dia 14 de outubro de 2010 a Associação Crianças Raízes do Abaeté - ACRA recebeu a visita do professor Thiago Molina, mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de São Paulo-USP. O professor Thiago,foi recebido na ACRA pela equipe da ACRA Jackeline Divino, Naiára Bittencourt e Célia de Jesus.
Thiago desenvolve na USP, a pesquisa a “Relevância da dimensão cultural na educação de crianças negras” sob a orientação da Professora Roseli Fischmann, e sua visita foi motivada pelo interesse em conhecer as atividades que são realizadas na ACRA, principalmente aquelas relacionadas às linguagens na área de Educação que afirmam aspectos da cultura afrobrasileira e abrem espaços para o fortalecimento da identidade das crianças negras. Nosso ilustre visitante já conhecia a abordagem socioeducacional assumida pela equipe de educadores/as da ACRA, através das leituras feitas nos livros e artigos da professora Narcimária Luz, e também pelas postagens apresentadas no nosso blog.
As professoras Jackeline e Naiára explicaram ao professor Thiago a dinâmica das atividades que se realiza entre a Associação Crianças Raízes do Abaeté e sua parceira a Universidade do Estado da Bahia – UNEB através do Programa Descolonização e Educação-PRODESE destaque para: aspectos sobre o histórico da ACRA desde a iniciativa do Contra - Mestre Luis Negão de inserir a Capoeira na comunidade de Itapuã, o projeto “Dayó: compartilhando a alegria socioexistencial em comunalidades africano-brasileiras” e todas as atividades desencadeadas por ele (capoeira, grafite, espanhol, orquestra de ritmos e sons, inglês, flauta, etc).
O professor Thiago teve a oportunidade de presenciar a aula de capoeira ministrada pelo Professor Rupi, além também de conhecer o espaço da Associação e os trabalhos expostos pelos alunos e alunas.
Como Thiago já foi colaborador em uma Associação que promovia atividades semelhantes as que a ACRA, aproveitamos a presença dele para aprender e trocar idéias sobre temas relacionados a realidades das ONGs (financiamentos, parcerias, etc.), além das questões pertinentes a situação difícil que caracteriza a Educação brasileira. Ao final da visita Thiago Molina recebeu da ACRA exemplares do SEMENTES Caderno de Pesquisa e livros de Narcimária Luz e Marco Aurélio Luz.
Sobre suas impressões sobre a visita a ACRA Thiago Molina disse:
“Gostei muito da tarde de ontem!Conheci pessoas que dividem comigo pensamentos sobre educação, vi algo que pode ser feito para nossas crianças com muito pouco dinheiro e muito compromisso e, de quebra, estou levando para SP alguns presentes maravilhosos”.

Aula de Capoeira realizada no intercâmbio Brasil e Inglaterra em julho de 2010 na ACRA

sábado, 23 de outubro de 2010

PARTE III(continuação da entrevista do dia 13/10/2010)

Nesta terceira parte da entrevista,Marco Aurélio Luz responde a Márcio Nery de Almeida aspectos que tratam dos princípios masculino e feminino na dinâmica da tradição afrobrasileira.
Boa leitura!
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Márcio Nery de Almeida- - E porque existem duas qualidades de Oxalá, Oxalufan e Oxaguian? E porque existe essa diferença entre o velho e o novo?
Marco Aurélio Luz-
São aspectos do mesmo princípio. Oxalá é basicamente o princípio original da fertilidade, ou da gênese pelo lado do princípio masculino.Ele é o princípio do ar, existência genérica origem do existir. “No início do mundo era o ar”... é como principia uma das histórias da criação. Oxalá criou os seres que vieram a constituir a criação. Os seres humanos enquanto viventes estão ligados a Oxalá pela respiração, estamos todos debaixo do ALÀ o grande pano branco presente na procissão de seus rituais. Oxalá também detém o poder de gênese da criação representado pelo cetro OPA XÔRO, emblema fálico representando fertilidade masculina. No mesmo sentido em contato com o interior da terra o inhame novo possui essa simbolização relacionada à Oxaguian. Ele constitui também o poder de ação de Oxalá, que é um princípio muito antigo que se complementa de Orixá Oguian que é um princípio de possibilidade de atuação do poder de fertilidade masculina.
Opaxorô , com quadro ao fundo do pintor Ronaldo Martins durante lançamento de livros da EDUNEB
Foto Marco Aurélio Luz

Márcio Nery de Almeida-Eu peço que o senhor fale agora dos orixá dos princípios femininos.
Marco Aurélio Luz-Os orixá feminino tem haver com água e terra. São também elementos de constituição do princípio do mundo. Depois do ar ofurufu vieram as águas omi e a terra ilé. Os seres humanos conforme as histórias tradicionais são concebidas da água com a terra, o barro ou lama que será moldado por Oxalá e que é desprendido por um orixá que será o eleda , o criador da pessoa. Os orixá femininos constituem o mistério da concepção e da gestação.

