sábado, 24 de maio de 2014

II MAIO NEGRO PARTICIPAÇÃO DO PRODESE


Decoração da sala Mestre Didi no Centro de Formação de Professores da UFRB

O PRODESE participou do Seminário  II MAIO NEGRO,evento promovido pelo Centro de Formação de Professores  da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia- UFRB em Amargosa.A representação prodesiana, veio através da sua coordenadora  Doutora em Educação Narcimária Correia do Patrocínio Luz e do Doutor em Comunicação Marco Aurélio Luz, que  realizaram palestra na sala Mestre Didi, homenagem do Centro de Formação de Professores  da  UFRB ao saudoso Alapini,  artista, escritor e educador Deoscoredes Maximiliano dos Santos.




Mestre Didi
Grafite em homenagem ao Mestre Didi exposto na parede do Centro de Formação de Professores na UFRB

A temática proposta pela organização do evento foi: Ensino Superior Violências: Por uma Outra Epistemologia na Construção Curricular.

Plateia  
Destaque da esquerda para a direita a Professora Doutora Ana Rita Santiago Pró Reitora de Extensão da UFRB e o Professor Marcelo um dos organizadores do evento

Com o auditório lotado, a professora Rosângela Souza da Silva coordenadora da mesa, apresentou a Doutora Narcimária e  o Doutor Marco Aurélio Luz,destacando o currículo de ambos que constituem a importante trajetória desses dois  intelectuais e  escritores no cenário acadêmico.

Professora Rosângela Sousa coordenadora da mesa e uma das organizadoras do evento
Na mesa escultura Exu Odara de Marco Aurélio Luz
  
Após saudar o público, Marco Aurélio Luz  iniciou a sua apresentação com  a um trecho da série de programas de TV Negro Hoje (1981) Secneb/TVE, com o  filme de Nelson Xavier e Cecília Conde que se refere a diferença musical entre as crianças moradoras do morro de Mangueira e as propostas da escola local.
 O filme destaca a dinâmica cultural, gestual, das brincadeiras das crianças, em confronto com a apatia das crianças na escola submetidas  as ordens das professoras.

Professor Doutor Marco Aurélio Luz


Marco Aurélio  aprofundou então,as diferenças de formas de comunicação presentes na cultura africano-brasileira e a escola, um sistema de ensino da cultura européia.
Demonstrou que a primeira, se vale da tatilidade isto é, da combinação de todos os sentidos para constituir o acesso ao saber, ao sistema simbólico. Também a expressão corporal, se vale das danças e dramatizações, corpo em movimento estético promovendo beleza encantamento e alegria. A presença da variedade das cores constituindo códigos e repertórios. Odara, palavra nagô que quer dizer bom e bonito simultaneamente, a busca de estar bem neste mundo.
Nesse universo, a religião é fonte e desdobramento do saber, incluindo a relação entre esse mundo e o além, aiyê e orun respectivamente. As entidades do mundo dos ancestrais e das que governam a natureza. Nesse contexto onde o ser é, e o não ser também é,  acontece a interação com o mundo invisível e dos acontecimentos imponderáveis.
O mito é o discurso da sabedoria por excelência, da revelação oracular, do curso das oferendas, a restituição, a mobilização do ciclo vital do axé,  força e energia do universo, da existência.
Desde a religião se desdobram inúmeras instituições que convencionamos chamar de cultura negra.
Já na cultura europeia, predomina a hiper valoração da relação de um só sentido: a visão com o cérebro,
 um desdobramento da escrita como forma predominante de comunicação. Desde a religião que se sustenta no livro sagrado, até a escola religiosa ou laica derivada da estrutura dos mosteiros e conventos.
O solipsismo, o individualismo solitário, o sujeito e o livro impresso, o silêncio das bibliotecas, as aulas do professor como extensão da escrita e dos livros. A arquitetura encapsulando todos nas salas de aula, o exercício do corpo inerte nas carteiras em silêncio. Cores neutras, cinzas, visando afastar as emoções predomínio absoluto da razão, terreno do cartesianismo, da matemática, pura abstração "rainha das ciências", positivismo conteano.
 Aprofundando ainda esses entulhos ideológicos,  Marco Aurélio destacou a ideologia da superioridade dos discursos, o científico acima de todos, evolucionismo eurocêntrico onde brotam as discriminações os preconceitos e o racismo.
Todo edifício escolar voltado para atender aos comportamentos necessários a suprir as relações de produção industriais, atender aos valores do produtivismo, da incessante acumulação de capital.

