Por Marco Aurélio Luz
Mestre Didi Asipa Alapini Ipekun Oiye em visita ao idile Asipa em Ketu num reencontro histórico.
Foto: Disponível na Internet
Painel decorativo na entrada do ile Asipa destacando-se cetro de Obaluaiye alto relêvo de Mestre Didi.
Foto M. A. Luz
O destino e
a trajetória de Deoscoredes Maximiliano dos Santos Mestre Didi Asipa Alapini o
levaram nos inícios dos anos 80 a realizar um sonho que tivera quando jovem, de
que seria o fundador de uma aldeia.
Agora com
títulos de suma importância na tradição religiosa nagô ele também estava
encarregado de zelar pela continuidade dos legados sagrados reunidos da família idilé Asipa, os do antigo culto aos egungun no
Tun Tun de seu antigo Mestre Marcos Theodorio Pimentel Alapini incluindo o
culto de Baba Olukotun, Olori Egun, o cabeça dos egungun, e os de Miguel
Sant´Anna, Ojé Orepe e Zaba o mais alto sacerdote do culto a Idako
da tradição Tapa Nupe.
Baba Olukotun Olori Egun que foi trazido da África por Marcos Pimentel Alapini e seu pai Marcos O Velho
Foto disponível na Internet
Miguel Sant´Anna Oje Orepe e Zaba sacerdote supremo de Idako do culto Gunuko de origem Tapa Nupe.
Foto disponível na Internet
Inspirados
na experiência de Mestre Didi então Asogba e Oje Korikowe Olukotun Olori Egun na constituição dos estatutos da Sociedade Cruz
Santa do ile Ase Opo Afonja, com a participação de Marco Aurélio Luz Osi Oju
Oba e Otun Elebogi, foi elaborado o estatuto do Ile Asipa, constando de um
conselho superior e de diretoria.
No dia 15 de
fevereiro de 1981 foi feita nova reunião quando foram aprovados os estatutos,
instalado o conselho superior e eleita a diretoria da sociedade religiosa e
cultural, Ilê Asipa.
O conselho
superior ficou constituído dos seguintes membros:
Deoscoredes
Maximiliano dos Santos – Presidente
Acyr Braz da
Cunha – Vice-Presidente
Genaldo
Antonio dos Santos
Marco
Aurélio Luz
José Felix
dos Santos
Paulo
Sant’Anna Sobrinho
Henrique
Sérgio Melman
Muniz Sodré
de Araujo Cabral
Osmar Plinio
de Souza
Na ocasião
ficou estabelecido que a primeira obrigação a ser feita seria a de 14 anos de
falecimento da Asipa Maria Bebiana do Espirito Santo, Mãe Senhora, Iyalorixá
Oxun Muiwa Iya Nassô.
Mãe Senhora Iyalorixá Oxun Muiwa, Iya Naso da linhagem Asipa, Iyalorixá do Ase Opo Afonja e Iya Egbe do ile Agboula.
Foto: Pierre Verger disponivel na Internet
“A fruta só
dá no tempo” sempre dizia Mestre Didi, e havia chegado a hora. Em contato com
os amigos Wolf Reiber e Cidelmo Teixeira na CONDER mapearam alguns espaços da
prefeitura e foram verificar in loco.
Apresentaram
uma área nas imediações da Av. Orlando Gomes,cujo acesso era uma rua de um lado
o mato até um rio e de outro clubes de sargentos, yoga, funcionários da
prefeitura. Após o rio, o mato de capim com chão arenoso e num pequeno relêvo
muita piaçava, cajueiros, dendezeiros e cansanção. Num outro extremo também
outro rio e após terrenos de plantações de posseiros.
Adiante
ficava a antiga fazenda em amplo terreno da prefeitura arrendado à família
Viscos de um lado, de outro uma outra fazenda de criação de gado leiteiro, essa
ainda em atividade e produção.
Entrando em
contato com políticos da época depois de várias tratativas para pleitear pela
doação do terreno junto ao novo prefeito.