Pintura de Ronaldo Martins, acervo de Narcimária Luz,
Foto Marco Aurélio Luz

A filosofia da tradição nagô é expressa por uma linguagem estética que magnífica os rituais sagrados. Os diversos repertórios dessa linguagem estética possuem uma simbologia. Assim a estética dos orixá femininos as Aiyaba, as nossas venerandas mães, seus emblemas e paramentos possuem formas ventrais, ovais, caracterizando a gestação, o mistério do ventre fecundado, a capacidade de abrigar o desenvolvimento do feto, do nascituro. Também o mistério da metamorfose de seu próprio corpo ser capaz de se transformar na gestação, e de alimentar o recém nascido. Esse princípio da fertilidade feminina que é homenageado e cultuado pela religião.
"BORBOLETAS"
Criação de Narcimária C. P.Luz.O fenômeno da metamorfose de transformação do corpo feminino está simbolizado nas borboletas.Também suas formas aludem ao obo obirin.
Foto Marco Aurélio Luz
O abebe emblema de Oxum e também de Iyemanjá tem a forma de um leque adornado com peixe ou pássaro no centro caracterizando o ventre fecundado. Iyemanjá significa Iye, mãe omo dos fihos eja peixes. Ela constitui o poder dos rios, dos estuários, do encontro com o mar, lugar de muita vida marinha. Já Oxum constitui o princípio das águas correntes, riachos, corredeiras e cachoeiras. Está relacionada com a capacidade de fertilização, com os ciclos menstruais, poder e mistério da Iya mi akoko, a mãe por excelência. Saias rodadas, gestos e movimentos de suas danças caracterizando esses atributos são outros elementos dessa simbologia.
Convém ressaltar por fim os valores característicos do culto a ancestralidade na cultura nagô. Quanto mais filhos, nascidos criados e desenvolvidos mais o ancestral será lembrado e cultuado. Então a fertilidade no sentido da expansão da vida, proporciona a preservação e circulação do axé da força vital, quando os princípios são cultuados e enaltecidos gerando a capacidade de continuação da existência.
"ABEBE"
Emblema de Oxum, recriação de Narcimária C.P.Luz
Foto Marco Aurélio Luz

Márcio Nery de Almeida - Agora eu gostaria que o senhor falasse um pouco de Iansã, sobre sua indumentária, sobre a dança...
Marco Aurélio Luz-
Iya mesan orun, mãe dos nove espaços do orun do além, Princípio do vento, ar em movimento, existência invisível ela é a rainha, quem comanda os egungun os ara orun habitantes do orun. Iyansan voa como vento e suas danças demonstram gestos que simbolizam esse poder, inclusive de movimentar o fogo e outros elementos. Um de seus emblemas o erukere, de crina de rabo de boi, da parte de trás, da parte poente do animal, simboliza o poder de atuação no comando dos ancestrais. Os espíritos ancestrais ensejam que Iyansan com o erukere limpe as situações malfazejas, com danças e música e cantos pertinentes. A cor de seus trajes suas vestes, suas jóias etc. é vermelho escarlate.
Além do culto aos orixás Iansã é venerada no culto aos Egungun, aos ancestres e ancestrais masculinos na tradição nagô um culto de primazia de poder masculino.

