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Professor Doutor Dalmir Francisco
Professor Doutor Dalmir Francisco
Um
singela e necessária homenagem a um amigo inesquecível: Dalmir Francisco Costa professor
do Departamento de Comunicação Social da UFMG que faleceu no dia 16 de abril,
em Belo Horizonte de insuficiência cardíaca, aos 66 anos.
Grande
parceiro e colaborador do Programa Descolonização e Educação-Prodese(grupo de
pesquisa que integra do Diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico-Cnpq/1998) em iniciativas institucionais importantes, a saber: coautor do livro Pluralidade Cultural e Educação, participação
em várias publicações do Sementes Caderno de Pesquisa, onde também
integrava o Conselho Editorial e palestrante em muitos eventos nacionais e
internacionais.
Encontro Internacional Diversidade Humana Desafio Planetário(1994) organizado pela Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil.
Evento comemorativo dos 10 anos do Prodese Awon Esó
Da esquerda para a direita o Landê Awanalê,Dalmir Francisco,José Carlos Limeira e Marco Aurélio Luz
No nosso blog, tivemos a oportunidade de divulgar seu livro “Comunicação,
Música Popular e Sociabilidade” (Belo Horizonte:
Fino Traço Editora, 2014), que sempre estará entre as nossas principais
recomendações de leitura.
Dalmir comentou na época do lançamento do livro:
“Estamos falando de produções poético-musicais que compõem uma rica e valiosa memória sonora e afetiva de dramas, amores, desamores: errâncias de homens e de mulheres comuns, afrodescendentes e eurodescendentes, que, cantando, registraram e registram ainda hoje a sua humanidade em um Brasil marcado pela diversidade étnica, cultural e social”.
Dalmir
era graduado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (1978), Mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas
Gerais (1992) e Doutorado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (2000).Pós-Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
UFRJ.Era professor Associado da Universidade Federal de Minas Gerais com
experiência na área de Comunicação e Cultura, com ênfase em Jornalismo, atuando
principalmente nos seguintes temas: Jornalismo, Comunicação, história,
Política, negritude e comunicação e cultura. Era Membro Titular do
Conselho Estadual dos Direitos Humanos - CONEDH / Minas Gerais e do Conselho Municipal para a Promoção da
Igualdade Racial - COMPIR / Belo Horizonte.
Aqui
procuramos homenageá-lo através de suas muitas formas de expressar seu
pensamento e compreensão sobre o estar no mundo. Dalmir na sua trajetória
científico-acadêmica ergueu com altivez, orgulho e muita alegria, espaços de
legitimidade do continuum africano no
Brasil.
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Sucessão de triângulos representam a continuidade civilizatória africana
Nascido
em Minas Gerais, Dalmir herdou valores que o tornou um pensador importante
sobre as questões que constituem a história das populações africano-brasileiras
e, tornou-se ao longo dos anos, um defensor dos direitos coletivos dessas
populações, demonstrando nas suas atuações institucionais a necessidade de encontrarmos
canais de diálogo e compreensão dos valores civilizatórios dos povos.
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No
pensamento de Dalmir, encontramos uma das suas maiores referências: o vínculo
indissolúvel entre a diversidade cultural e os direitos coletivos,
principalmente aqueles reivindicados pelas instituições africano-brasileiras.
Sobre isso, ilustrações não faltam: destruição, esgotamento e usurpação de
forma cruel das territorialidades sagradas das comunidades tradicionais africano-brasileira.
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O
pensamento de Dalmir traduzido em suas obras, apresenta de modo valioso
aspectos sócio históricos do Brasil negligenciados pela Razão de Estado e suas
instituições .
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Capoeira referência da expansão civilizatória dos africanos no Brasil
Capoeira referência da expansão civilizatória dos africanos no Brasil
Lembramos
da atenção ao ouvir a voz bem empostada e forte de Dalmir, apresentando suas
ideias... Eram momentos muito especiais
e de uma riqueza impressionante. Fazia-se silêncio, pois eram momentos de aprendizagem a partir do
sentimento e olhar de alguém que falava
de outras singularidades do Brasil. Um Brasil e a dinâmica das redes quilombolas!
Sim! Quilombos contemporâneos que intercambiam ininterruptamente. A maneira de Dalmir
abordar um tema ou aspecto numa conferência ou debate, era muito interessante.
Tinha um tom e conduta de uma boa aula de história.
