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MALAKÊ
José
Carlos Limeira
(Início
da minha história)
Lançada do outro lado do mar
Oxé brilhante de Zazi, Sobô,
Xangô, Odus, Orikis
Semente, cio dos raios, Orixá
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Início de Rochas, meu elo, Otá
Continente inteiro, destino Atlântico
Razão de minha pele
Vítima da aspereza dos dias
Diáspora, outra canção
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Primeira do clã a chegar
Trazendo nos punhos, tornozelos
Estranhos adornos que rangiam
Como a raiva salgada, oceânica
Molhada de banzo, sem zelos
Mesmo assim trazendo
Receitas de Amalá
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Malakê
De frente aos seus fundamentos
No Rumpayme Runtoloji
Os do seu pai, nosso pai
Entendi a inteira dor
A violação do passado
Pelos ferros apagado
À mudança do teu nome
Ao chamarem uma Maria
Uma Gaudência
Uma Conceição...
Malakê, menina de uma África
De uma Cachoeira, Terra das Águas
Pitanga, Paraguassu ,Caquende
(em outro poema lavaram minhas mágoas)
Pedra do Cavalo, cheias
Cabaceiras, indomáveis Águas
Lugares de tantas sereias
Malakê
Mãe, Pai
A quem tenho como primeiro Ancestral
Por tudo e por tal
Me ensina
Quero dizer a todos orixás
Da minha crença no toque
No som do lê, do rumpi, do rum
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Na força dos tridentes, adagas
Machados, espelhos, abebes, espadas
No ar, na terra, no fogo, na água
Nos Ilês, nos Axés
No Bogum
Na Casa Branca de tão antiga
No Jitolu de mãe Hilda, amiga
Em todo reino do Orun
Na dualidade de Logunedé
Em Stella estrela de Oxóssi
No Tanuri Juçara de Bebé
Na esteira, no Ojá
Ensaiando no Zandró
No Axé Opó Afonjá
Nunca estando só...
Nas cores firmes das vestes
No transe, na festa
Nos Búzios de todos segredos, no Ifá
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Na alguidar, nas folhas, no que resta
porque sem elas não há
No padê
Em Legbara, laroiê!
Na Oxum bonita, Ora-ie-iê!
Em Iansã e seus raios, Eparr ê!
Em Ogum de tantas lutas Ogunhiê!
Em Oxóssi caçador, Okê-Arô!
No meu pai Xangô, Cabecilê!!!
No Alabê, no Mariô
Na Equéde, na Makota
Na oferenda, no Pano da Costa
No dendê, nas Abiãs
No branco da paz de Lemba
Nas conversas dos Ogãs
Na gamela, na quartinha
No pó de Pemba
Na prece que é sempre canto
Encanto
Na própria firmeza da fé
Nos Eguns, no terreiro
Na luz que me faz inteiro
E que vem do candomblé.
Malakê
Obrigado por me legar esta vontade
De contar as Coisas do nosso povo
Nossas Sendas
Pelo gosto de nossa história, contos e lendas...
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Que Olorum lhe abençoe Limeira!
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Poema publicado no SEMENTES,Caderno de Pesquisa.Salvador:PRODESE,2005.