Por
Gutemberg
Miguel Sant´Anna, Oba Aré teve importante presença como integrante do corpo dos Oba de Xangô no ilê Opo Afonja criado por Mãe Aninha Iyalorixá Oba Biyi. Ojé Orepe também se destacou como integrante do corpo dos ojé do culto aos Baba Egun ancetrais masculinos da tradição nagô. Zaba, título do mais alto sacerdote do culto à Idako entidade do culto Tapa Nupe. Seu espírito ancestral é venerado e cultuado no ilê Axipa como Baba Ejibola.
Foto disponível na internet
Pertencendo
a uma antiga família-de-santo e tendo sido, desde jovem, ogã confirmado de
Omolu no Engenho Velho, seria, mais tarde, um dos primeiros Obás de Xangô - com
o nome de Obá Aré, na Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, o terreiro de São
Gonçalo do Retiro. Fez muitos benefícios aos terreiros. Muitas pessoas que não
tinham recursos, fizeram obrigação de orixá com a ajuda financeira dele, não
importando em que terreiro fosse. Seja no Opô Afonjá, Casa Branca, em Cachoeira
terreiro de Gêge de Abalia Debessein, em Muritiba no terreiro de Nezinho, no
Gantois, entre outros. A importância de Miguel Sant’Anna no Opô Afonjá, pode
ser avaliada pelo cargo que lhe foi atribuído pela Ialorixá Aninha em suas
determinações finais, como relata seu neto-de santo, o assobá Didi: “Obá Aré,
Obá Abiodun fica como presidente da Sociedade, e você eu quero que fique ao
lado da Ossi Dagan, lessé orixá (nos pés do santo)”. Em vida, criou e casou
muita gente, parentes e aderentes, sua casa só vivia cheia.
“Encontro
no peji de Xangô, o velho Miguel Santana, o mais velho, o mais antigo dos obás
da Bahia, o derradeiro dos obás consagrados por mãe Aninha, vestido no maior
apuro como se fosse para uma festa de casamento. Assim se veste sempre,
mantendo aos 85 anos contagiosa alegria de jovem. Quem não o viu dançar e
cantar numa festa de candomblé não sabe o que perdeu. Quantos filhos você
semeou no mundo, Miguel? O sorriso modesto, a voz tranquila: 51, meu amigo,
entre homens e mulheres, um deles nasceu de uma sueca, outro de uma índia.
Descemos juntos a Ladeira do Cabula, a voz de Miguel Santana Obá Aré recorda
distantes acontecimentos. Sabe mais sobre a Bahia do que os doutores, os eruditos
do Instituto, os historiadores e os membros da Academia. Sabe por ter vivido.
Foi rico e é pobre, teve mando de barcos, hoje possui apenas o respeito do povo
- a bênção, Obá Aré! Deus lhe salve, seu Miguel Santana”, escreveu Jorge Amado
no livro Bahia de Todos os Santos.
Principais continuadores do legado religioso de Miguel Sant`Anna no Ilê Axipá.
Principais continuadores do legado religioso de Miguel Sant`Anna no Ilê Axipá.
Jaguaracira Devezas de Sant´Anna
Iwin Efun Walê fiha de Miguel Sant´Anna, integra a tradição dos orixá e também do culto aos Egungun onde possui importante título de Iya Modé no Ilê Axipa.
Autora do livro "Um Presente de Xangô, minhas memórias".
Foto: M. A. Luz
José Sant´ Anna Sobrinho Ojé Laran neto de Miguel Sant´Anna teve o importante título de Osi Alagba no Ilê Axipá. Professor, Mestre em Educação, autor de significativo livro sobre o culto aos ancestres "Egungun : Terreiros Egúngún, um culto ancestral afro brasileiro".
Foto do acervo de M. A. Luz
Paulo Sant´Anna Sobrinho Ojé Jobi neto de Miguel Sant´Anna.É Oba Aré no Ilê Axé Opo Afonjá e Osi Alagba no Ilê Axipá.
Foto: acervo M. A. Luz
Jurandir Sant´Anna Sobrinho Júnior. Ojé Maxodi integrante do Ilê Axipá. e um dos dirigentes da Troça Carnavalesca Pae Buroko.
