segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

FELIZ 2011!!!



Foto de Marco Aurélio Luz

Há um provérbio afrobrasileiro que diz:
“Coisas boas recebidas devem ser ingeridas”.
Que o ano novo traga muitas "coisas boas", saborosas e viçosas.
Que essas "coisas boas"que constituem os mistérios do existir,fortaleçam nosso espírito e corpo dando-nos saúde,paz,amor,harmonia e prosperidade.
Não esqueçam também,de compartilhar essas "coisas boas" com o próximo.
Ingerir "coisas boas" juntos, com certeza nos dará mais conforto e alegria.
O blog da ACRA pretende continuar disponibilizando aos visitantes o acesso as "coisas boas", capazes de anunciar outras perspectivas de vida para além da arrogância, onipotência, egoísmo, competição, ganância, vaidade e mediocridade...
Precisamos (re) aprender a ingerir tudo que possa

gerar VIDA,

expandir VIDA,

promover VIDA!


FELIZ 2011!

IIº FESTIVAL AFROBRASILEIRO DE ARTE E EDUCAÇÃO DA ACRA

No dia 16 de dezembro a ACRA realizou o seu IIº Festival Afrobrasileiro de Arte e Educação.Foi uma tarde muito simpática,agradável e divertida marcando mais um ano de continuidade das atividades envolvendo crianças,jovens,pais e educadores/as.
A festa culminou com homenagens aos educadores/as,pais e convidados/as que receberam um xequerê confecccionado pelas crianças sob a orientação do professor Sidney Argolo.
Em seguida foi oferecido um lanche sugerido pelas crianças no processo de organização do evento.
Awon xekeré instrumento produzido pelas crianças da ACRA sob a orientação do professor Sidney
Foto Marco Aurélio Luz

Professor Narciso Presidente da ACRA e a Sra. Damiana do Pandeiro artista local que prestigiou o evento.

Ao fundo grafite produzido pelas crianças da ACRA sob a orientação do professor Tárcio


Apresentação do Maculêlê sob a orientação do Professor Rupi



Professor Sidney Argolo



Apresentação do grupo de flauta sob a orientação do professor Renato


Apresentação do grupo de dança Hip Hop coreografias criadas pelas crianças



ITAPUÃ QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ

Praia de Itapuã imediações do Farol

Foto Narcimária Luz


POR ROSÂNGELA ACCIOLY


O livro “Itapuã quem te viu, e quem te vê” de autoria da professora Narcimária Luz publicado pela EDUNEB Editora da Universidade do Estado da Bahia, apresenta uma visão poética da história do bairro de Itapuã, destacando o valor das diferentes civilizações que constituíram o bairro. A autora apresenta através de uma perspectiva pluricultural de educação, uma riqueza de detalhes sobre a presença dos tupinambá, portugueses, africanos e mais recentemente nos anos de 1940 a influência dos Estados Unidos. A narrativa utilizada pela autora, cria personagens que delinearão o encontro entre essas civilizações trazendo reflexões acerca das mudanças sócio-históricas que ocorreram ao longo do tempo na territorialidade de Itapuã, Salvador-Ba.

A oralidade como base da comunicação africano-brasileira, é explorada pela professora para compor narrativas que dão ao texto a estrutura de um auto-coreográfico. É assim, que nos deparamos com dramatizações poéticas que refletem os valores de civilizações,que apelam para contos, músicas,provérbios,etc. Esse belíssimo livro, recorre as histórias dos ancestrais, para anunciar a visão de mundo tupinambá, africana,européia e sua extensão urbano-industrial através dos EUA.Todo esse universo cênico é muito representativo para as crianças,pois de maneira lúdica o público leitor aprende: sobre os conflitos e tensões dessas civilizações que atravessaram o tempo em Itapuã;como essas civilizações coexistem; e vínculos comunais afrobrasileiros que se mantêm afirmando o direito à alteridade.

Os valores das civilizações aborígine e africana aparecem de forma contagiante e corajosa através de personagens que vivenciam aspectos da ancestralidade e a relação com o universo simbólico que transborda nas sociabilidades engendradas na relação com o mar, as dunas, mata, lagoas, rios, fauna característica de Itapuã, etc. Em “Itapuã quem te viu,e quem te vê”,podemos identificar modos de insurgência dos africanos/as e a afirmação do seu modo de viver face à imposição dos valores europocêntricos via Portugal e Estados Unidos.
O auto-coreográfico apresenta narrativas em que as crianças e jovens descendentes dos tupinambá e africanos se vêm para além das representações da historiografia oficial que tratam desses povos como escravos, incivilizados, primitivos, incapazes de história, tecnologias, literatura, arquitetura, farmacologia, matemática, idiomas, etc. Esta é uma grande sacada que ergue novos horizontes de abordagem da história das populações tupinambá e afrobrasileira na Bahia voltada para o público infanto-juvenil.


