segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

“A MORTE VIOLENTA DO OUTRO NÃO PODE CONVERTER-SE EM FANTÁSTICO SHOW DA VIDA”.

Essa é uma das reflexões desenvolvidas por Muniz Sodré no artigo “Reality show em tempo real” publicado no Observatório da Imprensa dia 30/11/2010.
Trazemos para o espaço do blog ACRA essas e outras reflexões importantes sobre as narrativas midiáticas que vêm conduzindo as impressões sobre os acontecimentos no Rio de Janeiro. Muniz Sodré em artigo , tece comentários que tratam da ética do jornalismo que como ele mesmo diz” A mídia é aqui também objeto de preocupação”.
Destacamos uns fragmentos do artigo, mas convidamos nossos/as visitantes a ler na íntegra o texto disponível em: http://www.revistaforum.com.br/noticias/2010/11/30/reality_show_em_tempo_real/
Comenta Muniz:
“(...)Evocativa de Robocop, conhecido personagem cinematográfico, a máquina televisiva associou-se à metáfora da "máquina de guerra", usada pela mídia para caracterizar as ações policiais. Com ela, a cobertura converteu-se numa espécie de "Tropa de Elite 3", produzindo efeitos de identificação projetiva, segundo os quais estariam entrando em ação aqueles que o colunista Merval Pereira designou como "centenas de capitães Nascimento encarnados em cada um dos soldados do Bope" (O Globo, 26/11/2010).Como num filme ou numa telenovela, constrói-se uma polaridade (os bons contra os maus), da qual se alimenta a narrativa midiática. O texto de Destak é explícito: "Éramos nós atirando, acenando com bandeiras brancas sobre lajes e nos escondendo dos tiros dentro de casa, contra eles, que fugiam ou nos afrontavam. (...) A cidade se uniu diante da TV, tentando torcer por si". Essa polaridade ("nós" contra "eles") é tão falsa quanto a polaridade entre polícia e bandido, já que, na corrupção cotidiana, não raro um termo equivale ao outro.
E ainda:
Há algo de socialmente obsceno nesse transbordamento do espetáculo. É moralmente inadmissível essa assimilação de uma tragédia urbana, com mortes e sofrimento, a um show de TV. Nem faz justiça ao comportamento da polícia: o Bope sentiu-se prejudicado, em plena ação, pela cobertura televisiva; o secretário de Segurança enfatizou que "não há nada a celebrar". O comedimento da polícia é uma crítica implícita à falta de consciência crítica dos jornalistas. Como poderia manifestar-se essa consciência?Antes de tudo, no questionamento desse modelo de jornalismo, que confunde a informação responsável do fato com a exposição obscena (em seu sentido radical, esta palavra de origem latina significa postar-se diante da cena – ob-scenum – sem as devidas mediações culturais) dos acontecimentos. Simplesmente mostrar não é informar...”
Acompanhem o artigo na íntegra em :http://www.revistaforum.com.br/noticias/2010/11/30/reality_show_em_tempo_real/

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