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PRODESE E ACRA



VIDA QUE SEGUE...Uma
das principais bases de inspiração do PRODESE foi a Associação Crianças Raízes
do Abaeté-Acra,espaço institucional onde concebemos composições de linguagens
lúdicas e estéticas criadas para manter seu cotidiano.A Acra foi uma iniciativa
institucional criada no bairro de Itapuã no município de Salvador na Bahia, e
referência nacional como “ponto de cultura” reconhecido pelo Ministério da
Cultura. Essa Associação durante oito anos,proporcionou a crianças e jovens
descendentes de africanos e africanas,espaços socioeducativos que legitimassem
o patrimônio civilizatório dos seus antepassados.
A Acra em parceria com o Prodese
fomentou várias iniciativas institucionais,a exemplo de publicações,eventos
nacionais e internacionais,participações exitosas em
editais,concursos,oficinas,festivais,etc vinculadas a presença africana em
Itapuã e sua expansão através das formas de sociabilidade criadas pelos
pescadores,lavadeiras e ganhadeiras,que mantiveram a riqueza do patrimônio
africano e seu contínuo na Bahia e Brasil.É através desses vínculos de
comunalidade africana, que a ACRA desenvolveu suas atividades abrindo
perspectivas de valores e linguagens para que as , crianças tenham orgulho de
ser e pertencer as suas comunalidades.
Gostaríamos de registrar o nosso
agradecimento profundo a Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra),na pessoa
do seu Diretor Presidente professor Narciso José do Patrocínio e toda a sua
equipe de educadores, pela oportunidade de vivenciarmos uma duradoura e valiosa
parceria durante o período de 2005 a 2012,culminando com premiações de destaque
nacional e a composição de várias iniciativas de linguagens, que influenciaram
sobremaneira a alegria de viver e ser, de crianças e jovens do bairro de
Itapuã em Salvador na Bahia,Brasil.


sábado, 8 de fevereiro de 2014

PARTICIPAÇÂO DO PRODESE EM EVENTOS DE NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2013

Por Marco Aurélio Luz


 Nos meses de novembro e dezembro de 2013 o PRODESE representado pela Professora Doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz, participou de três mesas redondas em eventos científicos nacionais e internacionais. 
Procuraremos resumir as participações a começar pelo EPENN, o XXI Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste realizado entre os dias 10 a 13 na Universidade Federal de Pernambuco no campus de Recife.
A temática do Encontro foi Internacionalização da Educação e Desenvolvimento Regional. A Mesa que recebeu as contribuições do PRODESE foi  realizada no dia 12 no auditório do Centro de Tecnologia e Geociências teve como tema Cidadania e Diversidade.




A Mesa foi formada por:

Diomar das Graças Motta- Universidade Federal do Maranhão
Narcimária do Patrocínio Luz- Universidade do Estado da Bahia/Programa Descolonização e Educação-Prodese
Rosângela Tenório- Universidade Federal de Pernambuco
Mariza Carvalho Coordenadora- Universidade Federal de Pernambuco



Dra. Diomar


A comunicação da Dra. Diomar foi sobre a trajetória de luta das mulheres em geral para alcançar os direitos de cidadania plena vencendo as restrições e obstáculos políticos, ideológicos e econômicos. Essa luta ainda acontece nos dias atuais apesar das muitas conquistas alcançadas.
A comunicação da Dra. Narcimária foi demonstrar que a constituição da República no Brasil, repousa num patamar ideológico eurocêntrico que alimenta a Razão de Estado, fomentando a discriminação e  políticas genocidas em relação aos povos constituintes da origem da nação como os aborígines e os oriundos do continente africano.



Dra. Narcimária demonstrou que desde o império quando se fomentou a política do embranquecimento da população, D. PedroII procurou reforçá-la com a vinda dos ideólogos franceses como  o Conde de Gobineau e  Lapouge que implantaram na Razão de Estado as sementes da ideologia do racismo e das políticas de eugenismo.

Discorreu sobre seus sucessores como o médico  Nina Rodrigues com sua psiquiatria da época, relacionando a crise de histeria com a manifestação de entidades pelas sacerdotisas das religiões africano-brasileiras,com o propósito de  afirmar  que "o negro é incapaz de civilização". O médico italiano Cesare Lombroso autor da teoria do "criminoso nato"  influenciou Nina Rodrigues, e sua ideologia foi adotada na Universidade da Bahia na época e depois nas décadas seguintes, teve continuação nas reformulações do psicanalista eugenista Arthur Ramos e tantos outros cientistas sociais, juristas e educadores.



