Por Marco Aurélio Luz
É com muita alegria no
coração que leio "Peregun e Outras Fabulações da Minha Terra" do amigo e irmão
Félix Ayoh’ Omidire, que aproveita nossos laços identitários alicerçados numa
civilização milenar.
‘’ Pela força da história,...os iorubanos passaram a ter uma ativa atuação intercontinental, uma parte significativa da população...forçada para o outro lado do Atlântico, em condição de extremos constrangimentos, nunca deixou de lutar para não permitir morrer o que há de mais livre em cada ser humano, a sua cultura que constitui a sua única e verdadeira identidade.’’
‘’ Pela força da história,...os iorubanos passaram a ter uma ativa atuação intercontinental, uma parte significativa da população...forçada para o outro lado do Atlântico, em condição de extremos constrangimentos, nunca deixou de lutar para não permitir morrer o que há de mais livre em cada ser humano, a sua cultura que constitui a sua única e verdadeira identidade.’’
Há pouco tivemos o
(re)lançamento das obras de Mestre Didi, que fundou entre nós uma escritura que
adapta a narrativa da comunicação direta do acervo de contos emergentes da
comunalidade africano- brasileira.
Esses relançamentos enriquecem sobremaneira não só as relações da comunalidade negra ampliando os raios de comunicação de suas riquezas culturais, mas também a própria sociedade brasileira, acrescentando um gênero literário que sobressai no cenário de nossa pujante herança africana.
Os contos que originalmente,
em nossa terra por um lado, fazem parte do acervo das comunidades-terreiro,
também eram parte da narrativa dos contadores de histórias, os apalo
que percorriam cidades e fazendas de nosso interior, se apresentando
com música e danças dramáticas, ensinando lições de vida e de existência
baseado nos valores éticos e estéticos e visão de mundo nagô. Nessas
narrativas, personagens de animais, especialmente o jabuti, ocupam a cena
principal.
Agora, com o livro de Ayoh’
Omidire de Ilê Ifé revela-se o fluxo do continuum cultural nagô-yorubá no
terreno da literatura escrita das adaptações do acervo das narrativas
tradicionais dos Apálo; Onde também a presença de animais, especialmente Ijàpá,
o cágado que ocupa um lugar especial.
Em diversas ocasiões nos
referimos a essa literatura no Brasil. ‘’
Vemos um estilo que se aproxima muito mais da chamada narrativa oral do que da
narrativa escrita. A plasticidade das imagens, as analogias, as alegorias, os
diálogos dramatizáveis, a maneira negra de falar, o português dos antigos
africanos, procuram adaptar e ilustrar no plano do texto, o complexo contexto
simbólico nagô. ’’
Da mesma forma, PEREGUN... reúne os contos adaptando-os à
escrita e além disso à necessidade de realizar a continuidade da tradição
cultural negro-africana reforçando os elos dos valores estéticos de nossa
comunalidade transatlântica.
Os contos yorubá enfatizam a
dimensão transcendente do existir, através das narrativas que englobam o
fantástico, o mundo contíguo e atuante entrecruzando-se entre as fronteiras do
cotidiano consciente e o bizarro latente, o indescritível, o inefável, o
surpreendente.
Nele as categorias de aiyê,
este mundo e orun, o além, constituem
uma relação de diferença contígua e dinâmica. A função restituidora das
oferendas, o fluxo do axé, os ebós, e o conhecimento
profundo dos babalawô (pais dos mistérios, conhecedores do oráculo de ifá) pode
minimizar o caos oriundo do desconhecido.
Nessa medida a ética dos
contos é principalmente a de procurar demonstrar essa característica do
existir, isto é, o conflito entre tendência da anomia caótica de um lado, e da
tentativa de controle do outro, baseado nas liturgias da religião tradicional.
Em ambos aspectos o mistério, o segredo, incluso o não saber, o desconhecido se
pronunciam.
Nesse ponto mais do que
nunca o fluxo da existência contido no processo civilizatório negro africano,
espalhado pelo ‘’novo mundo’’ nos incluem num compromisso, num comprometimento
com as ‘’obrigações’’ para que os destinos se desenvolvam e esse mundo não se
acabe.
Com certeza, o livro de
Ayoh’ Omidire é um reforço para a manutenção do elo mais forte de nossos
vínculos com a África, berço da humanidade e da civilização.
Lauro
de Freitas, 16 de agosto de 2004
Marco Aurélio Luz
(Oju Oba ati Elebogui do Ilê Asipá)
Nota: Esse texto é o prefácio do livro PÉRÉGÚN E OUTRAS FABULAÇÕES DA MINHA TERRA.Contos cantados iorubá-africanos de Félix Ayoh`OMIDIRE(EDUFBA,2004) .
PRESENÇA DOS CONTOS NO PROCESSO EDUCATIVO
Os contos da tradição nagô foram recriados na experiência pioneira de educação pluricultural MINI COMUNIDADE OBA BIYI. Adaptados por Mestre Didi ele constituíram a base do currículo.
Mini Comunidade Oba Biyi
foto M.A.Luz
foto M.A.Luz
"A CHUVA DOS PODERES" conto de Mestre Didi encenada na Mini Comunidade Oba Biyi 1985
Foto M.A.LUZ
Foto M.A.LUZ
Outras experiências se desdobraram através da divulgação dessa experiência original através dos trabalhos de Marco Aurélio Luz dentre os quais o livro em co-autoria com Mestre Didi "Oba Biyi o Rei Nasce Aqui"(Fala Nagô,2007).
A Doutora Narcimária do PatrocÍnio Luz escreveu "A Canção do Infinito"(2009)e os integrantes da equipe pedagógica da Associação Crianças Raízes do Abaeté(Acra) orientaram as crianças e jovens para a encenação.
Demais encenações e narrativas dos contos se espalham enriquecendo processos educacionais.
Demais encenações e narrativas dos contos se espalham enriquecendo processos educacionais.
Sidney Argolo prepara a performance musical ACRA 2009
Foto acêrvo Narcimária P. Luz
Participantes da Associação Crianças Raízes do Abaeté desenvolvem a encenação de A Canção do Infinito de Narcimária C. P. Luz
Encenação de trechos do livro Oba Nijo(Pallas Editora,2015) pelo grupo Teatral ODEART coordenado pela Doutora Janice Nicolin durante o lançamento do livro da Doutora Narcimária Luz Livraria Cultura.
Grupo ODEART em "Oba Nijô o Rei que Dança Pela Liberdade"
Acervo Narcimária C. P. Luz
Acervo Narcimária C. P. Luz
Meus parabéns em nos proporcionar leitura tão bem elaboradas sobrfe nossa gente
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