A Mesa "Baianidades e Africanidades" aconteceu no dia 10 de outubro pela manhã, sob a coordenação do Doutor Marco Aurélio Luz da Universidade Federal da Bahia tendo como expositores, o Doutor Muniz Sodré da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Professor Jaime Sodré da Universidade do Estado da Bahia e o cantor e compositor Raimundo Sodré.
Auditório atento as abordagens da Mesa
Marco Aurélio iniciou dizendo que aprendeu com Mestre Didi Alapini de saudosa memória, que numa cerimônia deve-se antes de mais nada saudar os ancestrais. Assim sendo, solicitou a todos os presentes que ficassem de pé e numa atmosfera respeitosa pediu licença para cantar uma cantiga em homenagem ao Alapini.
Foto ASCOM UNEB
Baba Mogba Oga Oni Xangô..
Título recebido pelo rei de Ketu
A nki o..
Nós o saudamos respeitosamente
Alapini ati Asogba
Sacerdote supremo do culto aos Egungun e Sacerdote supremo do culto a Obaluaiyê
Marco Aurélio Luz coordena a mesa "Baianidade e Africanidades".
Concluída
a homenagem, Marco Aurélio apresentou uma escultura de Exu Lonan destacando que
nas histórias da tradição itan, Exu
foi o orixá que conseguiu de Olorun que as portas do orun do além, fossem
reabertas proporcionando o ciclo vital e a continuidade da existência. Isso aconteceu
porque enquanto os demais orixá se apresentavam a Olorum com abundantes oferendas,
Exu atendendo a determinação de Orumilá Baba Ifá, o pai do oráculo,
apresentou-se apenas com uma pena na cabeça, o emblema Egan, e seguiu na frente de todos os orixá. Foi assim
que Exu se tornou o Siwaju, o que vai à frente de todos e se tornou o L´onan “O
Senhor dos Caminhos”.
Dessa
forma, sempre nas cerimônias religiosas ocorre o ritual de ipade, reunião, dedicado a Exu para abrir os caminhos da comunidade
na expectativa de que tudo seja propício.
Exu L´Onan, escultura de M. A. Luz
Foto: Hans Olu Obi
Outro destaque que Marco Aurélio fez foi se referir a uma das cantigas em que aparece a saudação de Exu, Laroyê!!, e que também invoca o nome de Odara, o que faz acontecer coisas boas e bonitas.
Foto: ASCOM UNEB
De origem carioca, mas vivendo na Bahia há muito tempo, Marco Aurélio ressaltou que não é apenas isso que constitui sua “baianidade”. Marco chamou atenção sobre a expressão que se refere aos nascidos no Rio de Janeiro como “carioca da gema do ovo”. Essa gema, nada mais é do que a presença da Bahia no Rio de Janeiro representada de forma magistral pela ala das baianas nos desfiles das Escolas de Samba ponto alto da cultura carioca.
Ala das Baianas
Foto disponível na internet
A imigração baiana ocorreu com intensidade nos inícios do século passado no Rio de Janeiro, a exemplo da famosa casa de tia Ciata, Iyá Kekere do terreiro de João Alabá, que acolheu e abrigou os sambistas, músicos, compositores e intérpretes, gente de ranchos e blocos. É essa pujante presença da Bahia que contribui transformando a Praça Onze numa “pequena África” no dizer de Heitor dos Prazeres, e num contexto de perseguição policial com certeza isso foi fundamental na constituição da cultura carioca.
Mãe
Aninha, Iyalorixá Oba Biyi fundou no Rio de Janeiro o Ilê Axé Opo Afonjá R.J.
juntamente com tia Agripina Oba Deyi, com Bamboxê Obitiko e Oba Sãiya,
expandiram os valores sagrados. Muitas outras casas se difundiram.
Na
Umbanda um ponto cantado em homenagem a rainha Vovó Maria Conga assim se
refere:
“O sol raiou já vai baiana/ o sol
raiou nas ondas do mar/ as ondas do mar batia/ lá se vai Maria Conga feticêra
da Bahia.”
Após
essas considerações, Marco Aurélio passou a palavra para o professor Jaime Sodré,
escritor com vários livros e ensaios inclusive sobre a obra escultórica de
Mestre Didi e outro sobre o registro da imprensa baiana relativo a época da
perseguição policial aos terreiros.
