quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

WALDEMAR SANTANA,Um nome na história

Imagem disponível em
http://mundomarcial.site40.net/images/capoeira_site.jpg
Por Marco Aurélio Luz
Hélio Gracie  foi grande , mas não podemos esquecer de Waldemar Santana.
 
Num programa de TV recente o Mestre de capoeira Boa Gente, lamenta que um feito histórico não esteja devidamente registrado como merece. Segundo ele, a história permanecerá incompleta sem a presença heróica de Waldemar Santana.
Um aluno de capoeira de Mestre Bimba, meu amigo Muniz Sodré, o Americano, contou-me que em uma de suas lições o mestre perguntou aos seus alunos o que fariam se tivesse pela frente alguém os ameaçando armado com uma faca. Todos contaram suas bravatas demonstrando os golpes que dariam para livrá-los de tal situação e ainda dominar o agressor. Mestre Bimba nada disse, só ouviu. 
Mas a ansiedade do grupo fez com que ousassem a pergunta inevitável:

-E o senhor Mestre o que faria?
Ao que Bimba respondeu mais ou menos assim:
-Eu? Eu saía correndo! Se insistisse procurava uma esquina para surpreender escorando...

Imagem disponível no Google imagens Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional

A capoeira nasce com a ginga para enfrentar um adversário melhor armado, procurando estratégias de contornar e evitar o combate de frente, para surpreender num momento mais favorável. É a inspiração da Rainha Ginga do Ndongo (Angola), a Rainha Invisível, na luta contra os portugueses escravistas, guerra de deslocamentos através dos kilombos, acampamentos militares que manteve a independência de seu território em 1.657.


Monumento em homenagem à Nzinga Bandi Kiluanji em Angola, a Rainha Ginga
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“Pois, pois”, como dizem os outros...
No ano de 1955 Waldemar Santana um dos maiores lutadores que o mundo já viu discípulo de Mestre Bimba, morando no Rio de Janeiro estava na ambiência da academia de jiu-jítsu de Hélio Gracie, até então, tido como maior lutador do Brasil. 

Waldemar Santana
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Vai que quis o destino que Waldemar fosse enfrentar Hélio numa luta de vale tudo, com quimono e sem rounds e tempo determinado. O público lotou o ginásio de esportes. Com toda imprensa apoiando Hélio, envolvida pelas ideologias racistas só esperavam a confirmação da "superioridade do branco descendente de inglês".
Em entrevistas em revistas e jornais Hélio Gracie se gabava de além de ser o exímio lutador de jiu-jítsu e de ter já vencido os mais temíveis lutadores do Oriente e do Brasil, era ele um Gracie, descendente de ingleses por si só superior ao negro Waldemar que inclusive desonrara a sua academia se prestando a lutar em lutas combinadas de exibição para ganhar algum dinheiro.
O jornal Última Hora abriu espaço para promover o desafio e diante das afirmações de Hélio Gracie, o “Leopardo Negro”, Waldemar Santana o desafiou. Com a ideia de dar uma lição no jovem ousado, Hélio logo aceitou.
  

Waldemar Santana também frequentava academia de capoeira no R.J.
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A luta tornou-se uma das mais longas que o mundo já viu. Sabendo que as armas de Hélio eram as chaves do jiu-jitsu, Valdemar adotou a tática do tatu, acocorado no chão enfeixado sobre si mesmo, não permitia uma sobra de membro que pudesse favorecer as táticas do adversário. Quando esse dava uma brecha tentando catar um braço, uma perna, um dedo, um pescoço, Valdemar punha-se de pé e forçava Hélio a persegui-lo dando um e outro golpe no contra ataque, em seguida, pronto novamente enroscado como o tatu. Depois de 3 horas e 45 minutos, considerada a luta de vale- tudo mais longa do mundo, com Hélio exausto e desguarnecido Valdemar desferiu a meia lua de compasso, o pé voa na cara do oponente. O adversário caiu desfalecido.

