quarta-feira, 9 de maio de 2018
OBIRIN ATI IYA Mulher e Mãe
IYÁ
IBEJI, Escultura de Marco Aurélio Luz
Foto: Hans Olu Obi
OBIRIN
Comecemos as nossas
homenagens conversando com o Oju Obá Marco Aurélio Luz sobre o significado de
mulher na tradição afro-brasileira nagô. Nessa breve entrevista a ACRA Marco
Aurélio destaca que na língua yorubá a palavra OBIRIN significa MULHER e
demonstra que essa semântica “mulher” aprisionada na lógica das sociedades
urbano-industriais não corresponde e não dá conta da infinitude de valores e
linguagens que o universo simbólico afro-brasileiro apresenta e legitima.
Marco Aurélio lançou
recentemente o livro “TUN ONÁ RI RETOMANDO O CAMINHO” que aborda aspectos das
culturas africano-brasileiras e a visão de mundo que se expressa através de
refinados códigos estéticos e suas formas de comunicação.
Acompanhem a entrevista
consultando a escultura na foto acima para identificar a riqueza da simbologia
expressa.
ENTREVISTA
ACRA - Fale-nos do
significado de mulher na tradição afro-brasileira nagô.
Marco Aurélio Luz - Na
tradição nagô a mulher, obirin, está representada por seus mistérios e poderes
imutáveis. Na tradição a linguagem e as instituições elaboraram a essência dos
seres no caso o ser da mulher é uma expressão do princípio feminino da
existência.
ACRA - Você recentemente fez
uma exposição de suas esculturas no foyer do Teatro UNEB e entre elas estava
uma escultura representando o princípio feminino da existência. Você poderia
comentar a simbologia dessa escultura?
Marco Aurélio Luz -
Essa escultura de minha
autoria é a IYÁ IBEJI, a Mãe dos Gêmeos, que emerge dentro dos cânones
estéticos da tradição. De início devo logo dizer que a capacidade de concepção,
de gestação, de formidável transformação do corpo feminino constitui e expressa
o mistério e o poder da mulher, tanto mais em sociedades em que o valor da
expansão de famílias e linhagens significa fortes elos de ancestralidade,
sucessão, gerações, continuidade comunal.
ACRA - A IYÁ IBEJI expressa
em sua simbologia esses valores?
Marco Aurélio Luz -
Sim. Sei que vocês irão
ilustrar essa entrevista com a foto dessa escultura e isso dará ao leitor a
dimensão dos comentários que irei fazer. Uma mulher jovem e fértil sustenta
duas crianças gêmeas em suas pernas caracterizando poder de procriação. Os
gêmeos, IBEJI, ibi+eji, nascidos dois, são símbolos de fertilidade e como tal
são entidades muito cultuadas na Bahia. Eles seguram com uma mão o seio da IYÁ,
e com a outra um abebe, emblema em forma de leque, de forma a representar o
útero fecundado. O abebe é emblema característico dos paramentos dos orixá que
regem príncipios femininos como Oxum e Iyemanjá caracterizando seus poderes e
mistérios.
ACRA - Na escultura vemos
outro abebe também gravado na figura de um ovo.O que significa?
Marco Aurélio Luz -
O ovo é um elemento símbolo
integrante da representação de Oxun caracterizando a continuidade das próximas
gestações, que está representado nos IBEJI por Dou o nascido subsequente.
ACRA - Na base da escultura
você esculpiu umas ondulações o que representam?
Marco Aurélio Luz –
Contornando a escultura na
base, tem a representação de água corrente, expressão da natureza regida pelos
poderes de Oxum, simbolizando também o corrimento menstrual símbolo do poder de
fertilidade feminina. Oxum representa poderes de beleza, encantamento e sedução
da jovem mãe. Conforme uma saudação da tradição africana relatada por Fatumbi
Verger, "Oxum limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos".
Atrás da escultura,
referência e alusão a passado, poente, dois pássaros caracterizando a proteção
das IYA-MI, as antigas e venerandas mães ancestrais, que se consubstanciam em
pássaros, peixes ou sereias...
Muitos outros aspectos podem
ser abordados sobre OBIRIN é um assunto que não tem fim.
ACRA - Mais uma vez
agradecemos sua valiosa colaboração nos ajudando a consolidar o blog da ACRA.
Nota: Publicado em 2010
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