Márcio Nery de Almeida- E o senhor tem algum conto mítico para poder ilustrar?
Marco Aurélio Luz -É um conto que narra como ela adquiriu e perdeu esse poder... Ela adquiriu num contato com Ogun quando ainda ela comandava os homens. Porque Ogun caracteriza aspectos do princípio masculino por excelência. È o orixá que representa a agressividade masculina o poder da força física de ação de desbravamento e luta de enfrentamento do desconhecido, que o faz também conhecedor dos mistérios da floresta, e criador da tecnologia. Patrono dos ferreiros ele guarda o segredo da transformação do minério em metal. A espada agadá é seu emblema característico e o torna também impulsionador da civilização.
Então nessa época muito muito antiga, Iyansan levava os homens pelo dedo mindinho, como diz na história aterrorizando-os com um grande macaco. Ogun não estava nada satisfeito com isso. E foi ao babalawo para saber o que poderia fazer. O babalawo disse a ele que fizesse um preceito e que ele a assustasse. Depois do preceito, Ogun se veste com uma capa, uma espada, um chapéu e fica com uma fisionomia aterrorizante. Ela morre de medo e se retira e então, a partir daí o culto aos ancestrais masculinos volta para as mãos dos homens e os homens passam a ter esse poder de ter o controle dos egungun, dos ancestrais masculinos. São os homens os iniciados, são eles os sacerdotes desse culto. Todavia Iyansan é lembrada como aquela que foi a rainha e possui ainda poder sobre eles embora já não o exerça mais como levar os homens pelo dedo mindinho.

Para ler a entrevista na íntegra consultar o SEMENTES CADERNO DE PESQUISA.Salvador:EDUNEB, , Vol.03,nº 5/6 ,Jan/dez 2002

APRENDENDO ESPANHOL NA ACRA

Professora Rosângela Accioly

A ACRA desde o primeiro semestre de 2010,abriu um espaço de aprendizagem de espanhol para crianças e jovens com idades entre 9 e 16 anos.Esse espaço de aprendizagem está sob a responsabilidade da pedagoga Rosângela Accioly pesquisadora do PRODESE CNPq/UNEB, e professora do município de Lauro de Freitas.O trabalho desenvolvido pela professora Rosângela está fundamentado na perspectiva pluricultural de Educação,principal proposta do Dayó: compartilhando a Alegria socioexistencial em cumunalidades africano-brasileira projeto de extensão universitária de autoria da professora Narcimária C. P. Luz.
Rosângela Accioly,elaborou uma metodologia original para conduzir as aulas de espanhol,através da contação de histórias africano brasileiras como “Eleguá” de Carolina Cunha, “Como a lua e o sol foram morar no céu”e o autocoreográfico , “Itapuã que te viu e quem te vê”, de Narcimária Luz, dentre outros.

Um dos livros selecionados para as aulas de Espanhol.
Na contação de histórias,a professora Rosângela estimula a leitura entre as crianças e jovens dos textos selecionados , os estimula a traduzirem coletivamente para o espanhol e em seguida a composição coletiva de resumos das narrativas.A proposta é trabalhar aspectos da história da territorialidade de Itapuã,destacando o legado e tupinambá e africano,através da língua espanhola. Daí a preocupação da professora Rosângela na escolha dos textos que promovam essas referências indígenas e africanas.

As aulas promovem leituras e dramatizações de textos.

Sobre o êxito desse trabalho original a professora e pesquisadora Rosângela comenta: “Essa iniciativa prima por estabelecer repertórios metodológicos que acolham os valores civilizatórios africano-brasileiros estabelecendo um elo ancestral com Itapuã, territorialidade onde venho desenvolvendo as aulas de Espanhol. A opção é trazer para sala de aula a África (re)territorializada contemporaneamente e vivida como expressão civilizatória por meio de seus descendentes, ou seja, as novas gerações que vão contando sua própria história. A importância dessa iniciativa pedagógica se dá a partir da história da ACRA, que surge deste movimento de resistência ao esquecimento da história dos nossos ancestrais e a luta pela valorização do patrimônio civilizatório africano existente em nosso país, pois na medida em que contamos narrativas, mitos, itans, músicas, estamos destacando a relevância da presença africana como forma de amenizar o racismo e a discriminação que insistem em denegar o direito à alteridade da história dos africanos/as em nosso país.”

As aulas têm sido ministradas em um clima de descontração
Desta forma, durantes as aulas foram realizadas pesquisas pelos alunos acerca história de Itapuã como: a presença da colônia de pescadores, a lagoa do Abaeté, as dunas, o Malê de Balê, seus moradores, dente outros conteúdos que as crianças pesquisaram e depois compartilharam com o grupo, além dos textos publicados. Também recebemos a visita dos alunos de capoeira do intercâmbio Brasil X Inglaterra (Oxford) promovido pelo Contra-Mestre em capoeira Luis Negão este encontro foi marcado com um bate-papo em espanhol com nossas crianças, que aprenderam muitas palavras novas e não deixaram de fazerem perguntas e também de responderem as curiosidades que foram surgindo ao longo da conversa pelo grupo visitante que é nosso parceiro desde a fundação da Instituição e todo ano um grupo da ACRA também viaja para estar com os estudantes na Inglaterra.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

