quarta-feira, 27 de setembro de 2017

ODARA A LINGUAGEM EDUCATIVA DOS CONTOS DE MESTRE DIDI



Foto: Hans Olu Obi


Por Léa Austrelina Ferreira Santos


A partir da análise sobre o conteúdo ético-estético do conto “Porque Oxalá usa Ekodidê” de Mestre Didi e das novas formas de recriação de um objeto símbolo da cultura ocidental de origem greco-romana, o livro, proponho adicionarmos mais um elemento para a concepção da Educação no nosso contexto: a necessidade de compreender as formas de comunicação de origem africana no Brasil.
Atualmente, uma série de políticas estruturam-se no nosso entorno: ensino sobre História e Cultura dos afro-brasileiros, políticas afirmativas, programa de cotas para ingresso em universidades, diretrizes curriculares para o ensino. A validade de todas essas políticas deve ser questionada caso uma reflexão profunda sobre os referenciais existenciais da população africano-brasileira não seja feita.
Proponho aos professores e demais profissionais da Educação, saírem do continente teórico-epistemológico ocidental e conhecerem outras formas de pensamento, de elaboração do mundo e da vida.
Mestre Didi, considerado um ícone da ancestralidade africano-brasileira, é um sacerdote e artista. Sua vivência comunitária e liderança religiosa lhe conferem a possibilidade de recriar diversos contos, frutos da sabedoria acumulada na convivência com diversas comunidades-terreiro e do conhecimento do patrimônio cultural e religioso africano-brasileiro. Ele também é alapini, sacerdote supremo do culto aos ancestrais masculinos, culto Egungun.
A obra de Mestre Didi é capaz de fazer mergulhar no universo cultural africano-brasileiro, sejam suas esculturas, contos, livros ou artigos.


                                                                  Imagem  disponível na internet

Odara é a linguagem de onde emerge a sua obra e, como num jogo cíclico ininterrupto, amplia a sua dimensão.

Odara significa o bom e o belo, o técnico e o estético, intercambiando a plasticidade de imagens e o repertório de conhecimentos, rico em poesia, envolvendo condutas éticas, institucionais, histórico-políticas, territoriais, sistema filosófico, enfim, formas de transmissão do patrimônio simbólico milenar através do emocional-lúcido.

                                                                Foto acervo M.A. Luz

Odara é uma noção de origem nagô/iorubá das formas de comunicação africano-brasileiras presentes nas suas dinâmicas de sociabilidade e nas formas de transmissão de conhecimento de origem africana.



     Foto Maurício Luz

Essas formas de transmissão e expansão de conhecimento envolvem aspectos que vão além dos códigos comunicativos. Estes processos são marcados por uma gama de valores transmitidos de geração a geração, revividos constantemente pela população de origem africana no Brasil.
Há, nesses processos de comunicação, uma complexidade que abarca o universo simbólico e cosmogônico recriado nas Américas. Coesão comunal, religião, ancestralidade, preservação das memórias coletivas e individuais, elaboração da cosmogonia são restabelecidas e alimentadas pelas formas de sociabilidade. Todos estes aspectos são recriados, transmitidos, revividos, aprendidos. Odara é o tecido que os interliga e dá pulsão para que esta aprendizagem ocorra. É a forma como acontece. É o que substancia os códigos de comunicação.
Conhecer a riqueza desse patrimônio cultural, acreditar que é possível criar novas perspectivas educacionais que dêem legitimidade à presença africano-brasileira no nosso contexto favorece a coexistência e a diversidade, valores tão necessários à humanidade contemporaneamente.

PORQUE OXALÁ USA EKODIDÊ: linguagem ético-estética

Foto disponível na internet

Este conto de Mestre Didi, cuja simbologia é riquíssima e também tem um significado muito especial, está publicado num livro com o mesmo nome – mas que teve uma história diferente dos outros livros publicados por Mestre Didi, sendo recriado para uma linguagem teatral.
A história do processo de elaboração desse livro ilustra como os valores da vertente civilizatória africano-brasileira foram recompostos no contexto da sociedade ocidental, criando verdadeiras estratégias para se expandir e abrir novos diálogos, sem, no entanto, perder a sua originalidade.
Uma senhora foi escolhida por Oxalá para tomar conta de seus pertences, seu nome era Omon Oxum, que quer dizer filha ou descendente de Oxum. Este fato causou muita inveja entre outras mulheres no terreiro e provocou muitas reações, muitas tramas para fazer com que Oxalá se decepcionasse com Omon Oxum. Assim começa a história que explica “Por que Oxalá usa ekodidê”.