ITAPUÃ


Ilustração de Marcelo Luz


Dentro desse contexto, tudo se inicia a partir das personagens a “pedra que ronca” ITAPUÃ, e da pedra que carrega no seu interior a fartura de peixes PIRABOCA, ambas constituem o mito inaugural dos tupinambá.










PIRABOCA


Ilustração de Marcelo Luz


A outra personagem é o Farol de Itapuã, que se opõem a força mítica local e representa a imposição das forças portuguesas nas ações de conquista, exploração, opressão e expansão das relações coloniais na Bahia.






FAROL


Ilustração de Marcelo Luz


A personagem Plakafor revela-se na sedução dos tempos modernos que vão trazendo os valores capitalistas representando no século XX uma nova ordem mundial pautada no“Time is Money”.




PLAKAFOR


Ilustração de Narcimária Luz


Como não poderia deixar de ser, a autora resgata a riqueza da presença tupinambá e africana numa abordagem cosmogônica que traz: O Ojixê(mensageiro),um pássaro que dá força e coragem para iniciar o auto-coreográfico.Tem também Agemó (camaleão), o apalô que na tradição nagô é responsável pelas narrativas que asseguram as gerações futuras o acesso as histórias que caracterizam a formação da comunidade .




AGEMÓ


Iustração de Marcelo Luz


Essas são as personagens responsáveis por conduzir a linguagem lúdica nas teias da narrativa.Representando os tupinambá aparecem os curumins são as crianças,e a liderança do avô Aracê, guerreiro que zela pelos saberes de seus ancestrais.A presença africana está representada pelos awon Omodê, assim são chamadas as crianças do povo Nagô e Ologbon,também liderança comunitária e guerreiro que zela pelos saberes de seus ancestrais.
Esta perspectiva abre novos horizontes que vão sendo delineados pelos personagens utilizando a linguagem lúdico-estética como recurso teórico-metodológico que pode e deve ser usado pelos/as professores/as baianos, pois não é apenas a história do bairro de Itapuã que é abordada, mas a história da Bahia.


A adoção desse livro na s escolas baianas irá fortalecer o patrimônio civilizatório tupinambá e afrobrasileiro. “Itapuã quem te viu, e quem te vê” fala a todo o tempo da presença africana a partir da tradição nagô e dos povos inaugurais. Em todo o auto, respiramos esses universos, seus vínculos de sociabilidade, cuidados com a natureza, sua estruturas hierárquicas, enfim, valores e linguagens que, sobretudo reivindicam a alteridade civilizatória presente nas nossa comunalidades na Bahia.
Com certeza, um dos objetivos em realizar este grandioso trabalho é o de encorajar as novas gerações de educadores/as no sentido de aprofundar seus conhecimentos sobre as perspectivas de linguagens afrobrasileira em uma proposta pluricultural que se sustenta através das tradições que expandem o universo mítico simbólico do patrimônio civilizatório afrobrasileiro.
A publicação é um dos desdobramentos do estágio pós-doutoral da autora no campo da Comunicação e Cultura na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro com apoio do CNPQ, - Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico e da FBN-Fundação Biblioteca Nacional.





OLOGBON
Ilustração de Marco Aurélio Luz

Rosângela Accioly e´formada em Pedagogia,pesquisadora do PRODESE-Programa Descolonização e Educação,Professora da rede municipal de Lauro de Freitas e educadora da ACRA.