Em 1804 foi proclamada a independência do Haiti com a derrota das tropas de Napoleão Bonaparte comandadas por seu cunhado Leclerc, frente as aguerridas forças militares dos quilombolas comandados por Dessalines. A França perdia a principal colônia, a mais lucrativa da Companhia das Índias Ocidentais.
Anteriormente dois fatos históricos relevantes da luta de libertação da escravidão aconteceram: a manutenção da independência do Ndongo (Angola) da rainha Ginga, frente aos portugueses e o quilombo-reino dos Palmares em Pernambuco. Esses fatores desestruturaram o tráfico triangular Europa-Angola-Pernambuco. Essa situação fez também com que os holandeses já instalados em Pernambuco, contivessem a sua cobiça.


Monumento em Angola, homenagem a rainha Nzinga Nbandi Kiluanji soberana do Ndongo e Matamba

Diante disso, os ingleses que já tinham perdido metade da Jamaica e percebiam a pujante presença de africanos e seus descendentes nas Américas,preocupados em não  "perderem os anéis" e "manterem os dedos" já controlando a política do mercantilismo, implementaram uma nova estratégia colonial. A primeira medida, visava cessar a vinda de africanos, fim do tráfico escravista; a segunda, o incentivo da imigração de europeus assentando colônias não só de exploração, mas também de povoamento como foi  o Brasil e a África do Sul. Veio a independência formal da colônia, dependência real para a Inglaterra, e então, a abolição da escravatura acompanhada da proclamação da República.
Durante o período escravista, a Inglaterra se sobressaiu também pela manufatura de bens necessários ao tráfico triangular, principalmente navios e armamentos. Ela continua como principal fornecedora de bens manufaturados, detentora do capital financeiro mantém as ex-colônias sob o jugo do capital. É o neocolnialismo
Depois da abolição da escravatura no Brasil, inicia-se a construção do edifício ideológico do racismo.
A Europa fornece os subsídios ideológicos para ¨cientistas¨ como Nina Rodrigues e Arthur Ramos, os mais famosos, elaborarem e divulgarem as  falsidades "científicas".
O primeiro, "um gênio do mal", médico psiquiatra, no início do século passado elaborou uma ideologia teórica em que aproximava a manifestação de entidades da religião africano-brasileira pelas sacerdotisas, à histeria, patologia que acometia o gênero feminino (hister significa útero).
A manifestação de entidades, um aspecto culminante da liturgia que realiza a aproximação desse mundo com o além e proporciona a comunicação do sagrado, constitui o âmago das religiões tradicionais.
Desqualificadas pelo ideólogo Nina Rodrigues, essa falsidade teórica ideológica, promove e alimenta a Razão de Estado na realização da política de embranquecimento . Mas não só tenta desqualificar a religião, mas também toda população negra.
Adiante em meados do século XX, o psicanalista Arthur Ramos reformula o preconceito, agora não mais o negro que possui uma tendência patológica,"mente fraca", mas sim, sua cultura especialmente  a religião que se assenta em "mitos neurotizados".
Ele cria programas de eugenia educacionais, juntamente com o educador Anísio Teixeira para retirar as crianças negras dessas religiões e tradições,na tentativa de fazê-las   renunciar a civilização de seus ancestrais, ou sofrerão a rejeição do establishment.
Uma vez superado esse entulho ideológico porém, é possível vislumbrar a riqueza cultural de nossa civilização africano-brasileira.

Após  abordagem do professor Marco Aurélio Luz, a professora Rosângela coordenadora da mesa, passou a palavra para a Doutora Narcimária.
Ela retomou a crítica da ideologia do recalque, porém focalizando diretamente no sistema oficial de ensino e sua política de embranquecimento  e suas  classificações racistas, em que a criança negra era destituída da sua alteridade civilizatória,para ser tratada na sociedade colonial como  " ingênuo".