O presidente
Deoscóredes Maximiliano dos Santos Alapini empenhou-se, com a ajuda dentre
outros de sua esposa Juana Elbein dos Santos e Marco Aurélio Luz, até que
finalmente com as graças de Xangô e dos Egun Agba foi assinado no dia 31/01/83
a permissão de uso para o terreno pelo prefeito Renan Baleeiro juntamente com o
chefe de gabinete da SEAO e duas testemunhas.
Localização do Ile Asipa
Foto M. A. Luz
No decorrer
deste tempo ocorreu a ocupação da área , a chamada invasão das Malvinas
incluindo o terreno do ilê Asipa.
Somente após
a desocupação e transferência dos moradores para Coutos, foi então demarcada a
área do Ilê Asipá, e formalizada em certidão expedida pelo chefe da seção de
bens e Imóveis da prefeitura em 19/10/83.
Poucos dias
depois o terreno foi todo cercado, arcando a sociedade com as despesas de
material e mão de obra, registrando - se o fato que os barrotes foram doados
pela firma Melman Osório através do irmão Henrique Melman. O Alapini,
Marco Aurélio Luz e Genaldo Novaes participaram do trabalho exaustivo de construção da cêrca e que ainda contou com a colaboração do transporte dos barrotes de Eurico Elegjibe.
Após a sacralização da área com a presença dos novos integrantes, iniciaram-se os tempos de construções.
Primeiramente o
Alapini construiu o ojubo Ilê Ibo Agan.
Ile Ibo Agan local consagrado aos ancestrais e atrás o bambuzal de assentamento de Idako entidade do culto Gunoko de origem Tapa Nupe
Foto M. A. Luz
Mutirão dos participantes do ile Asipa na construção de taipa.
Foto Acervo M. A. Luz
Depois da casa do caseiro de taipa,
vieram as construções de bloco, a de adoração dos Egungun os ancestres
masculinos, as dos orixá e o ilê nla o
local das cerimônias publicas.
No relêvo mais baixo o ile esan casa de adoração dos Egungun com colunas e parede adornadas de figuras em alto relêvo.
Foto: Acervo M.A.Luz
Elexin o cavaleiro fundador de novas cidades, Ekun o leopardo símbolo de poder e comando e odo o pilão símbolo de transformação; adornam a fachada do ile esan.
Foto e esculturas: M. A. Luz
Ile Orixa casa de adoração aos orixa. Quarto de Xango Afonja orixa patrono, Aira, Ogodo e outros, Ode, Obaluaiye, L'Ogun Ede. Quarto das Aiya agba, Iyemoja, Oxun, Nanan, Aje, Iyansan...Quarto de Obatala. Alto relêvo de igbin de Oscar Ramos e carta O e da escultura Iwin Igi do Alapini adornam a fachada do ile orixá.
Foto M. A. Luz
Ile Nla local das cerimonias públicas
Foto M. A. Luz
A cozinha sagrada onde se processam os alimentos de acordo aos preceitos e fundamentos rituais.
Foto M. A. Luz
Foi construído um galinheiro com diversas aves ficando o Elebogi o responsável.
Awon pepeiye.
Foto M. A. Luz
As construções de acolhimento dos integrantes do ilê encerraram esse período.
Ile ijoiye. Casa que abriga os(as)integrantes durante as cerimônias religiosas. Vendo-se a bandeira no topo do mastro indicando o espaço sagrado.
Foto: M. A. Luz
Com a botada
do mastro da bandeira branca com o símbolo do ilê Axipa que indica o local de
culto religioso da tradição afro brasileira estava inaugurado o terreiro.
Com o passar
dos anos a paisagem do entorno foi se modificando, a pinguela que dava acesso
ao terreiro foi substituída por uma ponte de pedestre e por fim a ponte de
passagem de automóveis. Foram realizados movimentos de terraplanagem, e
indenizados os posseiros para a realização do projeto Minha Casa que não foi
concretizado em sua integralidade. Hoje vários condomínios integram a paisagem,
a invasão das Malvinas por outro lado transformou-se no bairro da Paz.
Durante esse
tempo o Ilê Asipa estabeleceu e realiza o seu calendário de cerimônias
religiosas regularmente.
