sábado, 19 de novembro de 2011

ITAPUÃ ÁFRICA VIVA!


Ilustração de Maurício Luz 1993

“Na convivência profunda que temos com os valores e linguagens que caracterizam a comunalidade de Itapuã fomos encorajados a tentar promover nas escolas e na Universidade espaços institucionais que provocassem novas reflexões no campo educacional, e que não se restringissem a denunciar o recalque, o preconceito empiricamente constatados, mas, sobretudo, apresentassem linguagens pedagógicas baseadas nos valores da alteridade civilizatória africano-brasileira.
Na Mini Comunidade Oba Biyi,primeira experiência de Educação Pluricultural no Brasil e com a qual aprendemos muito ao longo dos anos se entoava un canto nagô:
“Aiyó, aiyó, alegria alegria., omo nilê aiyó”, filhos da casa alegria. É essa alegria que envolve ou deve envolver o espaço, luzes e cores, tatilidade, sinergia, comunalidade, sociabilidade na educação desdobrada dos valores e linguagem da tradição africana. Na Mini, a alegria estava na vida cotidiana, no brincar, no elaborar, no aprender, jogando, representando, transformando, criando, fazendo arte conjuntamente num só corpo comunal. Enfim, a Mini propiciava um gostar de estar no mundo, se divertindo e sublimando a angústia existencial, substituindo-a pelo efeito estético da busca da beleza, odara, e pela busca do conhecimento que implica sobretudo em aceitar o mistério do existir.”
(LUZ,Marco Aurélio.O rei nasce aqui.(contra-capa).Salvador:Fala Nagô,2007).

Os caminhos que vamos trilhando indicam a possibilidade de uma educação em que nossas crianças e jovens aprendam a lidar com o repertório de códigos da sociedade urbano-industrial, mas utilizando-os como estratégia de legitimação da alteridade civilizatória africana; no caso, conquistando espaços institucionais, e neles fincar, recriar e expandir também, o repertório de valores da comunalidade.
A educação nesta ambiência singular africano-brasileira em Itapuã,terá como a linguagem pedagógica fundamental, o intercâmbio constante com o universo espaço-temporal mítico, predominantemente odara, que envolve o mistério do existir, o conhecimento vivido e concebido, conhecimentos e experiências aprendidos por toda a vida.
Resolvemos então propor esse auto-coreográfico “Itapuã quem te viu e quem te vê”,que será um núcleo irradiador de linguagens que naturalmente irão penetrar no cotidiano das escolas fincadas em Itapuã.


Espaço da capoeira na ACRA
Foto Narcimária Luz

Itapuã quem te viu e quem te vê,faz um apelo ao universo simbólico afro-brasileiro, dando forma as narrativas de mitos, provérbios,música polirrítmica de base percurssiva, danças, dramatizações, repertório culinário, conhecimento milenar sobre a complexidade de vida que atravessa as dunas,o mar,a lagoa, as hierarquias comunitárias e suas instituições, organização territorial, repertório de cantigas e histórias dos pescadores que acumulam narrativas valiosas sobre os princípios fundadores da territorialidade, o mistério do viver e as estratégias de continuidade da tradição herança dos antepassados.”

Trecho do livro ITAPUÃ QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ autoria Narcimária Luz.
Salvador:EDUNEB,2009.

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