IBEJI-OS GÊMEOS E A TRADIÇÃO AFROBRASILEIRA

PARTE II(continuação da entrevista do dia 02/10/2010)

Continuamos a explorar aspectos da entrevista concedida pelo Professor Marco Aurélio Luz (M.A.) a Márcio Nery de Almeida (M.N.), Professor, Gestor da Rede Municipal de Ensino de Salvador e pesquisador do PRODESE- Programa Descolonização e Educação. Nesta segunda parte da entrevista, Marco Aurélio desenvolve reflexões que nos leva a compreender a transcendência das linguagens africano-brasileiras.
Boa leitura!

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No centro Lélia Gonzalez(quando era diretora do Planetário da Gávea no R.J),
o sobrinho Manuel e Marco Aurélio Luz.

“Dedico esse trecho desta entrevista à memória de minha querida e sempre lembrada professora de Filosofia Lélia de Almeida Gonzalez”.

(Marco Aurélio Luz)

Márcio Nery de Almeida- Fale agora um pouco sobre o orixá Oxossi, já que hoje é uma quinta- feira.

Marco Aurélio Luz-
A cultura religiosa nagô, yoruba, trabalha com princípios...

Márcio Nery de Almeida- Princípio para eu entender, no caso de Oxossi, não é uma pessoa...

Marco Aurélio Luz(M.A.)- Não... Referem-se a forças cósmicas...

Márcio Nery de Almeida(M.N.)- De energias da natureza...

Foto do peixe
Pintura a óleo de Francisco da Silva
Acervo de M.A. Luz

MA- Aspectos da natureza como, por exemplo, a necessidade de caçar. Para o homem ou para qualquer animal predador existir, ele precisa caçar. É um princípio porque faz parte de uma qualidade intrínseca de ser. Faz parte da natureza. É como a água, o ar, a vegetação... A ação de caçar é um ato da natureza. A tradição nagô trabalha com princípios. Aqui se está homenageando o princípio da caça, como há o princípio do uso dos vegetais, o uso das seivas, que são capazes de proporcionar a medicina. Não é o exercício da medicina, mas a capacidade da vegetação oferecer possibilidades de ação ou de atuação em relação à humanidade. Você pode usar a folha pra isso ou pra aquilo, desde que você saiba a capacidade de atuação de uma folha. O uso medicinal, ou o uso para uma atuação espiritual, ou para um uso doméstico, enfim, - um banho, um tempero, um chá, qualquer coisa, mas o que se está colocando, o que se está enaltecendo aqui é o princípio de os vegetais serem capazes de promover, através da seiva, um poder, uma ação uma atuação. Então isso que é comemorado no culto ao orixá Ossãiyn, não é que ele foi médico, nada disso. É um princípio.

MN- É uma realidade muito mais transcendente do que aquilo que andam divulgando...

MA-
É são princípios. Você tem que partir sempre de que sobre os orixá, quando se fala de Xangô, de Iansã... é o princípio do fogo imemorial, do controle e da domesticação do fogo pela humanidade, a possibilidade da vida social, de se reunir em volta do fogo, de viver conjuntamente. Então por mais que você volte no tempo você encontrará a humanidade vivendo em sociedade, e o fogo é o elemento de aglutinação.

MN- Daí Xangô estar ligado a expansão de linhagens...

MA- Ao fogo e ser rei, no sentido de que ele cuida para que essa socialização não seja deletéria, não seja destrutiva. É o princípio das tentativas de harmonizar esse cenário passível de tensões e conflitos. Assim como são as pessoas são as criaturas, cada um tem a sua diferença, cada um tem o seu orixá elementos de sua natureza que ora se complementam ora se chocam: o fogo e a água existem aspectos benéficos e aspectos que são agressivos. O fogo pode ser bom, prá cozinhar, fazer instrumentos, proteger, mas também pode ser umacoisa que destrua. A água, pode ser algo fundamental para existência dos seres aplacando a sede, complementando as atuações da humanidade no cozinhar, fazer instrumentos, favorecendo a agricultura, ou pode trazer uma enchente arrasadora. Todo poder tem essa ambigüidade e o papel ou função da religião é de tentar controlá-los através dos rituais. Então tudo isso também está nos seres, nas criaturas que são filhos desses orixá . Tem hora que a pessoa está muito calma, já tem hora que está mais alterada... Porque o princípio da natureza não é estático, é dinâmico. Ele oscila, é uma coisa mais complexa. São os princípios que se realizam.