Primeira confirmação dos ijoye obirin no Ile Nla em 1994
Foto : M. A. Luz
No dia 1º de cada ano é revelado aos participantes o ebo odun de acordo com o odu.
No dia 6 são as cerimonias do festival de Baba Olukotun Olori Egun. Egungun de origem nagô yoruba trazido da África por Marcos Alapini e seu pai Marcos O Velho no século XIX.
Nessa ocasião também é feita a cerimonia de oferenda a Idako entidade do culto Gunoco de origem Tapa Nupe.
No dia 24 de junho são as cerimonias do festival de Baba Alapala ancestral relacionado ao fogo origem das sociedades humanas.
No dia 19 de julho são as homenagens a linhagem Asipa.
No dia 2 de novembro é o festival em homenagem aos Oje sacerdotes do culto egungun. Também ocorre cerimonias em homenagem a Baba Akiola.
No dia 2 de dezembro são as cerimonias de oferendas ao Xango Afonja patrono da casa aos demais orixá.
No dia 2 de dezembro ocorrem as comemorações do aniversário de Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi Alapini.
Foto: Acervo M.A.Luz
Eku Odun oo. Integrantes do ile Asipa homengeiam o aniversariante.
Foto M. A. Luz
"Baba Mogba Oga Oni Sango a nki o a nki o
Alapini ati Asogba a nki o a nki o"
Foto : Acervo M. A. Luz
Conjunto de Alabe do Ile Asipa.
Foto: Acervo M.A. Luz
O ile Asipa se
caracteriza como centro guardião e irradiador da mais lídima e excelsa tradição
nagô, elo histórico fundamental do percurso de reposição da riquíssima tradição
cultural da Bahia e do Brasil.
Visitantes ilustres são acolhidos no ile Asipa. Comitiva liderada pelo reitor da Universidade de Ife Wande Abimbola, Mestre Didi Asipa Alapini e Elefunde Juana Elbein dos Santos.
Foto: Acervo M.A. Luz
Odana Dana, Iya Naso, Iyalorixá Oba tosi, da
tradicional família Asipa originária de Oyo e Ketu foram fundadoras e primeiras
iyalorixá do Ilê Axé Aira Intilè depois
Ilê Iya Naso. Marcelina da Silva Iyalorixá Oba Tosi , fez a iniciação de Maria
Julia da Conceição Nazaré que depois fundou o Ilê Ase Iya Omi Ase Iyamase,e
também de Eugênia Ana dos Santos, Mãe Aninha fundadora do Ilê Axé Opo Afonja a Iyalorixá Oba Biyi.
Pode-se
dizer que a história da tradição dos orixá na Bahia se confunde com a história
da família Asipa no Brasil.
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Notas:
A linhagem Asipa, Idilé Asipa é originária de Oyo capital do antigo império yoruba /nagô. É uma das sete famílias fundadoras de Ketu. Em 1967 Mestre Didi teve um reencontro histórico em Ketu quando diante do Alaketu recitou o brasão oral de sua família: Asipa borogun elese kan gongo.
Alapini Ipekun Oye é um título originário de Oyo. Alapini detentor do título supremo. É o sacerdote que cuida dos Egungun do afin do palácio, dos ancestrais do império nagô/yotuba. Nos rituais de entronização do Alafin é fundamental a coroação de folhas de Akoko realizada pelo Alapini. No Brasil o título de Alapini foi atribuído a Marcos Pimentel quando trouxe Baba Olukotun Olori Egun o cabeça dos Egungun do mundo nagô.
Mãe Senhora Iyalorixá Osun Muiwa da família Asipa recebeu do alafin o título de Iya Naso Oyo Akalamabo Olodumare Ase Da Ade Ta.
Musica em homenagem à Mestre Didi cantada em seus aniversários. Saúda respeitosamente, a nki oo nomeando seus títulos. Baba Mogba Oga Oni Sango lhe foi outorgado pelo Alaketu rei de Ketu. Asogba sacerdote supremo do culto à Obaluaiye lhe foi outorgado por Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi.
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