A vitória histórica de Waldemar Santana sobre Helio Gracie
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Um verdadeiro tsunami atingiu os entulhos ideológicos racistas espalhados pela mídia em geral. Todavia Nelson Rodrigues escreveu famosa crônica enaltecendo o feito.
“Há 20 e tantos anos que os Gracie mantinham uma invencibilidade que parecia definitiva. Por isso há tanta gente querendo dar rádio, televisão, e até ferro elétrico a Waldemar. E não há dúvida de que ele bem o merece.
No dia de sua vitória, houve alegria universal, sim. O fraco sentiu-se menos fraco, o humilhado menos humilhado, e o marido que não pia em casa levantou, por 24horas
 a crista abatida. Todos nós somos cúmplice de Waldemar.”[1]
Waldemar Santana, filho da Bahia, a Roma Negra, como disse Mãe Aninha, Iyalorixa Oba Biyi, entra para nossa história, para nossa honra.




[1] http://oglobo.globo.com/esportes/o-centenario-do-pai-do-jiu-jitsu-10218847

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

MESTRE DIDI EDUCADOR CONTEMPORÂNEO PARTE 2


Por Narcimária Correia do Patrocínio Luz

 É no âmago do desejo de Mãe Aninha de ver no futuro as crianças da comunidade de anel no dedo e aos pés de Xangô, que Mestre Didi  ,implanta  no Brasil, particularmente na Bahia, a primeira experiência de educação pluricultural, Mini Comunidade Oba Biyi, que se desenvolveu de 1976 à 1986 ancorada nos princípios e valores do patrimônio milenar africano reposto e recriado no Brasil. Aqui se inscreve a proposta de educação da Mini Comunidade Oba Biyi, que pode ratificar, e de certa forma atender o desejo de Mãe Aninha. Esse nome em sua homenagem caracterizou, uma pequena comunidade (mini) que reuniu crianças dos 3 meses de idade aos quatorze anos. Oba Biyi, era uma forma de homenagear o nome sacerdotal nagô de Eugênia Anna dos Santos.

                          Mestre Didi inspirador e criador da Mini Comunidade Oba Biyi
Foto M.A.Luz               
 A proposição de uma educação no contexto desse desafio é promover uma linguagem pedagógica que estabeleça uma relação dinâmica entre os valores sociocomunitários da tradição, e os códigos da sociedade oficial, exigindo e assegurando nesta relação o direito à identidade própria. Assim,se instala no âmbito da Mini Comunidade Oba Biyi, uma estratégia  para  no contexto da modernidade, formar pessoas capacitadas para  interagir com os códigos da sociedade industrial  e reforçar ao mesmo tempo os valores da comunalidade africano-brasileira.De anel no dedo e aos pés de Xangô,  é procurar superar os obstáculos, que se institucionalizaram na África e no Brasil, e em outros países ex-colonizados através da pedagogia eurocêntrica.
De anel no dedo aos pés de Xangô,  é a possibilidade de uma educação em que nossas crianças aprendam a lidar com o repertório de códigos da sociedade eurocêntrica, mas utilizando-os como estratégia de legitimação da alteridade civilizatória africana; no caso, conquistando espaços institucionais, e neles fincar, recriar e expandir também, o repertório de valores da tradição africano-brasileira.
Outra pessoa que conversamos sobre a concepção espaço-temporal da Mini, foi Marco Aurélio Luz que participou  também da coordenação da experiência de educação no período de 1978 à 1985.
“A forma de comunicação básica da Mini, não se assentava na escrita. A forma de comunicação dava margem aqueles códigos tradicionais de comunicação da comunidade, que se manifestavam através da dramatização, dança, música, etc. Mas, em relação a linguagem pedagógica, especialmente, esse espaço propiciava essas formas de comunicação. A Mini foi concebida com um grande salão, um pátio e uma varanda. Não se caracterizava com salas de aula, carteiras, com aquele mobiliário sobredeterminado pela escrita, com aquela prancheta, com obsessão para caderno, lápis, livro, e a criança diante do quadro-de-giz, e o professor na frente. Esse espaço dava outra dinâmica. Tinha salão de atividades por centro de interesses, onde se desenvolvia atividades com as turmas do prontidão, os professores começavam as atividades e a criança poderia circular de um centro de interesse para outro e vice-versa. No pátio e na varanda aconteciam as aulas de alfabetização. Nessa varanda tinha uma grande mesa com os bancos, mantendo a característica do mobiliário da comunidade, e um quadro-de-giz presente nas aulas de alfabetização. No pátio se desenvolvia a música, dança e dramatizações.”