O livro está sendo vendido na EDUNEB-Editora da UNEB,LDM da Faculdade de Educação da UFBA e livraria do Aeroporto.

domingo, 19 de dezembro de 2010

IPAC DISPONIBILIZA LIVROS GRATUITAMENTE NA INTERNET

Foto disponível em www.ipac.ba.gov.br
Por Felipe Dieder

As cinco publicações sobre patrimônios intangíveis da Bahia estão disponíveis para download.
De importância fundamental para a memória e a difusão de bens culturais imateriais do estado, cinco publicações do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) sobre patrimônios intangíveis da Bahia já estão disponíveis para download gratuito nos sites da autarquia estadual, www.ipac.ba.gov.br, e da Secretaria de Cultura (SecultBA), www.cultura.ba.gov.br. Lá estão, na íntegra, os livros sobre a Festa de Santa Bárbara e o Desfile dos Afoxés, manifestações culturais que ocorrem em Salvador, o Carnaval de Maragojipe na cidade de mesmo nome, no Recôncavo baiano, a Festa da Boa Morte em Cachoeira, e o Pano da Costa que, segundo historiadores, foi o principal produto africano exportado e consumido na Bahia nos séculos 18 e 19. Ao acessar o site do IPAC, os interessados devem procurar o link downloads, que fica na barra superior da página principal do site oficial do instituto, buscar a sessão Cadernos do IPAC e escolher quais dos livros deseja. Os arquivos são obtidos em PDF (Portable Document Format) e podem ser salvos em qualquer microcomputador ou pen-drive.
As versões impressas variam de 90 a 120 páginas, cerca de 20 ilustrações e fotografias em cada exemplar que tem formato de 21 por 29,7 centímetros, fechado. “A distribuição dos livros impressos está sob coordenação do gabinete do IPAC, através do endereço eletrônico ouvidoria.ipac@ipac.ba.gov.br”, alerta Moniz. Três dos Cadernos do IPAC, o Desfile dos Afoxés, Festa da Boa Morte e Carnaval do Maragojipe, são complementados com documentários em DVD, que se encontram colados nas contracapas de cada exemplar das publicações. Os documentários foram produzidos com apoio do Instituto de Radiodifusão da Bahia - Irdeb, através da TV Educativa.
Para elaboração dos dossiês que permitem o registro de Patrimônios Imateriais da Bahia, o IPAC disponibiliza equipes formadas por historiadores, sociólogos, antropólogos, fotógrafos e museólogos, entre outros profissionais, que realizam coleta de documentos e fotos, entrevistas e pesquisas. Ao final, são analisados os dados e elaboradas justificativas, fazendo com que todo o material passe a integrar o dossiê. O IPAC deve realizar ainda estudos sobre o Ofício dos Vaqueiros, Ofício dos Mestres Organistas e sobre a Festa do Bembé em Santo Amaro da Purificação. Todos devem ganhar publicações exclusivas e vídeodocumentários.

(Contatos ASCOM/IPAC: (71) 3116-6673, 3117-6490, ascom,ipac@ipac.ba.gov.br.
Acesse: www.ipac.ba.gov.br Facebook: Ipacba Patrimônio Twitter: @ipac_ba)

COLEÇÃO HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA EM PORTUGUÊS

“Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.”
http://www.unesco.org/pt/brasilia/dynamic-content-single-view/news/general_history_of_africa_collection_in_portuguese/back/20527/cHash/fa3a677a3d/

domingo, 12 de dezembro de 2010

CORPO E IMAGEM DOS TERREIROS/DEBATE

No dia 18 de novembro,aconteceu o evento “Corpo e Imagem dos Terreiros” contemplado pela seleção pública de debates presenciais do Programa Cultura e Pensamento 2009/2010. O debate foi realizado no CEAO –Centro de Estudos Afro-Orientais,que teve a curadoria dos fotógrafos Denise Camargo e Paulo Rossi.A Mesa do debate além da participação de Marco Aurélio Luz também teve Bauer Sauer,Adenor Gondim ,Aristides Alves e Marcelo Bernardo da Cunha.
Nosso colaborador Marco Aurélio Luz apresenta para o blog da ACRA um breve relato da sua participação nesse evento.
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No centro Marco Aurélio Luz,à esquerda Aristides Alves e à direita Marcelo Bernardo da Cunha.