Professora Narcimária C.P. Luz
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Professora Narcimária.se referiu à fundação da Escola Normal da Bahia, sintomaticamente criada em 1835 logo após a chamada Revolta Malê ocorrida em Salvador e Recôncavo, com participação significativa dos nagô.
A Escola Normal que se propõe a formar as professoras, se constitui nos moldes da École Normal de Paris desde a arquitetura, aos métodos e conteúdos do ensino.
Essa instituição visava a formação de professores que contribuiriam para a construção de uma nova sociedade cujo caminho, já estava  traçado pelas elites coloniais da França e sobretudo da Inglaterra.
A Escola Normal então, é um esboço do papel da educação no neocolonialismo nascente. Livre da escravatura, a população negra e aborígine estaria "livre de tudo",longe dos direitos da cidadania emergente das revoluções burguesas. Esses direitos estarão apenas contemplando a elite neocolonial, que detém a propriedade dos meios de produção, o capital financeiro, produtivo e comercial e a burocracia que sustenta o bloco no poder de Estado garantidos pela força pública.
A epopeia de Canudos é um exemplo da sociedade em transformação com a proclamação da República.
Ilustrando com  textos e discursos de educadores como Isaías Alves e Anísio Teixeira, a professora Narcimária demonstrou  o alijamento do sistema oficial de ensino ao contínuo civilizatório africano-brasileiro, que sofre a rejeição das falsidades ideológicas produzidas pela academia, e que se espalham pelos órgãos de comunicação, Aparelhos Ideológicos de Estado, como diria Althusser em seus períodos de lucidez, e espalham pela sociedade estruturada pela política de  embranquecimento, estereótipos e preconceitos, enfim a malha do racismo.
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O público então acompanhou a ilustração de  uma entrevista de Mãe Hilda Jitolú, fundadora do Ilê Aiyê e da escola que leva o seu nome, sua indignação e altivez ao enfrentar a discriminação sofrida por sua filha pela professora Carmem Teixeira(diretora da Escola Parque e irmã de Anísio Teixeira), quando pediu explicações sobre as avaliações do final do ano letivo e  em certo momento da conversa, a professora Carmem expressou:
"- É. Agora a gente não acha mais  empregada doméstica..."
Após  ilustrar a pedagogia do embranquecimento e as angústias que provoca entre gerações de descendentes de africanos, Narcimária se referiu a forma espiralada de estruturação do pensamento africano tradicional. Dá como exemplo a arquitetura urbana de Ilé Ifé cidade sagrada original do povo nagô yoruba. No centro o mercado  local das trocas de bens e de sociabilidade. Em frente o palácio do Oni. Depois em ordem de antiguidade as moradias das primeiras famílias e linhagens em forma sequencial de espiral.
Após ela cita algumas experiências educacionais pioneiras na constituição de , uma educação pluricultural que acolha as linguagens e os valores do contínuo civilizatório africano-brasileiro. 
Destacou primeiramente a Mini Comunidade Oba Biyi, experiência pioneira de Educação Pluricultural (1976-1986) realizada pela então SECNEB Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil no Ilê Axé Opô Afonjá.
A Mini Comunidade possuía o nome de Oba Biyi em homenagem a fundadora do terreiro Mãe Aninha. Seu nome sacerdotal do seu Xangô Afonjá, Oba Biyi significa o rei nasce aqui.


Mãe Aninha  Iyalorixá Oba Biyi

A experiência nasceu inspirada numa frase de criança,quando foi indagada  sobre o porquê de não frequentar a escola do bairro:
- Não gostam da gente lá .
Também no desejo expresso por Mãe Aninha de "ver as crianças de hoje, no dia de amanhã de anel no dedo e aos pés de Xangô..."
Quer dizer:o anel símbolo da formatura universitária e mantendo-se inserida na sua tradição.
Priorizando os valores e a linguagem comunitária, o curriculum da Mini Comunidade Oba Biyi, se estruturou a partir dos  contos dramatizáveis de Mestre Didi, que inspirava a  prática pedagógica. As formas estéticas e o conhecimento da cultura da comunidade, sobredeterminavam os planejamentos docentes e eram   assuntos de inúmeras reuniões pedagógicas onde se realizava formas de desrecalcar as professoras envolvidas na Mini. Em 2007 Deoscoredes M. Dos Santos e Marco Aurélio Luz publicaram o livro "O Rei Nasce Aqui OBA BIYI" que apresenta com detalhes essa primeira experiência de educação pluricultural no Brasil.