Foto disponível na internet

As tramas criadas pelas mulheres que ficaram com inveja de Omon Oxum não foram poucas, pois elas não conseguiam lidar com o prestígio que aquele trabalho dava a Omon Oxum. Porém nada que elas faziam funcionava e a relação de Omon Oxum com Oxalá ficava cada vez melhor, e ela era muito dedicada ao cumprimento de suas tarefas para com Oxalá. Porém, certa vez, as invejosas conseguiram sumir com a coroa de Oxalá que, depois de lavada, estava secando na casa de Omon Oxum, pois no dia seguinte era a festa das Águas de Oxalá. A invejosas tinham jogado a coroa no fundo do mar. Omon Oxum ficou desesperada até que, com a ajuda de sua filha de criação, consegue, já desiludida, encontrar a coroa na barriga de um peixe.



                                                          Foto disponível na internet

 Encontrar a coroa foi motivo de muita comemoração, e o peixe serviu de pretexto para que Omon Oxum convidasse todos para almoçar com ela, comemorando em homenagem a Oxalá. Este fato deixou as invejosas furiosas e elas decidiram fazer um ebó e colocar debaixo da cadeira onde Omo Oxum sentaria na hora da festa. Durante a festa, Omon Oxum sentou-se ao lado de Oxalá, que lhe pediu sua coroa. Omon Oxum tentou por várias vezes sair da cadeira, mas estava grudada nela. Quando ela conseguiu, com muito esforço, se desprender, a cadeira estava toda manchada de sangue, e todos sabiam que Oxalá não podia ter nada vermelho por perto. Nenhum orixá, com exceção de Oxum, quis ajudá-la, fazendo com que o sangue se transformasse em pena de papagaio, Ekodidê. Todas as noites Oxum, muito bem ornamentada, fazia um xirê, uma festa, com Omon Oxum ao seu lado. Dessa forma, elas recebiam todos os Orixás em sua casa, que queriam saber por que Oxum estava fazendo aquilo todas as noites e, quando sabiam do acontecimento, eles davam dodobale – uma saudação que demonstra respeito e reconhecimento –, pegavam uma pena e deixavam uma certa quantia. Oxalá ficou sabendo desse xirê, foi ao palácio de Oxum e acabou tomado conhecimento de todo o acontecido a contragosto das invejosas, que fugiram com medo da punição que ele poderia aplicar-lhes. Assim, Oxalá, no palácio de Oxum, também a saúda dando dodobale, e Oxum pegou Omon Oxum pela mão e a entregou a Oxalá. Oxalá em agradecimento a Oxum diz: “Oxum, em agradecimento a tudo que fizeste de bem e para amenizar os sofrimentos de Omon Oxum, eu, Oxalá, prometo levá-la de volta para o meu palácio e de hoje em diante nunca hei de me separar desta pena vermelha que é o Ekodidê e que será o único sinal desta cor que carregarei sobre o meu corpo. (SANTOS, D., 1997. p. 45)


Papagaio de penas de ekodide                             
Foto disponível na internet

Oxalá, orixá que está ligado à cor branca e ao ar, é descrito como a divindade responsável pela criação dos seres humanos e de todos os seres deste mundo e do além. Também conhecido como Obatalá, seu emblema é o Alá, um grande pano branco que, em um de seus rituais, cobre as cabeças de todos os participantes simbolizando o fato de todos se colocarem sob a sua proteção.

Òrìsàlá, Òrìsànlá, Òsàlá oo Obàtálá, simboliza um elemento fundamental do começo dos começos, massa de ar e massa de água; um dos elementos que deram origem a novas formas de existência – à protoforma e à formação de todos os tipos de criaturas – no àiyé e no orun. Os funfun são entidades que manipulam e têm o domínio sobre a formação dos seres deste mundo – os ara-àiyé e também a formação dos seres no além. Os vivos e os mortos, os dois planos da existência são controlados pelo asé de Òrìsànlá. (SANTOS, J., 1976, p. 75).
Oxalá possui vastos poderes, o que requer muito respeito e cuidado para com ele.

