quinta-feira, 12 de novembro de 2015

1ª MARCHA DE EMPODERAMENTO CRESPO DE SALVADOR- MARCHEMOS CAMINHANDO E CONSTRUINDO AS CANÇÕES

 Por Caroline Nepomuceno


“Só há poucos anos é que deixei de me preocupar com o quê os outros possam dizer sobre o meu cabelo. Só nesses últimos anos foi que eu senti consecutivamente o prazer lavando, penteando e cuidando do meu cabelo. Esses sentimentos me lembram o aconchego e o deleite que eu sentia quando menina, sentada entre as pernas de minha mãe, sentindo o calor do seu corpo e do seu ser enquanto ela penteava e trançava o meu cabelo.”
Bell Hooks- Alisando o nosso cabelo.


Nos últimos meses, a cidade de Salvador tem construído e presenciado uma grande chuva de acontecimentos que irá deixar marcas profundamente no coração e na estética de milhares de mulheres, crianças e homens negros. Foi construída e realizada a 1ª Marcha de Emponderamento Crespo de Salvador, cuja comissão organizadora contou com  Naíra Gomes, Ivy Guedes, Lorena Lacerda, Vanessa Ribeiro, Milla Carol, Nadja Santos, Hilmara Bitencourt, Samira Soares, Andréa Souza, João Vieira, Chermie Ferreira e Jack Nascimento. A ideia da Marcha surgiu depois da 1ª Marcha de Orgulho Crespo que ocorreu em julho na cidade de São Paulo. Foi então, que a comissão se reuniu com o intuito de repetir o mesmo nas ruas da cidade de Salvador.




Foto Caroline Nepomuceno


Com o auxílio de grupos políticos e estéticos no Facebook conseguiram se organizar e mobilizar mais de três mil pessoas nas ruas de cidade de Salvador no último dia 7 de novembro de 2015. Em um cortejo negro-afro que seguiu da Praça do Campo Grande até a Praça Castro Alves, o que se ouvia era um clamar negro que se repetia : “Eu estou na rua é pra lutar pelo direito do cabelo encrespar!” e mais “Cabelo crespo não é moda, pelo contrário, é resitência e história!”.
As organizadoras da Marcha definem seus obejtivos de forma bem sucinta na página do Facebook:
A Marcha do Empoderamento Crespo é um ato político de reconhecimento identitário e fortalecimento de um povo que historicamente tem a sua existência negada. É necessário pautar o cabelo crespo, expressar nossa raiz e ancestralidade, mas entendemos que essa luta ultrapassa o viés estético, ela é um campo de afrontamento ao racismo. Através do debate afirmativo da estética negra, queremos empoderar o corpo negro, que é maioria na defasada e descontextualizada rede pública de ensino, que é maioria nos presídios, que morre todo dia pela ação violenta da polícia, que é arrastado por quilômetros pela viatura policial, que é maioria no subemprego, que é maioria entre os 'moradores de rua', que está vulnerável à violência, que é maioria numérica, porém, uma minoria política e social. Por isso, entendemos que o nosso movimento é relevante e necessário e vem pra somar às lutas antirracismo.
E mais, como forma a dialogar com diferentes comunidades locais, ocorreram duas Pré- Marchas. A primeira pré- marcha ocorreu no dia 29 de setembro de 2015, no bairro do Cabula, no campus da Universidade do Estado da Bahia, contando com um público de 100 pessoas. A Pré- Macha contou com intervenções artísticas, oficinas de turbantes e rodas de debates, além de abrir espaços para jovens empreendedoras negras.

Foto Caroline Nepomuceno


A segunda pré- marcha aconteceu no bairro do Nordeste de Amaralina, no dia 17 de outubro de 2015. Organizada próxima ao ao dia das crianças (12 de outubro), estas se mostraram como pauta principal da marcha. Entre oficinas de turbantes, contação de histórias e contos infantis, rodas de conversas, produções de cartazes e apresentações artísticas do Grupo Boca Quente e do grupo de percussão Quabales, do próprio bairro, a caminhada seguiu nas ruas finalizando seu trajeto com uma grande roda no largo do fim de linha do bairro.



Foto Caroline Nepomuceno


A 1ª Marcha de Emponderamento Crespo contou com o apoio a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado ( Sepromi), a Secretaria Municipal da Reparação (Semur), Secretaria de Políticas para Mulheres ( SPM Bahia), entre outros órgãos e organizações.
Como todos sabemos, o negro na sociedade brasileira construiu inúmeras formas de resistências, desde a criação e manutenção de quilombos, rebeliões, revoltas, construção de Irmandades, caixas de alforrias, constituição de movimentos sociais unificados, etc. Na década dos anos 1960, surge o movimento Black Power como forma de afirmação e valorização do corpo e estética negra.
Hoje encontramos novas formas de racismos na sociedade, por se encontrarem de forma velada e silenciosa, se torna mais perigoso e sutil. Com a utilização das redes sociais pela grande massa da população temos nos deparado com atitudes racistas que agridem desde pessoas anônimas aos olhos da mídia até modelos, atrizes e apresentadoras de TV.
Diante dessa urgência, é mais do que pertinente a necessidade de nos fortificarmos para enfrentar situações preconceituosas como as citadas. Atos políticos como o que foi proposto pela 1ª Marcha de Emponderamento Crespo devem servir de inspiração e de fortalecimento da identidade negra e, por que não, do seu empoderamento?
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Caroline Nepomuceno é Professora da Rede Municipal  de Educação

Fonte:







Um comentário:

  1. Prezada Carol feliz demais em ter educadoras comprometidas com o fortalecimento da identidade das crianças negras na escola. O sucesso do movimento se da porque temos um objetivo comum: O Fim do Racismo. Gratidão
    Ivy Guedes

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