Mestre Didi no Festival de Arte Integrada da Mini Comunidade Oba Biyi




Auto coreográfico A Chuva dos Poderes de Mestre Didi

A experiência alcançou muito sucesso e inspirou várias outras, como o Odemodé Egbé Axipá(1999/2000-2002-2003) e a ACRA, Associação Crianças Raízes do Abaeté(2005-2012).
O Odemodé Egbé Axipá, atendeu  jovens das comunidades terreiro proporcionando a formação novas tecnologias através da parceria entre  o PRODESE, a Escola Técnica atual CEFET e o  Núcleo de Tecnologias-NETI do Departamento de Educação do Campus I da UNEB.
Sediada no Parque Metropolitano do Abaeté, a Associação Crianças Raízes do Abaeté na direção do ilustre educador Narciso José do Patrocínio, estruturou suas práticas socioeducativas envolvendo as linguagens da  capoeira, dança, teatro, grafite, música, inglês, biblioteca etc.


Iº Festival Afrobrasileiro  da ACRA 
Apresentação d o autocoreográfico "Itapuã a Canção do Infinito" de Narcimária Luz.
 Participantes com o professor Sidnei Argolo

Convém ressaltar as viagens de intercâmbio entre os integrantes da ACRA, e o grupo de capoeira ABOLIÇÃO em Oxford na Inglaterra se estendendo a um núcleo na cidade de Hamburg na  África do Sul, sob a coordenação do Contra Mestre Luís Negão idealizador da ACRA.
Por fim, a professora Narcimária ressaltou o impacto da experiência da Mini Comunidade OBA BIYI na FACED Faculdade de Educação da UFBA e no Departamento de Educação da UNEB, onde foram realizados inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutorado além da implantação de disciplinas na graduação,pós-graduação, linhas de pesquisas e inspirando inúmeros seminários,palestras e mesas,a exemplo da mesa proposta para o II Maio Negro/2014: Ensino Superior Violências: Por uma Outra Epistemologia na Construção Curricular.

Participação do professor Marcelo abrindo o debate sobre a abordagem da mesa



Graduanda abrindo os trabalhos do evento com um texto produzido em sala sob a coordenação da Professora Rosângela 


Ao centro Professor Kleison Assis  que incentivou a homenagem ao 
Mestre Didi no Centro de Formação de Professores da UFRB




Lançamento do livro AGADÁ




A sanfona também regou o evento

Da esquerda para a direita:Professora kiki,Graduanda,Professora Rosângela,Professora Fernanda ambas organizadoras do evento,Professor Marco Aurélio e Professora Narcimária. 

COLETIVO CULTURAL SARAU DA ONÇA.

Por Sérgio Bahialista

É com grande prazer e orgulho que compartilho com vocês uma reportagem feita pela TV Record com nossos jovens da nossa Sussuarana, do querido Coletivo Cultural Sarau da Onça. 
O vídeo a seguir, apresenta o que somos, bebendo na fonte dos nossos princípios inaugurais, nossa arkhé, sentimento de pertencimento, que é a nossa Onça Sussuarana, com muita poesia e arte de tudo que é canto.
Estamos aqui nesse momento, colhendo os frutos de uma longa caminhada de superação através da poesia e do nosso jeito de ser. 10 anos é pouco para se referir aqui.
Obrigado pelo incentivo e admiração de cada um.
E seguiremos porque, como falamos nas nossas noites culturais, “é disso que eu tô falando!”.
Aguardo vocês em uma das nossas noites culturais!
Boa sessão!

Até!   

sábado, 17 de maio de 2014

MEU SONHO NÃO FAZ SILÊNCIO


Por José Carlos Limeira





Meu sonho jamais faz silêncio
E a ninguém caberá calá-lo
Trago-o como herança que me mantém desperto
Como esta cor não traduzida em versos
Pois se fariam necessários muitos e tantos versos
Meu sonho vara madrugadas
Som alto
De timbales que se arrebatam em cânticos
E trago-o como Olorum na crença
Que não me pune em pecados
Mas
Enche-me o peito grávido de esperanças
Como malungos marchando ao sol de novembro



                                                     Imagem disponível em http://www.imagensgratis.com.br/imagens-sol
Subindo as serras
Defesa e guerra
Meu sonho jamais faz silêncio
É a lança brilhante de Zumbi
A espada de Ogum
É o lê, o rumpi, é o rum
É a furia sem arreios
Terra farta dos anseios
Desacato, ato, sem freios
Vôo livre da águia que não cansa
Me faz erê, me faz criança
Meu sonho jamais faz silêncio
É um griot velho que me conta as lendas