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Uma
observação: não era um pensamento sisudo, arrogante como muitos que circulam
nas Universidades, ou mesmo imerso em lamentações ou tristezas, não. E mesmo que
tivesse lamentações, ele abria outras perspectivas de análises de enfrentamento e
superação. Seu pensamento era, e ainda é, criativo, altivo e guerreiro animando-nos
a prosseguir zelando e afirmando a história dos nossos ancestrais referências fundamentais que asseguram a nossa dignidade .
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Dalmir realizando palestra na Universidade Federal do Rio de Janeiro no evento na Escola de Comunicação em comemoração ao aniversário de Muniz Sodré
O
Professor Marco Aurélio Luz recordando sua amizade com Dalmir comenta:
"Dalmir
Francisco foi um companheiro e irmão.
Tenho uma só palavra para resumir o que
admirava nele: INTENSIDADE.
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Transformação do ferro,mineral que está associado ao universo simbólico do orixá Ogum
Depois da política estudantil e como professor
universitário, Dalmir se reencontrou na religião africano-brasileira. Participou
ativamente como representante do Conselho Consultivo do Instituto da Tradição
Afro-brasileira de Minas Gerais. Se destacou também na participação de inúmeros
eventos e publicações visando a afirmação dos valores da tradição
africano-brasileira.
Olorum
Kosi pu re!"
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Carlos
Alberto de Carvalho, colega de Departamento d UFMG diz sobre Dalmir: “Profundo
conhecedor das questões da cultura brasileira e da herança cultural africana” e
atuava em campo de estudo que fazia aproximações entre comunicação, cultura,
política e, mais recentemente, educação. Foi um dos organizadores da obra
Mídia, docência e cidadania, lançada em 2016”.
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Aqui
um trecho de uma homenagem em forma de crônica “Adeus, Dalmir Francisco, o
abridor de caminhos...” de Miguel
Arcanjo Prado jornalista formado pela
UFMG e seu ex-aluno.
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"Dalmir Francisco, o abridor de
caminhos...”
“...Tive
o prazer de ser seu aluno na disciplina Comunicação e Política, obrigatória e
que ele dava à sua maneira, gerando paixão e também revolta em alguns alunos,
que não o compreendiam.
Dalmir,
em sua aula, apresentava a criação do mundo a partir da cosmogonia africana,
explicando a origem de cada orixá, o que lhe dava enorme prazer. Alguns alunos,
não acostumados a uma forma de ensino que não fosse a eurocêntrica não
entendiam, reclamavam do professor nos corredores. Como assim falar de orixá em
aula de comunicação e política? Alguns até o enfrentavam em aula, dizendo que
não concordavam com sua ementa.
Ilustração de Narcimária Luz no seu livro "Itapuã quem te viu e quem te vê"(2009)
Agemó,personagem que integra a criação do mundo conforme a cosmogonia nagô
Ilustração de Narcimária Luz
E Dalmir, livre docente, seguia firme e forte.
Não temia o confronto. Hoje, percebo que foi o meio que encontrou de resistir
com sua negritude dentro da academia, do alto de seu título de doutor. Neste
domingo de Páscoa, recebo na internet a notícia da morte de Dalmir Francisco,
aos 66 anos. Uma tristeza enorme me invade. Porque Dalmir significou muito para
mim. Ter ele ali, negro, jornalista, naquele posto de professor da UFMG, sempre
me deu um orgulho enorme. Dalmir Francisco foi pioneiro. Abridor de caminhos.
Já faz uma baita falta. Que descanse em paz.”
Para conhecer todo o conteúdo da
crônica de Miguel Arcanjo Prado , acesse https://blogdoarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2017/04/16/cronica-do-arcanjo-adeus-dalmir-francisco-o-abridor-de-caminhos/
Saudades
querido amigo!
Que
Olorum lhe abençoe Dalmir, pensador
quilombola das “minas gerais” !
A
seguir entrevista de Dalmir sobre seu livro Comunicação,Música Popular
e Sociabilidade (1ª. ed. Belo Horizonte: Fino Traço
Editora, 2014) que aborda aspectos sobre “o amor do homem comum, presente na
poética musical, dita popular e comunicada, socializada pela mídia. O homem
comum é aquele que não aspira a ser herói, que não deseja ser o invencível
guerreiro, o grande governante, o alto legislador e que não quer ser mais que
pode a sua humanidade…”Palavras do autor.
Muito
interessante!
Vale
a pena assistir!