Os poderes de Oxalá que envolvem a existência exigem grande atenção e respeito a ele. Deve ser sempre acalmado e agradado respeitosamente, posto que pode causar muitos danos, tal é seu enorme poder (LUZ, M.A., 1995, p. 91).
Oxum é um princípio feminino ligado à cor amarelo-gema, ao sangue circulante, à gestação e à capacidade de gerar filhos, a descendência. Sua simbologia a liga ao rio que possui o mesmo nome na Nigéria. Há um texto em ioruba citado por Juana Elbein dos Santos (1976, p. 85), que informa sobre a importância de Oxum:
No tempo da criação, quando Òsun estava vindo das profundezas do òrun, Olódùmare confiou-lhe o poder de zelar por cada uma das crianças criadas por Òrisá que iriam nascer na terra. Òsun seria a provedora de crianças. Ela deveria fazer com que as crianças permanecessem no ventre de suas mães assegurando-lhe medicamentos e tratamentos apropriados para evitar abortos e contratempos antes do nascimento; mesmo depois de nascida a criança, até ela não estar dotada de razão e não estar falando alguma língua, o desenvolvimento e a obtenção de sua inteligência estariam sob o cuidado de Òsun. Ela não deveria encolerizar-se com ninguém a fim de não recusar uma criança a um inimigo e dar gravidez a um amigo. A tarefa atribuída a Òsun é como declaramos. Ela foi a primeira Iyá-mi encarregada de ser a Olùtójú awon omo (aquela que vela por todas as crianças) e a Álàwòyè omo (aquela que cura as crianças). Òsun não deve vir a ser inimigo de ninguém.

Oxum é, portanto, a patrona da gestação, e sua representação emblemática a liga a grandes peixes cujas escamas simbolizam a descendência, os filhos. Sua simbologia também a relaciona com as Iyá-mi Agbá, as mães ancestrais.

                                                                             Dourado
Imagem  disponível na internet


No conto, Oxum realiza uma festa todas as noites, o xirê. Cabe, aqui, expressar o significado de xirê.

O xirê é o seguinte: Xe irê, faz felicidade, ao pé da letra, mas é um momento de regojizo, de comunicação completa entre as entidades do orun e entre os seres viventes no aiyê, então se festejam e este festejo de encontro traz felicidade. Os orixás estão fortalecidos porque receberam oferenda, tem muitos filhos que cuidam deles, zelam por eles, e eles, estando fortalecidos, poderão fortalecer os membros da comunidade. Os integrantes da comunidade vão ter a proteção deles, o fortalecimento deles. Eles vão se sentir fortes e felizes porque vão ter essa proteção, vão sentir as coisas ruins da vida afastadas deles e as coisas boas virão, acontecerão e estão acontecendo naquele momento ali que já estão alegres, já estão felizes, já estão contentes por estarem usufruindo daquele momento de comunalidade, religare, para as entidades com os seres humanos. Foi feita uma série de preceitos e as tradições se realizaram e estão ali se realizando, é xirê, a felicidade.[2]
O conto “Por que Oxalá usa ekodidê”, tangenciando o sagrado, refere-se à simbologia de Oxum, ao seu poder de gerar e cuidar dos filhos. Outro aspecto é a sua relação com Oxalá, revelando que até mesmo o grande orixá do princípio masculino reverencia o poder de gestação, representado pelo princípio feminino contido em Oxum. Oxalá, no conto, fica agradecido pelos cuidados de Oxum com a zeladora de seus pertences e reverencia respeitosamente Oxum.



Iya Ibeji, a Mãe dos Gêmeos, escultura de Marco Aurélio Luz
Foto: M. A. Luz

Esse agradecimento se mostra também em virtude da ação de Oxalá em dar o dodobale. Este é uma saudação de muito respeito e de admiração de Oxalá pelo poder e sabedoria de Oxum naquele momento. Marco Aurélio Luz explica o significado do dodobale:

As pessoas se prostram assim no chão, os homens... Que é ficar numa posição reta, demonstrando assim, de bruços, demonstrando total incapacidade de realizar qualquer ato que possa agredir o outro, uma vez que estão com as mãos para trás, deitado no chão, eu estou, como se dizendo assim “Estou entregue, completamente entregue, pode fazer de mim o que quiser, porque eu vejo que você tem um poder tão grande que eu me coloco assim, e deve ser reverenciado”. A reverência se faz dessa forma, para mostrar que você está completamente aceitando o poder e admirando o poder do outro que vem em sua proteção.[3]
O poder de Oxum de gerar e cuidar da descendência, de multiplicar e expandir a existência e, conseqüentemente, os valores civilizatórios reflete aqui um parâmetro para a compreensão de como os contos foram veiculados, expandidos de diversas formas, para diversos espaços na sociedade oficial, caracterizando a dinâmica “da porteira para dentro, da porteira para fora” – expressão já mencionada –, sendo as publicações dos livros e dramatizações mais um aspecto que concretiza a expansão dos valores civilizatórios.


Awon Abebe, cetro de Oxun
Foto e acervo M.A. Luz


Entre 1966 e 1967, Mestre Didi teria a oportunidade de realizar sua primeira viagem para a África, através de uma bolsa concedida pela UNESCO, por intermédio do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, para realizar uma pesquisa comparada sobre arte sacra na África ocidental (Nigéria e Benim), mas a bolsa somente seria integralizada após a apresentação, em Paris, de um trabalho escrito com os resultados de suas pesquisas já realizadas.              

Juntos, Mestre Didi e Juana Elbein dos Santos, procuraram formas de obter dinheiro para a viagem, assim a própria Juana descreve a idéia que tiveram junto com Lenio Braga, ilustrador, de fazer um livro que ao mesmo tempo fosse um objeto de arte:
Assim, com o nosso inesquecível Lenio Braga, artista polivalente, tomamos a decisão de fazermos um livro, um objeto de arte, que reunisse a prodigiosa memória de Didi, sabedoria e arquivo vivo, à criatividade de Lenio. Não seria um livro no sentido comum. Seria um mito ilustrado, uma edição para bibliófilos, amantes de peças únicas. Foi criado um “invólucro”, uma caixa de peças de madeira nobre, com títulos pirografados em baixo-relevo e fecho de contas e búzios. O miolo, o mito, as 13 páginas em “pele de cabra” e as 10 ilustrações foram todas xilografadas. A caligrafia especialmente criada para as ilustrações foi gravada diretamente em chapas de zinco. (SANTOS, J., 1997, p. 10).
O empreendimento foi realizado, o livro foi escrito e quase todo vendido no seu lançamento. Em 6 de janeiro de 1967, Mestre Didi realizaria a sua primeira viagem à África.

Foto disponível na internet


Este fato torna o conto mais especial ainda, pois ele concorreu, de uma forma ou de outra, para a expansão dos valores do patrimônio civilizatório africano-brasileiro porque foi-se alimentando da sua ancestralidade que Mestre Didi, juntamente com Lenio Braga, projetou e consolidou a afirmação dos valores culturais africano-brasileiros em um espaço consagrado da sociedade oficial, branca e ocidental, um espaço acadêmico-científico de uma instituição de financiamento de pesquisas.