Imagem disponível em http://www.shlomomusic.com/banjoancestors_griotlutesorigin.htm



De onde fisga tantas lembranças
E com ele invado chats, pages, sites
Na intimidade de corpos em dança
Perpetuando o gosto pelo correto
Meu sonho é pura herança
Rastro
Dos que plantaram, lutaram, construíram
O que não usufruo
Areia que moldada em vaso
Onde não nos cabe culpas
É lúcido ao sol dos trópicos, charqueado ao frio
É como um fio
Grita alto e bom som
Que o seio do amanhã nos pertence
Carregamos toda pressa
Meu sonho não faz silêncio
E não é apenas promessa
Planta em mim mesmo, na alma
Palmares, Palmares, Palmares
Pelo que de belo, pelo que de farto
Muitos Palmares
Carrega como o vento escritos
Versos de Jônatas, Oliveira, Colina , Semog e Cuti
Alimenta e nutre
Lembrando que esta cor me mantém desperto
E não tenho sustos
Sentinela que tange o eterno quissange
Entende a volúpia do calor que me abriga
Desfaz a mentira , destruindo a intriga
Meu sonho jamais faz silêncio
Como um Ilê Aiyê acordando a liberdade





Descobrindo amante ávido o sexo pulsante da existência
Desejo de navegar todos os mares
Comandando todas as fragatas, naves
E nos lança em um solo de Miles
Nos recria em um solo de Coltrane
Clássico como Marsalis, Jazz como Marsalis
E que nem tentem que faça silêncio
Pois voltaria gritando em um texto de Solynca
ás que completa a trinca
Torna-se um canto de Ella, Graça, Guiguio, Lecy



Imagem disponível em http://www.tyrolis.com/index.php?main_page=product_music_info&products_id=1755

Gente negra, gente negra
Jamelão, mangueira
Brilho da mais brilhante estrela
Nunca se estanca, bravo se retraduz em sina
Só não lhe cabem
Crianças arrancadas da escola
Pela fome que rasga gargantas
E nos promete vê-las
Alimentadas todas, cultas
Meu sonho é uma negra criança
Que luta
Ergue Quilombos, aqui , ali

Imagem disponível em http://www.brasil247.com/pt/247/imagem/93326/Confira-os-Destaques-do-Desfile-nesta-Segunda-feira-carnaval-2013.htm

Em cada mente, em cada face
Impávidos como Palmares, impávidos Ilês
Em todos os lugares
Meu sonho não faz silêncio
Porque feito de lida
Teimoso como esta cor
Para sempre será desperto e certo
Mais que vivo, é a própria vida.


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José Carlos Limeira,poeta,autor de diversos contos, crônicas e artigos.Entre seus livros destaque:,Zumbi... dos, Lembranças, O Arco Íris Negro (parceria com Éle Semog), Atabaques (parceria com Éle Semog). Participou de vários números dos Cadernos Negros e das Antologias Schwarze Poesie (Ed. Diá-Alemanha), Schwarze Prosa (Ed, Diá -Alemanha), Callaloo vol 2 (USA), Callaloo (Special Issue - 300 anos Zumbi -USA), Axé-Antologia da Poesia Negra Brasileira Ed Global 1983, A Razão da Chama Ed. GRD, Negro Brasileiro Negro número 25(Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e outras. Verbete em Quem é Quem na Negritude Brasileira Ed.CNAB 1998, citado em diversas teses e publicações como A Mão Afro-Brasileira (Significado da Contribuição Artística e Histórica - Ed.Tenenge 1988), O Negro Escrito (Oswaldo de Camargo) entre outras.


KAIGANG:LÍNGUA É PATRIMÔNIO


Imagem disponível em http://www.redesuldenoticias.com.br/noticia.aspx?id=50954

Identificamos uma animação muito interessante no Canal Futura, que aborda algumas palavras da língua do povo Kaingang. A animação, uma das muitas  iniciativas de professores/as kaigang, utiliza desenhos feitos pelas crianças, e através dessas ilustrações vai explorando de modo simples a riqueza e complexidade da língua, procurando aproximar do patrimônio linguístico as gerações que precisam se alimentar dessas referências para manter a altivez e orgulho de ser. Para aqueles/as que não sabem, o povo kaigang habita São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, e ao longo dos séculos vê sofrendo com a política de embranque cimento institucionalizado no Brasil.
 Para saber mais sobre essa política de embranquecimento sofrida pelos kaigang, consultar o livro Agadá dinâmica da civilização africano-brasileira de Marco Aurélio Luz.

