domingo, 5 de maio de 2013

UM DESABAFO:RECALQUE AO LEGADO DO POVO AFRICANO-BRASILEIRO.


 
Por Sérgio Bahialista

Minha busca enquanto educador sempre foi fomentar a Descolonização da Educação e, acima de tudo, enaltecer a beleza ser/estar do humano nesse nosso mundo. O principal problema é que temos uma maré do racismo contra nossa caminhada. E o pior deles é o racismo institucional.
Fui feliz da vida comprar o livro “Educação nos Terreiros e como a escola se relaciona com crianças de candomblé”, da renomada autora Prof. Drª Stela Guedes Caputo (essa chamo de Doutora com orgulhooo!), para dar de presente de aniversário para a minha malunga querida Mille Caroline.
Ao chegar numa grande livraria de um shopping em Salvador,comecei a procurar na seção de Educação, já que se trata de um livro científico, de caráter educativo e com muitas riquezas de resultado de uma pesquisa de Doutorado da autora. Por “morrer” de procurar e não achar o livro nessa seção, pedi ajuda a uma das assistentes e a mesma foi no sistema e viu que o livro estava na seção de Esoterismo. PASMEM!
Minha cara de espanto e de revolta foi nítida. Argumentei na “bucha” com ela:
 – Mas esse livro é um livro sobre EDUCAÇÃO. O que ele faz na seção de esoterismo? Só porque trata de crianças do candomblé? Que absurdo! Chame sua Gerente, por favor!” . Pois é, armei logo o barraco!
Ela me disse que não podia fazer nada porque os livros eram catalogados pela central da livraria,que fica em São Paulo.
Até quando vamos aguentar esse racismo institucional? Aí vc pode me dizer que foi apenas um engano e que não tem nada de racismo nisso. E eu te digo: É RACISMO , SIM! A partir do momento que se destitui o cunho cientifico e educativo de um livro dessa magnitude e o resume a conteúdo “esotérico”, é racismo. Sei que muito do esoterismo também tem grande relevância e merece profundo respeito, mas aqui a questão é outra, pois “o buraco é bem mais embaixo”, meu irmão. 
O “simples” fato de relegar as religiões de matriz africana a “esoterismo” já é uma forma de recalque, de minimizar o grande valor que elas têm, para o povo africano-brasileiro. E isso é um reflexo da educação colonizada que fomenta no espaço educativo institucionalizado que insistimos em chamar de ESCOLA (o que já deixou de ser há muuuito tempo! Para quê essa escola?) a prática da discriminação do legado cultural, ancestral que nossas crianças de terreiro carregam.
 Quando será que nossas ações afirmativas, nossas frentes de trabalho nas Universidades da vida, nos grupos de pesquisa, nas pesquisas de Mestrado e Doutorado, no movimento Hip Hop, nas mobilizações comunitárias, centros Pastorais Afro, na Coisa Forte Produções, no Sarau Bem Black e Sarau da Onça, vão impactar as instituições, seus dirigentes, para que esse erro histórico seja dizimado?
Às vezes fico “desesperançoso” ao ver coisas desse tipo, mas ao mesmo tempo, olho para tantos exemplos de afirmação desses valores ancestrais, nos nossos espaços educativos, nas nossas comunidades e vejo que podemos SIM combater tudo isso.
Fica aqui minha nota de repúdio à livraria que estabeleceu essa infeliz classificação racista para as obras dedicadas a afirmação dos valores da civilização africano-brasileira, e a todo sistema organizado que insiste em arquitetar formas de recalcar o respeito à diversidade e pluralidade cultural dos povos milenares, que formam nossa identidade.
E como diria Raulzito: e fim de papo!
P.S: Antes de argumentar contra o que digo, por favor, leia esse livro e depois me diga se é isso mesmo.

2 comentários:

  1. Eita prodesiano arretado de bom! Contra fatos não há argumentos?!

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  2. Conheço você e sei do que está falando, Sérgio Bahialista. E sei também de como estas empresas tratam a cultura, a religiosidade, a história e a estima do povo negro da Bahia e do Brasil. Merece enviar uma reclamação à central dessa livraria que não respeita negros e negras.

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