terça-feira, 7 de abril de 2015

LITERATURA INFANTO-JUVENIL AFRO-BRASILEIRA "OBÁ NIJÔ, O REI QUE DANÇA PELA LIBERDADE"


Professora aposentada da Universidade de Bielefeld, Alemanha

Moema Parente Augel

Com muita alegria, felicito a Editora Pallas pela publicação muito oportuna deste belo livro de Narcimária Correia do Patrocínio Luz, OBÁ NIJÔ, O REI QUE DANÇA PELA LIBERDADE, valiosa contribuição para a ainda escassa literatura infanto-juvenil afro-brasileira. 

A obra é enriquecida pelas ilustrações de Ronaldo Martins, imagens com traços e símbolos atraentes e significativos, inteiramente integradas e adequadas ao texto, coerentes com uma história de luta pela dignidade do povo negro no Brasil.
Ler e ouvir histórias é um importante impulso para a formação da criança e do adolescente pois amplia seu campo de informação e seus referenciais, reportando a sentimentos e emoções individuais e coletivos que influenciam a vida psíquica e social, proporcionando novos lugares de pertencimento identitário … ou de exclusão.

Coreógrafo Clyde Alafiju Morgan
Imagem disponível em http://correionago.ning.com/profiles/blogs/a-danca-e-a-acao-social

No Brasil, com sua multiplicidade étnica e a imposição de um padrão estético branco-ocidental, a mídia, seja ela falada ou escrita, em seu papel mobilizador de opinião, as artes, aí incluindo a literatura e a música, assim como a escola podem contribuir para a construção da identidade ou sua destruição, podem fortalecer a auto-estima ou intensificar o sentimento de inferioridade nos não brancos. Por isso mesmo, é especialmente necessário haver obras em que protagonistas negros, e índios também, sejam realçados positivamente, que personagens negras sejam apresentadas de forma altiva, que seja apresentada a existência e a atuação de heróis negros, reais e não apenas ficcionais. É o que acontece em OBÁ NIJÔ, O REI QUE DANÇA PARA A LIBERDADE.


Imagem disponível em http://inesrodrigues1.tumblr.com/post/60756307928/how-to-write-about-africa-tumblr-on-we-heart-it


O reconhecimento da origem comum  do pertencimento a um determinado grupo são fatores que influenciam fundamentalmente a identidade da criança. Sendo esse reconhecimento marcado por estímulos construtivos, a auto-estima e, com ela, a auto-afirmação, são reforçadas. Cimentar esse processo através da literatura é um dos recursos mais proveitosos e habilidosos para tal fim.


Imagem disponível em http://www.blahcultural.com/livro-conta-historia-da-cultura-africana-para-criancas/

Este livro não se direciona apenas a um público leitor afro-descendente, mas a todo brasileiro, independente de sua etnia ou origem, pois é de suma importância tanto o conhecimento e a divulgação de episódios de nosso passado histórico relativos à vida, ao labor e à resistência de nossos antepassados africanos, o que em geral ainda é silenciado, como a valorização da convivência na diversidade.
O herói Obá Nijô vai cativar de imediato não só as crianças e jovens que travarem conhecimento com ele, ao acompanhar sua vida em sua trajetória desde o nascimento, sua infância, as etapas de sua formação como dançarino da comunidade a que pertencia, empolgando mais adiante com a liderança que exerceu em sua comunidade e o papel libertário que representou.
Imagem disponível em http://veratabach.blogspot.com.br/2011_02_20_archive.html

A recriação da oralidade de origem africana no Brasil se mostra aqui pela narração da lenda da pedra que ronca, que deu o nome à localidade praiana Itapuã, hoje um conhecido bairro em Salvador, e onde se desenrola a trama. A realidade histórica apresenta, nas passagens discursivas do livro, personagens que realmente existiram e fatos que aconteceram durante o sistema escravista do Brasil colonial, como também correspondem à realidade histórica a referência a uma das fontes da economia da época, a caça às baleias, e a exploração impiedosa da mão de obra escrava nas armações espalhadas  no literal baiano.
Narcimária parte de um episódio concreto e real do passado brasileiro, para contar a vida e a singular trajetória de Obá Nijô, entrelaçando-a com informações factuais e de caráter histórico. A autora fascina os leitores com a singela história do menino que aprendeu a manifestar seus sentimentos e esperanças através da dança, descrevendo com vivacidade o aprendizado dos saberes de seus ancestrais e seus protetores espirituais a partir das tradições religiosas do povo negro, para abordar com sensibilidade pedagógica a questão mais ampla da opressão sofrida pelos africanos nas propriedades e empresas senhoriais e o papel de liderança exercido por Obá Nijô na resistência heroica contra a exploração e o roubo da liberdade.

Clyde Alafiju Morgan

Professor Associado de Dança Africana e Diretor Artístico do Dança Africana Sankofa e Ensemble Tambor na SUNY College, em Brockport.
Imagem disponível em http://www.brockport.edu/dance/people/cmorgan.html

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 Moema Parente Augel é mestre em Ciências Humanas pela Universidade Federal da Bahia e doutora em Literaturas Africanas pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Radicada na Alemanha, lecionou Português e Cultura Brasileira na Universidade de Bielefeld. Dedica-se, entre outras atividades, ao estudo da literatura afro-brasileira e da literatura guineense. Viveu na Guiné Bissau entre 1992 e 1998, tendo produzido e publicado diversos livros com ensaios analíticos tematizando a literatura daquele país.

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