   Visitem também o site Kanhgág Jógo http://kanhgag.org/, que tem todo conteúdo escrito em kaigang.




PLAYING FOR CHANGE- NOVOS INTINERÁRIOS




O PRODESE vem acompanhando e divulgando nas suas intinerâncias, o projeto multimídia Playing For Change iniciativa do engenheiro de som Mark Johnson. O Playing For Change visa promover uma ética da coexistência entre os povos estabelecendo canais de diálogos que contribuam para fazer valer a paz no planeta.
 “A ideia do projeto surgiu da crença de que a música tem o poder de atravessar fronteiras e superar a distância entre as pessoas. Sejam as diferenças geográficas, políticas, econômicas, espirituais ou ideológicas, a música tem o poder universal de transcender e unir a todos como um só povo“.(http://www.playingforchange.com/)
Mark Johnson realiza as gravações para o Playing For Change, através de um estúdio de móvel que se desloca pelas ruas, morros, montanhas, litorais enfim, por vários continentes tendo como apoio equipamentos de alta tecnologia. É dessa forma que são mobilizados vários músicos de rua talentosos/as e que trazem nas suas interpretações a força das suas civilizações: África, Américas, Caribe, Oceania, Ásia e Europa. Criada em 2007, a fundação Playing For Change, “uma empresa sem fins lucrativos que visa retribuir os músicos e suas comunidades pelo trabalho desenvolvido e compartilhado”.
Dia 17 de junho, teremos o lançamento oficial do conjunto de CD / DVD, Playing for Change 3 "Songs Around The World".
Acompanhem a seguir,um dos clips inéditos do CD / DVD, Playing for Change 3 com as músicas “Words of Wonder” de Keith Richards do Rolling Stones e “Get up Stand up” de autoria de Bob Marley.
Para mais informações sobre Playing For Change, visite http://www.playingforchange.com/


quarta-feira, 14 de maio de 2014

A PROPÓSITO DO 13 DE MAIO DIA DO PRETO VELHO

                                                                                                        Por  Marco Aurélio Luz

O memorável presidente da Federação de Umbanda Tata Ti Inkice Folketu Olorofe, Tancredo da Silva Pinto, nessa data reunia em Inhoaíba em Campo Grande no Rio de Janeiro,centenas de terreiros participavam para a comemoração do Dia do Preto Velho.O Preto Velho representa a entidade dos espíritos ancestrais originários do antigo império do Congo.


Tata Tancredo da Silva Pinto
 Imagem disponível no Google

Reunidos numa grande praça cercada com palha de palmeira, mais de 200 candongueiros soavam seus instrumentos para anunciar a presença do Tata Tancredo que caminhava em direção ao trono sob um pálio comandando um séquito de lideranças religiosas e diante de centenas de iniciados na Umbanda e Omoloko. Após essa cerimônia cada terreiro se dirigia ao seu espaço onde a curimba acontecia noite adentro.
Na praça estava um busto de Mãe Senhora, Iyalorixá do Ilê Axé Opo Afonja lembrando a homenagem acontecida no Maracanã.
 No ensaio “Dos Tumbeiros às Fábricas, Dos Quilombos às Comunalidades Afro-brasileiras[1] apresento o panorama do colonialismo mercantil escravista que entrelaça na Europa de então, o capital financeiro, o comercial e o produtivista, que promovem o tráfico triangular, o processo de escravização na África o transporte e venda de africanos (as) nas Américas, a produção e comercialização de produtos, principalmente de açúcar para a Europa.
 Apesar de o tráfico escravista ser a maior fonte de lucros da Companhia das Índias Ocidentais, ao longo dos anos o comércio triangular apoiado na manufatura naval e bélica engendra a formação do capital primitivo do capitalismo nascente.
Por outro lado a vinda de africanos gerou uma reposição dos valores de civilização dos reinos de origem nas Américas, um contínuo civilizatório que inicialmente constituiu vários quilombos, sendo o principal o de Palmares no Brasil, uma continuidade do reino do Ndongo, Angola da Rainha Ginga, e depois os de S. Domingos, o Haiti, quando os quilombolas do líder Dessalines derrotaram o exército de Napoleão comandado por seu cunhado o general Leclerc e proclamaram a independência, acabando com a colônia, maior fonte de riqueza da França. 
 Inúmeras comunidades de africanos e seus descendentes se formam nas Américas. 
O desdobramento dessa luta, para perder os anéis e salvar os dedos, foi que por iniciativa da Inglaterra, que sofrera com a libertação de parte importante da Jamaica, criou-se uma estratégia capaz de encerrar a vinda de africanos para as Américas e incentivar a vinda de europeus para estabelecer colônias não só de exploração, mas também de exploração e povoamento, o que se convencionou chamar de política de branqueamento. Fim do tráfico escravista e abolição da escravatura são palavras de ordem que regem a nova política do Reino Unido e se estendia aos demais países subordinados como, Portugal.
Independência do Brasil, o fim do tráfico escravista e a abolição da escravatura abriram caminho para a proclamação da República no Brasil, aquela altura já sob a égide do domínio britânico e influências de outras nações europeias não mais de Portugal.
O capital financeiro e comercial se ajustam as fábricas e ao “trabalhador livre”. A política de embranquecimento se constitui em pedra angular das tentativas de dominação, e a ideologia do racismo, com suas variadas nuances, alimenta a Razão de Estado e variados tipos de genocídio vem sendo cometidos, sendo a epopeia de Canudos a que mais representa este panorama nacional. O morro da Favela onde se localizou a cidadela de Antônio Conselheiro se espalha Brasil afora.
Por outro lado o contínuo civilizatório africano brasileiro sustenta a rede de comunidades que abriga os povos primordiais formadores da nação e que constituem sua forte identidade.