Foto do Oxê Xango ati abo meji
Escultura de Marco Aurélio Luz Oju Oba

MN- Voltando a Oxossi...

MA- Sim como disse, Oxossi é o princípio da caça, seu poder proporciona a provisão da comunidade, caracteriza uma carência, não só da humanidade porque há outras espécies de seres que caçam... Tem suas táticas e estratégias, e o homem é um deles... Aliás, é o maior predador e aquele que tem mais habilidade em caçar que qualquer outro. E esse princípio da caça, como é um poder, deve ser exercido com parcimônia, porque ele tem um limite como todo poder. O poder que você tem que lhe é atribuído por seu orixá você não pode exercê-lo de modo onipotente; tem que ter seu parâmetro de equilíbrio para poder usá-lo convenientemente.

MN- E sobre o ofá, o instrumento de Oxossi?

MA- O ofá, o arco e flecha mágico instrumento característico do poder de Oxossi, que permite ser o rei dos caçadores Ode Oba Ibo, por sua eficiência de jamais errar uma flechada. Esse poder entretanto não pode ser aniquilador de todos os animais como bem assevera o conto Ode e os Orixá do Mato, narrado por Mestre Didi, que por outro lado foi o motivador da experiência de educação Mini Comunidade Oba Biyi. O provedor não pode ser envolvido sem limites por seu poder pela ganância onipotente... sob pena de sofrer adiante de perdas irreparáveis.O arco e flechas é instrumento fundamental da saga da humanidade e o ofá é símbolo também dessa trajetória. Oxossi é considerado também como fundador de novos sítios. Orixá l´odê, orixá de rua como se diz, é um orixá que emerge do meio da mata, conhece os animais, conhece a floresta seus segredos...


Foto do caçador
Acervo de Narcimária Luz

MN- Orixá de rua, como assim?

MA- Seus poderes estão mais relacionados com o “fora de casa”. Sai dos limites da comunidade vai e retorna. Ele tem essa característica de sair para a mata, como Ogum, que também vai para a mata, para a luta, vai conhecer os minerais e o segredo da transformação em metais. Como Exu que também é orixá de rua, o senhor dos caminhos. Ossãiyn o orixá da vegetação e dos preparos dos remédios de toda ordem são alguns orixá l´odê. São considerados orixá filho. Também como orixá filhos eles numa jornada são os que vão à frente, vão desbravando o caminho, vão penetrando em outros espaços como, por exemplo, na História da Criação do Mundo narrada por Mestre Didi.
Há os orixás de casa, do palácio das cidades, cultuados no interior dos templos do agrupamento comunitário, num agrupamento humano. Nesse sentido que é orixá mais para dentro de casa. Oxalá que é um orixá, o mais antigo...

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Pela importância do tema daremos continuidade a entrevista na próxima semana.
Para saber mais sobre a importância da Professora Lélia Gonzalez no processo de afirmação do povo negro no Brasil visite o site http://www.leliagonzalez.org.br/

sábado, 9 de outubro de 2010

UM POEMA PARA FAZER TRANSBORDAR A ALEGRIA DE SER CRIANÇA E VIVER A ESPERANÇA!!!

Crianças da ACRA na visita que fizeram ao Teatro Vila Velha

A ACRA convida as crianças para explorarem e saborearem o espaço divertido que criamos para homenageá-las.Brinquem,riam,compartilhem com seus pais amigos/as,irmãozinhos/as as novidades que selecionamos com muito carinho, escutando com o coração as mensagens que enaltecem a infância.Músicas,poesias,curta metragens de desenhos animados e desenhos infantis.Tudo muito divertido e cheio de encantamento!
Para começar a homenagem,apelamos para a letra e música do saudoso poeta Gonzaguinha que nos anima a não desistir dos sonhos.Leiam a letra da música “Nunca pare de Sonhar” e sintam a emoção que ela transmite. Depois fechem os olhos e escutem a interpretação na voz de Gonzaguinha e aproveitem para expandir a imaginação.
Vamos começar a brincadeira?

E ATENÇÃO!!!

