LÍDER IORUBÁ DESTACOU A PROXIMIDADE COM O BRASIL E SUA POPULAÇÃO
Por Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
Matéria publicada em
11/06/2018
O
plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) se transformou
hoje (11) em um local de reflexão sobre a igualdade, a luta contra o
preconceito e a união dos povos. Em solenidade para a entrega da Medalha
Tiradentes, a maior honraria do estado, ao rei de Ifé e líder do povo iorubá,
na Nigéria, Ooni Adeyeye Enitan Ogunwusi, o Ojaja II, os parlamentares deram
lugar a lideranças de religiões de matriz africana, que acompanharam a
homenagem.
O
presidente em exercício da Alerj, deputado André Ceciliano (PT), abriu a
cerimônia e lembrou que o Brasil vive momentos de intolerância religiosa.
“Espero que ele possa trazer fé e esperança para o Brasil”, pontuou.
Rei
de Ifé, na Nigéria, Ooni Adeyeye Enitan
Ogunwusi, o Ojaja ll, é homenageado com a entrega da Medalha Tiradentes na
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Rei
de Ifé, na Nigéria, Ojaja ll, é homenageado com a entrega da Medalha Tiradentes
(Cristina Indio do Brasil/Agencia Brasil)
O
rei de Ifé destacou a proximidade entre a Nigéria e o Brasil e apontou que os
povos desses países pertencem à mesma raiz e à mesma fonte. “Eu estou aqui para
trazer amor a todos vocês do Brasil, em especial aos afrodescendentes
brasileiros. Os afrodescendentes precisam saber. Nós não somos escravos. Nós
fomos escravizados. Os brasileiros pertencem a linhagens de reis, rainhas. Nós
podemos falar línguas diferentes, mas somos da mesma família. Nós temos que nos
associar a vocês. Todos os dias vocês precisam acordar, porque têm que
contribuir imensamente para este mundo”, afirmou.
O
deputado Zaqueu Teixeira (PSD), que foi o autor da proposta de entrega da
medalha, lembrou que o rei de Ifé tem feito diferença em seu país e em outras
partes do mundo ao criar propostas de autonomia para mulheres e dar mais
oportunidades aos jovens para o ingresso nas universidades. “Reforçou os laços
dos afrodescendentes da cultura iorubá ao redor do mundo. Foi necessário que
sua majestade criasse bolsas para jovens entrarem na universidade e dar
dignidade às viúvas que são deixadas à margem da sociedade. Criou também
programa para capacitá-las e dar a elas maior autonomia financeira. Ele tem
viajado para diversos países para fortalecer a cultura iorubá entre os
afrodescendentes”, afirmou.
A
rainha Diambi Kabatusuila, do Congo, que também participou da homenagem,
lembrou que é necessário passar a cultura africana para os mais jovens. “Nós
temos que fazer o nosso trabalho para conseguir passar as informações de nossos
antepassados para promover a justiça, a igualdade e equilibrar a sociedade”,
disse.
Na
visão da mãe Sandra de Oxaguiã, da Instituição Holística Casa de Oxalá e Oxum,
de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, a visita do Ooni de Ifé é um
marco para o Brasil. Ela disse que ninguém nasce racista, preconceituoso ou
intolerante. Mãe Sandra fez uma comparação com uma semente que cai na terra e
não se sabe se crescerá uma árvore ou se vai se perder. “A mãe natureza
desconhece a mão que deixou aquela semente. Aceita a mão de todos os povos de
qualquer etnia. Queremos falar de amor, de paz e união”, completou.
Depois
da cerimônia, mãe Sandra estava emocionada com a presença do rei de Ifé. Para
ela, é uma honraria inexplicável, porque nunca havia pensado em estar ao lado
dele no Brasil. “É um divisor de águas para nós brasileiros que acreditamos na
ancestralidade. Então, o nosso ancestral, Obatalá, Olorum, Orumilá, estava
presente porque ele é a encarnação desses deuses para nós”, concluiu.
Para
o presidente do Centro Cultural Africano no Brasil, vice-rei de Abeokuta,
região da Nigéria, Otumba Adekunle Aderonmu, o rei de Ifé passou uma mensagem
de valorização dos afrodescendentes. Ele acrescentou que a vinda do rei de Ifé
reforçou a ideia de que todos podem programar as suas vidas para alcançar
lugares melhores na sociedade, ao verem que uma pessoa como o líder do povo
iorubá foi homenageada em uma casa legislativa.
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