Flagrante do Auditório


O fato é que todos esses ideólogos alimentaram a política da discriminação, impedindo os segmentos mais expressivos da nação de conquistarem direitos de cidadania plena e mais ainda,o direito de ficarem  livres das políticas genocidas. Estando no nordeste, não podemos esquecer da história de Canudos nos inícios da República e seus atuais desdobramentos.

Narcimária referiu-se ainda, sobre um desenho de um menino kachinawá que apontava a escola como ¨fábrica de transformação dos povos indígenas em branco¨ .
Para encerrar Narcimária citou como um exemplo de educação pluricultural, a experiência pioneira (1976-1986) da Mini Comunidade Oba Biyi realizada na Bahia representando um valioso desdobramento dos valores e linguagens da tradição cultural africano-brasileira.




Dra. Rosângela

A Dra. Rosângela Tenório explorou aspectos de histórias em quadrinhos de autores europeus, que descrevem o infortúnio dos imigrantes judeus que têm que viver em contextos sociais exógenos a sua identidade própria, e têm que se adaptar em meio a discriminações.
 disse que num evento na Guatemala com a presença de muitos povos índigenas lhe perguntaram qual era sua nação. Surpresa, ela foi no "fundo do baú" de sua memória,  lembrando da sua família do interior e de seus pais e avós que diziam ser da nação Fulni-ô.



Grupo da nação Fulni-Ô


Quando respondeu que ela é Fulni-Ô sentiu-se integra, emocionada e confortada.
Encerradas as atividades houve, numa feira de livros, o lançamento de Descolonização e Educação publicação do PRODESE e editora CRV organizado pela Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz.

Outro Evento foi o II Fórum Internacional 20 de Novembro na Universidade Federal do Recôncavo em Cruz das Almas.
O PRODESE na pessoa da Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz participou do Simpósio1: Educação e Relações Étnico-raciais na Sociedade do Conhecimento.
Fizeram parte do simpósio:
Dra. Ana Célia Silva- UNEB
Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz
Dra. Martha Rosa F. Queiroz- Fundação Palmares
Mediadora: Dra. Rita Dias (CAHL/UFRB)



Portal do Fórum no campus de Cruz das Almas


O simpósio foi realizado no dia 21 na sala Dr. Kabengele Munanga



A mediadora Profa. Rita Dias

Após as apresentações pela mediadora, a palavra passou para a Dra. Ana Célia que dissertou sobre a representação do negro no livro didático.

Escolheu o livro didático por ser um instrumento de recalque e discriminação das crianças negras no sistema de ensino gerando não só a baixa da auto- estima, envolvendo problemas emocionais que tem por consequência não só o  comprometimento do aproveitamento escolar como até mesmo a evasão.
Apoiando-se no conceito de representação social, suas pesquisas comprovaram a discriminação e o preconceito e que geraram a dissertação de mestrado, e que depois se transformou num livro de ampla circulação.
Durante o doutorado resolveu manter-se no mesmo tema para avaliar que mudanças houveram ocorrido depois de muitas denúncias.
De fato constatou que houve mudanças, em geral, para melhor, não só nos conteúdos mas também nas ilustrações.
As pesquisas geram então a tese de doutorado que também se transformou num livro.
Após os aplausos a palavra passou par a representante da Fundação Palmares, Dra. Martha Rosa Queiroz. Ela chegou num pé e voltou noutro. Deu seu recado acentuando o preconceito em relação as crianças e jovens negros (as) aludindo a entronização da matemática e a valorização da abstração no sistema de ensino e que em conseqüencia vão criticar os que emergem de outras culturas em que a abstração não se limita  a números. Deu vários exemplos de como a abstração está presente na cultura e no ¨fazer¨ do mundo negro.
Pediu licença e saíu para atender outros compromissos.
Após apresentou-se a Dra. Narcimária Correia do Patrocínio Luz que começou demonstrando as falácias e ignomínias da tal ¨abstração¨ mostrando como a projeção de um Mapa Mundi da época colonial proporcionou e assegurou a divisão de terras e conquistas de europeus sobre outros continentes.
Desde então a contabilidade da acumulação de dinheiro reduz todos os seres à números. No caso dos povos africanos aqueles seres escravizados eram  reduzidos pelo escravismo à ¨peças¨ uma medida métrica que envolvia o comércio da escravidão.




Dra. Narcimária

Cada vez mais o capital, a contabilidade da incessante acumulação de dinheiro, vem regendo os valores da chamada ¨sociedade moderna¨ e seus desdobramentos ideológicos como essa  ¨sociedade de conhecimento¨ reduzida a corrida tecnológica que apóia os valores  dessa acumulação, passando por cima da natureza e estabelecendo mega- cidades voltadas para produção e consumo de bens que como disse Foucault é onde predomina ¨a luta de todos contra todos¨.
Após usando a linguagem dos akpalo, contadores de história do patrimônio cultural nagô/yoruba narrou o conto O Filho de Oxalá que se Chamava Dinheiro, publicado no livro Contos Negros da Bahia de Mestre Didi.