"NUNCA PARE DE SONHAR"

Gonzaguinha

Ontem um menino que brincava me falou

Hoje é a semente do amanhã

Para não ter medo que este tempo vai passar

Não se desespere, nem pare de sonhar

Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs

Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar

Fé na vida, fé no homem, fé no que virá

Nós podemos tudo, nós podemos mais

Vamos lá fazer o que será


UMA CANÇÃO QUE VEM DO MAR

MARCELO

LAÇOS ENTRE MAR E CÉU
Por Narcimária C.P. Luz

MAR
Boas notícias!
São letrinhas que chegam carregadas pelas ondas do mar
Trazendo a emoção que nos faz alegrar

Mar em constante movimento

Criação e divertimento

CELO
Que torna o dia a dia tão belo

Criança cujo gesto tão singelo

Anima-nos a olhar o céu e nele a força de um grande sol AMARELO

CAROL E O SOL

Uma canção de amor para Ana Carolina, e todas as crianças que não perderam o ânimo nem a esperança, de um dia ter o direito irrestrito de (re) encontrar e compartilhar a plenitude do amor e carinho com seus familiares. Essa canção poema foi inspirada no desenho que Ana Carolina (Carol) dedicou a seu pai e avós.

Por Tia Narcinha

Tem um imenso sol

Ele brilha,brilha,brilha...

No manto azulado do céu

Cintilam trilhas de esperança

É um luzir infinito que carrega a lembrança de uma criança

O sol brilha,brilha,brilha...

Aquece a terra, o ar, a água e meu coração

Reluz amor, carinho e emoção

É uma canção que ilumina o mar

Guiando um lindo golfinho

Que livre e sozinho

Dá saltos, faz piruetas animadas no mar

Transformando a saudade e agonia

Numa rota oceânica de alegria

Que deságua na Bahia

Aproximando Carol do farol

Que exibe sublime a casa da vovó

Kiwi!

Pixar s Short Film For the Birds

Pixar - Tennis Commercial

Luxor Jr - Pixar

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Castelo Rá Tim Bum - Ratinho - Meu pé meu querido pé (Tomando Banho)

O Sapo não lava o pé - DVD Galinha Pintadinha - Desenho Infantil

Adivinha dos Peixes

FELIZ DIA DAS CRIANÇAS ACRA!

JUNTOS (TOGETHER)


Quando a ACRA em 2009, através do Projeto Dayó, recebeu o selo de Semifinalista no Prêmio Itaú-Unicef (indicação no conjunto de 1.917 projetos) como uma das 20(vinte) melhores iniciativas destacadas no Brasil, colocamos no blog um vídeo clipe visando compartilhar com nossos/as visitantes o reconhecimento institucional que conquistamos. Foi um dos vídeos mais curtidos pela garotada da ACRA estamos nos referindo a Together do DJ e produtor francês Bob Sinclar.
Um dos refrões da música:
Um dia nós estaremos juntos
Nós nunca vamos nos separar
Um coração, uma idéia yeah
Um dia nós estaremos juntos
Lembre-se que esse velho mundo é seu e meu

Trazemos mais uma vez o vídeo Together, como uma da formas de homenagear nossas crianças. No vídeo estão representadas crianças e jovens que caracterizam a diversidade de povos do planeta.
Vamos cantar dançar e nos divertir!


sábado, 2 de outubro de 2010

IBEJI OS GÊMEOS E A TRADIÇÃO AFROBRASILEIRA

Ibeji e Iyá Ibeji
Escultura de Marco Aurélio Luz Oju Oba

Setembro e outubro são meses que envolvem um riquíssimo repertório do universo simbólico da tradição afrobrasileira, que são as celebrações dos gêmeos conhecidos no catolicismo como Cosme, Damião e na tradição africana Ibejis, em que são ofertados caruru, doces, balinhas, etc. O blog da ACRA resolveu então,trazer para a chamada “blogosfera” uma importante e animada entrevista, onde são desenvolvidas reflexões em torno da tradição africana e a dinâmica da expansão de seus valores. A entrevista foi concedida pelo Professor Marco Aurélio Luz a Márcio Nery de Almeida, Professor, Gestor da Rede Municipal de Ensino de Salvador e pesquisador do PRODESE- Programa Descolonização e Educação.
A entrevista contribui muito, e certamente auxiliará a compreensão do universo simbólico que há muito organiza as comunidades africano-brasileiras, além de permitir o esclarecimento de alguns elementos próprios da liturgia africana. A entrevista foi realizada no âmbito do Seminário Ética da Coexistência e Dinâmicas Territoriais e Comunalidades organizado pelo PRODESE na Universidade do Estado da Bahia no período de 26 a 28 de setembro de 2001. Foi publicada também, no SEMENTES Caderno de Pesquisa,Vol. 3,nº5/6 de 2002 pela Editora da UNEB.Aqui os/as visitantes farão a leitura da primeira parte da entrevista.Na próxima semana apresentaremos a segunda parte.
Boa leitura!