Autocoreográfico Chuva dos Poderes de Mestre Didi
 Foto M.A. Luz

Projetou-se um espaço que abrigasse uma comunidade infantil, uma casa com o estilo da Bahia, com telhas, varandas, pátio, um amplo salão. A concepção de um espaço livre para as crianças explorarem e desenvolverem todos os sentidos do corpo, não havia bancos e carteiras, era um espaço permeado pela estrutura do terreiro, onde as atividades e/ou aprendizagem ocorressem ao ar livre ou no salão.  Tinha também uma cozinha grande, banheiros e vegetação na área externa.
Marco Aurélio Luz comenta ainda que
“(...) houve um “curto-circuito”, porque aí também se definiu problemas de poder, e esse discurso vinha querendo sedimentar o poder dos professores e coordenadores, que eram considerados “de fora” pelas crianças, querendo ter o poder sobre eles. E de acordo com as crianças, esses professores nada sabiam da linguagem da comunidade, , dos valores que eles achavam que sabiam mais do que aquelas pessoas. E como também na comunidade o poder está ligado a uma hierarquia religiosa e comunitária, as pessoas que chegam não sabem, não tem lugar, não tem posto, não tem poder, e aí estava a fricção de poderes.”
O saber que vinha da universidade, da academia, das Secretarias de Educação, se chocavam profundamente com o saber da comunidade, representada pelas crianças que não aceitavam a imposição de saberes “de fora”, isto porque, elas já tinham sido rejeitados pela escola oficial justamente por isso. Como elas achavam que a Mini Oba Biyi era delas, que era um espaço feito para elas, daí a fricção e ou “curto-circuito” como bem mencionou Marco Aurélio.
Se instalou então o desafio da Mini constituir uma equipe, um GTE que elaborasse o luto de não saber, abandonar os paradigmas pedagógicos vigentes, e tentar abrir caminhos para a alteridade, ouvir o outro, tentar perceber e dar espaço para que o outro se colocasse, criasse, ocupasse uma linguagem, proporcionando a aceitação das partes ou melhor na dinâmica “da porteira pra dentro da porteira pra fora”.
A comunidade infantil Oba Biyi, não era uma comunidade religiosa, e sim de desenvolvimento integrado da criança. A parte religiosa era cuidada pela família e a comunidade-terreiro.
A Mini Comunidade Oba Biyi teve o seu currículo envolvido pela linguagem pluricultural expressa nos contos milenares da tradição africana. Esses contos recriados por  Mestre Didi, promovia e afirmava as  formas e modos  de comunicação da comunidade caracterizadas pela cultura de participação.
A concepção e linguagem socioeducativa  estimulada por  Mestre Didi, estava relacionada a dinâmica civilizatória da tradição nagô, de onde ele procurava inspiração para gerar o cotidiano curricular da Mini, influenciando, determinando códigos, refletindo de tal modo que não excluísse a identidade das crianças.
Os contos legado da tradição, são os itans e fazem parte de sistemas oraculares.Alguns contos o Mestre Didi criou, e são encontrados em alguns de seus livros a exemplo de Contos Nagô, Contos Negros da Bahia e Contos de Mestre Didi.

Dramatização do conto de Mestre Didi Odé e os Orixá do Mato
     Foto M.A.Luz
Para elaborar a dinâmica curricular da Mini através dos contos, o GTE se reunia no início de cada semestre com os professores e funcionários, estabelecia a temática e procuravam com Mestre Didi um conto que atendesse, representasse e/ou ilustrasse o tema escolhido. Neste processo as crianças também participavam.
Assim foram realizadas várias dramatizações a exemplo de: Odé o Caçador e os Orixás do Mato; A Chuva dos Poderes; A Filha do Arco-íris; O Presente de Xangô a Boa Menina; A Vendedora de Acaçá; A Fuga de Tio Ajayí dentre outros.             Eram nos Festivais da Mini Comunidade Oba Biyi, que por sinal tinham muita repercussão, que se culminava o semestre. Nesta ocasião eram exibidos os trabalhos das crianças relacionados a temática do semestre, expondo-se o que elas selecionavam, apresentando as peças de teatro ou autocoreográficos, músicas, danças, figurinos, cenários.
Exposição de artes durante o Festival da Mini Comunidade Oba Biyi
Foto M.A.Luz        
Os Festivais da Mini Comunidade Oba Biyi reuniam  a comunidade-terreiro, pessoas do bairro, deixando a área cheia de gente que vinha assistir os trabalhos. Vinham convidados de instituições de fora também, proporcionando um intercâmbio. As confraternizações eram acompanhadas sempre por um lanche, momento , que proporcionava a coesão grupal, o compartilhar de emoções e sentimentos, o religare.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