Dra. Narcimária

Resumidamente, o conto dá o seguinte alô:
Dinheiro é o nome de um filho de Oxalá muito poderoso mas também muito arrogante e prepotente.
Um dia ele invadiu e interrompeu uma reunião de anciões, e se dirigindo a Oxalá disse quer era tão poderoso que podia capturar e trazer Morte até aquele local. Após se retirou deixando todos admirados com tamanha ousadia.
Depois de alguns estratagemas ele conseguiu o que queria e levou Morte enredado numa rede até o local das reuniões.
Diante de todos se gabou do feito. Todavia Oxalá enfurecido mandou que se retirasse e que dali em diante sempre estaria ao lado de Morte...



Flagrante do Auditório 

Conclusão há que se ter cuidado, cautela e parcimônia com Dinheiro.
Após os aplausos A Dra. Narcimária registrou a presença do Dr. Marco Aurélio Luz, sem o qual não teria sido possível a trajetória de sua produção acadêmica tal qual é.
Aberta a palavra para o auditório o Dr. Claudio Orlando manifestou-se no mesmo sentido dizendo que a presença do professor Dr. Marco Aurélio Luz na graduação e pós graduação da Faced Ufba abriu novos caminhos para que hoje estivéssemos ali tratando de assuntos ligados a Educação, Identidade e Pluralidade Cultural.
Uma outra assistente agradeceu as contribuições da Dra. Ana Celia com quem muito tem aprendido.
A Dra. Ana Célia se manifestou também no mesmo sentindo de agradecimento dizendo que o professor Dr. Marco Aurélio Luz foi o orientador de sua dissertação de Mestrado que rendeu a publicação do livro inclusive também fazendo o prefácio.




Um encontro antes da palestra no II Fórum Internacional 20 de novembro.
Da esquerda para a direita Professores/as Romilson Souza,Narcimária Luz,Zelinda,Valdélio Silva,Ana Célia da Silva e Marco Aurélio Luz.


O Prof. Marco Aurélio Luz agradeceu dizendo que a gratidão é um valor muito especial, e acrescentou que por sua vez devia agradecer a tudo que vem realizando à tradição civilizatória inerente as comunidades tradicionais africano- brasileiras especialmente a influência absoluta de seu pai Mestre Didi Axipa Alapini, cujo pensamento futuro está ainda para ser reconhecido em sua profundidade pela intelectualidade afro-brasileira e brasileira e em geral.

Em 3 de dezembro, a professora titular plena Narcimária C. P. Luz  organizou uma mesa redonda pelo PRODESE na Jornada Pedagógica do DEDCI, realizada no auditório Jurandir de Oliveira na UNEB.
Participaram da mesa além da Dra. Narcimária os professores:
Valdélio Santos Silva
Janice de Sena Nicolin
Marco Aurélio Luz



Encontro dos autores/as do livro "Descolonização e Educação;diálogos e perspectivas metodológicas"Narcimária Luz,Valdélio Silva,Marco Aurélio Luz e Janice de Sena Nicolin do  PRODESE na Jornada Pedagógica do Departamento de Educação da UNEB


A Professora Narcimária iniciou falando que a temática seria uma abordagem sobre os ensaios que constituem a publicação do PRODESE, Descolonização e Educação:diálogos e proposições metodológicas.

Após referiu-se ao seu tema Descolonização e Educação:por uma epistemologia africano-brasileira. Se referiu ao fato que essa epistemologia se assenta no contínuo civilizatório que está contido basicamente na comunalidade africano- brasileira, isto é, a rede de comunidades que mantém e expandem a tradição. Seguindo estratégias dos mais antigos.Como Mãe Aninha que dizia envergar para não quebrar, mas também que quando muito se abaixa alguma coisa aparece, e Mãe Senhora indicando caminhos, da porteira para dentro da porteira para fora, ou Mestre Didi, trabalhando como cupim, são indicações valiosas para poder se elaborar recriações pedagógicas na Educação do Sistema de Ensino.
 Várias experiências já podem se constituir em indicações valiosas para a continuidade dessa nova pedagogia. Poderia citar algumas que tenho mais familiaridade, como a  Mini Comunidade Oba Biyi e seus





Grupo do ACRA participa de evento semestral com a peça A CANÇÃO DO INFINITO autocoreográfico de autoria da professora  Narcimária C.P. Luz


desdobramentos como a ACRA, o Odeart, as linhas de pesquisa propostas por Marco Aurélio Luz na pós-graduação que geraram várias dissertações,  teses e publicações,também a criação de disciplinas na graduação, a fundação do grupo de pesquisa do PRODESE, a elaboração de inúmeras dissertações teses e publicações, as Revistas SEMENTES, livros, congressos, seminários, enfim já há um caminho percorrido que precisa não ser esquecido.