Marco Aurélio Luz iniciou o debate,trazendo como reflexão um trecho da carta de Accioly Neto(um dos chefões da revista O Cruzeiro) que gerou uma escandalosa reportagem nos anos 1950,cujo efeito principal foi alimentar o preconceito às religiões afro-brasileiras:

O que há é o seguinte : nosso chefe acredita QUE JOSÉ MEDEIROS SERÁ O ÚNICO FOTÓGRAFO BRASILEIRO CAPAZ DE REALIZAR UMA FAÇANHA SEMELHANTE – eu quase que participo da mesma opinião, muito embora os rapazes cá de casa digam que TAMBEM ELES PODERIAM FAZER O MESMO...Muito bem, você será capaz de nos trazer uma reportagem ao menos semelhante ao de Clouzot ? Bem sei que agora a coisa está mais difícil depois do escândalo da Paris-Match. Mas nada existe de impossível quando há dinheiro para gastar, e vocês estão autorizados a gastar o que for necessário para conseguir o que queremos. PARA LAVAR NOSSA CARA TÃO DURAMENTE ATINGIDA PELA REPORTAGEM DE CLOUZOT. (“nossa cara” quer dizer, nossa honra de revista que realiza as melhores reportagens do Brasil ). Você é capaz negróide amigo ? Pois então mãos à obra para construir o maior cartaz da reportagem brasileira. Veja se Arlindo o auxilia, se esse paulista peçonhento e prosa p’ra chuchu sabe fazer alguma cousa a não ser descobrir tramas comunistas inexistentes...”

(In Álvaro Kassab, “1951, o ano em que Clouzot, O Cruzeiro e intelectuais rodaram a baiana”. Jornal da Unicamp Ed. 259 de 19/07 a 1/08 de 2004. O trecho dessa carta tem origem na documentação da pesquisa do professor Tacca, ”Entre Paris Match e O Cruzeiro Imagens do Sagrado” de 1983.)

Clouzot foi um conhecido cineasta francês que publicou a reportagem “Les Possédes de Bahia” que foi reproduzida em seguida pelo jornal A Tarde.
A reportagem da revista O Cruzeiro foi intitulada “As Noivas dos Deuses Sanguinários”. Essas reportagens que deram o que falar e até morreu gente, se tornaram também um ponto de referencia para reflexões do fato pelos mais distintos ângulos.
Cabe-nos aqui procurar compreender como é construída a ideologia do preconceito pela linguagem desses meios de comunicação de massa.
Primeiramente cabe destacar que essa ideologia, que podemos assim dizer que se trata de uma tentativa de genocídio ideológico, já estava instalada nos arquivos da Razão de Estado da República principalmente a partir dos trabalhos acadêmicos de Nina Rodrigues e seu seguidor Arthur Ramos dentre outros.O primeiro utilizou-se das teorias da psiquiatria da época para projetar o conceito de histeria sobre a manifestação de entidades sagradas pelas sacerdotisas. Com isso visava depreciar a religião afro-brasileira fonte da cultura e da identidade do povo afro descendente. O segundo utilizou-se de um mito “recolhido” na África pelo tal Coronel Ellis, agente do colonialismo britânico e, da psicanálise da época, para dizer que a narrativa que se refere à origem dos orixás da religião é uma expressão do complexo de Édipo e, portanto a religião afro–brasileira e sua cultura eram “nevrosadas” e “atrasadas”. Convém sublinhar que antes disso esse mito era completamente desconhecido pela comunalidade das tradições nagô.

Um dos ângulos do auditório do CEAO e o público atento às contribuições do debate.

Essas construções ideológicas visavam dar instrumentos ao poder de estado para combater a forte presença das milenares tradições civilizatórias africanas herdadas pela ancestralidade afro brasileira procurando desqualificá-las e com isso projetar políticas genocidas visando a realização da política de embranquecimento iniciadas no tempo de D. João VI, uma estratégia para garantir a continuidade do modelo colonial.
Então as matérias da imprensa de que estamos tratando agora tem os mesmos objetivos, e além de tentar ganhar dinheiro com o aumento da tiragem visam alimentar o genocídio ideológico fortalecendo os estereótipos de “selvagens”, “bárbaros”, “primitivos” para garantir a continuidade neocolonial. Como na época, após a “segunda guerra mundial”, a ideologia do racismo da superioridade e inferioridade de “raças” humanas estava em baixa, a tática racista de então é de atacar as linguagens e os valores de civilização concentrados na religião.A tática então é operacionalizar a ideologia da imagem, especificamente a fotográfica. A fotografia ao nível da razão de estado ganha status de veracidade. “Ver para crer”, a relação olho cérebro é hipertrofiada e é a base da vigilância e das comprovações dos fatos no âmbito do Estado.


