Por Marco Aurélio Luz
As esculturas que compõem e adornam as varandas dos palácios reais yoruba tem um valor estético e histórico. Elas também expressam variados aspectos da visão de mundo característica do reino através da arte escultórica tradicional.Foto Marco Aurélio Luz
Tive a honra e a alegria de conhecer o escultor Fakeye durante a IIª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura em 1983 realizada em Salvador.
A Iª Conferência foi realizada em Ifé cidade sagrada da tradição yoruba com a presidência do professor Wande Abimbola reitor da Universidade. Com a representação ilustre de Mestre Didi Alapini da tradicional família Axipá, o Brasil foi indicado e qualificado para realizar a próxima Conferência em Salvador.
A Iª Conferência foi realizada em Ifé cidade sagrada da tradição yoruba com a presidência do professor Wande Abimbola reitor da Universidade. Com a representação ilustre de Mestre Didi Alapini da tradicional família Axipá, o Brasil foi indicado e qualificado para realizar a próxima Conferência em Salvador.
Nessa ocasião a delegação africana, a mais representativa composta de mais de trinta líderes sacerdotais promoveu um reencontro histórico que deveras engrandeceu ainda mais a Conferência enchendo de orgulho a comunalidade religiosa africana, afro- brasileira e afro-americana.
Fakeye integra a delegação dos africanos ensejando o reencontro histórico visitando o terreiro do Gantuá ou Gantois ou ilê Iya Omi Axé Iyamasse sendo recebidos com muita alegria nos corações pelos integrantes da comunidade religiosa durante a IIª Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura. Foto A. Ikissima.
Além das atividades no Centro de Convenções de Salvador, os reencontros se sucediam em visitas as casas de culto, ilê axé de Salvador e recôncavo, alegrando e enchendo de felicidade os corações de nossa gente. Em outra passagem de Fakeye pela Bahia encontrei-me com ele a partir de uma exposição de suas peças no ACBEU, Associação Cultural Brasil-Estados Unidos.
Convém lembrar que desde 1962 quando era artista em residência na Western Michigan University, Fakeye inicia inúmeros intercâmbios com Universidades, museus e galerias dos EUA até 1999 quando é nomeado Artista Visitante Kellog para Michigan: Smithsonian exposição retrospectiva.
Catálogo da Exposição de Fakeye no ACBEU (Salvador Bahia)
Quando estive com Fakeye era grande a minha admiração especialmente porque iniciava meus trabalhos de escultor no âmbito da arte sacra tradicional nagô.
Então fui me aproximando muito a vagar até que fui convidado a visitá-lo na moradia que o estava abrigando em Salvador. Era num conjunto de apartamentos debruçado na Av. Vasco da Gama. Foi nessa ocasião que tive a felicidade de adquirir uma magnífica peça de um oxê Xangô.
Coluna
Escultura de Fakeye
A partir de então em outra ocasião tive a coragem e a ousadia de lhe apresentar também um oxê Xangô, de minha autoria. Ele observou com cuidado e admiração e depois de alguns segundos, que pra mim pareciam horas, ele perguntou-me qual era aquela madeira...?
Oxê Xangô escultura de Marco Aurélio Luz
Foto M.A.Luz
Tão entusiasmado eu estava, e sabendo que Fakeye desde 1978 era docente da Universidade de Ifé, ou Obafemi Awolowo University, que me interessei em procurar me aprimorar num aprendizado indo para lá; mas aí ele me tranqüilizou dizendo:
-“Vá fazendo as esculturas, quando estiver com umas vinte já vai estar bem”...
Desde então tenho seguido seus conselhos, e também estudando e observando a estética da tradição, vivenciando os valores da visão de mundo milenar que se expressa através de complexa simbologia.
-“Vá fazendo as esculturas, quando estiver com umas vinte já vai estar bem”...
Desde então tenho seguido seus conselhos, e também estudando e observando a estética da tradição, vivenciando os valores da visão de mundo milenar que se expressa através de complexa simbologia.
Lamidi Fakeye Olonade nasceu em 1928 em Orangun, Nigéria. Foi-lhe dado o nome de Olonade que significa, o escultor chegou. Ele constitui a sexta geração de escultores da arte tradicional yorubá.
O nome Fakeye como é mundialmente conhecido, é um nome de família originado de um título recebido por seu bisavô que foi escultor e babalawo. Esse título refere-se ao sacerdócio de Ifá dedicado ao oráculo, e foi concedido pelo rei o direito das gerações seguintes usá-lo como nome de família.
Lamidi Fakeye Olonade
Foto disponível em Smithsonian Natural History web: African Voices.
As obras de Fakeye estão espalhadas pelo mundo desde África. Suas esculturas têm um tratamento complexo e bastante detalhado com sutis e cuidadosas terminações com muita figuração geométrica. Elas possuem o mais das vezes dimensões imanentes e transcendentes que envolvem a simbologia que atravessa o cotidiano da gente yorubá.
Seu estilo único é muito complexo, as peças são muito trabalhadas e adornadas, leves sutis e elegantes.
Fakeye nos deixou em 2009, mas nos legou uma obra magnífica que está sendo herdada e continuada por seus parentes descendentes, Akin Fakeye, Akeen Fakeye, e Lukman Fakeye.
Aproveito então para saldar o mestre Lamidi Fakeye Olonade:
Olorun ko si pu re.
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