SÓCIO-PSICANÁLISE
A PRESENÇA DO PALMARES
Apresentação em Salvador do auto do “Nego Fugido”
Imagem disponível em http://dancasdobrasil.blogspot.com.br/2010_10_01_archive.html
Imagem disponível em http://obomdoacupe.dihitt.com.br/n/fotos/2012/07/11/fotos-do-acupe--nego-fugido-2012
Foto M. A. Luz
Um altar num terreiro de Umbanda em Santa Rosa de Viterbo na região de Ribeirão Preto no interior de S. Paulo acendeu-me a idéia de compará-lo com um relato de Arthur Ramos no livro "O Folklore Negro do Brasil" referente a uma comemoração nas imediações da Serra da Barriga onde existiu o Quilombo dos Palmares.
Dizia ele: “No brinquedo dos quilombos a que eu assisti, em pequeno na cidade do Pilar (Alagoas) havia a cena inicial das danças dos negros, com muitos cânticos, de que guardei os seguintes:
Branco não vem cá
Se vié o diabo há de leva
Folga nêgo
Branco não vem cá
Se vié
Pau há de leva
Folga parente
Cabôco não é gente”
Convém lembrar que o paulista bandeirante Domingos Jorge Velho contratado pela Coroa Portuguesa para combater o Palmares numa derradeira batalha, conforme Edison Carneiro:“Em épocas diferentes, computava os seus homens, ora em 800 indios e 150 brancos”... Com essas referências aproximei a macumba, um culto aos ancestrais, incluindo também a saga do Palmares e a simbologia dos chefes maiores Ganga Zumba e Zumbi.
Mas essa é uma referência de certa forma censurada, sublimada e deformada no imaginário, e Zumbi é então tido como uma entidade que “vagueia altas horas da noite. Tornou-se uma entidade indeterminada, sem forma e sem culto, identificando-se com a multidão das almas penadas, fantasmas, espíritos errantes”...
E adiante, “a Umbanda se assemelha a um sonho isto é a linguagem mais característica do inconsciente. Um sistema de mitos, símbolos e representações imaginárias que é na verdade a linguagem de uma formação social.”
Como culto aos ancestrais a Umbanda ritualiza em sua liturgia a ancestralidade africana no Brasil, caracterizada por desafios e lutas, mas também pela confraternização comunitária, e pela expressão estética sedutora, encantadora de alegria e beleza.
Convém aqui entretanto sublinhar, que as giras de Caboclo na Umbanda, creio eu, derivam ou têm uma analogia com os candomblés de Caboclo que realizam um culto aos ancestrais à maneira africana de enaltecer os fundadores de um território, os “donos da terra” no caso os primeiros habitantes do Brasil.
A PRESENÇA DO PALMARES:ESPIRITUALIDADE, ANCESTRALIDADE E HISTÓRIA.
Convém registrar que no ano de 1.980 quando houve um ato político de retomada dos valores do Palmares pelo movimento negro na serra da Barriga, lá esteve Mãe Hilda Jitolu a Iyalorixá que sustenta as bases religiosas do bloco Ilê Aiyê e seus desdobramentos culturais. Mãe Hilda aceitou convite de Abdias do Nascimento para realizar os rituais necessários para manter em paz e em bom lugar no orun no além o espírito de Zumbi.
Certa feita, mais recentemente Joel Rufino me disse a boca pequena que essa abordagem foi mais uma centelha que ajudou a acender, e concorrer para pouco mais adiante, favorecer o interesse do movimento negro em resgatar e reverenciar a memória de Zumbi e do Quilombo dos Palmares numa simbologia política de luta de afirmação. Possa ser... tanto mais que eu já tinha muitas amigas e amigos nesse processo, dentre as quais destaco as renomadas e admiradas professoras Lélia Gonzales e Beatriz Nascimento de saudosa memória. Convém observar que uma pequena bibliografia já existia com outras abordagens como o livro de Édison Carneiro, O Quilombo dos Palmares, o de João Felício dos Santos, Ganga Zumba, e ainda o enredo de 1960 da escola de samba Salgueiro campeã com o tema O Quilombo dos Palmares, e alguns ensaios do Movimento Negro a procura de uma data comemorativa da Consciência Negra como alternativa ao 13 de maio.
Mãe Hilda ladeada por Passarinho e Abdias Nascimento no caminho do Palmares
Depois desses acontecimentos o movimento negro consegue incluir a memória de Zumbi no panteão dos heróis nacionais, são feitas inúmeras homenagens, erguidos monumentos, e estabelecida uma data alusiva ao Palmares e feriado comemorativo ao Dia da Consciência Negra.
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