Mestre Didi conseguiu imprimir, num determinado contexto, a alma da tradição africano-brasileira. O livro, símbolo da “cultura letrada” de origem greco-romana, teve a sua função totalmente modificada. Em vez de servir como um veículo com um conteúdo meramente informativo, que exige do leitor a mobilização apenas da relação olho x cérebro, um corpo dócil, silente, estático, essa recriação de Mestre Didi e Lenio Braga trouxe em si a própria noção de odara, o elemento estético intercambiando o tempo inteiro com o ético. Ler esse livro não é apenas decodificar os signos verbais, as letras, o sentido das palavras. É necessário contemplá-lo, cada imagem que ele remete, desde a capa até as letras especialmente desenhadas.
Infelizmente, a versão que o público geral pode ter acesso é uma versão publicada em 1997, pela editora Pallas, que conserva apenas a forma das letras e as ilustrações. Mas tive a oportunidade de conhecer uma das versões originais do livro-objeto-de-arte.
A impressão que se tem, primeiro, é que se trata de um objeto muito especial, porque essa edição é única de fato, mas, depois que acontece a familiarização com o material, é que se consegue perceber e refletir sobre a simbologia daquele “objeto”.
A capa de madeira, com as inscrições gravadas, tem uma forma de fechar completamente diferente de um livro convencional; as folhas soltas, a grafia e as ilustrações reelaboram a concepção de livro e do ato de ler que se materializou no mundo ocidental, ligada ao exercício de silêncio, concentração, corpo parado. Ler uma das versões originais do livro Por que Oxalá usa ekodidê exige um certo movimento, pois abrir a capa não é muito fácil para mãos acostumadas a apenas folhear livros; exigem também um esforço de compreensão das letras que não são no formato convencional do mercado editorial, também algo difícil para olhos acostumados a buscar nas palavras as idéias do autor e dissecá-las até a última idéia.
As páginas de Por que Oxalá usa ekodidê são bonitas, no sentido mais amplo do termo, no sentido que se pode associar à linguagem odara: é agradável não somente aos olhos, mas também tem um valor, uma função, agrada ao espírito, possui princípios éticos, influencia nas formas de pensar a própria função do livro.
As formas de comunicação africano-brasileiras não podem ser aprisionadas pelas formas de transmissão de conhecimento das sociedades ocidentais, os contos de Mestre Didi ultrapassam as fronteiras das publicações de livros em massa. A publicação surge, a meu ver, como conseqüência de suas atividades. Antes mesmo, este conhecimento foi acumulado pela sua convivência com pessoas cuja sabedoria e experiência proporcionaram um aprendizado.




Auto coreográfico com direção de Clyde Morgan, estudantes da Ufba e participação especial de Sinsinha e assessoria de Mestre Didi.
Foto: acervo M.A. Luz



Nessa extrapolação de limites do mundo ocidental, os contos de Mestre Didi foram recriados numa linguagem teatral, dramatizados, por diversas vezes e em espaços diferentes. “Por que Oxalá usa ekodidê” foi também dramatizado. Suas apresentações ocorreram no início de década de 70 (entre 1970 e 1973) na Bahia, no Solar do Unhão – atual Museu de Arte Moderna – e no Rio de Janeiro, em 1974, em um evento chamado “Semanas Afro-brasileiras” do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro onde foram realizadas exposições de arte sacra, realizado em parceria com a SECNEB – Sociedade de Estudos das Culturas e da Cultura Negra no Brasil.(4)
Dentre esses desdobramentos, houve a apresentação do texto Por que Oxalá usa ekodidê, de Mestre Didi, coreografado por Clyde Morgan, assessorado por membros do Ilê Axé Opô Afonjá, dentre esses Sinsinha, que fez uma apresentação das danças rituais à parte, acompanhada por um grupo de alabês componentes também do Grupo Bahiafro. Neste grupo destacavam-se Vadinho e Dudu de saudosa memória. (LUZ, 1995, p. 649)
CONCLUSÕES
Em “Por que Oxalá usa ekodidê” Oxalá reverencia os poderes femininos da gestação representados por Oxum, aquela que é patrona da gestação e assim responsável pela continuidade da existência e dos valores civilizatórios africano-brasileiros. A representação simbólica de Oxum, o grande peixe mítico, com suas escamas que representam a descendência, é um parâmetro para a compreensão das elaborações existenciais africano-brasileiras.
A forma como os contos de Mestre Didi se expandem, recriando espaços e formas estéticas inovadoras, tem a ver com a dinâmica de continuidade, de preservação e de ampliação do patrimônio cultural africano-brasileiro especialmente através das novas gerações.




Léa Austrelina é Pedagoga e Mestre em Educação pela UNEB - Universidade do Estado da Bahia, pesquisadora do PRODESE Programa Descolonização e Educação.Foi coordenadora pedagógica da rede municipal de ensino de Salvador, professora da Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC Ead), sub-coordenadora do projeto Diversidade e Dinâmica Cultural: SECNEB Patrimônio Material e Imaterial, da SECNEB – Sociedade de Estudos das Culturas e da Cultura Negra no Brasil. Iniciou seus estudos de Doutorado em Educação em Genebra na Suíça e atualmente é professora na rede de educação na Suíça.
[2] Entrevista realizada em março/2004.
[3] Entrevista realizada em março/2004.

[4] O principal colaborador que forneceu importantes informações sobre essa dramatização foi o coreógrafo norte-americano Clyde Morgan que não soube precisar exatamente a data das apresentações, em entrevista realizada em junho/2005.

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