Por Sérgio Bahialista
Minha busca enquanto educador sempre foi fomentar a
Descolonização da Educação e, acima de tudo, enaltecer a beleza ser/estar do
humano nesse nosso mundo. O principal problema é que temos uma maré do racismo
contra nossa caminhada. E o pior deles é o racismo institucional.
Fui feliz da vida comprar o livro “Educação nos
Terreiros e como a escola se relaciona com crianças de candomblé”, da renomada
autora Prof. Drª Stela Guedes Caputo (essa chamo de Doutora com orgulhooo!),
para dar de presente de aniversário para a minha malunga querida Mille
Caroline.
Ao chegar numa grande livraria de um shopping em
Salvador,comecei a procurar na seção de Educação, já que se trata de um livro
científico, de caráter educativo e com muitas riquezas de resultado de uma
pesquisa de Doutorado da autora. Por “morrer” de procurar e não achar o livro
nessa seção, pedi ajuda a uma das assistentes e a mesma foi no sistema e viu
que o livro estava na seção de Esoterismo. PASMEM!
Minha cara de espanto e de revolta foi nítida.
Argumentei na “bucha” com ela:
– Mas esse
livro é um livro sobre EDUCAÇÃO. O que ele faz na seção de esoterismo? Só
porque trata de crianças do candomblé? Que absurdo! Chame sua Gerente, por
favor!” . Pois é, armei logo o barraco!
Ela me disse que não podia fazer nada porque os
livros eram catalogados pela central da livraria,que fica em São Paulo.
Até quando vamos aguentar esse racismo
institucional? Aí vc pode me dizer que foi apenas um engano e que não tem nada
de racismo nisso. E eu te digo: É RACISMO , SIM! A partir do momento que se
destitui o cunho cientifico e educativo de um livro dessa magnitude e o resume
a conteúdo “esotérico”, é racismo. Sei que muito do esoterismo também tem
grande relevância e merece profundo respeito, mas aqui a questão é outra, pois “o
buraco é bem mais embaixo”, meu irmão.
O “simples” fato de relegar as religiões de matriz
africana a “esoterismo” já é uma forma de recalque, de minimizar o grande valor
que elas têm, para o povo africano-brasileiro. E isso é um reflexo da educação
colonizada que fomenta no espaço educativo institucionalizado que insistimos em
chamar de ESCOLA (o que já deixou de ser há muuuito tempo! Para quê essa escola?)
a prática da discriminação do legado cultural, ancestral que nossas crianças de
terreiro carregam.
Às vezes fico “desesperançoso” ao ver coisas desse
tipo, mas ao mesmo tempo, olho para tantos exemplos de afirmação desses valores
ancestrais, nos nossos espaços educativos, nas nossas comunidades e vejo que
podemos SIM combater tudo isso.
Fica aqui minha nota de repúdio à livraria que
estabeleceu essa infeliz classificação racista para as obras dedicadas a
afirmação dos valores da civilização africano-brasileira, e a todo sistema
organizado que insiste em arquitetar formas de recalcar o respeito à
diversidade e pluralidade cultural dos povos milenares, que formam nossa
identidade.
E como diria Raulzito: e fim de papo!
P.S: Antes de argumentar contra o que digo, por
favor, leia esse livro e depois me diga se é isso mesmo.
Eita prodesiano arretado de bom! Contra fatos não há argumentos?!
ResponderExcluirConheço você e sei do que está falando, Sérgio Bahialista. E sei também de como estas empresas tratam a cultura, a religiosidade, a história e a estima do povo negro da Bahia e do Brasil. Merece enviar uma reclamação à central dessa livraria que não respeita negros e negras.
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