sábado, 25 de janeiro de 2014

AMARILDO E A BOLA DE OURO
 Por Marco Aurélio Luz





Garrincha desmonta o ¨english team¨ na copa de 1962    
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Contam nos meios intelectuais cariocas, que já gostam de uma piada, que o psicanalista francês J. Lacan, uma vez esgotado o tempo de espera de uma sessão, foi apagando as luzes do setting, quando o cliente esbaforido adentrou-se e tomou um susto com a silhueta sombria do doutor já em retirada e então exclamou:
- C`est un fantôme !!??
Ao que Lacan respondeu dando por encerrada a sessão:
- Non , pas de tout, cèst un symptôme.
A piada só tem graça com o diálogo em francês por isso vão me desculpando. Tradução:
- É um fantasma!?
 – Não absolutamente, é um sintoma.



Seleção campeã do mundo em 1962
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Aproveito para fazer uma digressão sobre a presença do Amarildo na entrega da Bola de Ouro da FIFA. Ele jogou com Garrincha no Botafogo e na famosa copa do mundo de 1962, quando substituiu a Pelé contundido, e que já tinha então o apelido dado por Nelson Rodrigues de  “Possesso”, por sua maneira de jogar, invadindo a área adversária , intrépido, sem medo de nada e de ninguém. Nelson vaticinara que  “Possesso” aconteceria na copa.




Garrincha e Amarildo
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Naquela copa do mundo quando Pelé distendeu o músculo adutor, nos primeiros jogos, poucos acreditaram na vitória do Brasil. Garrincha um dos melhores na copa de 1958 contra tudo e contra todos, assumiu a responsabilidade de levar o Brasil para a grande vitória, só faltou fazer chover, como todos sabem. Amarildo então substituiu Pelé, sem problemas sabia que ao lado de Garrincha tudo era mais fácil, e foi.




Amarildo substituto de Pelé na copa de 1962
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Há pouco tempo num programa de TV perguntaram ao grande Eusébio que há pouco nos deixou,


Pelé e Eusébio
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- O que você acha de Pelé?
- “Gênio, mas o melhor do que ele vocês não sabem, sabe quem? O Garrincha! O Garrincha, vocês perguntem ao Pelé na minha frente, e eu respondo logo. Oh Pelé? Tu e eu. Agora aquele,aquele... Aquele não há quem possa. O Garrincha é o melhor de nós todos.”
A diferença nessa avaliação está no paradigma das referências. As que comtemplam Pelé se baseiam na produtividade contábil, que ele sempre fez questão de destacar e atuou em função de metas e records que lhe outorgassem o mérito de artilheiro incontestável. É nos limites desse paradigma que se tornou um personagem do marketing e da propaganda que em função disso, sempre destacaram seu valor indiscutível. Também em função disso, sempre cuidou de sua imagem, sempre procurando atender aos limites dos valores da ética produtivista que regem o mundo do espetáculo e a mídia.
Já Garrincha, sempre preso ao seu solo de origem, Pau Grande cidadezinha encravada nas matas da serra de Petrópolis, não se interessou absolutamente pelos valores das metrópoles. Para ele futebol mais do que profissão, era alegria poesia e diversão, não só para ele, mas também para quem o assistia e o admirava.
Por essa atitude, sem querer, ele contrariava quem vivia na órbita dos valores neocoloniais positivistas da ordem e progresso.
Garrincha levou o povo a superar o “complexo de vira lata”, conforme Nelson Rodrigues, pelas sendas da autenticidade do povo brasileiro. Com isso, muito sofreu por parte das críticas e pressões do establishment, inclusive de bases racistas, quando atacaram, com veemência o seu casamento com Elza Soares.
E então, ironias da história está ali no palco ao lado de Pelé, o Amarildo seu substituto na copa de 1962 para testemunhar um recorde.
 Pelé foi o único jogador que ganhou três copas 1958, 1962 e 1970. Logo ele Amarildo, companheiro, admirador e que é grato a Garrincha por tudo e mesmo pelo fato de ser um campeão do mundo.


Amarildo na cerimônia da Bola de Ouro
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A organização do evento preparava o terreno para reparar uma injustiça, dar uma bola de ouro para Pelé, pois que o prêmio era restrito só a jogadores que atuavam na Europa, coisas que a trajetória colonial explica.
Pois bem, Amarildo o “Possesso”, revela que ficou numa situação difícil na copa de 1962, ter que substituir o “rei”, mas não era culpa dele, e aí desandou, falou,falou e nada disse, se referiu a copa no Brasil, problemas de disciplina na torcida... Procurou se sair da situação difícil naquele momento desviando do assunto.




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O deslocamento é uma defesa psicológica provocada pela censura. A censura à memória do Garrincha e a tudo que ele representa.  
  

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