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Márcio Nery de Almeida – Aproveitando a oportunidade de que hoje aqui na Bahia é comemorado o “dia de São Cosme e Damião”, tendo o senhor feito durante o Seminário uma colocação muito interessante sobre o conceito do gêmeo na cultura yorubá – nagô, eu gostaria que o senhor falasse sobre os Ibêjis, ou Ibejis, desse símbolo milenar dos gêmeos na polaridade masculina e feminina e esse outro, esse terceiro que vem como síntese dos dois.
Marco Aurélio Luz – Bem, primeiramente eu queria destacar que a gente tem que partir para entender esses universos simbólicos através da singularidade de cada um deles. Então, por isso, a gente procura distinguir, destacar a diferença entre o culto dos gêmeos Cosme e Damião, que é uma coisa da tradição católica referida a pessoas que existiram e foram mártires do cristianismo, por isso convertidos como santos, dos Ibejis, que é uma categoria da tradição nagô, yorubá, que procura elaborar e reforçar espiritualmente o princípio da fertilidade, o princípio feminino e outro masculino, e a gestação seguinte caracterizada, então, por três elementos: Tayewo, Keindê e Dou. Esses três elementos, um casal mais um, caracterizam esse princípio de fertilidade e constituem-se num elemento, vamos dizer assim, muito importante, porque é uma cultura que visa à expansão da vida, a expansão da existência através da expansão das linhagens, das famílias e, portanto, são muito significativos.
O seu culto envolve a presença de vários orixá. As pessoas são constituídas por orixá, por forças da natureza que constituem os seres humanos, e eles, então, (os orixá) devem se alimentar vamos dizer assim, devem reforçar seu axé, sua energia vital. Os princípios da natureza que os constituem, são revitalizados através das oferendas. E as oferendas aos gêmeos se caracterizam pela variedade da culinária litúrgica ritual, fazendo referencia às diversas qualidades de orixá. Então, o principal para nós, que aí se apresenta, é o caruru ou o amalá, representando a caracterização da fertilidade, à expansão do princípio masculino ligado à expansão; e feminino também porque o amalá compreende a presença de Xangô e Iansã. No caso de Xangô, orixá rei e patrono das dinastias reais de Oyó que cuida dos seus filhos, que cuida de sua gente, ele está presente, portanto, como uma referencia fundamental na expansão das comunidades, das linhagens e das famílias. Iansã, que também é o principio feminino do fogo, também relacionado com o amalá, está presente nessa relação culinária, principalmente pelo acarajé, também um de seus elementos.
Márcio Nery de Almeida- Então quer dizer que o caruru que as pessoas fazem é uma reinterpretação dessa culinária?!...
Marco Aurélio Luz – Não. O caruru que as pessoas fazem, quando é um caruru de preceito, como é chamado, é em razão do fato de serem pessoas que tem uma relação com os Ibeji e, por isso, eles fazem essa festa, fazem a oferenda aos orixá Ibeji que compreende a parte, vamos dizer assim, pública do ritual, que é a distribuição das oferendas caracterizadas por essa culinária litúrgica. Então, chamam as crianças que participam da redistribuição dessa culinária na forma de uma gamela rodeada por elas.
Ali, com eles sentados, são cantados cânticos, tudo mais, e uma vez alimentados esses meninos são alimentados outros, e outros, e outros, e outros, quantos se possa conseguir, alcançar nessa festividade. Quanto mais crianças, mais alimento, mais sinal de prosperidade e fertilidade, sendo uma coisa muito característica da generosidade e da necessidade de zelar uns pelos outros, que faz parte da vida em comunidade, ou da comunalidade, de tradição africana. Então, este é basicamente o caruru de preceito de uma pessoa dedicada a isso. Há varias razões pela quais as pessoas se dedicam a esse orixá. Agora, aqui na Bahia, existem esses desdobramentos, como o chamado caruru sem preceito, que é o que as pessoas fazem, só com as comidas.