MESTRE DIDI EDUCADOR CONTEMPORÂNEO - PARTE 1


 

Por Narcimária Correia do Patrocínio Luz
Dia 02 de dezembro de 1917, nasceu Deoscoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi Asipá, Supremo Sacerdote do Culto Egungun.
Mestre Didi pertence à família Axipá,  originária de Oyó e uma das sete famílias  fundadoras da cidade de Ketu. Essa família repõe no Brasil, especificamente na Bahia, uma dinâmica sócio-política, mítico-religiosa da cultura Nagô expressa em casas tradicionais como o Ilê Axé Opô Afonjá. Mestre Didi é neto de Iyá Oba Biyi e filho de sangue de Mãe Senhora,ambas expressivas lideranças da tradição africana  nas Américas. 

 
Mãe Senhora com Zélia Gattai, Sartre, Simone de Beauvoir e Jorge Amado em  1960

É o membro mais velho da família Axipá no Brasil. Podemos afirmar que é um Omo Bibi, um bem-nascido.
“...Na tradição afro-brasileira de origem nagô, omo bibi, quer dizer, bem nascido, isto é, aquela pessoa que vem a esse mundo para dar continuidade a expansão de uma linhagem, de uma família considerada muito antiga, receptáculo de tesouros de valores espirituais e experiências históricas de grande valor para a comunalidade. Os valores  espirituais estão expressos pela continuidade e expansão das instituições religiosas, de um lado, o culto aos orixá,  forças cósmicas que constituem o universo, princípios da natureza, e de outro o culto aos ancestres e ancestrais, como aos Esa, espírito das pessoas que se destacaram na tradição religiosa ,ou aos Babá Egun, espíritos dos ojé, sacerdotes que se destacaram no culto aos ancestres masculinos.”(LUZ,Marco Aurélio. A Favor de Egun. A Tarde, Salvador, 09 de abril, 2005. Caderno Cultural).

O PRODESE retoma hoje as postagens do blog, dedicando-se a homenagear esse expoente ancestral, que durante toda a sua vida dedicou-se a fundar espaços institucionais que promovesse entre as gerações africano-brasileiras a dignidade e o direito à alteridade.
Essa singela homenagem, caracteriza-se por realçar aspectos que lidam com  infinitude das linguagens educacionais projetadas por Deoscoredes Maximiliano dos Santos,  o Mestre Didi Asipá uma das mais expressivas lideranças do contínuo africano nas Américas, e personalidade exponencial da educação contemporânea.
Mestre Didi através de suas obras,quer na literatura, escultura ou no campo da História do povo  negro nas Américas, nos permite o acesso ao riquíssimo patrimônio simbólico africano que influencia de modo significativo o nosso pensamento educacional.
O legado do Mestre Didi constitui um universo de criações estéticas singulares que carregam ancestralidade e visão de mundo  próprios da civilização africana, abrindo perspectiva de coexistência  com outros patrimônios civilizatórios.
 
 
Pertencente a importante linhagem de Ketu, Mestre Didi teve sua iniciação no culto do orixá Obaluaiyê que junto aos orixá Nanâ e Oxumarê compõem o panteão da Terra, expressões míticas que nucleiam suas obras.
Seu compromisso como Assogbá Sacerdote Supremo, título que recebeu  de Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi envolve executar e  sacralizar os emblemas rituais de seu culto, e isso o torna herdeiro e continuador dessa experiência ancestral africana.

Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi
 
Desde a sua infância Mestre Didi produz objetos rituais, cuja extensão são belíssimas recriações  no campo das artes escultóricas obtendo consagração nacional e internacional. Além disso, muito pequenino teve o privilégio de viver imerso ao universo mítico literário africano, que o levou a adaptar diversos contos que vêm influenciando sobremaneira a proposição curricular de iniciativas de vanguarda na área de educação.
 
Mestre Didi Axipá visita  Ojubó o assentamento de Oxossi da família Axipá em Ketu
Ainda sobre a importância da obra de Mestre Didi temos um valioso comentário do  professor da Sorbonne, Roger Bastide na década de sessenta, sobre a  História de um Terreiro Nagô ,  livro que  se tornou referência fundamental para a compreensão da dinâmica das comunalidades africano-brasileiras na contemporaneidade :
 
 
 
“...Recebo com satisfação o novo livro de  Deoscoredes Maximiliano dos Santos. Filho da prestigiosa Mãe Senhora, criado no conhecimento de todos os rituais do Opô Afonjá, o saboroso livro do autor de Contos Negros é realmente o único que nos pode oferecer uma monografia sobre este candomblé, onde tenho tantos amigos, e que é tão caro ao meu coração. Parabéns  Deoscoredes, e que seu precioso trabalho sirva de modelo para   outros. Livro de sábio,de filho da seita e de admirável narrador.”
Como previu o professor Roger Bastide, Mestre Didi prosseguiu afirmando institucionalmente  a dinâmica existencial das populações afro-brasileiras, influenciando e encorajando as gerações sucessoras a manterem erguidas os emblemas e referenciais que caracterizam e eternizam a nossa ancestralidade africana.
Mestre Didi como pessoa nascida e criada dentro dos valores da comunidade, sempre procurou desenvolver atividades que quando situadas principalmente no âmbito da sociedade oficial, afirmasse o que ele é, seus valores, seu orgulho pela tradição, como ele mesmo afirma: “...Procurarmos ser nós mesmos,nos valorizando,valorizando a tudo que adoramos, principalmente a natureza.
"É comum se dizer Kosi Ewe,Kosi Orixá; se não existissem as folhas, não existiriam os orixá, e não existiria o mundo. Já é tempo de nos unir, dar-nos as mãos, abrir os nossos corações para ir ao encontro da irmandade de justiça e da fraternidade para fortalecer e preservar cada vez mais as nossas origens e o axé de cada uma delas”.
 
Opa Osaiyn ati Oxumare Meji escultura de Mestre Didi
 
Estamos diante de um educador ,que nos permite de modo singular  a aproximação do rico e complexo patrimônio civilizatório  milenar africano indicando perspectivas  atravessadas por uma ética do futuro para a educação.
Procuraremos destacar, desse contínuo civilizatório, a primeira concepção e proposta de educação pluricultural que nasceu no Brasil protagonizada pelo Mestre Didi  -a Mini Comunidade Oba Biyi.
A experiência da Mini Comunidade Oba Biyi  demonstrou   que o legado civilizatório africano no Brasil e, especificamente, na Bahia constitui alteridades e caracteriza, em relação a outros processos civilizatórios, a nossa diversidade cultural.
 

 
Um dos exemplos expressivos dessa trajetória do  Mestre Didi  são as iniciativas  na área de Educação,   influenciado  por   Mãe Aninha, a venerável Iyá Oba Biyi com a qual ele conviveu desde menino, e sempre lhe dizia :
“Quero ver nossas crianças de hoje, no dia de amanhã de anel de anel no dedo e aos pés de Xangô"
 Mãe Aninha já tinha percebido que era impostergável a legitimação dos valores da comunalidade africano-brasileira, no âmbito do sistema oficial.
Iyá Oba Biyi, nos indicou o grande desafio que se apresenta para nós educadores. De um lado o “anel no dedo”, que significa as possibilidades de mobilidade social da população infanto-juvenil de descendência africana na sociedade oficial - , e de outro, Xangô, orixá do fogo que assegura a vida no aiyê , a expansão de linhagens, da existência concreta ininterrupta, filhos, descendência, ancestralidade, continuidade da comunalidade africano-brasileira, presença transatlântica dos valores culturais. De anel no dedo e aos pés de Xangô.”
Continua na próxima semana