Jaime
Sodré começou dizendo que no dia seguinte que recebeu a homenagem de Comendador
do SINBAIANIDADE, divulgaram nas redes sociais e ao amanhecer já tinha uma fila de gente querendo favor... Muitos risos! Para ele a honra de ser comendador, ganha diversas interpretações inclusive na Bahia. A forma como soou o valor da comenda no bairro da Federação deu a impressão de que ele recebeu muitos poderes.
Comendadora Narcimária Luz, comendadores Marco Aurélio Luz e Jaime Sodré e Lúcia Oliveira professora do curso de Design da UNEB.
A
sua exposição foi no sentido de apontar a variedade da “baianidade” que
conforme a dinâmica dos territórios onde se expressa assume características
singulares.
Assim,
a cidade de Salvador, Recôncavo, sertão, a “zona do cacau”, o sul da Bahia, há predominância
de contingentes populacionais negros ou indígenas que reúnem aspectos de
culturas que irão constituir as “baianidades”.
Comunicação do Professor Jaime Sodré
Mesmo
na cidade de Salvador, há uma variedade de modo de "SER baiano" que recebe
modulações de bairro para bairro além das influências das variadas instituições que caracterizam aquelas comunidades. Nas
religiões africano-brasileiras que são matrizes na constituição da cultura, há a
pluralidade. Tradições Congo, Angola, Jeje, Nagô, cada qual possui seu corpus litúrgico que estabelecem teias
vigorosas pela Bahia. O
Professor Jaime Sodré ainda chamou atenção para uma falsa baianidade
constituída por interesses comerciais que divulga estereótipos mundo afora.
A pedidos Jaime Sodré cantou "A Falsa Baiana"
Para ilustrar a verdadeira "baianidade", ele lembrou da música de Geraldo Pereira “A Falsa Baiana”(1944), e a
pedidos cantou a música acompanhado com palmas ritmadas pela plateia:
“Baiana que entra na roda e só fica parada
Não canta, não samba, não bole nem nada.
Não sabe deixar a mocidade louca.
Baiana é aquela que entra no samba
de qualquer maneira
Que mexe, remexe, dá nó nas
cadeiras
Deixando a moçada com água na boca.
A falsa baiana quando entra no
samba ninguém se incomoda
Ninguém bate palma, ninguém abre a roda.
Ninguém grita ôba, salve a Bahia,
Senhor!
Mas a gente gosta quando uma baiana
quebra direitinho
De cima embaixo revira os olhinhos
E diz eu sou filha de São
Salvador!”
Dessa forma o professor Jaime Sodré encerrou a sua participação.
O
coordenador da Mesa Marco Aurélio passou a palavra para o Professor Doutor Muniz
Sodré, afamado autor de inúmeros livros e muito admirado.
Ele
começou dizendo que há muitos anos mora no Rio de Janeiro onde trabalha e
constituiu família. Disse que gosta e admira a cidade do Rio de Janeiro, e
justificou que ao invés de abordar o tema “baianidade” iria desenvolver
reflexões sobre a “carioquice”, ou seja, a imagem coletiva ou a alma
característica da identidade do ser carioca.
Comunicação do professor Muniz Sodré
Foto ASCOM UNEB
Para Muniz Sodré a entidade que rege os destinos do Rio de Janeiro é Exu. Por diversas razões e coincidências demonstrou que Exu está presente na regência de datas históricas desde a fundação da cidade.
Nas
Umbandas, religião predominante no Rio de Janeiro, a gira ritual mais
frequentado pelos fiéis é a de Exu, entidade originária do panteão dos orixá
nagô.
O
Exu mais solicitado é seu Tranca Rua, que rege os caminhos dos destinos, seu
Sete Encruza que rege as encruzilhadas, Exu Marabô, Exu Caveira, Pomba-gira que
rege a sexualidade, Sete da Lira que rege a musicalidade dentre outros. São
esses Exus que constituem o imaginário coletivo carioca.
Nesse
ínterim, Marco Aurélio como “carioca da gema do ovo “lembrou-se do alvoroço
provocado nos tempos da ditadura por Seu Sete da Lira da mãe de santo D.
Cacilda de Assis, promovendo a ida de multidões ao seu terreiro e comparecendo
nos principais programas de televisão do Chacrinha e de Flávio Cavalcanti.
Seu Sete da Lira abalou a mídia.
Foto disponível na internet.