Vovó Maria Conga 
Foto Roberto Moura

A gira de Preto Velho no terreiro de D. Maria Batuque no morro encerrava com uma cantiga em homenagem a rainha Vovó Maria Conga:


Rainha Maria Conga
 Foto Roberto Moura

“O sol nasceu lá vai baiana/ O sol nasceu nas onzas do mar/ As onzas do mar batia lá se vai Maria Conga feticêra da Bahia.”    
**************
[1] LUZ, Marco Aurélio. Dos Tumbeiros às Fábricas, Dos Quilombos às Comunalidades Afro-brasileiras in DESCOLONIZAÇÃO E EDUCAÇÃO. LUZ,Narcimaria(Org.).Curitiba:CRV,2013 P.33-45

domingo, 11 de maio de 2014

II MAIO NEGRO - NEGRITUDE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES


 “O II Maio Negro será realizado entre os dias 13 e 22 de maio de 2014, no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). O evento constitui-se em um momento relevante de discussão em prol de estratégias de superação de desigualdades étnico-raciais, nos diversos segmentos sociais e, de modo especial, na Educação. Além disso, as edições do Maio Negro, conforme suas temáticas, programação e abrangência têm se destacado pelas atividades em torno de políticas e ações afirmativas e de ações que visem à igualdade racial e à inclusão social. Para a edição de 2014, o II Maio Negro pretende adquirir um status de simpósio e trazer à cena o debate nacional que envolve a formação docente e as questões étnico-raciais. A relevância social deste evento está em perfeita harmonia com os princípios da UFRB, na medida em que abordará o tema Negritude e Formação de Professores, fomentando o debate acadêmico sobre as questões étnico-raciais e a formação de professores no país e fortalecendo, do ponto de vista político e epistemológico, as produções acadêmicas que discutem sobre a temática.”
Colaboram com o II Maio Negro abordando o tema “Ensino Superior  e Violências:por uma epistemologia na construção curricular “  o Professor Doutor Marco Aurélio Luz e a Professora Doutora Narcimária Correia do Patrocínio Luz.


No dia 14/05 será lançado no evento a 3ª edição do livro Agadá-dinâmica da civilização africano  brasileira.

Para saber mais visite a página http://www.ufrb.edu.br/cfp/arquivo-de-noticias/noticias/590-ii-maio-negro-negritude-e-formacao-de-professores.