Após o professor Valdélio falou do processo de pesquisa que no caso das comunidades terreiros há necessariamente um envolvimento pois o saber nesse contexto é iniciático. Ele disse que de início ficou surpreso com a sabedoria dos mais antigos e tendo que se contentar com uma elaboração de perda de suas referências teóricas adquiridas ao longo de sua trajetória universitária. A partir desse ponto é que a ``pesquisa`` pode avançar.
Também nesse sentido caminhou as observações da professora Janice Nicolin. Disse que suas pesquisas se referem ao bairro do Cabula que foi um antigo quilombo e aí estão concentrados importantes fontes de expressão e expansão da cultura afro-brasileira como os terreiros do Axé Opô Afonjá e o Inzo Manzu Bandukenke o conhecido Bate Folha. Assim sendo o Cabula está eivado de história e continuidade das tradições culturais nagô/yoruba e congo/angola.
Portanto o sistema da ensino ali inserido para alcançar qualquer viabilidade de sucesso terá de abrir as portas para crianças e jovens que respiram a cultura do lugar.
Inspirada nos êxitos alcançados pela experiência da Mini- Comunidade Oba Biyi, localizada no Cabula, e em seus desdobramentos como a bibliografia já existente dos livros de Mestre Didi, Marco Aurélio Luz e de Narcimária Luz, ela foi trabalhando no sentido de dar forma e conteúdo ao grupo que é o  Odéarte do qual é coordenadora..




Odeart participa de evento do PRODESE com a peça de Mestre Didi


A montagem do autocoreográfico Odé e os Orixá do Mato de autoria de Mestre Didi foi um ponto fundamental para caracterizar o grupo e teve muito boa aceitação e receptividade por parte do público. A partir de então o Odearte realiza inúmeras ações culturais educativas, sempre proporcionando a afirmação da identidade da gente do Cabula e afins.
Após o professor Marco Aurélio Luz falou  de seu texto Dos Tumbeiros às Fábricas, Dos Quilombos às Comunalidades Afro-brasileiras. Apresenta o panorama do colonialismo mercantil escravista que entrelaça na Europa de então, o capital financeiro, o comercial e o produtivista, que promovem o tráfico triangular, a escravização na África o transporte e venda de africanos (as) nas Américas, a produção e comercialização de produtos, principalmente de açúcar para a Europa.
O tráfico triangular apoiado na manufatura naval e bélica engendra a formação do capital primitivo do capitalismo nascente.
Por outro lado a vinda de africanos gerou uma reposição dos reinos de origem nas Américas, um contínuo de civilização que inicialmente constituíu vários quilombos, o principal foi o de Palmares no Brasil, uma continuidade do reino do Ndongo da Rainha Ginga, e depois os de S.Domingos, o Haiti, quando os quilombolas derrotaram o exército de Napoleão e proclamaram a independência. Inúmeras comunidades de africanos e seus descendentes se formam nas Américas tanto no campo quanto nas cidades.




Ougan Mackandal ressurge da fogueira da condenação e irradia as chamas da libertação



Comandados de Dessalines derrotam as tropas de Napoleão




Comemoração da vitória da libertação


O desdobramento dessa luta foi que por iniciativa da Inglaterra criou-se uma estratégia capaz de encerrar a
vinda de africanos para as Américas e incentivar a vinda de europeus para estabelecer colônia não só de exploração, mas também de exploração e povoamento, o que se convencionou chamar de política de branqueamento.
Indepêndencia do Brasil, o fim do tráfico escravista e a abolição da escravatura abriram caminho para a proclamação da República no Brasil, aquela altura já sob a égide do domínio britânico e influências de outras nações europeias.
O capital financeiro e comercial se ajustam as fábricas e ao ¨trabalhador livre¨. A política de embranquecimento se constitui em pedra angular das tentativas de dominação, a ideologia do racismo, com suas variadas nuances, alimenta a razão de Estado e variados tipos de genocídio vem sendo cometidos.
Por outro lado o contínuo civilizatório africano brasileiro sustenta a rede de comunidades, a comunalidade que abriga os povos primordiais formadores da nação e que constituem sua forte identidade.      





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