"No reino de Ossaiyn" Foto Narcimária Luz

Assim impulsionados pelo voyeurismo que caracteriza a semântica das descobertas, as reportagens quebram segredos e os transformam em “furos de reportagem”.
Na verdade a fotografia é uma construção da técnica de uma determinada sociedade. A ela é falsamente atribuída valor de veracidade, mas na verdade o resultado da foto passou pelas demandas institucionais ao fotógrafo, por suas projeções ideológicas, pelos efeitos de laboratório e de edição. Essa realidade, entretanto é oculta para o receptor para que se produza o efeito de falsidade ideológica.
No caso tanto o cineasta francês, quanto o fotógrafo brasileiro invadiram um espaço sagrado limitado, reservado apenas aos que tem poderes para lidar com determinados aspectos da liturgia. São sacerdotisas e sacerdotes com preparo e iniciação para tanto. Aqui se trata de forças invisíveis expressas através de representações simbólicas que integram uma cosmogonia que constitui uma sabedoria milenar desse acervo civilizatório.

"No reino de Ossaiyn" Foto Narcimária Luz


Sem considerar nada disso fotografou-se o fotográfavel, o visível e recortaram-se as imagens que interessavam capazes de provocar sensacionalismo e rejeição. Levaram esses recortes de imagem para outro contexto, o da presença colonial européia nos aparelhos ideológicos com seus valores discriminatórios dando as imagens uma outra significação reforçadas pelos textos.
Mãe Senhora Iyalorixá Oxun Muiwa nilê Axé Opo Afonjá e Iyanassô apontou novos caminhos deixando-se fotografar com toda sua majestade pelo o então fotógrafo Pierre Verger que recebeu o ijoye, o título de Oju Oba.

"No reino de Olokun" Foto Narcimária Luz


A partir de então a fotografia e os recursos de imagens cinematográficos ou eletrônicos podem ser técnicas aliadas para desmitificar o preconceito e para “louvar o que merece ser louvado” como expressa a música de Gilberto Gil. Já há muitos desses trabalhos em circulação e para tanto é exigida uma nova postura, o fotógrafo tendo de se situar num outro continente cultural envolvido por uma outra bacia semântica, onde o sagrado é envolvido por segredos e mistérios e como disse Mãe Senhora:- “metade se fala metade se cala”; e parafraseando podemos dizer; metade se fotografa, metade fecha-se o olhar.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Imagens Humanas Parte I

Apresentamos um vídeo especial com João Roberto Ripper,fotógrafo carioca que desenvolve trabalhos abordando as questões urgentes sobre direitos humanos.Ripper é um dos responsáveis pela Agência Escola Imagens do Povo na Favela da Maré no Rio de janeiro dedicada a formação de jovens fotógrafos.No vídeo, temos a oportunidade de conhecer o autor João Roberto Ripper comentando seu trabalho e pontos da exposição, sua primeira mostra intitulada “Imagens Humanas”.Essa Mostra foi resultado de trinta e cinco anos de encontros com realidades de populações de vários cantos do Brasil.A curadoria ficou sob a responsabilidade de Dante Gastaldoni que dedicou-se a selecionar do acervo de mais de 150 mil fotos as que compuseram a exposição em junho no Rio de Janeiro.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