No seu processo de ascensão econômica, Miguel Sant’Anna chegou a ser considerado um homem rico, pelos padrões da Bahia nos anos 30. Pierre Verger o colocou em seu livro, Retratos da Bahia, como negro ilustre naquela época. Enfrentou, nos últimos anos de sua vida, dificuldades financeiras decorrentes das mudanças no sistema produtivo do Estado, em que ele desempenhava um papel considerável com sua empresa de intermediação do serviço de estiva no porto de Salvador. Por muitos anos, Miguel Sant’Anna manteve seu escritório de contratação de estivadores, dando continuidade ao trabalho de seu tio Adão da Conceição Costa, até à crise daquelas empresas motivada pela nova legislação, as lutas sindicais e o decréscimo da navegação de cabotagem e internacional. Ele enfrentou com resignação. Até o seu fim, doente e combalido, mostrava-se um homem corajoso e forte, patriarca e generoso e atento à sua extensa família. Para se contar a história do Centro Histórico e do candomblé na Bahia, necessariamente, é obrigatório citar o nome desse empresário e líder religioso, descendente de africanos. Miguel Sant’Anna vivenciou intensamente o cotidiano da área central de Salvador - especificamente o Centro Histórico e Cais do Porto -, da comunidade de origem afro, da qual descendia. Sua experiência de vida é marcante e sua memória está diretamente ligada a vários terreiros de candomblé, como o extinto Gunokô, a Casa Branca e o Ilê Axé Opô Afonjá, à maçonaria e irmandades católicas.
No seu processo de ascensão econômica, Miguel Sant’Anna chegou a ser considerado um homem rico, pelos padrões da Bahia nos anos 30. Pierre Verger o colocou em seu livro, Retratos da Bahia, como negro ilustre naquela época. Enfrentou, nos últimos anos de sua vida, dificuldades financeiras decorrentes das mudanças no sistema produtivo do Estado, em que ele desempenhava um papel considerável com sua empresa de intermediação do serviço de estiva no porto de Salvador. Por muitos anos, Miguel Sant’Anna manteve seu escritório de contratação de estivadores, dando continuidade ao trabalho de seu tio Adão da Conceição Costa, até à crise daquelas empresas motivada pela nova legislação, as lutas sindicais e o decréscimo da navegação de cabotagem e internacional. Ele enfrentou com resignação. Até o seu fim, doente e combalido, mostrava-se um homem corajoso e forte, patriarca e generoso e atento à sua extensa família. Para se contar a história do Centro Histórico e do candomblé na Bahia, necessariamente, é obrigatório citar o nome desse empresário e líder religioso, descendente de africanos. Miguel Sant’Anna vivenciou intensamente o cotidiano da área central de Salvador - especificamente o Centro Histórico e Cais do Porto -, da comunidade de origem afro, da qual descendia. Sua experiência de vida é marcante e sua memória está diretamente ligada a vários terreiros de candomblé, como o extinto Gunokô, a Casa Branca e o Ilê Axé Opô Afonjá, à maçonaria e irmandades católicas.
Miguel
Sant’Anna faleceu em 15 de outubro de 1974 numa quarta-feira, às 08:30 da
manhã. Com seis meses após a sua morte houve Axêxê (obrigações) na Casa Branca.
A Sociedade prestou homenagem a Miguel Sant’Anna, Ogan Tataygbi, em
reconhecimento aos benefícios que ele fez em vida à este terreiro. O professor
Vivaldo Costa Lima, diretor do IPAC, lhe prestou uma homenagem póstuma, dando
seu nome ao teatro que instalou na área do Pelourinho, localizado na rua em que
nascera Miguel Sant’ Anna - chamada, então, de Beco do Mota e hoje denominada Leovigildo
de Carvalho -, o Teatro Miguel Sant’Anna. Fonte de informação e inspiração da
literatura, Miguel Sant’Anna acabou virando personagens de livros de Jorge
Amado como Tereza Batista Cansada de Guerra, Tenda dos Milagres, Bahia de Todos
os Santos, entre outros. Ele é citado também em vários livros que relatam a
história de alguns terreiros de candomblé e da cidade no início do século. “Foi
homem de muitas lutas, esse Miguel Obá Aré, e lutas nobres, de estofo social.
Tem o nome ligado ao cais da Bahia, como estivador, prestador de serviços e
líder. Pertenceu a uma das ‘elites de cor’.”, informou o vereador João Carlos
Bacelar na orelha do livro em homenagem a Miguel Sant’Anna, co-editado pelo
CEAO e EDUFBA. Falar de Miguel Sant’Anna é resgatar a memória de uma
personalidade ecumênica de grande representatividade para a cultura baiana e
que continua viva na lembrança de filhos e netos e de todos aqueles que o
conheceram em vida.
Texto
originalmente publicado em 31 de maio de 2007 no blog do
Gutemberg http://blogdogutemberg.blogspot.com.br/2007/05/miguel-santanna.html
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Gutemberg
é jornalista profissional formado pela Escola de Biblioteconomia e Comunicação
da UFBa em 1979. Registro Profissional DRT-BA 761. Atuou nos jornais Tribuna da
Bahia, Diário de Notícias, Correio da Bahia, A Tarde e Bahia Hoje como
repórter, redator e Editor de Cultura. Atuou ainda na Rádio Cruzeiro da Bahia
(repórter), Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (gerente de produção),
TV Itapuã (produtor) e rádios Piatã e Bandeirantes (produtor de programas).
Atualmente exerce a função de Coordenador de Comunicação na União dos
Municípios da Bahia.
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