DOCUMENTÁRIO ITAPUÃ-AS CANÇÕES DE UM LUGAR



No dia 09 de maio o recém jornalista João Franco, reuniu no Mar Brasil Hotel no bairro de Itapuã, amigos/as e convidados para a primeira exibição pública do documentário “Itapuã - As Canções de Um Lugar “que produziu em 2013. O  Mar Brasil Hotel fica na casa em que o poeta Vinicius  morou entre  1974 e 1980.
João que nasceu, cresceu e vivi Itapuã comenta sobre a importância documentário:
"Não queremos congelar ou idealizar o bairro, mas é preciso haver referências e que as pessoas saibam das histórias daqui, dos que frequentaram o bairro e que essa história não se perca... Espero que o documentário sirva para que as novas gerações possam ter uma referência do que é este lugar, quem frequentou, a importância das canções que foram feitas e do povo daqui; mas também como uma memória viva para aqueles que viveram uma outra época".
O documentário carrega canções de Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano, Roberto Mendes, Cezar Mendes, Amadeu Alves...
Acompanham as canções, reflexões do jornalista Carlos Ribeiro, Narcimária Luz, Auta Rosa, Amadeu Alves, Toquinho, Gesse Gessy, Arnaldo Antunes, Capinan, Galvão, Roberto Mendes, Jorge Portugal, D.Cira dentre outros.
A poesia entrelaçada às imagens belíssimas captadas com muita competência e sensibilidade pelo João Franco, tornam o documentário interessante e emocionante.
Vale a pena conferir!
Aqui o autor disponibiliza o trailer do documentário.





CONVITE 3º ANIVERSÁRIO DO SARAU DA ONÇA

Por Sérgio Bahialista


Dia 17 de maio no anfiteatro Abdias do Nascimento no bairro de  Sussuarana, será lançado o livro "Diferencial da Favela-Poesias Quebradas de Quebrada,resultado do projeto Arte em Toda parte que teve o apoio da Fundação Gregório de Matos.O lançamento integra as comemorações do 3º aniversário do Sarau da Onça,que vem durante esses anos estabelecendo espaços criativos para a juventude do bairro de Sussuarana.
Essa 1ª Antologia Poética Sarau da Onça,é resultado do concurso de poesia promovido por educadores do bairro entre eles,Sérgio Bahialista que escreveu a orelha do livro. 
O evento se estenderá nos dias 24 e 31 de maio.
Participe!

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM ITAPUÃ :50 ANOS DO COLÉGIO ESTADUAL GOVERNADOR LOMANTO JÚNIOR


Foto do acervo do Professor Narciso José do Patrocínio

Por Camila Barreto

Fundado no ano de 1964, o Colégio Estadual Governador Lomanto Junior, completou 50 anos de atuação no último dia 07 de março. A instituição pública que começou com seis salas e pouco mais de 130 alunos, no antigo Clube Pinaúna, cresceu vertiginosamente em cinco décadas.  Atualmente, estudam cerca de 1.700 alunos, possuindo turmas desde o Ensino Fundamental ao Médio, além de cursos profissionalizantes.
Mais do que um colégio, o ex-diretor Narciso José do Patrocínio (79), que trabalhou durante 16 anos, considera que a chegada da instituição foi um divisor de águas na história de Itapuã. “Gosto de usar um discurso do professor Fraga Lima. Itapuã teve duas fases: antes do Lomanto e depois do Lomanto. O professor Cid Teixeira, um dos grandes mestres na Bahia, também tem uma frase que gosto de usar: o homem de Itapuã viu primeiro o avião, para depois ver o automóvel”, diz.


Professor Narciso em uma das inúmeras homenagens recebida em reconhecimento pela sua dedicação a educação na Bahia

Nessa linha, o educador destaca que o Lomanto Júnior foi a primeira instituição do bairro a ter o curso de ginásio. “Até então, a população só conseguia fazer o curso primário. Em consequência, ficou anos reprimida, sem ter para onde avançar”, afirma Narciso. “Com a abertura do Lomanto Júnior, comecei a presenciar pai, mãe e filho estudando juntos. Muitos retornavam à sala de aula, para concluir a formação no ginásio”, completa.
Narciso conta que em 1966, começam a funcionar os cursos de Contabilidade, para o 2º grau e o curso Normal ou Magistério. Nesse mesmo período, o ex-diretor que acabava de ser contratado, teve como missão resgatar as tradições de Itapuã para a sala de aula, incluindo os grupos folclóricos e as atividades culturais.
A partir disso, o colégio começou a viver tempos de ouro, com a conquista de prêmios em campeonatos educativos e esportivos, como as Olimpíadas Baiana da Primavera, em 1971 e o Festival de Música Estudantil. Outro destaque era o grupo folclórico do colégio, que viajava com o governador para apresentações sociais. “Isso levantou a autoestima da comunidade e dos alunos”, diz.