PRODESE PARTICIPA DA ENCICLOPÉDIA INTERCOM DE COMUNICAÇÃO

A produção científica desenvolvida ao longo dos anos no âmbito do PRODESE, agora faz parte da Enciclopédia de Comunicação organizada pela Sociedade Brasileira de Estudos da Comunicação-INTERCOM. A professora Doutora Narcimária C. P. Luz foi convidada para contribuir com o Vol. I que apresenta 1.242 páginas que tratam de aspectos do conhecimento comunicacional (conceitos, categorias analíticas, expressões e referencias). Narcimária Luz colabora na Enciclopédia de Comunicação com o verbete “Ritos de Sociabilidade”, conceito vem estruturando seus estudos e pesquisas no campo da Comunicação e Cultura.
“O Primeiro volume da Enciclopédia Intercom de Comunicação, denominado de Dicionário Brasileiro de Conhecimento Comunicacional contou com a participação de mais de 300 autores-colaboradores que redigiram mais de mil verbetes. Os textos abordam conceitos relativos às áreas de propaganda, jornalismo, relações públicas, entretenimento, teleducação, bibliologia, fonografia, quadrinhologia, fotografia, cinematografia, radialismo, televisão, videologia e cibermidiologia” (http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/noticias/329.html)
O coordenador da Enciclopédia, Professor Doutor José Marques de Melo comentou sobre a importância da obra: “... Mobilizamos mais de mil pessoas, que trabalharam voluntariamente, no Brasil inteiro. O resultado desse mutirão intelectual esta, aqui, demonstrado, pretendendo ser um marco na consolidação do campo das Ciências da Comunicação, no Brasil, e um passaporte para a nossa inserção soberana na comunidade internacional da área. De posse desse referencial teórico, a INTERCOM ganha mais credibilidade, na arena mundial, atuando como difusora das identidades brasileiras, nesse campo vasto, porém, segmentado. Constituído, sobretudo, por microcomunidades que ora cooperam entre si, ora disputam espaco para assegurar a projeção já conquistada, sua vanguarda vem atuando, organicamente, para garantir mais recursos para o ensino e a pesquisa... A Enciclopédia INTERCOM pode ser um divisor de águas na história do pensamento comunicacional brasileiro, na medida em que habilita os membros da nossa comunidade acadêmica a assumir o perfil de intelectuais orgânicos.”
Vale à pena conferir a Enciclopédia em sua primeira versão, disponível em arquivo digital no endereço http://www.fundaj.gov.br/geral/ascom/Enciclopedia.pdf. A versão impressa será lançada em 2011.A professora Doutora Narcimária C. P. Luz está organizando para 2011, um ciclo de Conferências e Festivais desdobramentos da produção científica do PRODESE-Programa Descolonização e Educação, trazendo professores/as e pesquisadores/as, abordando aspectos no campo da Comunicação e Cultura.

“A MORTE VIOLENTA DO OUTRO NÃO PODE CONVERTER-SE EM FANTÁSTICO SHOW DA VIDA”.

Essa é uma das reflexões desenvolvidas por Muniz Sodré no artigo “Reality show em tempo real” publicado no Observatório da Imprensa dia 30/11/2010.
Trazemos para o espaço do blog ACRA essas e outras reflexões importantes sobre as narrativas midiáticas que vêm conduzindo as impressões sobre os acontecimentos no Rio de Janeiro. Muniz Sodré em artigo , tece comentários que tratam da ética do jornalismo que como ele mesmo diz” A mídia é aqui também objeto de preocupação”.
Destacamos uns fragmentos do artigo, mas convidamos nossos/as visitantes a ler na íntegra o texto disponível em: http://www.revistaforum.com.br/noticias/2010/11/30/reality_show_em_tempo_real/
Comenta Muniz:
“(...)Evocativa de Robocop, conhecido personagem cinematográfico, a máquina televisiva associou-se à metáfora da "máquina de guerra", usada pela mídia para caracterizar as ações policiais. Com ela, a cobertura converteu-se numa espécie de "Tropa de Elite 3", produzindo efeitos de identificação projetiva, segundo os quais estariam entrando em ação aqueles que o colunista Merval Pereira designou como "centenas de capitães Nascimento encarnados em cada um dos soldados do Bope" (O Globo, 26/11/2010).Como num filme ou numa telenovela, constrói-se uma polaridade (os bons contra os maus), da qual se alimenta a narrativa midiática. O texto de Destak é explícito: "Éramos nós atirando, acenando com bandeiras brancas sobre lajes e nos escondendo dos tiros dentro de casa, contra eles, que fugiam ou nos afrontavam. (...) A cidade se uniu diante da TV, tentando torcer por si". Essa polaridade ("nós" contra "eles") é tão falsa quanto a polaridade entre polícia e bandido, já que, na corrupção cotidiana, não raro um termo equivale ao outro.
E ainda:
Há algo de socialmente obsceno nesse transbordamento do espetáculo. É moralmente inadmissível essa assimilação de uma tragédia urbana, com mortes e sofrimento, a um show de TV. Nem faz justiça ao comportamento da polícia: o Bope sentiu-se prejudicado, em plena ação, pela cobertura televisiva; o secretário de Segurança enfatizou que "não há nada a celebrar". O comedimento da polícia é uma crítica implícita à falta de consciência crítica dos jornalistas. Como poderia manifestar-se essa consciência?Antes de tudo, no questionamento desse modelo de jornalismo, que confunde a informação responsável do fato com a exposição obscena (em seu sentido radical, esta palavra de origem latina significa postar-se diante da cena – ob-scenum – sem as devidas mediações culturais) dos acontecimentos. Simplesmente mostrar não é informar...”
Acompanhem o artigo na íntegra em :http://www.revistaforum.com.br/noticias/2010/11/30/reality_show_em_tempo_real/