Gêmeos
Escultura de Louco, artista da cidade de Cachoeira

Márcio Nery de Almeida- Na tradição africana também existe uma trindade criadora, por assim dizer: Olorum, Obatalá e Oduduá.
Marco Aurélio Luz – Na história da criação do mundo, Olorum – que a gente pode estabelecer uma relação para tentarmos entender isso – a Deus, à idéia de Deus, do criador é uma entidade bastante abstrata, quase inqualificável, porque é a fonte do existir, a origem do existir. Agora, Olorum delega aos orixá mais antigos, essa missão a de criar o mundo: um deles é Orixá – nlá, ou Oxalá, como a gente chama, que está ligado ao ar. É uma existência genérica, é um existir bem original e do qual todos os seres dependem através da respiração, todos estamos ligados a essa massa de ar, de existência, Oxalá. E outro é o orixá Odudua, que é a terra, o interior da terra, onde as coisas são elaboradas em termos de receber e repor, restituir e renascer. O ciclo de nascimentos se dá através da terra, do interior da terra, de processos que ocorrem no interior da terra. Então, é de lá que nós viemos e para lá que nós voltaremos, e assim sucessivamente. “Foi para dar vez aos outros’’. Uma pessoa morreu, faleceu ou fez a viagem, como se diz, foi restituir sua matéria a terra, de onde, uma vez restituída, vai dar ocasião para que sejam feitos novos seres, e assim sucessivamente.
Márcio Nery de Almeida- Inclusive existe um conto que fala que os deuses fizeram os corpos humanos da lama, e a lama ficou chorando, sentindo-se vazia porque as partes tiradas não lhe eram restituídas, devolvidas. Daí a necessidade do ciclo de nascimentos e de mortes...
Marco Aurélio Luz – Isso. A matéria prima, a matéria original da qual somos feitos está representada pela lama, água mais terra, que depois recebe o sopro de Obatalá e Orumilá para termos, então, a existência concreta, individual. Então, assim é elaborada miticamente a criação dos seres humanos, que têm como origem de matéria a lama, que está associada à Odudua, o interior da terra, na elaboração da gestação, e a Nanã também, porque representa o lado da restituição dessa lama. Nana Iku-rê, Nana, representa a morte. Ela é o lado da restituição que permite o novo renascimento.

Márcio Nery de Almeida-Existe verdadeiramente alguma relação entre os dias da semana e os orixá? Por exemplo, dizem que quem nasce na quinta feira é de Oxossi. Existe essa relação?
Marco Aurélio Luz – Há uma serie de indícios que podem caracterizar isso, mas, principalmente, o veredicto de pertinência é feito através do oráculo. Por sua vez, quem sabe manejá–lo e interpretá–lo, é quem pode assegurar a você qual o seu orixá. Para isso, há o sacerdócio dos babalaô, que quer dizer “pai do mistério’’: Baba l´ awô. Baba pai; awô, mistério - pai do mistério. Na África tradicional, na tradição, a formação dos babalaô leva mais de vinte anos, ou por volta de vinte anos. A pessoa passa por vários processos..., convivendo com um babalaô mais antigo. Aí ele é pouco a pouco iniciado e não só sobre a mecânica do jogo e os caminhos do destino. Enfim, é uma coisa assim como um sacerdócio. Há pessoas dedicadas a isso. Aqui no Brasil, essa tradição do babalaô não foi mantida como foi, por exemplo, em Cuba, e como é na África. Aqui, são as mulheres, principalmente as ligadas a Oxum. Miticamente, elas estão em condições de realizar essa atividade oracular, mas não através do processo oracular do Ifá, que é o que caracteriza o Babalaô, mas pelo Erindinlogun que quer dizer dezesseis e mais um, que permite o movimento do cair dos búzios. Esse jogo dos búzios é o que é mais praticado aqui. É o sistema Erindinlogun, que também é consultado para essa finalidade, para dizer qual é o orixá da pessoa. Quanto aos dias da semana, aqui no Brasil, temos uma adaptação, porque na África tradicional as semanas eram até quatro dias. Aqui, na adaptação, a quinta-feira está consagrada a Oxossi, a segunda-feira é de Exu, a terça é de Ossaiyn e Ogun, a quarta é de Xangô e Iansã, a sexta-feira é de Oxalá, o sábado é das Iabás, Oxum e Iemanjá, e o domingo é de todos os Orixá.
Elexin
Escultura de Marco Aurélio Luz