Muniz
ressaltou a presença da entidade Zé
Pilintra que tem a imagem de um negro
bem vestido de terno branco, gravata e lenço vermelho, sapatos brancos, chapéu
panamá lembrando o figurino da malandragem das primeiras décadas do século
passado.
Zé Pilintra
Foto disponível na internet
Marco
Aurélio lembrou que a figura do malandro foi cantada em prosa e verso e gerou o
famoso desafio entre Wilson Batista e Noel Rosa.Outra categoria presente
nas relações sociais cariocas é “otário”. Não há malandro sem otário.
Muniz
prosseguiu sua exposição enfatizando então, que assim como Exu é tratado por “compadre”,
para os cariocas essa categoria substitui a de amigo. “Carioca não tem amizade
tem compadrio” afirmou Muniz.
Muniz Sodré e a composição da mesa
Embora
a figura do malandro, tenha sido perseguida pela ideologia constituinte do Estado
Republicano, combatida pelo corpo jurídico penal com a Lei da vadiagem, ela
permanece no ideário carioca.
E
com essas reflexões Muniz encerrou sua comunicação.
Marco
Aurélio apresentou Raimundo Sodré dizendo que embora seja bastante conhecida
pelo sucesso da música “A Massa”, ele possui uma vasta obra. Seu estilo emerge
da musicalidade do Recôncavo e quejandos.
Raimundo Sodré fez questão de chamar a atenção de que no dia da realização da Mesa no sábado, era um dia consagrado as Iyá Agbás, nossas venerandas Mães e ressaltou uma linda composição em homenagem a Oxum que ele compôs.
Raimundo Sodré lembrou que nasceu após a mãe ter participado de uma roda num xirê. Ela dançou a noite toda e na manhã seguinte ele nasceu, sendo banhado pelas Iyás nas águas de Oxum.
Raimundo Sodré fez questão de chamar a atenção de que no dia da realização da Mesa no sábado, era um dia consagrado as Iyá Agbás, nossas venerandas Mães e ressaltou uma linda composição em homenagem a Oxum que ele compôs.
Raimundo Sodré lembrou que nasceu após a mãe ter participado de uma roda num xirê. Ela dançou a noite toda e na manhã seguinte ele nasceu, sendo banhado pelas Iyás nas águas de Oxum.
Comunicação do cantor e compositor Raimundo Sodré
Foto: ASCOM UNEB
Raimundo Sodré falou que compôs a música “A Massa” descansando na sombra de uma árvore. Ela chegou inteira num instante de inspiração. Ele mostrou para o amigo e poeta Jorge Portugal que compôs a letra. Foi uma combinação muito certa.
O
sucesso da música o levou a fazer inúmeras apresentações grande parte no
interior. Muita gente fazia economia para pagar o ingresso. Um dia um menino contou
o esforço que fez para comprar o ingresso, e isso o deixou muito comovido.
Disse
que nunca se afastou dessa trilha, a da musicalidade de sua gente, tanto mais
que nasceu logo após sua mãe ter participado de um festival religioso em
homenagem ao orixá Oxum, patrona da música.
Feita
essa breve exposição Raimundo Sodré cantou emocionando a todos a música "Oração
para Iyá Oxum".
Apresentação musical de Raimundo Sodré
Foto: Lúcia Oliveira
Oxum a minha mágoa
Quando se derrete em água
No meu corpo a sua água
Me lava de todo rancor
Esta dor que me entala
Quando assim perco a fala
Eu só penso no amor
Oxum- ora yê yê Yê ô
Oxum ora yê yê yê ô
Oxum a sua casa a correr
Lava a minha alma
Apara a minha dor
Sua casa sobre a areia
Me ensina a vencer
Por onde for.
Foto ASCOM UNEB
Finalizando as apresentações o Professor Marco Aurélio Luz destacou que os momentos vividos naquela manhã,envolveram o público numa atmosfera Odara.
Sem sombra de dúvidas, os momentos singulares proporcionados pelo II Sinbaianidade , a exemplo da Mesa Baianidades e Africanidades foi ODARA PUPO! Foi assim que Marco Aurélio se referiu a Mesa.
Odara! Culminando com a musicalidade de Raimundo Sodré ...
A seguir o vídeo que comunica o Festival de Música onde Raimundo Sodré canta,dança e interpreta "A Massa" acompanhado de músicos e percussionistas dentre eles Djalma Correia.
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